A educação é a prática mais humana, considerando-se a profundidade e a amplitude de sua influência na existência dos homens



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científica ou não, que inventar maneiras de impor esta atividade, Fundamentalmente, aproveitará três meios: a) valorizará esta cultura, criando um verdadeiro mito de homem maduro e culto corno ideal da humanidade; b) definirá a cultura mínima necessária para ser um homem maduro com um saber e medirá a assimilação deste saber pelo homem; c) tornar-se-á um exemplo vivo deste ideal, dominando perfeitamente este saber e inventando técnicas para permitir uma digestão fácil do saber. O que nos parece mais grave nesta perspectiva é que. entre o aluno e o professor, se estabelece aprioristicamente um desnível radical, que implica a existência de uma tensão constante entre o professor (que dará o seu saber com certas condições) e o aluno (ávido de recebê-lo o mais depressa possível). Por isto mesmo, neste caso, não existem condições para um verdadeiro diálogo.

A ideologia da prematuridade

Na outra perspectiva a da prematuridade, tanto a interpretação como as concepções pedagógicas decorrentes são profundamente diferentes. A partir de considerações sobre a evolução do gênero humano, que se encontram já em Darwin e que foram reelaboradas por L. Bolk, o homem não nasce incompleto (i-maturo), mas, antes. prematuramente. Isto é, ele é completo (por isto o bebê pode viver), mas inacabado. Há portanto, no caso do homem um nascimento prematuro, mesmo no caso de um parto normal, no sentido de que, sem educação, sem o cuidado dos pais e da sociedade, o homem não tem condição de aperfeiçoar a sua evolução, nem chegar a ser homem; permanece apenas um ser vivo, O homem, depois de nascer, continua, portanto, evoluindo lentamente, tão lentamente quanto necessário para poder aproveitar uma aprendizagem complexa e completa. E porque o homem nasce prematuro que a infância tem uma importância tão grande para toda a existência. Nesta perspectiva não existe, de fato, um limite claro entre a imaturidade e a maturidade. As conseqüências imediatas desta prematuridade São: a) O homem precisa amadurecer, porque senão ele perderá as suas possibilidades. A maturação não é mais imposta. E uma tarefa da qual sente a possibilidade até no próprio corpo. h) Esta maturação é uma história que não é predeterminada - como no caso do homem imaturo, o qual deve assemelhar-se um dia com o homem maduro ou homem ideal -, mas é condicionada por sua situação. Se tem um alvo, a maturação não tem um ponto final propriamente dito.

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c) Esta maturação é pessoal, existencial e, portanto. implica responsabilidade, tanto da comunidade quanto do homem, que tem, sempre, a possibilidade de interromper este processo e de pensar declarar e viver como se já estivesse maduro. A educação, neste caso, não pode trazer apenas algo para completar o que a natureza já fez, visto que a maturação é o próprio movimento histórico que o homem. como Sujeito responsável, efetua. A sua função é muito mais modesta. É a de permitir que este processo possa realizar-se nas melhores condições. O próprio educador não é mais um possuidor de uma bagagem a ser vendida, sob certas condições, ou transmitida, ou dada, mas um companheiro que está, também, num processo de maturação. A sua função e a de estar presente e de acompanhar o aluno, de maneira que ambos vivam a comunicação educacional como uma intersubjetividade, com várias histórias possíveis, mas paralelas. A cultura também sofre uma interpretação bem diferente, visto que. nesta perspectiva, não pode, de maneira alguma, ser definida como um objeto, mas, ao contrário, como uma certa maneira de vivera vida. A cultura não é bagagem, nem coisa. E uma certa forma dada à história pessoal. A educação tem um papel importante na formação cultural do homem: não o de "dar uma cultura, mas o de lhe dar as possibilidades e os instrumentos que lhe permitam ser culto, se quiser. A educação pode ser, pois, definida como uma metodologia: a aprendizagem do aprender. Assim, a partir da definição do inacabamento do homem como prematuridade, devemos revisar totalmente o conceito de educação. Se o homem é um ser fundamen- talmente prematuro, então a educação terá, como função principal, o permitir ao homem o Jazer-se a partir da concreta e global na qual está colocado. É uma presença situação atenta da geração anterior para permitir à nova geração afirmar-se nas plenas possibilidades novas, para uma sociedade nova, a ser vivida em novas condições. A educação, fundamentalmente, não é conservadora, porque, assim, seria imaginar que o ideal é a situação atual; nem adaptadora, porque seria pensar que a socialização e a única maneira de amadurecer, nem tampouco será imposta totalmente pela sociedade, PO)t(IUC a educação goza de uma liberdade relativa dentro das estruturas sociais liberdade que lhe permite prever a evolução. O homem sendo um ser temporal, por ser prematuro, a sua educação é a primeira maneira de organizar a temporalidade vivida, para que se/a plena e autenticamente significativa.

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ANÁLISE E REFLEXÃO

1. O que é maturidade, para Pierre Furter?

2. Diferencie os conceitos de imaturidade e prematuridade.

3. Comente o seguinte trecho:

"A educação tem um papel importante na formação cultural do homem: não o de 'dar uma cultura', mas o de lhe dar as possibilidades e os instrumentos que lhe permitam ser culto, se quiser". BERIRAND SCHWARTL (1919) nasceu em Paris, onde estudou no Escola Politécnica. Em 1957 foi nomeado diretor da Escola de Minas de Nancy, na França. Foi diretor do Centro Universitário de Cooperação Econômica e Social e do Instituto Nacional para a Formação de Adultos. Em 1970 foi nomeado conselheiro paro a Educação Permanente do Ministério da Educação da França. Hoje ele é professor da Universidade de Paris. Em sua obra principal, A educação amanhã, funda todo um projeto educacional no conceito de educação permanente. Defende a educação pré- escolar como um instrumento de igualdade de chances. Para ele, a educação deve formar para a autonomia intelectual e para o pluralismo.

UM NOVO SISTEMA

É, sem dúvida, de um sistema novo que estamos tratando. Pode-se, ainda, falar de escola? Traduzidos e executados no tempo e espaço, nossos princípios fazem nascer as mais diversas formas educativas, mas estas continuam quase sempre inéditas; de qualquer modo, jamais ainda generalizadas. Não se deve constatar, partindo-se da reflexão sobre as modalidades de ensino e sobre a estranha resistência que as estruturas e as mentalidades opõem à mudança, que a sala de aula está para o ensino assim como a diligência está para os transportes modernos: uma categoria fora deusa e inadequada... É a mesma reflexão que fazemos aqui a propósito da escola, em geral: uma categoria pode estar totalmente fora de uso e inadequada para traduzir nosso projeto educativo. Se nos acontece, pois,. nos capítulos seguintes, os quais têm precisamente por finalidade esboçar uma aplicação concreta de nossos princípios diretores, empregar ainda os termos escola e escolaridade, tal sucederá por pobreza de linguagem. Ou

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melhor ainda, teremos dado ao termo uma significação radicalmente nova, como McLuhan, quando escreve: "um dia passaremos nossa vida inteira na escola; um dia passaremos nossa vida inteira em contato com o mundo, sem nada que nos separe dele..., e ainda, "o arquiteto de amanhã será capaz de se lançar na apaixonante tarefa que é a criação de um novo ambiente escolar. Os estudantes nele evoluirão livremente quer o espaço que lhes for concedido seja delimitado por uma peça, um edifício ou edifícios, ou quer mesmo seja bem mais vasto. Essa mesma idéia é retomada por M. Janne: "A educação escolar ensinará o jovem a ~e formar pelos meios exteriores à escola e o levará por si mesmo a uma assunção de autonomia. O ensino não será mais um monopólio único e os estudos não se farão mais em um espaço particularizado, a escola. (.1.

Uma nova pedagogia

É, sem dúvida, artificialmente que tratamos em separado do desenvolvimento da autonomia, da criatividade e da socialização. Na realidade concreta, o desenvolvimento da criatividade concorre para garantir a autonomia das pessoas, a autonomia facilita e enriquece as relações sociais, e uma boa inserção social estimula ao mesmo tempo a assunção da responsabilidade e o gosto de criar... O desenvolvimento pessoal não se corta em fatias. Isso é tão verdadeiro que, por vezes, as dificuldades de ordem intelectual chegam a comprometer o equilíbrio afetivo de um indivíduo, em compensação uma dificuldade profunda para se desenvolver afetivamente bloqueia gravemente qualquer progresso no campo intelectual. De fato, trata-se de uma interação permanente. O homem se percebe como mutilado, se um certo número de modalidades de expressão de si lhe é inacessível. O aparelho educativo deve, pois, dar igualmente ao indivíduo as chaves do saber, dos saber-fazer e dos saber-ser. Por tal razão, quisemos que nosso projeto se definisse como simultaneamente centrado sobre a pessoa e aberto. • Centrado sobre a pessoa, distingue-se dos projetos ou sistemas centrados apenas sobre a aquisição o mais rápido, o mais econômico possível, dos conhecimentos e automatismo. Distancia-se das "técnicas que conduzem a bem aprender, mas não a inventar" (Piaget) e, de maneira geral, face a tudo o que pode levar à estandardização dos comportamentos e dos métodos de trabalho. Como McLuhan, toma, ao contrário, partido a favor de um novo tipo de estudante, que "suscitará bagagem e até mesmo inventará seus próprios métodos de pesquisa... • Aberto, nosso projeto pretende se diferenciar de um tipo de ensino fechado, dominado pelo mimetismo da competição, em que a questão a ser tratada pelo aluno é determinada pelo mestre, e era que o aluno é pressionado a encontrar o encaminha- pág.286

mento e a solução do mestre, únicos considerados como válidos. Esse processo apresenta, na realidade, pelo menos dois inconvenientes, Inicialmente, na vida corrente, um verdadeiro problema coloca-se, na maioria das vezes, em termos de funções a preencher, restando a descobrir os meios e os dados. E isso é igualmente verdadeiro em se tratando de problemas materiais, tais como a organização do orçamento familiar, quanto de problemas intelectuais, tais como os que podem ser postos, por exemplo, em física. Além disso, porque os problemas postos pelos mestres são, a não ser muito raramente, os que os alunos se colocam, os quais, por seu lado, se apresentam para eles, em todo caso, muito importantes. Um sistema aberto pretende desenvolver, em todos os níveis, a aptidão dos indivíduos para descobrir e inventar, o que passa por uma pedagogia que permite aos alunos colocar seus encaminhamentos e suas soluções. Essa é uma condição indispensável ao desenvolvimento da criatividade, que exige uma alternância de pesquisa livre e de criação, mas também perseverança, espírito de persistência e disciplina. (...)

Por onde começar? Algumas pistas

Não elaboraremos uma lista das pistas de experimentação, considerando que essencialmente dependem das situações nacionais. Limitamo-nos a dizer que deverão se apoiar, de uma parte, ao máximo, sobre as instituições educativas existentes, com a idéia de transformá-las e, de outra, sobre o desenvolvimento da utilização das mais diversas formas de suportes educativos. Em uma outra ordem de idéias, deverão elas ser tão significativas quanto possível, e a esse título:

..de um lado), inspirar-se em um modelo de educação permanente: desenvolvimento da igualdade de oportunidades, continuidade no tempo e no espaço, associação em

todos os níveis da formação geral (cultural e social) à formação profissional, participação dos usuários na determinação dos objetivos, dos meios e das modalidades de controle; • de outro lado, ser suscetíveis de repercussão em consideráveis partes do sistema estabelecido. Para ter esse efeito de envolvimento, essas experiências deverão: • ter alcance suficientemente amplo (volume de público atingido, caráter representativo da amostra) e sobretudo global (isto é, se possível atingir todos os públicos e todos os níveis ao mesmo tempo); notemos a este respeito que toda experiência horizontal, isto é, atingindo de maneira uniforme apenas um nível, corre o forte risco de ser destruída pelas reações da corrente abaixo e a não-preparação para a subida; • prestar-se à análise científica e ao controle (hipóteses claramente expressas, conjunto de variáveis e indicadores de produto bem formulados);

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• prestar-se à generalização (isto é, não envolver a príori nem despesas inaceitáveis nem exigências de pessoal ou de meios impossíveis de se satisfazerem regime de exploração). Os primeiros critérios são, pois, mais "políticos" e, os segundos, mais técnicos. Devendo nosso cuidado iniciar aqui sobre as estratégias de partida, não causará estranheza a particular atenção concedida aos segundos. A realização que permaneça pontual e marginal não será vista por nós como significativa. Ao contrário, devemos valorizar todas aquelas que se apresentarem aptas para "contaminar" o conjunto. De fato, nenhuma experiência deveria ter início sem que se tivesse posto na partida (para se as colocar em cada etapa de sua história) as poucas e simples questões que se seguem: • Como prosseguir? Isto ~: Que seqüência os participantes poderão dar à sua experiência? As estruturas e os métodos que encontrarão nessa seqüência são coerentes com os que acabam de abandonar, e como afirmar e aperfeiçoar essa coerência? • Como contaminar? Isto é: Se nos ocuparmos de jovens (escolares, por exemplo), como provocar um movimento entre os adultos (pais, por exemplo, ou empregadores...)? E, se nos ocuparmos de adultos, como sensibilizar os jovens e os educadores para essa ação? Que incidência, enfim (nem sempre perceptível à primeira vista), terá nossa ação sobre o conjunto da população que forma o meio? E como chegar a dominar esses efeitos indiretos? • Como ampliar? Isto é: Como levar outros estabelecimentos ou organismos, intervenientes ao mesmo nível e sobre populações idênticas às nossas, a tirar partido de nossas pesquisas, êxitos e fracassos? • Como diversificar? Isto é: Como, em um movimento aparentemente contrário mas que representa apenas uma outra etapa da pesquisa, simplificar, reunir aproximações aparentemente divergentes, para submetê-las a um modelo mais amplo e mais aberto? Propomos, pois, uma tática essencialmente pragmática. Sempre e em todo lugar, trata-se de tirar partido das situações e, especificamente, das situações de crise, entendendo-se por isso uma situação que se desenvolve cada vez que uma nova necessidade se exprime e que a instituição educativa, pressionada à última hora, não tiver ainda elaborado sua resposta, ou melhor, não a tiver encontrado no arsenal de suas fórmulas já utilizadas em outras condições e em face de outras necessidades, a resposta menos inadequada. Trata-se de tirar proveito dessas lacunas, dessas áreas de indeterminação no espaço e no tempo, para dar oportunidade à inovação.

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Se, ao mesmo tempo, se tiver sabido tornar a inovação "contaminante" a respeito do conjunto do aparelho e se o meio, preparado para esse efeito, fizer eco) à proposição e a repercutir assumindo-a, podemos dizer que os freios inerentes à instituição e aos homens não serão mais determinantes. Ter-se-á dado uma oportunidade à mudança.



SCHWARTL, Bertrand. A educação amanhã. Petrópolis, Vazes, 1 916.

ANÁLISE E REFLEXÃO

1. Comente:

"Não se deve constatar partindo-se da reflexão sobre as modalidades de ensino e sobre a estranha resistência que as estruturas e as mentalidades opõem à mudança que a sala de aula está para o ensino assim como a diligência está para os transportes modernos: uma categoria fora de uso e inadequada..."

2. Rara Schwartz, o que o aparelho educativo deve oferecer ao indivíduos

3. Ao iniciar uma experiência, que perguntas o educador deve fazer? Explique cada uma delas.

TECNOLOGIA E DESESCOLARIZACÂO INDIVIDUO COMO PRODUTO DO MEIO

BURRHUS FREDERIC SKINNER (1904-1990) doutorou-se em Harvard (1931). Após vários anos de bolsas pós-doutorais, lecionou nas universidades de Minnesota e de Indiana. Regressou a Harvard em 1947. A sua influência sobre os mais jovens psicólogos tem sido muito grande. Skinner pode ser considerado um representante da análise funcional do comportamento dos mais difundidos no Brasil. Firmou-se como um dos principais behavioristas (do inglês behovior"' comportamento) e, embora influenciado pelo behaviorismo de Watson (1878-1958), parece seguir mais os trabalhos de Pavlov e Thorndike que se caracterizam pelo conexionismo - aprendizagem por conseqüências recompensadoras - e pelo condicionamento clássico -, processo de aprendizagem que consiste na formação de uma associação entre um estímulo e uma resposta aprendida através da contigüidade, respectivamente. Limitou-se ao estudo de comportamentos ma-

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ou mensuráveis. Sem negar processos mentais nem filosóficos, ele acha que o estudo do comportamento não depende de conclusões sobre o que se passa dentro do organismo. Segundo ele, a tarefa da psicologia é a predição e o controle do comportamento, e, como todos os homens controlam e são controlados, o controle deve ser analisado e considerado. Ele nega a liberdade humana e afirma que o nosso comportamento só pode ser explicado mediante um rígido determinismo. Contudo, o determinismo de Skinner limita-se praticamente ao indivíduo, não atinge a sociedade ou a cultura Skinner nega que os diferenças individuais possam explicaras produções geniais. A diferença entre um reconhecido medíocre e um gênio deve ser procurado na história dos reforços a que eles foram submetidos, embora ele admita que as pessoas possam revelar grandes diferenças herdadas. Segundo ele, o homem é um ser manipulável, criatura circunstancial, governada por estímulos do meio ambiente externo. Este tem a função de moldar, determinar o comportamento. Para isso, são organizadas contingências de reforço, ou sela, quando desejamos que um organismo tenha um comportamento que não lhe é peculiar, começamos por reforçar o desempenho que se aproxime do esperado. Esse tipo de método é muito utilizado na educação e na indústria. Por exemplo, o aluno que é reforçado por completar uma tarefa ou o operário que ganha por produção. Na escola os reforços são arranjados com propósitos de condicionamento. Os reforçadores são artificiais, como: "treino", "exercício" e "prática". Para Skinner, o fracasso dos professores está na negligência do método. A educação é montado em esquemas aversivos que os alunos combatem com falta de atenção, converso, apatia, etc. Para resolver os problemas da educação é necessário proceder por meio da análise dos conjuntos. Somente as totalidades são concretos e reais dando conta da dimensão histórica do social. É preciso definir concretamente o indivíduo dentro da sociedade em que vive. Principais obras: Sobre o behaviorismo e O mito da liberdade,

* MITO DA LIBERDADE E A TECNOLOGIA DO ENSINO

Quase todos os nossos problemas principais abrangem o comportamento humano e não poden~ ser resolvidos apenas com a tecnologia física e biológica. necessária uma tecnologia do comportamento, mas temos sido morosos no desenvolvimento de uma ciência da qual se poderia extrair essa tecnologia. Uma dificuldade é que quase tudo que é denominado de ciência do comportamento continua a vincular comportamento humano a estados de espírito, sentimentos, traços de caráter, natureza humana e assim por diante, A física e a biologia já seguiram práticas similares e somente se desenvolveram quando as descartaram. As ciências do comportamento têm s transformado lentamente em parte porque as entidades explicativas com freqüência parecem ser diretamente observáveis e também pelo fato de ser difícil encontrar outra espécies de explicação. O ambiente é, sem dúvida, importante, mas seu papel ter. permanecido obscuro. Não impulsiona nem puxa, mas seleciona e essa função é difícil de ser percebida e analisada. O papel da seleção natural na evolução foi formulado h: pouco mais de cem anos, e a função seletiva do ambiente na modelagem e manutenção



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do comportamento do indivíduo está apenas começando a ser reconhecida e estudada. À medida que a interação entre o organismo e o ambiente começa a ser entendida os efeitos anteriormente atribuídos a estados mentais, sentimentos e traços de caráter começam a se vincular a condições acessíveis; surge, pois, a possibilidade de uma tecnologia do comportamento. Entretanto ela não resolverá nossos problemas até superarmos os pontos de vista pré-científicos, que estão fortemente enraizados. A liberdade e a dignidade ilustram a dificuldade. São propriedades do homem autônomo, da teoria tradicional, e essenciais às práticas nas quais uma pessoa é responsabilizada por sua conduta ou elogiada por suas realizações. A análise científica transfere tanto a responsabilidade quanto a realização para o ambiente. Isto implica também o levantamento de indagações referentes a "valores". Quem usará a tecnologia e com que finalidade? Até que esses problemas sejam resolvidos, a tecnologia do comportamento continuará a ser rejeitada e, com ela, possivelmente o único caminho para resolvermos nossos problemas. (...) A luta do homem pela liberdade não se deve ao desejo de ser livre, mas há certos processos característicos de comportamento do organismo humano, cuja conseqüência principal é evitar ou fugir dos chamados aspectos "aversivos" do ambiente. As tecnologias físicas e biológicas têm estado interessadas principalmente nos estímulos aversivos naturais; a luta pela liberdade está preocupada com estímulos intencionalmente fornecidos por outros indivíduos. A literatura da liberdade tem identificado esses indivíduos e tem sugerido meios de fugir deles, ou de enfraquecer ou destruir o seu poder. Tem tido êxito na redução dos estímulos aversivos empregados no controle intencional, mas errou ao definir a liberdade em termos de estados de espírito ou sentimentos. Por isso, não tem sido capaz de lidar eficazmente com técnicas de controle que não provoquem a fuga ou a revolta, mas, no entanto, produzem conseqüências aversivas. Tem sido forçada a rotular todo controle como errado e a deturpar muitas das vantagens extraídas de um ambiente social. Está despreparada para o passo seguinte, que não será o de libertar os homens do controle, mas sim analisar e modificar os diversos tipos de controle a que se encontram submetidos. (...) A concepção tradicional do homem é lisonjeira; confere privilégios reforçadores. Portanto, é fácil de ser defendida e difícil de ser modificada. Foi planejada para desenvolver o indivíduo como um instrumento de contracontrole, e o fez de forma bastante eficaz como intuito delimitara progresso. Vimos como a literatura da liberdade e da dignidade, com o seu interesse pelo homem autônomo, perpetuou o emprego da punição e desculpou-o de técnicas não punitivas inoperantes, e não é difícil demonstrar a conexão entre o direito do indivíduo em buscar a felicidade e as catástrofes com que somos ameaçados pela procriação descontrolada, a riqueza irrestrita que esgota os recursos e polui o ambiente, e a iminência de uma guerra nuclear.

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As tecnologias física e biológica aliviaram a peste e a fome e muitos aspectos dolorosos, perigosos e exaustivos da vida diária, e a tecnologia do comportamento pode começar a aliviar outras formas de adversidades. Na análise do comportamento humano, é bem possível que estejamos um pouquinho além da posição de Newton em relação à análise da luz, pois estamos começando a fazer aplicações tecnológicas. Há possibilidades maravilhosas - cada qual mais maravilhosa que a outra devido à ineficácia das abordagens tradicionais. É difícil imaginar um mundo onde as pessoas vivam juntas sem brigar, que se mantenham através da produção de alimentos, das habitações e do vestuário de que necessitem, que se divirtam e contribuam para o divertimento de outros na arte, na música, na literatura, nos jogos, que consumam só uma parte razoável dos recursos ambientais e acrescentem o menos possível à poluição, que não criem mais filhos além dos que possam criar de modo decente, que continuem a explorar o mundo a seu redor e a descobrir meios melhores de lidar com ele, e venham a se conhecer de forma precisa e, assim, administrem-se eficazmente, Tudo isso ainda é viável, e mesmo que o mais leve sinal de progresso acarretasse uma espécie de mudança, que, em termos tradicionais se diria, suavizaria a vaidade ferida, e compensaria um senso de desesperança ou nostalgia, corrigiria a impressão de que "não podemos e nem precisamos fazer algo por nós mesmos", e promoveria um 'sentido de liberdade e dignidade", através do estabelecimento de um 'sentido de confiança e valor". Em outras palavras, reforçaria extremamente aqueles que foram induzidos por sua cultura a trabalhar por sua perpetuação.

Uma análise experimental transfere a determinação do comportamento do homem autônomo para o ambiente - um ambiente responsável tanto pela evolução da espécie como pelo repertório adquirido pelos seus membros. As primeiras versões do ambientalismo foram inadequadas, pois não podiam explicar como o ambiente funcionava, e parece que muito se deixou ao encargo do homem autônomo. Mas, atualmente, as contingências ambientais assumem funções já atribuídas ao homem autônomo, e certas questões são suscitadas. O homem, então, está "extinto"? Certamente não, como espécie ou como indivíduo empreendedor. O homem interior autônomo é que foi abolido, e isso constitui um passo adiante. Mas, dessa forma, ~ homem não se torna simplesmente uma vítima ou um observador passivo do que lhe ocorre? Realmente, ele se encontra controlado por seu ambiente, porém não devemos esquecer que é um ambiente construído em grande parte pelo próprio homem. A evolução de uma cultura e um exercício gigantesco de autocontrole. Freqüentemente se diz que uma concepção científica do homem conduz à vaidade ferida, a uma sensação de desesperança e nostalgia. Mas nenhuma teoria modifica o seu objeto de análise; o homem permanece o que sempre foi . E uma nova teoria pode modificar o que pode ser feito em relação a


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