A educação é a prática mais humana, considerando-se a profundidade e a amplitude de sua influência na existência dos homens



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ardente divulgador da escola ativa e da educação nova idéias se basearam inicialmente em concepções biológicas, trasformando-se depois numa filosofia espiritualista. Ferriêre considerava que o impulso vital espiritual é a raiz da vida fonte de toda atividade, e que o dever da educação seria conservar e aumentar esse impulso de vida. Para ele, o ideal da escola ativa é a atividade espontânea, pessoal e produtiva. Em 1899 ele fundou o Birô Internacional das Escolas Novas, sediado em

Genebra. Devido à criação de inúmeras escolas novas com tendências diferentes, em 1919 o Birô aprovou trinta itens considerados básicos para a nova pedagogia; para que uma escola se enquadrasse no movimento, deveria cumprir pelo menos dois

terços das exigências. Em resumo, a Educação Nova seria integral (intelectual, moral e física); ativa; prática (com trabalhos manuais obrigatórios, individualizada); autônoma (campestre em regime de internato e co-educação). Ferriêre coordenou a articulação internacional da Escola Nova e, em suas obras (entre elas, Pratica da escola ativa, Transformemos a escola, A escola ativa), conseguiu sintetizar correntes pedagógicas distintas em suas manifestações, porém unidas na preocupação de colocar a criança no centro das perspectivas educativas. Ele criticava a escola tradicional afirmando que ela havia substituído a alegria de viver pela inquietude, o regozijo pela gravidade, o movimento espontâneo pela imobilidade, as risadas pelo silêncio. O educador norte-americano JOHN DEWEY (1859-1952) foi o primeiro a formular o novo ideal pedagógico, afirmando que o ensino deveria dar-se pela ação ("learning by doing") e não pela instrução, como queria Herbart. Para ele, a educação continuamente reconstruía a experiência concreta, ativa, produtiva, de cada um. A educação preconizada por Dewey era essencialmente pragmática, instrumentista. Buscava a convivência democrática sem, porém, pôr em questão a sociedade de classes. Para John Dewey, a experiência concreta da vida se apresentava sempre

diante de problemas que a educação poderia ajudar a resolver Segundo ele, há uma escala de cinco estágios do ato de pensar, que ocorrem diante de algum problema. Portanto, o problema nos faria pensar. - São eles: 1º) uma necessidade sentida; 2º) a análise da dificuldade;

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as alternativas de solução do problema; a- determinação de várias soluções, até que o teste mental aprove uma delas; 5º) a ação como a prova final para a solução proposta, que deve ser verificada de maneira científica. De acordo com tal visão, a educação era essencialmente processo e não produto; um processo de reconstrução e reconstituição da experiência; um processo de melhoria permanente da eficiência individual. O objetivo da educação se encontraria no próprio processo. O fim dela estaria nela mesma. Não teria um fim ulterior a ser atingido. A educação se confundiria com o próprio processo de viver. Tratava-se de aumentara rendimento da criança, seguindo os próprios

interesses vitais dela. Essa rentabilidade servia, acima de tudo, aos interesses da nova sociedade burguesa: a escola deveria prepararas jovens para o trabalho,

para a atividade prática, para o exercício da competição. Nesse sentido, a Escola Nova, sob muitos aspectos, acompanhou o desenvolvimento e o progresso capitalistas. Representou uma exigência desse desenvolvimento. Propunha a construção de um homem novo dentro do projeto burguês de sociedade. Poucos foram os pedagogos escolanovistas que ultrapassaram o pensamento burguês para evidenciar a exploração do trabalho e a dominação política, próprias da sociedade de classes. Só o aluno poderia ser autor de sua própria experiência. Daí o pai do centrismo (o aluno como centro . Essa atitude necessitava de métodos ativos e criativos também centrados no aluno. Assim, os métodos de ensino significaram o maior avanço da Escola Nova. M contribuições neste sentido. Citamos, por exemplo, o dos ) de WILLIAM HEAIRD (1871-1965), centrado numa atividade prática dos alunos, de preferência manual. Os projetos poderiam ser iguais, como uma construção; de descoberta, como uma excursão; de , como um jogo; de comunicação como a narração de um conto, etc. A execução de um projeto passaria por algumas etapas: desvendar o fim, projeto, executá-lo e apreciar seu resultado. Um dos mais importantes discípulos de John Dewey, Kilpatrick preocupava-se sobretudo com a formação do homem para a democracia e para uma sociedade mutação. Para ele, a educação seia-se na vidaj~ratomá=1a..me1hor. Ou seja, a educação é a reconstrução da vida em níveis cada vez mais elaborados.

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E a base da educação está na atividade, ou melhor, na auto-atividade

A pedagogia norte-americana recorreu ao método de projetos - ternatizado por Kilpatrick, J. Stevenson e Ellworth Collings - para ,balizar o ensino a

partir de atividades manuais. Kilpatrick classificava os projetos em quatro grupos: de produção de mo(no qual se aprende a utilizar algo já produzido); de resolução algum problema; ou de aperfeiçoamento de alguma técnica. Para ele, as características de um bom projeto didático: - um plano de trabalho, de preferência manual; - uma atividade motivada por meio de urna intenção conseqüente; - um trabalho manual, tendo em vista a diversidade globalizada de ensino; - um ambiente natural. As principais obras de Kilpatrick são: Filosofia da educação e lucação para uma civilização em mudança. Outra contribuição da Escola Nova é método dos centros de interesse ) belga OVIDE DECROLY (1871-1932). Esses centros seriam, para ele, a milha, o universo, o mundo vegetal, o mundo animal, etc. Educar era partir das necessidades infantis. Os centros de interesse desenvolviam a observação, a associação e a expressão. Os centros de interesse distinguem-se do método dos projetos porque os primeiros não possuem um fim nem implicam a realização de alguma coisa. Para Decroly as necessidades fundamentais da criança são: a) alimentar-se; b) proteger-se contra a intempérie e os perigos; c) agir através de uma atividade social, recreativa e cultural. Teve grande importância também a experiência da médica italiana MARIA MONTESSORI (1870-1952), que transpôs para crianças normais seu método de recuperação de crianças deficientes. Na Casa dei bambini 2asa de crianças), para a pré-escola, construiu uma enorme quantidade e jogos e materiais pedagógicos que, com algumas variações, são ainda hoje utilizados em milhares de pré-escolas. Pela primeira vez na história da educação, construiu-se um ambiente escolar com objetos pequenos para que a criança tivesse pleno domínio deles: mesas, cadeiras, estantes, etc. Com materiais concretos, Montessori conseguia fazer com que as crianças, pelo tato, pela pressão, pudessem

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distinguir as cores, as formas dos objetos, os espaços, os ruídos, a solidez, etc. Montessori explorou técnicas completamente novas, como a lição do silêncio que ensinava a dominar a fala, e a lição da obscuridade para educar as percepções auditivas. O suíço ÉDOUARD CLAPARÉDE (1873-1940) preferiu dar à escola ativa outro nome: ~ducaçã4,&nciaizaLEle explicava que a mera atividade suficiente para explicar a ação humana. Atividade educativa era só aquela que correspondia a uma ao vital do homem. Nem toda atividade se adequaria a todos. A atividade deveria ser individualizada - sem ser individualista - e, ao mesmo tempo, social e socializadora. JEAN PIAGET (1896-1980), discípulo e colaborador de Claparède, levou a pesquisa do mestre adiante: investigou sobretudo a natureza do desenvolvimento Piaget propôs método da observação para a educação da criança. Daí a necessidade de uma pedagogia experimental que colocasse claramente como a criança

organiza o real. Criticou a escola tradicional que ensina a copiar e não a pensar. Para obter bons resultados, o professor devia respeitar as leis e as etapas do desenvolvimento da criança. O objetivo a educação não deveria ser repetir ou conservar verdades acabadas, mas aprender por si próprio a conquistado verdadeiro. Sua teoria epistemológica influenciou outros pesquisadores, como a psicóloga argentina Emília Ferreiro, cujo pensamento é muito difundido hoje nas escolas de 1º Grau no Brasil. O francês ROGER COUSINET (1881-1973) desenvolveu o método de trabalho por equipes dotado até hoje, opondo-se ao caráter rígido das as memoristas e intelectuais francesas. Defensor da liberdade no ensino e do trabalho coletivo, substituindo o aprendizado individual, propôs que o mobiliário escolar fosse despregado do chão para que os alunos pudessem rapidamente formar grupos em classe e ficar um de frente o outro. Para Cousinet, o desenvolvimento de atividades de grupo deveria obedecer a algumas etapas: a) acumulação de informações através da pesquisa sobre o objeto de trabalho escolhido; b) exposição e elaboração das informações no quadro-negro; c) correção dos erros; d) cópia individual no caderno do resultado obtido; e) desenho individual relacionado com o assunto;

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f) escolha do desenho mais significativo para o arquivo da classe; tara do trabalho do grupo; boração de uma ficha-resumo.

Embora não haja urna relação direta entre a Escola Nova e o tecnicismo pegagógico, o desenvolvimento das tecnologias do ensino deve muito à ocupação escolanovista com os meios e as técnicas educacionais. A contribuição, nesse sentido, de BURRHUS FREDERICK SKINNER (1904-) foi considerável pelas suas técnicas psicológicas do condicionamento humano, aplicáveis ao ensino- aprendizagem. A influência do pensamento pedagógico escolanovista tem sido enorme. Muitas são as escolas que, sob diferentes nomes, revelam a mesma filosofia educacional: as "classes nouvelles" francesas que deram origem, década de 60, no Brasil, aos "ginásios vocacionais", às escolas ativas, escolas experimentais, aos colégios de aplicação das universidades, às escolas piloto, às escolas livres, às escolas comunitárias, aos lares- escolas, escolas individualistas, às escolas do trabalho, às escolas não-diretivas outras.

Os métodos, centro de interesse d Escola Nova, se aperfeiçoaram e levaram para a sala de aula o rádio, o cinema a televisão, o vídeo o computador e as máquinas de ensinar - inovações que atingem, de múltiplas maneiras, nossos

educadores, muitos deles perdendo-se diante de tantos meios e técnicas propostas. Por isso, hoje, cada vez mais, os educadores insistem na necessidade de buscar a análise de sua prática, a discussão do cotidiano da escola, sem o que de nada adiantam tantas inovações, planos e técnicas, por mais modernos e atraentes que sejam. Na segunda metade deste século uma visão crítica a respeito da educação escolanovista vem desmistificar o otimismo dos educadores novos. Esses educadores mais recentes afirmam que toda educação é política e que ela, na maioria das vezes, constitui-se, em função dos sistemas de educação implantados pelos Estados modernos, num processo através do qual as classes dominantes preparam a mentalidade, a ideologia, a conduta das crianças para reproduzirem a mesma sociedade e não para transformá-la. O educador brasileiro PAULO FREIRE (1921), herdeiro de muitas conquistas da Escola Nova, denunciou o caráter conservador dessa visão pedagógica e observou corretamente que a escola podia servir tanto para a educação como prática da dominação quanto para a educação nova não prática da liberdade. Entretanto, como ele mesmo afirma, a educação - nova não foi um mal em si, como sustentam alguns educadores

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"conteudistas". Ela representou, na história das idéias e práticas pedagógicas, um considerável avanço. O respeito à criança apregoado pela Escola Nova eqüivale muitas vezes a renunciar à direção educativa, a apontar as influências com as quais a burguesia impregna todo o social, sobretudo hoje, quando ela domina, nos países

capitalistas, os mais poderosos meios de comunicação, de informação e de formação da mentalidade popular. Educar não é ser omisso, ser indiferente, ser neutro diante da sociedade atual. Deixar a criança à educação espontânea da sociedade é também deixá-la ao autoritarismo de uma sociedade nada espontânea. O papel do educador é intervir, posicionar-se, mostrar um caminho, e não se omitir. A omissão é também uma forma de intervenção. O movimento da Escola Nova foi se construindo junto com a própria escola moderna, científica e pública. Os escolanovistas não puderam negar as contribuições do positivismo e do marxismo. Daí constituir-se num movimento complexo e contraditório. Não podemos confundi-lo apenas com um movimento liberal. Seus desdobramentos foram inevitáveis. Mesmo alguns educadores socialistas foram influenciados pela Escola Nova. Como veremos adiante, a Escola Socialista, popular e autônoma, como teoria e prática da educação, supera, sem anular, as conquistas antenores, quer da Escola Tradicional, quer da Escola Nova. Os teóricos progressistas atuais - como os marxistas Bogdan Suchodolski e Georges Snyders - apontam para uma perspectiva integradora dessas correntes. Mas antes veremos a contribuição da fenomenologia, do existencialismo, do pensamento antiautoritário e critico.

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EDUCAÇÃO TRADICIONAL VERSUS EDUCAÇÃO "NOVA" OU "PROGRESSIVA"

o homem gosta de pensar em termos de oposições extremadas, de pólos opostos. Costuma formular suas crenças em termos de "um ou outro", isto ou aquilo", entre os quais não reconhece possibilidades intermediárias. Quando forçado a reconhecer que não se pode agir com base nessas posições extremas, inclina-se a sustentar que esta certo em teoria mas na prática as circunstâncias

compelem ao acordo. A filosofia de educação não faz exceção a essa regra. A história da teoria de educação está marcada pela oposição entre a idéia de que educação é desenvolvimento de dentro para fora e a de que é formação de fora para dentro; a de que se baseia nos dotes naturais e a de que é um processo de vencer as inclinações naturais e substituí-las por hábitos adquiridos sob pressão externa. No presente, a oposição, no que diz respeito aos aspectos práticos da escola, tende a tomar a forma do contraste entre a educação tradicional e a educação progressiva. Se buscarmos formular, de modo geral, sem as qualificações necessárias para perfeita exatidão, as idéias fundamentais da primeira, poderemos assim resumi-las: A matéria ou o conteúdo da educação consiste de corpos de informação e de habilidades que se elaboraram no passado; a principal tarefa da escola é, portanto, transmiti-los à nova geração. No passado, também padrões e regras de conduta se estabeleceram; logo, educação moral consiste em adquirir hábitos de ação em conformidade com tais regras e padrões. Finalmente, o plano geral de organização da escola (as relações dos alunos uns com os outros e com os professores) faz da escola uma instituição radicalmente diferente das outras instituições sociais. Imaginemos a sala de aula comum, seus horários, esquemas de classificação, de exames e promoção, de regras de ordem e disciplina e, creio, logo veremos o que desejo exprimir com o "plano de

organização". Se contrastarmos a cena da escola com o que se passa na família, por exemplo, perceberemos o que procurei significar ao dizer que a escola fez-se uma espécie de instituição radicalmente diferente de qualquer outra forma de organização social.

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As características que acabamos de mencionar fixam os fins, os métodos da instrução e a disciplina escolar. O principal propósito ou objetivo é preparar o jovem para as suas futuras responsabilidades e para o sucesso na vida, por meio da aquisição de corpos organizados de informação e de formas existentes de habilitação, que constituem o material de instrução. Desde que as matérias de estudo, tanto quanto os padrões de conduta apropriada, nos vêm do passado, a atitude dos alunos, de modo geral, deve ser de docilidade, receptividade e obediência. Livros, especialmente manuais escolares são os principais representantes do conhecimento e da sabedoria do passado e os professores são os órgãos, por meio dos quais os alunos entram em relação com esse material. Os mestres são os agentes de comunicação do conhecimento e das habilitações e de imposição das normas de conduta. (...) Se buscarmos formular a filosofia de educação implícita nas práticas da educação mais nova, podemos, creio, descobrir certos princípios comuns por entre a variedade de escolas progressivas ora existentes, Á imposição de cima para baixo, opõe-se a expressão e cultivo da individualidade; à disciplina externa, opõe-se a atividade livre; a aprender por livros e professores, aprender por experiência; à aquisição por exercício e treino de habilidades e técnicas isoladas, a sua aquisição como meios para atingir fins que respondem a apelos diretos e vitais do aluno; à preparação para um futuro mais ou menos remoto apõe-se aproveitar-se ao máximo das oportunidades do presente; a fins e conhecimentos estáticos opõe-se a tomada de contato com um mundo em mudança. (...) Considero que a idéia fundamental da filosofia de educação mais nova e que lhe dá unidade é a de haver relação íntima e necessária entre os processos de nossa experiência real e a educação. Se isto é verdade, então o desenvolvimento positivo e construtivo de sua própria idéia básica depende de se ter uma idéia correta de experiência. Quando se rejeita o controle externo, o problema é como achar os fatores de controle inerentes ao processo de

experiência. Quando se refuga a autoridade externa, não se segue que toda autoridade deva ser rejeitada, mas antes que se deve buscar fonte mais efetiva de autoridade. Porque a educação velha impunha ao jovem o saber, os métodos e as regras de conduta da pessoa madura, não se segue, a não ser na base da filosofia dos extremos de isto-ou-aquilo", que o saber da pessoa madura não tenha valor de direção para a experiência do imaturo. Pelo contrário, baseando-se a educação na experiência pessoal, pode isto significar contatos mais numerosos e mais íntimos entre o imaturo e a pessoa amadurecida do que jamais houve na escola tradicional e, assim, consequentemente mais e não menos direção e orientação por outrem. Pág. 151

ANÁLISE E REFLEXAO

1. Que críticas Dewey faz à escola tradicional?

2. Para Dewey, quais eram as características da educação mais nova ou progressiva?

3. Pode-se dizer que a obra de Dewey está impregnada do conceito de "moderação", próprio do liberalismo. Selecione trechos do texto citado que comprovem essa tese. SOBRE O MEU MÉTODO

A criança não pode levar uma vida normal no mundo complicado dos adultos. Todavia, é evidente que o adulto, com a vigilância contínua, com as admoestações ininterruptas, com suas ordens arbitrárias, perturba e impede o desenvolvimento da criança. Dessa forma, todas as forças positivas que estão prestes a germinar são sufocadas; e a criança só conta com uma coisa: o desejo intenso de livrar-se, o mais rápido que lhe for possível, de tudo e de todos. Pág. 152

Portanto, esqueçamos o papel de carcereiros e tratemos, ao invés disto, de preparar-lhes um ambiente onde possamos, o máximo possível, não cansá-las com a nossa vigilância e nossos ensinamentos. É preciso que nos convençamos que quanto mais o ambiente corresponde às necessidades da criança, tanto mais poderá ser limitada a atividade do professor. Contudo, não podemos esquecer de um princípio importante. Dar liberdade à criança não quer dizer que se deva abandoná-la à própria sorte e, muito menos, negligenciá-la. A ajuda que damos à alma infantil não deve ser a indiferença passiva diante de todas as dificuldades de seu

desenvolvimento; muito pelo contrário, devemos assistir esse desenvolvimento com prudência e com um cuidado repleto de afeto (...) Certamente aqui está a chave de toda a pedagogia: saber reconhecer os instantes preciosos da concentração, a fim de poder utilizá-los no ensinamento da leitura, da escrita, das quatro operações e, mais tarde, da gramática, da aritmética, das línguas estrangeiras, etc. Ademais, todos os psicólogos estão acordes ao asseverar que só existe uma maneira de ensinar: suscitando o mais profundo interesse no estudante e, ao mesmo tempo, uma atenção viva e constante. Portanto, trata-se apenas disto: saber utilizar a força interior da criança com relação à sua educação. Isto é possível? Não é apenas possível, é necessário. A atenção tem necessidade de estímulos gradativos para concentrar- se. No começo serão objetos facilmente reconhecíveis pelos sentidos, que interessarão aos pequeninos: cilindros de diversos tamanhos, cores que deverão ser dispostas segundo a sua coloração, diversos sons para distinguir, superfícies mais ou menos difíceis para serem reconhecidas pelo tato. Porém, mais tarde teremos o alfabeto, os números, a leitura, a gramática, o desenho, as operações aritméticas mais difíceis, a história, as ciências naturais, e assim se construirá o saber da criança. Consequentemente, a tarefa da nova professora tornou-se muito mais delicada e mais séria. Depende dela se a criança encontrará seu caminho rumo à cultura e à perfeição ou se tudo será destruído. A coisa mais fácil é fazer a professora compreender que, para o progresso da criança, ela deve se eclipsar e renunciar aos direitos que, antes, eram dela; deve entender muito bem que não pode haver nenhuma influência nem sobre a formação nem sobre a disciplina do aluno, e que toda a sua confiança deve ser colocada nas energias latentes de seu discípulo. Sem dúvida sempre há alguma coisa que a compele, constantemente, a dar conselhos aos pequeninos, a corrigi- los ou a encorajá-los, mostrando-lhes que é superior por experiência e por cultura; mas não obterá nenhum resultado até que não se tenha conformado em manter dentro dela mesma toda e qualquer vaidade. Em compensação, a sua atuação indireta deve ser assídua: deve preparar, com pleno conhecimento de causa, o ambiente, dispor o material didático com habilidade e introduzir, com o máximo cuidado, a criança nos trabalhos da vida prática. Cabe a ela saber distinguir a criança que procura o caminho certo daquela que se enganou de

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caminho; deve estar sempre tranqüila, sempre pronta a ajudar, quando é chamada, a fim de demonstrar o seu amor e a sua confiança. Estar sempre a postos: só isto. A professora deve dedicar-se à formação de urna humanidade melhor. Assim como a vestal devia conservar puro e isento de escórias o fogo sagrado, assim a professora é a guardiã da chama da vida interior em toda a sua pureza. Se esta chama não for cuidada, haverá de se apagar para nunca mais voltar a arder.

MONTESSORI, Maria. Em família. Rio de Janeiro, Nórdica, s.d. p,

ANÁLISE E REFLEXAO

1. Comente as seguintes afirmações de Montessori:

a) "~...j é evidente que o adulto, com a vigilância contínua, com as admoestações ininterruptas, com suas ordens arbitrárias, perturba e impede o desenvolvimento da criança

b) "( ...)a criança só conta com uma coisa: o desejo intenso de livrar-se, o mais rápido que lhe for possível, de tudo e de todos".

2. Que papel terá o professor no método Montessori?

3. Faça uma visita a uma escola montessoriana e registre as impressões que você obteve. Pág. 154

A CONCEPÇÃO FUNCIONAL DA EDUCAÇÃO 1. Nos países civilizados' a escola, pública ou particular (com algumas felizes exceções), consagra um mundo de heresias fisiológicas, psicológicas e biológicas, contra as quais as Ligas de Higiene Mental devem lutar sem tréguas. Heresias morais, também, porque quantas vezes a escola não terá matado na criança o gosto pelo trabalho e quantas não terá projetado sobre os anos da infância uma sombra que a memória não apaga? 2. Para desempenhar sua missão da maneira mais adequada, a escola deve inspirar- se em uma concepção funcional da educação e do ensino. Essa concepção consiste em tomar a criança como centro dos programas e dos métodos escolares e considerar a própria educação como adaptação progressiva dos processos mentais a certas ações determinadas por certos desejos. 3. A mola da educação deve ser não o temor do castigo, nem mesmo o desejo da recompensa, mas o interesse, o interesse profundo pela coisa que se trata de assimilar ou de executar. A criança não deve trabalhar e portar-se bem para obedecer, e sim porque sinta que essa maneira de agir é desejável. Numa palavra, a disciplina interior deve substituir a disciplina exterior. 4. A escola deve preservar o período da infância, que ela muita vez encurta. não observando fases que deveriam ser respeitadas. 5. A educação deve visara desenvolvimento das funções intelectuais e morais, e não encher a cabeça de um mundo de conhecimentos que, quando não logo esquecidos, são quase sempre conhecimentos mortos, parados na memória como corpos estranhos, sem relação com a vida. 6. A escola deve ser ativa, isto é, mobilizar a atividade da criança. Deve ser mais um laboratório que um auditório. Para isso, poderá tirar útil partido do jogo, que estimula ao máximo a atividade da criança.


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