A geopolítica brasileira no alvorecer do século XXI


SEÇÃO III – CONSIDERAÇÕES PARCIAIS



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SEÇÃO III – CONSIDERAÇÕES PARCIAIS

Em face da globalização e dos avanços provenientes da chamada Terceira Revolução Industrial (Técnico-Científica), poder-se-ia supor que a Geopolítica estaria sofrendo uma profunda transformação e que os princípios que fundamentaram as concepções clássicas estariam a caducar. No entanto, o autor acredita que a Geopolítica continua sendo, em essência, o que sempre foi; ou seja, uma ferramenta apta a oferecer avaliações referentes à aplicação do poder do Estado. Em síntese, a Geopolítica é uma ferramenta a serviço do Poder Nacional, permitindo ao Estado aplicá-la pragmaticamente.

No século XX, a Geopolítica inspirou a estratégia de poder que foi “jogada” pelas superpotências. De um lado, os EUA tinham como inspiração maior a concepção mahaniana do Poder Marítimo; e, do outro, a então URSS embasava sua estratégia na concepção mackinderiana do Poder Terrestre.

O fato mais recente que, no pensamento do autor, demonstra o uso daquela estratégia, foi a invasão do Iraque. Neste episódio, o que se viu foi a aplicação de poder, principalmente pelos EUA, utilizando-se dos recursos de modernas tecnologias, a fim de impor uma ordem política, com um forte viés econômico. Poder-se-ia, então, afirmar que a Geopolítica permeia a política externa e, em última análise, a ação estratégica.

Nesse sentido, países emergentes, como o Brasil, devem se movimentar no teatro mundial orientados por uma concepção geopolítica adequada à consecução dos seus interesses nacionais.

Por fim, o estudo da Geopolítica tem relevância não apenas como “conhecimento pelo conhecimento”, mas também como fonte inspiradora de linhas de ação que balizem a formulação de concepções próprias para o Brasil. Nesse sentido, o autor considera que é mister resgatar o pensamento geopolítico genuinamente nacional, valorizar os pensadores brasileiros, tais como Therezinha de Castro, Golbery do Couto e Silva e Carlos de Meira Mattos, e, ademais, incentivar a formação de uma nova massa crítica pensante, capaz de formular concepções geopolíticas livres de influências estrangeiras.



CAPÍTULO II – INSERÇÃO INTERNACIONAL DO BRASIL

O Brasil é um país em desenvolvimento que convive, política e economicamente, não somente com os Estados circunvizinhos, mas também com os EUA, a Europa, países africanos, asiáticos e árabes, em um contexto de relações bilaterais e multilaterais. Desse modo, pode-se afirmar que o Brasil é um legítimo “jogador global”.

Ao comentar-se as perspectivas de inserção internacional independente do País, é de primaz importância concatenar, inicialmente, uma visão sucinta do arcabouço ideológico do cenário mundial e dos seus mentores. Em seguida, estabelecer a imagem do panorama atual e a sua previsão para os próximos dez anos, bem como apontar os principais atores do sistema internacional que possam interagir com o Brasil.

SEÇÃO I – CENA MUNDIAL

A cena dos primeiros lustros do século XXI se caracteriza por um clima de instabilidade difusa. Destarte, não se imagina que o teatro mundial seja fruto de situações que se conformam em face de vontades intempestivas. É necessário, portanto, identificar quais são as forças mentoras do “jogo”. Nada está acontecendo por acaso!

Na realidade, os eventos internacionais são produto de ações pré-planejadas por estruturas que, de certa forma ocultas, procuram ditar os destinos do mundo. Essas “elites” nada mais são que a reunião de pessoas, todas com preeminência política e econômica, mas “curiosamente” não muito citadas na mídia. Portanto, poder-se-ia dizer que os acontecimentos mundiais têm um arcabouço ideológico. Para Jacques Perruchon de Brochard, essas “elites” são aprendizes de ditadores que se autodenominam “esclarecidos” e manejam os cordéis das instituições internacionais como se poderia fazer para animar um fantoche ou dar vida a uma marionete.

As iniciativas desses atores, os “mundialistas”, engendram-se no Conselho de Relações Exteriores – CRE (Council on Foreign Relations), no Círculo Bilderberg – CB (Bilderberg Group) e, principalmente, na Comissão Trilateral – CT (Trilateral Commission). Esses “clubes”, apresentados esquematicamente no anexo A, têm procurado manter e, sobretudo, aplicar os dogmas da “doutrina” neoliberal: livre mercado (para eles), desenvolvimento (o deles) e democracia (quando conveniente).

O Conselho, criado em 1921 e com sede em New York, apresentou-se como uma “instituição educativa para o livre intercâmbio de idéias e informações”, sendo o braço americano oriundo da idéia de se criar um Instituto de Assuntos Internacionais. A partir da sua criação, esse organismo tem exercido forte influência na política norte-americana, não somente na exterior, mas, também, em boa parte da sua legislação interna (4). O CRE é um grupo de homens, desde sua origem globalista, que tem o propósito de remover todas as barreiras econômicas entre as nações. Segundo o almirante norte-americano Chester Ward, um antigo membro, o objetivo comum é “causar a renúncia à soberania e à independência nacional dos Estados. Primeiramente, eles querem o monopólio das operações bancárias mundiais a partir de qualquer potência que resulte no controle da administração global”.

Em 1954, durante a Guerra Fria, surgiu o Círculo Bilderberg com quadros oriundos do Conselho, para responder a um novo contexto, ou seja, a crescente transnacionalização das grandes corporações, e poder contar com uma representação européia de projeção, na direção da expansão das concepções “mundialistas”.

O Círculo continua, até hoje, realizando seus “meetings” anuais, e mantendo o perfil de sigilo das suas deliberações. A importância dessas reuniões pode ser aquilatada pela qualidade dos seus freqüentadores, cuja maioria é constituída por chefes de grandes corporações transnacionais, dos EUA e da Europa, tais como General Motors, General Electric, Exxon, etc.
Nos “encontros” realiza-se o intercâmbio de idéias sobre o mundo dos negócios, em um clima fechado e, sobretudo, secreto. Apesar das estritas medidas de segurança, para evitar o acesso do público e vazamento dos assuntos ali tratados, não é segredo nenhum quem deles participa.

Em 1973, foi criada a Comissão Trilateral, formada por cidadãos do Japão, de países europeus, dos EUA e do Canadá, com o objetivo de criar, conforme consta na sua “homepage” (extrato no anexo B), uma estreita cooperação entre aquelas áreas, consideradas o coração do mundo democrático industrializado, bem como compartilhar as responsabilidades do exercício da liderança no sistema internacional.

É importante citar que a criação da CT não foi um fato isolado, como à primeira vista poderia parecer. No início da década de 70, o sistema capitalista apresentava sintomas de crise e, como visto anteriormente, já existia uma conexão importante entre o CRE e o CB. Nesse contexto, os “visionários globalistas” perceberam que era necessário agregar ao processo de controle mundial um terceiro bloco – o asiático – sob a inspiração da Teoria da Tríade. Desse modo, os “donatários” internacionais do poder estavam procurando expandir a sua influência e, portanto, a “elite” japonesa emergente deveria ser incluída. Assim, em 1972, no encontro do Círculo, “David Rockefeller propôs que se criasse um novo tipo de organização com este objetivo”.

Então, Rockefeller e Zbigniew Brzezinski, que pertencem aos três clubes, lideraram a criação oficial da Comissão Trilateral, na época intitulada “uma Iniciativa Privada da América do Norte – Europa – Japão para Assuntos de Interesse Comum”.

Cabe acrescentar que, no plano das personalidades de notória preeminência internacional, o clã dos Rockefeller e o próprio Brzezinski exercem um papel protagônico, tanto no CRE como no Círculo Bilderberg, compondo o núcleo duro pensante inicial da Comissão Trilateral e estando sempre no centro de seus processos decisórios.

É essencial assinalar, de forma sucinta, o conceito central da ideologia da Comissão Trilateral cuja idéia-força é a “interdependência”. Tal concepção foi imaginada, segundo os seus ideólogos, como um corolário do sistema internacional de então. Por isso, o crescimento rápido do comércio e das finanças internacionais conduziu a um alto grau de dependência mútua. Portanto, eventos econômicos – e choques – que ocorrem num país se transmitem rapidamente aos outros.

Nesse contexto, os países desenvolvidos se tornam cada vez mais dependentes das importações de matérias-primas dos países que se encontram na periferia do sistema internacional. Por outro lado, os centros industriais dos três blocos da “Tríade”, que antes eram mais independentes uns dos outros, aumentam o seu grau de interdependência.

Não obstante, Brzezinski considerou que o sujeito promotor dessa interdependência não deve ser o Estado-nação, pois “enquanto unidade fundamental na vida organizada do homem, deixou de ser a principal força criativa: os bancos internacionais e as corporações multinacionais planejam e atuam em termos que levam muitas vantagens sobre os conceitos políticos do Estado-nação”.

Diante disso, numa percepção do autor, fiel à linha de pensamento central da ideologia trilateralista, poder-se-ia conceber o Estado-nação como “garantidor” do processo da interdependência; em outras palavras, o domínio político dirigido pelo domínio econômico. De outro modo, o Estado-nação seria o “operador” da gestão da interdependência.

Dessa forma, o Estado só pode seguir sua política interna na medida em que não vá de encontro às decisões e interesses das corporações transnacionais e das instituições internacionais que decidem sobre as políticas monetária e fiscal. O Fundo Monetário Internacional (FMI) é um antecedente convincente do que significa esse desmonte do Estado-nação, provocado pelo gerenciamento da interdependência.

Assim, o confronto político, com perfil ideológico, teria dado lugar à competição econômico-comercial não mais entre Estados, mas entre as grandes corporações transnacionais que procuram usar o Estado-nação na defesa de seus interesses.

Nessa contextura, surge um novo capitalismo, no qual a instituição central é a grande empresa, primeiro nacional, depois mundial. O Estado-nação subsiste apenas como elemento fiador para a ação dessas empresas.

Segundo o jornalista Robert Eringer, “muitos dos membros da Comissão Trilateral estão hoje em posições de poder, de onde podem implementar políticas recomendadas pela Comissão; medidas que eles mesmos preparam como membros da Trilateral. É por esta razão que ela adquiriu a reputação de ser o governo oculto do Ocidente”.

Essa reflexão pode ser confirmada, observando-se a relação dos membros da Comissão (anexo C), na qual constam, dentre outras, atuais figuras preeminentes do governo Bush. Assim sendo, verifica-se que os três “clubes” constituem uma “elite” global que procura exercer o controle mundial, por meio de ações nos domínios político e econômico. No anexo D, são apresentados setores específicos sob o seu controle.

Logo, o autor entende que “organismos” como a Comissão Trilateral seriam, em sua essência, estruturas hegemônicas de poder (EHP), que segundo o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, “é um conceito mais flexível que Estado hegemônico, pois inclui vínculos de interesse e de direito, organizações internacionais, múltiplos atores públicos e privados, a possibilidade de incorporação de novos participantes e a elaboração permanente de normas de conduta; mas, no âmago dessas estruturas, estão sempre Estados nacionais”. Ou seja, como explanado, anteriormente, é o Estado no seu papel de “garantidor”.

Uma vez desvendado o arcabouço ideológico da cena mundial, e seus mentores, passar-se-á à visualização do teatro no qual se insere o Brasil.

O autor acredita, contudo, que o alvorecer geopolítico do século XXI ocorre, efetivamente, em 11 de setembro de 2001, a partir do ataque às torres gêmeas do World Trade Center, quando o mundo começou a experimentar a postura unilateral e hegemônica, sem qualquer limite, da superpotência (5).

Diante de tal quadro, e quando o capitalismo mundial começou a apresentar sinais de instabilidade, cujo sintoma maior é a crise da economia norte-americana, o estamento político dos EUA partiu para a única saída que um regime unilateral hegemônico costuma encontrar nessas horas. “O remédio tão antigo quanto potente do capitalismo – a guerra – poderá ter suas dosagens aumentadas no futuro se os outros remédios continuarem ineficazes ou restritos”.

Assim, o orçamento militar norte-americano atingiu nível próximo ao PIB do Brasil e foram realizadas as invasões do Afeganistão e do Iraque; esta última foi realizada à revelia da ONU e com protestos de vários países, inclusive parceiros de antigas ações militares, como Alemanha e França.

Desse modo, “o cenário internacional poderia ser melhor descrito como apresentando uma unipolaridade militar (hegemonia) americana; uma multipolaridade econômica competitiva (ausência de hegemonia), composta pela chamada “tríade”: EUA, Japão e União Européia e um condomínio político exercido pelos membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas”.

Nessa linha de pensamento, poder-se-ia dizer que o poder econômico dos EUA passaria a sofrer a concorrência da União Européia, como potência emergente e unificada monetariamente, e da coordenação das políticas macroeconômica e externa dos seus países membros. O unipolarismo estratégico-militar é assim amenizado por uma espécie de multipolaridade econômica.

Nesse rumo, é oportuno citar uma reflexão de Emmanuel Todd, historiador francês e autor do livro “Depois do Império” (6): “Os EUA não impediram a introdução do euro, a moeda comum que é uma ameaça muito mais considerável para os EUA do que Saddam Hussein ou Bin Laden. O euro e a integração européia são as verdadeiras ameaças para a hegemonia americana”.

Como já citado, o capitalismo está em crise. O quadro é de instabilidade financeira, além da capacidade mundial de produção estar ociosa. A economia norte-americana está no limite, com um elevado déficit fiscal e, segundo alguns analistas, a Europa encontra-se “sonolenta” e o Japão “adormecido”.

Desse modo, algumas mudanças emergiram, apontando para uma transformação geopolítica da Tríade: o Bloco europeu – União Européia – se consolidou e expandiu-se, sob a liderança natural do eixo Alemanha-França, em uma Europa que voltou a ter um peso geopolítico mais acentuado; a Rússia, débil economicamente, mas ainda forte militarmente, respaldada na sua importante fisionomia geopolítica e, também, voltando-se para a sua vocação européia, procurou aproximar-se do enlace Alemanha-França, conformando um possível novo eixo geopolítico; e a milenar China que se prenuncia como um possível ator geopolítico de peso no século XXI.

Diante disso, é importante assinalar, todavia, que Jacques de Brochard, no final da década de 80, já previa essa transformação quando asseverava sobre a situação das três zonas de influência, a “triarquia monetária”: “é verdade que suas economias são dominantes. Mas, como os três mosqueteiros eram quatro, estas três zonas também são quatro. A quarta é também um dirigente sem o qual nada, ou quase nada, pode acontecer. Este país, evidentemente, é a URSS. Agora a conta está certa”.

Nesse sentido, é bom lembrar que, naquela época, o líder soviético Mikhail Gorbachev realizou encontros importantes com o presidente norte-americano Ronald Reagan e, em seguida, ocorreria o desmantelamento do “Império” soviético. Será que foi um acaso histórico? Pelo exposto até aqui, neste trabalho, o autor acredita que não. Para corroborar tal pensamento, busca-se amparo em uma frase do presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt: “In politics, nothing happens by accident. If it happens, you can bet it was planned that way” (7).

Por conseguinte, o autor julga apropriado apresentar uma antevisão da cena mundial, em uma moldura temporal de dez anos.

No plano político, a superpotência hegemônica americana ainda ostentaria elevada capacidade de projeção externa. Nem a Rússia, ainda com capacidade nuclear, nem a China poderiam, isoladamente, confrontar, efetivamente, o poderio estratégico-militar dos EUA. No plano econômico, os cenários financeiro e comercial, dominados até aqui pelo dólar, passariam a ser desafiados pelo euro. Ou seja, a União Européia, mais precisamente o eixo Alemanha-França, constituir-se-ia em um obstáculo ao domínio estadunidense da economia mundial. Ademais, é importante assinalar a iniciativa da Rússia de aproximação com o eixo franco-alemão.

É indubitável que os Estados-nações, mormente as grandes potências, ainda permaneceriam com o poder de estabelecer suas políticas, bem como influir incisivamente na elaboração das normas disciplinadoras das relações econômicas internacionais, mesmo no âmbito dos organismos multilaterais como a Organização Mundial do Comércio (OMC). Todavia, não resta dúvida que a influência das estruturas hegemônicas de poder continuaria presente.

Essas relações econômicas, permeadas pela acirrada competição de acesso aos mercados, ainda seriam impulsionadas pela competitividade e produtividade, que são, na sua essência, ferramentas fomentadoras da aptidão comercial dos países.



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