A educação é a prática mais humana, considerando-se a profundidade e a amplitude de sua influência na existência dos homens



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processo descrito a seguir. Todo ovo é aquecido, o calor produz movimento, e esse movimento gera um sistema de veias, que esboçam a forma do pássaro inteiro (definindo as partes que irão transformar-se na cabeça, asas, pés, etc.). Até que esse esboço esteja completo, as partes individuais não são levadas ao acabamento. Um artista procede da mesma forma. Não começa desenhando uma orelha, um olho, um nariz ou uma boca, mas faz primeiro um esboço a carvão da face ou de todo o corpo. Se achar que esse esboço se assemelha ao original, pinta-o com leves pinceladas, ainda omitindo todos os detalhes. Então, finalmente, acrescenta a luz e a sombra e, usando uma variedade de cores, termina as várias partes em detalhe. [Isso significa:] a) Cada língua, ciência ou arte deve ser

ensinada primeiro em seus elementos mais simples, para que o estudante possa obter uma idéia geral sobre ela. b) Seu conhecimento pode, em seguida, ser mais

desenvolvido, apresentando-se-lhe regras e exemplos. c) Em seguida pode-se permitir ao estudante que aprenda a matéria de forma sistemática, com exceções e irregularidades e d) Em último lugar, pode-se fazer um comentário, embora apenas onde for absolutamente necessário. Pois aquele que dominou completamente um assunto desde o início terá pouca necessidade de comentário, estando em pouco tempo em posição de escrever um, ele próprio.

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7º) A natureza não dá saltos, mas prossegue passo a passo. Segue-se, portanto: a) Que todos os estudos deviam ser cuidadosamente graduados nas várias classes, de tal forma que os que vêm primeiro possam preparar o caminho aos que vêm depois, e iluminá-los. b) Que o tempo deve ser dividido cuidadosamente, de modo que cada ano, cada mês, cada dia e cada hora possa ter sua tarefa determinada. c) Que a divisão do tempo e das matérias de estudo deve ser rigorosamente respeitada, para que nada seja omitido ou deturpado. 8º) Se a natureza começa qualquer coisa, não a abandona até que a operação esteja completa. Segue-se, portanto: 1. Que aquele que é mandado para a escola nela deve ser mantido até tornar- se bem informado, virtuoso e piedoso. 2. Que a escola deve estar situada num lugar tranqüilo, longe do barulho e das distrações. 3. Que o que quer que tenha de ser feito, de acordo como o tema de estudo; o seja sem qualquer ato de esquivar-se. 4. Que nenhum rapaz, sob qualquer pretexto, tenha permissão de afastar-se ou faltar às aulas. 9º) A natureza evita cuidadosamente os obstáculos e as coisas com probabilidade de causar dano. Por exemplo, quando um pássaro está chocando ovos, não permite que um vento frio, nem muito menos que a chuva ou o granizo, os alcance. Também afugenta as cobras, os pássaros de rapina, etc. Da mesma forma o construtor, na medida do possível, mantém secos sua madeira, seus tijolos e cal, e não permite que o que construiu seja destruído ou que desmorone. Também assim o pintor protege um quadro recém-pintado do vento, do calor violento e da poeira, e não permite que qualquer outra mão além da sua o toque. O jardineiro também protege uma planta nova cercando-a com escoras ou outro obstáculo, para que as lebres e cabras não a comam ou arranquem. Por isso é loucura apresentar a um estudante pontos controversos quando ele estiver apenas começando uma matéria; isto é, permitir a uma mente que está dominando algo de novo a assumir uma atitude de dúvida. Que é isso senão arrancar uma planta que está começando a lançar raízes? É com justiça que Hugo diz: "Aquele que começa pela investigação de pontos duvidosos nunca entrará no templo da sabedoria". Mas é exatamente isso que ocorre se os jovens não forem protegidos de livros incorretos, intricados e mal escritos, bem como de

companhias más. As escolas devem ter cuidado: a) Para que os estudantes não recebam quaisquer livros, a não ser aqueles adequados a suas aulas.

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b) Que esses livros sejam de tal espécie que possam ser chamado. de fontes de sabedoria,, virtude e piedade. c) Que nem na escola nem em suas proximidades os estudantes tenham de misturar- se a maus companheiros. Se todas essas recomendações forem observadas, dificilmente será possível que escolas fracassem em atingir seu objetivo.



In MAYER, Frederick. história do pensamento educacional. Rio de Janeiro,

ANÁLISE E REFLEXAO

1. Destaque as passagens do texto Os nove princípios de Comênio que

evidenciam o realismo pedagógico característico da época.

2. Escreva sobre a atualidade do pensamento pedagógico de Comênio.

O AUTOCONTROLE E UM ELEMENTO VITAL NA EDUCAÇÃO

O grande erro que observei na educação dos filhos é que não se cuida o suficiente desse aspecto na época devida; que a mente não é tomada obediente à disciplina e dócil à razão quando, no início, era mais tenra, mais facilmente dobrada. Os pais, recebendo, sabiamente, a ordem da natureza no sentido de amarem seus filhos, têm grande tendência, se a razão não observar sua afeição natural muito atentamente - têm, como eu dizia, grande tendência a deixar a afeição tomar conta de tudo. Amam seus filhos, e este é seu dever; mas, com freqüência, amam seus erros também. Naturalmente,

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os filhos não devem ser irritados, deve-se-lhes permitir que ajam segundo sua vontade em tudo; e como, na infância, as crianças não são capazes de grandes faltas, seus pais acham que podem, com bastante segurança, perdoar suas pequenas irregularidades e divertir-se com aquela perversidade engraçadinha que os pais acham muito adequada àquela idade inocente. Mas Sólon respondeu muito bem a um pai amoroso, que não desejava que seu filho fosse corrigido por uma brincadeira perversa, alegando que era assunto sem importância: "Sim, mas o hábito tem grande importância".

Um professor deve amar seu aluno A grande habilidade de um professor é obter e manter a atenção de seu aluno: enquanto tiver isso, terá certeza de progredir tão rapidamente quanto a capacidade do aluno o permitir; e, sem isso, toda a sua pressa e alvoroço terão pouco ou nenhum propósito (por maior que possa ser) a utilidade do que ensina; e que o professor faça ver ao aluno que, com o que aprendeu, ele pode fazer algo de que não era capaz anteriormente; algo que lhe dê algum poder e vantagem real sobre os outros que desconhecem o mesmo assunto. A isso, o professor deve acrescentar gentileza em todas as suas aulas; e, por meio de um certa ternura em sua atitude, deixar perceber à criança que ela é amada e o professor não tem outra intenção senão o seu bem; esse é o único modo de originar amor na criança, o que a fará dar atenção às aulas e ter prazer com o que o professor lhe ensina.

In MAYER, FredeRICK. História do pensamento educacional Rio de Janeiro,

ANÁLISE E REFLEXAO

Dê sua opinião sobre as seguintes afirmações de Locke:

a) "Nossas observações dos objetos sensíveis externos, ou das atividades internas da nossa mente, que percebemos e sobre as quais nós mesmos refletimos, são as que aprovisionam nosso entendimento de todos os materiais de pensar".

b) "Naturalmente, os filhos não devem ser irritados; deve-se-lhes permitir que ajam segundo sua vontade em tudo; e, como na infância, as crianças não são capazes de grandes faltas, seus pais acham que podem 1...) perdoar suas

pequenas irregularidades e divertir-se com aquela perversidade engraçadinho".

c) "O professor deve acrescentar gentileza em todas as suas aulas; e, por meio de uma certa ternura em sua atitude, deixar perceber à criança que ela é amada"

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A Idade Moderna estende-se de 1453 a 1789, período no qual predominou o regime absolutista, que concentrava o poder no clero e na nobreza. A Revolução Francesa pôs fim a essa situação. Ela já estava presente no discurso dos grandes pensadores e intelectuais da época, chamados "iluministas" ou "ilustrados" pelo apego a racionalidade e à luta em favor das liberdades individuais, contra o obscurantismo da Igreja e a prepotência dos governantes. Esses filósofos também eram chamados "enciclopedistas" por serem partidários das idéias liberais expostas na obra monumental publicada sob a direção de Diderot e D'Alembert com o nome A enciclopédia. Entre os iluministas, destaca-se JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-1778), que inaugurou uma nova era na história da educação. Ele se constituiu no marco que divide a velha e a nova escola. Suas obras, com grande atualidade, são lidas até hoje. Entre elas citamos: Sobre a desigualdade entre os homens, O contrato social e Emílio. Rousseau resgata primordialmente a relação entre a educação e a política. Centraliza, pela primeira vez, o tema da infância na educação. A partir dele, a criança não seria mais considerada um adulto em miniatura: ela vive em um mundo próprio que é preciso compreender; o educador

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para educar deve fazer-se educando de seu educando; a criança nasce boa, o adulto, com sua falsa concepção da vida, é que perverte a criança. O século XVIII é político-pedagógico por excelência. As camadas populares reivindicam ostensivamente mais saber e educação pública. Pela primeira vez um Estado instituiu a obrigatoriedade escolar (Prússia, 1717). Cresce, sobretudo na Alemanha, a intervenção do Estado na educação, criando Escolas Normais, princípios e planos que desembocam na grande revolução pedagógica nacional francesa do final do século. Nunca anteriormente se havia discutido tanto a formação do cidadão através das escolas como durante os seis anos de vida da Revolução Francesa. A escola pública é filha dessa revolução burguesa. Os grandes teóricos iluministas pregavam uma educação cívica e patriótica inspirada nos princípios da democracia, uma educação laica, gratuitamente oferecida pelo Estado para todos. Tem início com ela a idéia da unificação do ensino público em todos os graus. Mas ainda era elitista: só os mais capazes podiam prosseguir até a universidade. O iluminismo procurou libertar o pensamento da repressão dos monarcas

terrenos e do despotismo sobrenatural do clero. Acentuou o movimento pela liberdade individual iniciado no período anterior e buscou refúgio na natureza: o ideal de vida era o "bom selvagem", livre de todos os condicionamentos sociais. É evidente que essa liberdade só podia ser praticada por uns poucos, aqueles que, de fato, livres do trabalho material, tinham sua sobrevivência garantida por um regime econômico de exploração do trabalho. A idéia da volta ao estado natural do homem é demonstrada pelo espaço que Rousseau dedica à descrição imaginária da sociedade existente entre os homens primitivos. Dava como exemplo os índios que viviam nas Américas. O seu Emilio, também um personagem, educa-se sem nenhum contato com outros homens, nem com religião alguma: apenas pelo convívio com a natureza. Privado do contato dos pais e da escola, Emílio permanece nas mãos de um preceptor ideal, o próprio Rousseau. A educação não deveria apenas instruir, mas permitir que a natureza desabrochasse na criança; não deveria reprimir ou modelar. Baseado na teoria da bondade natural do homem, Rousseau sustentava que só os instintos e os interesses naturais deveriam direcionar. Acabava sendo uma educação

racionalista e negativa, ou seja, de restrição da experiência. Rousseau é o precursor da escola nova, que inicia no século XIX e teve grande êxito na primeira metade do século XX, sendo ainda hoje muito viva. Suas doutrinas tiveram muita influência sobre educadores da época, como Pestalozzi, Herbart e Froebel.

Pág. 89 Rousseau divide a educação em três momentos: o da infância, o adolescência e o da maturidade. Só na adolescência deveria haver desenvolvimento

científico mais amplo e estabelecimento de vida social

Á primeira fase ele chama idade da natureza (até os 12 anos); à segunda, idade da força, da razão e das paixões (dos 12 aos 20 anos), e à terceira ele chama idade da sabedoria e do casamento (dos 20 aos 25 anos). Através de Rousseau, podemos perceber que o século XVIII realiza a transição do controle da educação da Igreja para o Estado. Nessa época desenvolveu-se o esforço da burguesia para estabelecer o controle civil (não religioso) da educação através da instituição do ensino público nacional. Assim, o controle da Igreja sobre a educação e os governos civis foi aos poucos decaindo com o crescente poder da sociedade econômica.

A Revolução Francesa baseou-se também nas exigências populares de um sistema educacional. A Assembléia Constituinte de 1789 elaborou vários projetos de reforma escolar e de educação nacional. O mais importante é o projeto de CONDORCET (1743-1794) que propôs o ensino universal como meio para eliminar a desigualdade.

Contudo, a educação proposta não era exatamente a mesma para todos, pois admitia-se a desigualdade natural entre os homens. Condorcet reconheceu que as mudanças políticas precisam ser acompanhadas de reformas educacionais. Foi partidário da autonomia do ensino: cada indivíduo deveria conduzir-se por si mesmo. Demonstrou-se ardoroso defensor da educação feminina para que as futuras mães pudessem educar seus filhos. Ele considerava as mulheres mestras

naturais.

As idéias revolucionárias tiveram grande influência no pensamento

pedagógico de outros países, principalmente na Alemanha e na Inglaterra, que criaram seus sistemas nacionais de educação, e na América do Norte, que expandiu muito a participação do Estado na educação.

A Revolução Francesa tentou plasmar o educando a partir da consciência de classe, que era o centro do conteúdo programático. A burguesia tinha clareza do que queria da educação: trabalhadores com formação de cidadãos participes de uma nova sociedade liberal e democrática. Os pedagogos revolucionários foram os primeiros políticos da educação. Alguns, como LEPELLETIER (1760-1793), pretenderam que nenhuma criança recebesse outra formação que não a revolucionária, através de internatos obrigatórios, gratuitos e mantidos pelas classes dirigentes. Essa idéia, porém, não obteve êxito. Seu autor morreu na

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guilhotina. No final, a própria revolução recusou o programa educacional de universalização da educação criado por ela mesma. FROEBEL (1782-1852) foi o idealizador dos jardins da infância. Considerava que o desenvolvimento da criança dependia de uma atividade espontânea (o jogo), uma atividade construtiva (o trabalho manual) e um estudo da natureza. Valorizava a expressão corporal, o gesto, o desenho, o brinquedo, o canto e a linguagem. Para ele a auto-atividade representava a base e o método de toda a instrução. Como Herbart, valorizava os interesses naturais da criança. Via a linguagem como a primeira forma de expressão social e o brinquedo como uma forma de auto- expressão. Depois de Froebel, os jardins da infância se multiplicaram até fora da Europa e atingiram principalmente os Estados Unidos. Suas idéias ultrapassaram a educação infantil. Os fabricantes de brinquedos, jogos, livros, material recreativo e jornais para crianças foram influenciados pelas idéias de Froebel. Inspirou-se nele John Dewey, um dos fundadores do pensamento escolanovista. O iluminismo educacional representou o fundamento da pedagogia burguesa, que até hoje insiste predominantemente na transmissão de conteúdos e na formação social individualista. A burguesia percebeu a necessidade de oferecer instrução, mínima, para a massa trabalhadora. Por isso, a educação se dirigiu para a formação do cidadão disciplinado. O surgimento dos sistemas nacionais de educação, no século XIX, é o resultado e a expressão da importância que a burguesia, como classe ascendente, emprestou à educação. Além de Rousseau, outro grande teórico destaca-se nesse período: é o alemão EMANUEL KANT (1724-1804). Descartes sustentava que todo conhecimento era inato e Locke que todo saber era adquirido pela experiência. Kant supera essa



contradição: mesmo negando a teoria platônico-cartesiana das idéias inatas, mostrou que algumas coisas eram inatas como a noção de espaço e de tempo, que não existem como realidades fora da mente, mas apenas como formas para pensar as coisas apresentadas pelos sentidos. Por outro lado, sustentou que o conhecimento do mundo exterior provém de experiência sensível das coisas. Admirador de Rousseau, Kant acreditava que o homem é o que a educação faz dele através da disciplina, da didática, da formação moral e da cultura. Espaço, tempo, causalidade e outras relações, para Kant, não eram realidades exteriores. Essa afirmação foi acentuada por outros filósofos alemães, entre eles, FICHTE (1762-1814) e HEGEL (1770-1831), que

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acabaram negando a existência de qualquer objeto fora da mente é o idealismo subjetivo e absoluto que mais tarde será rebatido por Karl Marx. O que a moderna ciência da educação, na definição de seus conceitos básicos, chama "aculturação", "socialização" e "personalização", representa algumas das descobertas de Kant. Para ele, o educando necessita realizar esses atos: é o sujeito que tem de cultivar-se, civilizar-se, para assim corresponder à natureza. Assim, o verdadeiro objetivo do homem é que "desenvolva inteiramente, por si mesmo, tudo o que está acima da ordem mecânica de sua existência animal e não participe de nenhuma outra felicidade e perfeição que não tenha sido criada por ele mesmo, livre do instinto, por meio de sua própria razão. Para atingir a perfeição o homem precisa da disciplina, que domina as tendências instintivas, da formação cultural, da moralização, que forma a consciência do dever, e da civilização como segurança social. Menos otimista do que Rousseau, Kant sustentava que o homem não pode ser considerado inteiramente bom, mas é capaz de elevar-se mediante esforço intelectual contínuo e respeito às leis morais. Os grandes pedagogos do século XVIII que seguiram as idéias de Rousseau e Kant foram: Pestalozzi, Herbart e Froebel. PESTALOZZI (1746-1827) queria a reforma da sociedade através da educação das classes populares. Ele próprio colocou-se a serviço de suas idéias criando um instituto para crianças órfãs das camadas populares, onde ministrava uma educação em contato com o ambiente imediato, seguindo objetiva, progressiva e gradualmente um método natural e harmonioso. O objetivo se constituía menos na aquisição de conhecimentos e mais no desenvolvimento psíquico da criança. Sustentava que a educação geral devia preceder a profissional, que os poderes infantis brotavam de dentro e que o desenvolvimento precisava ser harmonioso. Na prática, Pestalozzi fracassou em seu intento. Não obteve os resultados esperados, mas suas idéias são debatidas até hoje e algumas foram

incorporadas à pedagogia contemporânea. Já HERBART (1776-1841) foi professor universitário. Mais teórico que prático, é considerado um dos pioneiros da psicologia científica. Para ele, o processo de ensino devia seguir quatro passos formais: 1º) clareza na apresentação do conteúdo (etapa da demonstração do objeto.

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2º) associação de um conteúdo com outro assimilado anteriormente pelo aluno (etapa da comparação); 3º) ordenação e sistematização dos conteúdos (etapa da generalização); 4º) aplicação a situações concretas dos conhecimentos adquiridos (etapa da aplicação). Os objetos deviam ser apresentados mediante os interesses dos alunos e segundo suas diferenças individuais por isso seriam múltiplos e variados. A doutrina burguesa ascendeu sob os ideais da liberdade, ou liberalismo, no período de transição do feudalismo para o capitalismo. Impulsionada pela Reforma Protestante, que incentivava o livre pensamento no setor religioso, juntou- se ao movimento racionalista, que admitia que cada indivíduo fixasse suas normas de conduta em vez de seguir as da Igreja. Mas para a burguesia nascente a liberdade servia para outro fim: a acumulação da riqueza. Para isso, o homem deveria agir sozinho. De um lado, os intelectuais iluministas fundamentavam a noção de liberdade na própria essência do homem. De outro, a burguesia a interpretava como liberdade em relação aos outros homens. E sabemos que a liberdade individual implica a possibilidade de exploração econômica, ou seja, a obtenção de uma posição social vantajosa em relação aos outros. Daí a chamada "livre iniciativa" sempre associar a idéia de



liberdade, no sentido liberal, com a idéia de propriedade. Para os liberais basta ter talento e aptidão, associados ao trabalho individual, para adquirir propriedade e riqueza. Por isso, de acordo com essa doutrina, como os homens não são individualmente iguais, não podem ser iguais em riquezas.

A igualdade social seria nociva pois provocaria a padronização. A uniformização entre os indivíduos era considerada um desrespeito à individualidade. Com esse discurso, que defendia uma educação não submetida a nenhuma classe, a nenhum privilégio de herança ou dinheiro, a nenhum credo religioso ou político, que defendia que a educação de cada um deveria estar sujeita apenas ao ideal da humanidade, do homem total, a burguesia, como classe dominante, apresentava seus interesses como os interesses gerais de toda a sociedade. Depois de tantos séculos de sujeição feudal à Igreja, a burguesia estava arrancando daquela o monopólio da educação. Apresentava uma teoria educacional nova, revolucionária, que afirmava os direitos do indivíduo. Falava em "humanidade", "cultura", "razão", "luzes,,.., categorias da nova pedagogia. Naquele primeiro momento de triunfo, a burguesia assumiu de fato o pág. 93

papel de defensora dos direitos de todos os homens, afirmando de igualdade e fraternidade. A nova classe mostrou, contudo, muito cedo - ao apagar das 1 da Revolução de 1789 -, que não estavam de todo em seu projeto a igualdade dos homens na sociedade e na educação. Uns acabaram recebendo mais educação do que outros. Aos trabalhadores, diria ADAM SMITH (1723-1790), economista político burguês, será preciso ministrar educação apenas em conta-gotas. A educação popular deveria fazer com que os pobres aceitassem de bom grado a pobreza, como afirmara o próprio Pestalozzi. Esse grande educador acabava de enunciar o princípio fundamental de educação burguesa que ministrou uma educação distinta para cada classe: à classe dirigente a instrução para governar e à classe

trabalhadora a educação para o trabalho. Essa concepção dualista da educação deverá ser sistematizada no século XIX pelo pensamento pedagógico positivista.

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Tudo é certo em saindo das mãos do autor das coisas, tudo degenera nas mãos do homem. Ele obriga uma terra a nutrir as produções de outra, uma arvore a dar frutos de outra; mistura e confunde os climas, as estações; mutila seu cão, seu cavalo, seu escravo; transtorna tudo, desfigura tudo; ama a desformidade, os monstros; não quer nada como o fez a natureza, nem mesmo o homem; tem de ensiná- lo para si, como um cavalo de picadeiro; tem que moldá-lo a seu jeito como uma árvore de seu jardim. Sem isso, tudo iria de mal a pior e nossa espécie não deve ser formada pela metade. No estado em que já se encontram as coisas, um homem abandonado a si mesmo, desde o nascimento, entre os demais, seria o mais desfigurado de



todos. Os preconceitos, a autoridade, a necessidade, o exemplo, todas as instituições sociais em que nos achamos submersos abafariam nele a natureza e nada poriam no lugar dela. Ela seria como um arbusto que o acaso fez nascer no meio do

caminho e que os passantes logo farão morrer, nele batendo de todos os lados e dobrando- o em todos os sentidos. (...) Nascemos fracos, precisamos de força; nascemos desprovidos de tudo, temos necessidade de assistência; nascemos estúpidos, precisamos de juízo. Tudo o que não temos ao nascer, e de que precisamos adultos, é nos dado pela educação. Essa educação nos vem da natureza, ou dos homens ou das coisas. O desenvolvimento interno de nossas faculdades e de nossos órgãos é a educação da natureza; o uso que nos ensinam a fazer desse desenvolvimento é a educação dos homens; e o ganho de nossa própria experiência sobre os objetos que nos afetam é a educação das coisas. Cada um de nós é portanto formado por três espécies de mestres. O aluno em quem as diversas lições desses mestres se contrariam é mal educado e nunca estará de acordo consigo mesmo; aquele em quem todas visam os mesmos pontos e tendem para os mesmos fins, vai sozinho a seu objetivo e vive em conseqüência. Somente esse é bem educado. Ora, dessas três educações diferentes a da natureza não depende de nós; a das coisas só em certos pontos depende. A dos homens é a única de que somos realmente senhores e ainda assim só o somos por suposição, pois quem pode esperar dirigir inteiramente as palavras e as ações de todos os que cercam uma criança? (...) Nascemos sensíveis e desde nosso nascimento somos molestados de diversas maneiras pelos objetos que nos cercam. Mal tomamos por assim dizer consciência de nossas sensações e já nos dispomos a procurar os objetos que as produzem ou a deles fugir, primeiramente segundo nos sejam elas agradáveis ou desagradáveis, depois segundo a conveniência ou a inconveniência que encontramos entre esses objetos e nós, e, finalmente, segundo os juízos que fazemos deles em relação à idéia de felicidade ou


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