A tribuna de Santos e Diário do Grande abc: a vanguarda do conteúdo jornalístico na web



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A Tribuna de Santos e Diário do Grande ABC: a vanguarda do conteúdo jornalístico na web1 2

Resumo
O trabalho versa sobre como o conteúdo jornalístico, de dois tradicionais jornais impressos brasileiros (com atuação fora das grandes capitais), foi migrado para a Web, dando os primeiros passos na inserção deles em um território digital on-line, na época, totalmente inexplorado. Tanto A Tribuna de Santos quanto o Diário do Grande ABC, situados em grandes regiões (litoral e região metropolitana de SP), foram pioneiros no Brasil na experimentação do jornalismo na Web e, ao contrário do que a lógica de mercado determina, no caso da Internet, não foram os grandes conglomerados de mídia que ousaram nas experimentações de conteúdo na Web brasileira.
Palavras-chave – Jornalismo, web, conteúdo, pioneirismo.


Introdução
Com o propósito estrategicamente militar, em 1969 nasce, nos Estados Unidos, a APARNET (ARPA: Advanced Research Projects Agency), que construiu uma rede telemática interligando computadores de laboratórios de pesquisa de algumas universidades americanas e européias. Desde, então, o compartilhamento e troca de informações não seriam mais as mesmas. O processo, agora, era mais veloz e preciso. Era digital.

Nos tempos da APARNET, essas operações eram realizadas por cientistas, ou seja, por pessoas com conhecimento técnico elevado. A manipulação das informações não acontecia num ambiente, que se denomina atualmente como user-friendly (graficamente amigável). A tela preta do computador, em contraste com os caracteres verdes, e a necessidade de inserção de linhas de comandos complicados faziam parte do dia-a-dia de quem se comunicava pela rede de computadores.

Dois anos depois da invenção da Internet, em 1971, começaram a surgir outros tipos de redes, denominadas proprietárias, pois utilizavam protocolos de comunicação próprios. A história do acesso a serviços de informação localizados numa rede começa na Europa, quando o Correio Central Britânico iniciou operações, naquele ano, no que veio depois a se tornar o serviço Prestel.

Mas é em 1979 que as informações no formato de notícias eletrônicas são inseridas no próprio Prestel, com boletins jornalísticos, serviços de home banking, reserva de vôos e outras informações visualizadas através de monitores especiais do tipo TV. Contudo, pelos altos custos e vários outros fatores, o projeto foi abandonado em 1993.

Já o Ceefax, desenvolvido pela BBC, também chegou na década de 70. Diferentemente do Prestel, entretanto, teve continuidade e realmente despontou. Desenvolvido a partir de uma pesquisa para legendagem de programas para surdos, o projeto, para se consolidar, aproveitou a baixa nos preços dos computadores, o desenvolvimento de tecnologias ROM e os avanços em técnicas de transmissão de informação.

As páginas-teste foram operadas em 1973 e transmissões se iniciaram em caráter experimental, antes do lançamento em 1976. A versão ITV do teletexto foi desenvolvida, pela Oracle, com fabricantes de televisores sendo consultados a cada passo. A força para transmitir notícias ao vivo no formato de teletexto foi realizada durante estes testes.

A adoção de serviço de teletexto era lenta no início, com apenas 3% dos aparelhos domésticos com acesso até dezembro de 1981. O crescimento tornou-se mais acentuado nos anos 80, com um salto para 17% em 1987.3
Enquanto isso, nos Estados Unidos, o Knight-Ridder estava experimentando outro sistema eletrônico de notícias, o "Viewtron", testado em Miami em 1981. Essa iniciativa, assim como o Prestel, foi igualmente mal sucedida. Canais de TV a cabo baratos, que se tornaram de comum acesso naquela época, inibiram as vendas dos terminais Viewtron e embora a empresa tenha persistido por alguns anos, o sistema foi definitivamente abandonado em 1986.

Os franceses, contudo, foram mais bem sucedidos com seu sistema de notícias eletrônico Minitel e seu sistema de diretório telefônico, que começaram a operar em 1981. Milhões de pessoas espalhadas pelo País assinaram o serviço. É interessante notar que a Minitel, provavelmente, ofereceu o primeiro exemplo de impresso (hardcopy), tirado de seu formato eletrônico, quando o Libération usou as mídias para publicar os resultados dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, bem antes da primeira edição do jornal aparecer nas ruas.

O jornal inglês The Guardian, num desenvolvimento paralelo, o World Reporter, em 1985, montou uma campanha que visionava o texto completo de todos os jornais, todos os tablóides e um bom número de jornais regionais. A facilidade na busca de cruzamento de arquivos da UK NEWS oferecia a possibilidade de pesquisar uma dúzia de jornais britânicos ao mesmo tempo e visualizar uma composição única de resultados.

Possivelmente encorajados pelo sucesso da Minitel, a IBM e a Sears desenvolveram uma rede de notícias e comunicação chamada Prodigy. O lançamento, em 1987, nos EUA, coincidiu com o advento do PC doméstico a preços acessíveis e com a expansão da interconectividade entre computadores, especialmente em instituições acadêmicas e de pesquisa científica. Assim, Beckett colocou em uso seu jornal eletrônico, o qual poderia ne naquele momento pegar carona nas redes de computadores existentes com muitos usuários técnicos, ou mesmo aventureiros, ao invés de começar do zero. Outros serviços começaram a se ramificar evidenciando-se no novo ambiente, com o Knight-Ridder. Juntaram forças com a America OnLine, uma rede credenciada inspirada pela Prodigy, iniciando o desenvolvimento do Mercury Center direto de seu Laboratório de Design de Informação em Boulder, Colorado.

Toda essa movimentação, que denomino de pré-Web, foi importantíssima para que a cultura de informações em redes proprietárias fosse interligada por cabos de TV ou por linha telefônica, migrasse para a Web e fortalecesse inicialmente essa nova forma de visualizar informações em uma tela de computador.

Infelizmente, por circunstâncias econômicas, tecnológicas e culturais, o Brasil não participou em nenhum momento dessa fase pré-Web. Somente com o surgimento das Bulletin Board System (BBS), que alguns abnegados conseguiram criar algum conteúdo jornalístico on-line, como será mostrado a seguir.



Surgimento do WWW

Mas, a internet realmente passou a ser utilizada por um número maior de pessoas, saindo gradativamente do mundo ‘escuro’, só dominado por acadêmicos, para se tornar uma poderosa ferramenta em outras atividades humanas, como na comunicação social, quando o inglês Tim Berners-Lee inventou o World Wide Web (WWW), em 1992.

Foi justamente essa nova forma de acesso à Internet que revolucionou e está transformando o modo de se produzir e distribuir informação. Alguns momentos históricos, porém, foram importantes e são reconhecidos como marcos no surgimento do conteúdo digital na web ou em outras mídias: o CD-ROM, por exemplo.

É o caso do pioneiro San Jose Mercury News (EUA), que é considerado o primeiro serviço de informação jornalística na web.

Um dos passos mais significativos no desenvolvimento dos jornais on-line vieram do Mercury Center. O jornal local, The San Jose Mercury News, surgiu on-line em 1993 e continua na posição de linha de frente no editorial de jornalismo eletrônico.
O grande boom da World Wide Web, ou seja, a utilização em interface gráfica com recurso de hipertextualidade da rede mundial de comunicação, ocorreu por volta de 1992/93. Um dos pioneiros serviços de informação jornalística na Web - San Jose Mercury News, através do serviço Mercury Center, surgiu ao final de 1993.4

O jornal foi pioneiro nos serviços adicionais, tais como arquivo de informações jornalísticas desde 1985, expandiu as notícias locais e mural eletrônico para que leitores se comunicassem entre si e com a equipe. De caráter inovador, o jornal também incorporou um serviço personalizado de notícias, no qual os leitores escolhiam palavras-chave e as graduadas pelos leitores em termos de nível de relevância, recebendo então os artigos enviados por e-mail.

Contudo, é preciso ressaltar que alguns usuários americanos já estavam familiarizados com sistemas de busca de informação via uma rede conectada, antes do surgimento da parte gráfica da internet. Eram os clientes das BBS’s (Bulletin Board System), um sistema que interligava computadores a um servidor via linha de telefone.

Com comandos rudimentares, mas bastante funcionais para a época, as BBB’s se expandiram pelos EUA.



É onde estão o Compuserve, AmericaOnline, Delphi, etc. Em 1994, especialistas acreditavam que existiam cerca de 40 mil BBSs somente nos EUA. Para outros, este número já atingia 60 mil em 1993.5

Foram essas pessoas que primeiramente migraram para a Web no meio dos anos 90.



A internet tornou-se de tal forma popular que foi por volta de 1995, ano em que a rede crescia entre 10 e 15% ao mês, que redes privadas, como a America Online, Prodigy e Compuserve, começaram subitamente a oferecer acesso à Net aos seus clientes que, anteriormente, só poderiam ter acesso a informações ou serviços dentro das fronteiras do serviço subscrito.6
No Brasil

Mesmo não tendo a pujança econômica de alguns países da América do Norte ou Europa, o Brasil foi experimentando aos poucos as potencialidades de produção e disseminação da informação via redes telemáticas.

A mais audaciosa, o Videotexto, baseada na experiência francesa do Minitel, foi implantada no Estado de São Paulo, pela então estatal de telecomunicações, a Telesp.
O videotexto foi introduzido primeiramente no Brasil pela Telesp, empresa operadora de telecomunicações que começou a atuar no Estado de São Paulo em fins de 1982. O sistema teve altos e baixos, chegando a alcançar mais de 20 mil usuários, predominantemente residenciais.7
O videotexto, porém, não foi o início da internet no Brasil, pois tecnologicamente funcionava de modo diferente: era uma rede proprietária. Não há muitos registros da chegada da internet acadêmica no Brasil. Um dos pioneiros da web no país, o jornalista Sérgio Charlab, que também participou do início da implantação da rede no Rio de Janeiro, relata:

"Trabalhei durante dois anos (1987 a 1989) na Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro com o brilhante José Pelúcio Ferreira. Ali criei o Dazibao, um jornal mural que me fazia acompanhar com interesse um dos projetos financiados pela então renovadora Fundação de Amparo à Pesquisa: a Rede Rio de Computadores. Mal sabia eu como estava perto do embrião da Internet brasileira”.

Foi ali, naquelas conversas de 1988, que a Internet chegou ao Brasil, com ligação estabelecida pela Embratel no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). Paralelamente, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) também ganhava sua conexão.
Em julho de 1989, com o apoio do Institute for Global Communication (IGC), uma das instituições ligadas à Associação para o Progresso das Comunicações (APC), o Alternex, sistema experimental do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Estatísticas (Ibase), entrava no ar depois de sua fase experimental. Pouco depois, em 1990, a Rede Nacional de Pesquisa era lançada oficialmente, para levar a Internet aos demais Estados. Eu já tinha, então, muita vontade de poder acessar regularmente a rede.

Mas, foi em 1992 que o acaso deu impulso definitivo na Internet brasileira e criou a primeira geração de usuários não-acadêmicos, abrindo o imenso potencial das redes internacionais de computadores para indivíduos e entidades brasileiras. A ECO-92, realizada no Rio, fez com que modernos equipamentos fossem instalados na Ibase, então a primeira instituição não-governamental a se conectar à Internet no Brasil.8
Entretanto, além das iniciativas estatais de interligação do Brasil com a internet, a tecnologia dos BBS’s foi sendo difundida no País. Pequenos serviços de conexão via linha telefônica foram se expandindo. Há também poucos relatos sobre essas importantes experiências. Uma das mais importantes, encabeçadas pelo jornalista Milton Pelegrini, foi na cidade de Santos.

A primeira inserção de um jornal brasileiro de grande porte que utilizou uma rede de computadores se deu em junho de 1994, no período da Copa do Mundo de Futebol, realizada nos EUA, quando O Estado de S. Paulo colocou à disposição, via BBS, o material produzido pelos seus repórteres enviados aos EUA.

No carnaval de 1995, o Estadão comprou o domínio americano www.agestado.com, ampliando seu leque de informação com serviços em língua estrangeira para investidores do mercado financeiro.

Tal medida, de se adquirir um domínio nos EUA, se deu pela indefinição da Embratel, responsável na época pela implantação da política de internet no Brasil, ou seja, de como seria o acesso e exploração do serviço.

Porém, utilizando um dos serviços da internet, o Gopher, o Jornal do Comércio de Recife foi o primeiro entre os jornais brasileiros consolidados a ter material continuamente distribuído por algum dispositivo na Internet.

Em dezembro de 1994, através do Gopher da Emprel (Empresa Municipal de Processamento Eletrônico), o referido jornal passou a disponibilizar a primeira página da versão impressa e, semanalmente, atualizar cadernos de informática e meio ambiente.

Gopher é um servidor de informação que pode divulgar texto, gráfico, áudio e multimídia para os usuários, ficando totalmente funcional a partir de 1992. Porém, com o surgimento do www na internet e ela se tornando comercial, o Gopher foi paulatinamente esquecido.

A experiência pioneira de se colocar um conteúdo na rede foi relatada por Luiz Octavio Lima a Max Alberto Gonzáles, como descrito em seu trabalho de conclusão de curso, na ECA/USP.

Luiz Octavio afirma que era oriundo da editoria de política do jornal impresso, quando recebeu o convite para trabalhar com conteúdo digital, em 1994, ainda na fase do BBS. Sem conhecimentos específicos de informática, teve que aprender HTML e também foi em missão aos EUA para aprender o que pudesse sobre a nova mídia.

Na época do BBS de O Estado, apenas seis ou sete notícias da redação eram colocadas à disposição dos internautas, além dos textos de suplementos como o Agrícola e Informática, com a tela preta da interface. "Era muito difícil editar. Contratamos uma equipe e todos trabalhavam nisso", lembra Lima.



Pioneiro

Já o primeiro jornal brasileiro a lançar uma edição jornalística completa na Internet foi o Jornal do Brasil, que entrou na rede em 28 de maio de 1995. Segundo o atual editor-chefe do JB On-line, Roberto Ferreira, a idéia de produzir um jornal digital surgiu a partir do momento em que a internet, como nova mídia, foi se popularizando entre os brasileiros. Os internautas queriam explorar cada vez mais a rede na procura de novos serviços. “Os jornais sentiram que não poderiam ficar de fora da tecnologia, para não correrem o risco de serem atropelados”, explicou Roberto.

Com o início em 9 de julho de 1995, outro forte grupo de conteúdo noticioso a acreditar na nova mídia foi o conglomerado Folha. Quando uma equipe de profissionais da Agência Folha em colaboração com a redação do jornal Folha de S. Paulo, começou a colocar no ar notícias da edição impressa denominada de Folha Web, esta foi a primeira tentativa do grupo de tentar compreender a dinâmica da rede e estava, de certa forma, seguindo a tendência das publicações da época.

Entretanto, o grupo Folha queria mais. Em 28 de abril de 1996, lançou, em fase experimental, o Universo Online. O serviço tinha como espelho experiências bem-sucedidas nos EUA, como a Compuserve e a American Online.

Desde o início ficou claro que não se tratava apenas de um site de uma empresa de comunicação. O Grupo Folha almejava com o Universo Online explorar o mercado de serviços on-line do País, o qual ele mesmo criara, juntamente com o seu concorrente, Brasil On-line, do Grupo Abril. Este, aliás, do ponto de vista cronológico, foi o primeiro serviço online introduzido no País. O Brasil Online foi criado no dia 25 de abril, três dias antes do Universo Online. A grande contribuição dessa nova empreitada, chamada UOL, além de agregar sob um mesmo guarda-chuva conteúdos de dois gigantes da comunicação analógica, foi ser responsável pelos primeiros experimentos com vídeos na Internet brasileira. É importante ressaltar que não havia tecnologias consolidadas para produção e transmissão de vídeo.

O grupo Estado também deu outra contribuição importante para a implantação de uma cultura de produção e distribuição de informações jornalísticas via on-line. A primeira experiência de edição a distância aconteceu em junho de 1998, na Copa do Mundo da França, quando o Estado enviou uma equipe exclusiva para produzir as páginas da competição. Os jornalistas produziam a matéria em seus computadores móveis e enviavam diretamente à redação em São Paulo.


Experiência regional do DG Online

Contudo, por motivos estratégicos e culturais, os grandes grupos de mídia, no Brasil, não se interessaram em investir maciçamente nesse novo meio de comunicação, como visto anteriormente, o JB só entrou na Web de modo “clandestino”. Um exemplo é o portal globo.com que surgiu somente quatro anos após a chegada da Internet (web) no Brasil. Essa estratégia equivocada, de certa maneira, abriu a possibilidade para uma maior visibilidade dos veículos de menor porte econômico, que não dispensaram a oportunidade e promoveram, por intermédio da Web, sua marca e o seu conteúdo jornalístico.

Dentro desse universo ´alternativo´, pois não podemos enquadrá-lo no conceito de “alternativo”, pois também eram veículos de mídias tradicionais, os jornais impressos A Tribuna de Santos e Diário do Grande ABC, situados geograficamente em grandes regiões do litoral e região metropolitana de S. Paulo, marcaram suas trajetórias pela ousadia e pioneirismo.

A novidade, a web, abriu um campo de produção jornalística jamais utilizada, pois a revolução foi impetrada pelo baixo custo de produção e distribuição de notícias, proporcionada pela nova tecnologia. Surgiram, então, as versões on-line dos jornais impressos de Santos e região do ABC, A Tribuna Digital, veículo do Sistema A Tribuna de Comunicação, e o Diário Online, pertencente ao jornal Diário do Grande ABC, respectivamente. O Diário Online surgiu no início de 1996 e A Tribuna (ainda não existia a marca A Tribuna Digital), em março de 1996, ou seja, um mês antes do Universo Online (UOL).

Esse dois websites foram importantes para consolidar uma linha editorial voltada para valorização de conteúdos regionais, disseminação de informações das suas regiões para toda parte do mundo, formação de comunidade, introdução dos conceitos de interatividade e, principalmente, por tentar inovar no fazer jornalístico.
Diário Online

Situado em uma das regiões mais fortes economicamente do País, que abrange as cidades de Santo André, São Bernardo e São Caetano, ou seja, o ABC Paulista, o jornal Diário do Grande ABC foi visionário. Apesar de ser o maior jornal da região, portanto, sem concorrentes diretos nessa tradicional mídia, a direção optou por investir em tecnologia e mão-de-obra qualificada no mundo digital de produção e distribuição de notícias.

Já em 1995, o projeto do website www.dgabc.com.br já começava a ser desenhado, para ser lançado no início de 1996. Para isso, Antonio Prada, hoje diretor de conteúdo da multinacional Terra Networks, na época editor no jornal impresso, foi incumbido de viajar aos Estados Unidos para ver de perto como era essa nova forma de produzir e distribuir notícias.

Prada visitou as principais empresas de comunicação dos EUA, que tinham operações com a internet (CNN, San Francisco Examiner, Miami Herald, New York Times, Revista Wired etc).


O objetivo inicial estava focado em criar uma unidade de negócios / mídias. A empresa sempre entendeu a Internet como uma nova plataforma de distribuição de conteúdo. O desafio era criar um produto que estivesse ancorado na tradição do impresso, mas que possuísse autonomia editorial e de negócios buscando maximizar as características da Internet e as potencialidades do, então, novo veículo”9
A viagem ao berço do noticiário on-line digital, segundo Prada, encurtou caminhos e possibilitou que o projeto incorporasse, por exemplo, a melhor tecnologia de publicação de notícias disponível no momento, sendo pioneiros na utilização, no Brasil, do Front Page (da Microsoft), editor de HTML.

Isso fez com que o Diário do Grande ABC fosse um dos primeiros jornais a ter a sua versão online. E foi um dos primeiros também a não ter somente o conteúdo noticioso do impresso. Toda a arquitetura do site foi montada para fornecer notícias em tempo real. “Desde o início, já tínhamos uma redação própria que funcionava das 7h às 1h30”, descreve Prada.

Mas não foram apenas as notícias do jornal impresso que foram inseridas no novo meio digital. Jornalistas experientes do veículo impresso foram convocados para uma nova missão e tiveram a companhia de novos colegas.
Para formar a equipe, a solução foi caseira. Procuramos criar uma equipe com profissionais do jornal que já utilizavam da Internet e tinham conhecimentos de informática. Mas eram poucos. Então, buscamos formar a equipe com pessoas jovens, apostando no treinamento para adequação ao novo veí­culo”.10
Mas não era só difícil obter mão-de-obra qualificada, pois como tudo era muito novo, os recursos técnicos também eram limitados, mas a empresa atendeu a demanda e proporcionou o crescimento do website.

Porém, o pioneirismo também tem seus percalços: a resistência ao tipo de trabalho da equipe comandada por Prada. A redação do jornal impresso não via com bons olhos aquele novo núcleo.


Eles viam a nova redação como concorrente. Inclusive achavam que a Internet era um veículo menor. Não raro, caçoavam do departamento, como se fosse algo de segunda categoria. Sem credibilidade”.
Em função disso, o material do jornal impresso somente entrava na internet quando era totalmente fechado. “Não havia sinergia durante a apuração dos fatos entre as equipes do impresso e do online”, descreve Prada.

Como resultado, o Diário Online teve que criar uma estrutura paralela, baseada no monitoramento de sites, TVs e rádios e na ronda forçada pelas editorias do impresso para tirar “na marra” as informações. Prada diz que eles criaram um canal exclusivo com a fotografia, que passou a enviar as imagens assim que reveladas. Aos poucos, o bloqueio foi sendo furado.

Mas, até o jornalista sair da empresa, em 1998, estava longe do ideal.
Porém, apesar de todas as dificuldades impostas pela introdução da novidade tecnológica e desconfiança de alguns colegas de profissão, o resultado do Diário Online foi significativo na criação de uma cultura de jornalismo on-line, atualizado a todo momento, buscando entender as características do meio e a necessidade do usuário quando está à frente do computador.
Nossa primeira grande experiência nesse sentido foi a cobertura da morte de Lady Di. Ali, começamos a entender qual era a potencialidade do novo meio como ferramenta de comunicação. Fizemos ainda a primeira cobertura on-line de uma Copa do Mundo, a da França, em 98. Aquele evento, a Internet começou a mudar o jornalismo. Depois vieram as eleições, as transmissões em áudio e vídeo. E o jornalismo nunca mais foi o mesmo”11
A Tribuna Digital na vanguarda

O Sistema A Tribuna de Comunicação é um dos grupos de mídia mais fortes do Brasil. Das empresas que compõem o grupo, entre emissoras de TV, como a retransmissora da Rede Globo, e rádio, o jornal impresso A Tribuna é um dos cinco mais antigos em atividade no Brasil, tendo 110 anos de existência.

Apesar de sempre investir na tradição, a novidade Internet seduziu os dirigentes do grupo. Logo da chegada comercial da rede no País, o Sistema A Tribuna de Comunicação adquiriu equipamentos de conexão e dimensionou o negócio para comercializar o acesso à Web.

“Entre para a Aldeia Global. Faça parte da Internet”. O anúncio, colocado no centenário jornal em março de 1996 e que anunciava o lançamento de um provedor de acesso para a região, despertou a curiosidade da comunidade da Baixada Santista.

A região já era conhecida nacionalmente por abrigar vários serviços de Bulletin Board System (BBSs), redes tecnológicas precursoras da Internet, inclusive também sendo pioneira no sistema Vídeo Texto. A Universidade Católica de Santos, na sua Faculdade de Comunicação Social, tinha um terminal que era utilizado para atualizar informações sobre o embarque e desembarque de cargas no Porto de Santos, serviço utilizado pelos sindicatos de trabalhadores do cais.

Inspirada nesse contexto, o grupo se associou à Nutec Net (empresa especializada em tecnologia de redes). A Nutec Net, com sede em Porto Alegre (RS), tinha um escopo de negócio baseado em franquias. Igualmente ao DG Online, A Tribuna de Santos, se associou à empresa gaúcha, no negócio do provimento de acesso, mas precisava ter pelo menos um site para divulgar on-line os seus serviços.

Na opinião do, então, encarregado técnico da Internet, Marcello Martin Vicente Júnior, a Tribuna Internet passou a se fortalecer depois da parceria firmada com a NutecNet, em 1996, que mais tarde passaria a chamar-se Zaz e, depois, Terra Networks.

Em 26 de março, o provedor de acesso de A Tribuna Internet entra em operação e, com ele, o primeiro site de conteúdo jornalístico da região e um dos primeiros do Brasil. Sua capa continha as cinco principais notícias retiradas do jornal A Tribuna. Naquele momento, a comunidade virtual começava a ser informada sobre os acontecimentos regionais que viraram notícia no jornal impresso.

O website www.atribuna.com.br ao longo de sua trajetória foi acrescentando ao seu conteúdo todas as características proporcionadas pela Internet, como notícias em tempo real, imagens ao vivo da praia de Santos, Classificados on-line, Empregos, Arquivo (consulta de notícias anteriores) e o Tricompras (onde os internautas podem fazer suas compras a qualquer hora). Outro destaque foi a parte interativa, com Chats, Fóruns por cidade, Tribuna do Leitor e Pergunta do Dia.

Em 1999, o website é batizado de A Tribuna Digital, época em que começou um processo de desvinculação da linha editorial do jornal impresso, apesar da maioria do seu conteúdo ainda ser gerado pela redação de A Tribuna de Santos.

A entrada do Sistema A Tribuna na Internet influencia os outros veículos do grupo. A, então, editora do jornal, Miriam Guedes, em entrevista ao jornal comentou que o “grupo sempre esteve à frente de todas as formas de comunicação”. Para ela, a rede propiciou uma dimensão maior do trabalho do jornal. “Recebo vários e-mails de internautas do mundo todo. Eles pedem colunas, fazem sugestões. Isso é muito gratificante”.

O, então, editor-geral, Walter Lima, tinha como visão de negócio integrar todos os veículos do Sistema A Tribuna de Comunicação e colocá-los com uma linguagem para Internet, sendo o próximo desafio de A Tribuna Digital. “Queremos que as pessoas, que lêem jornal, ouçam rádio e vejam também a televisão, acessem na rede todos os veículos do grupo”, explicou.

Ele, que foi responsável pela reformulação conceitual do website (design, arquitetura da informação, conteúdo, tecnologia e negócios), diz que as transformações foram ocorrendo de acordo com a descoberta de soluções. “Em menos de um ano e meio, fizemos três reformulações no site, porque o usuário pede isso”. Segundo Lima, os profissionais também se aprimoraram junto com a Internet. “Tivemos a felicidade de trabalhar com as pessoas certas, pois a informática é feita por pessoas”. Para o editor, fazer cinco anos de Web é como completar 30 anos em outros veículos, porque a velocidade de transformação na rede, segundo pesquisas, é seis vezes mais rápida.

Com o surgimento de novas tecnologias, o provedor também se modernizou e começou a oferecer dois tipos de acesso a clientes domésticos: o discado e o de banda larga (que pode ser feito através do Speedy ou do Virtua). Havia também o serviço corporativo, como hospedagem de websites, vendas de banners (anúncios), LP de voz e de dados, registro de domínios, além do Tricompras, website de e-commerce, que Marcello Martim considerou o segundo maior investimento do grupo na Internet.

Os anos de 1997 e 1998 foram bastante ricos no que tange aos experimentos editoriais implantados no website. Em fevereiro de 1997, a, ainda, a Tribuna Internet, que passou a ser denominada A Tribuna Digital em 1998, fez a sua primeira cobertura do Carnaval da Baixada Santista, quando os foliões puderam acompanhar o samba-enredo, com áudio, das escolas e informações gerais sobre o desfile na Passarela do Samba, instalada na Orla da Praia.

No mês de novembro, do mesmo ano, foi realizada a primeira cobertura de um evento em tempo real: o Festival de Música da Tribu, caderno jovem do jornal A Tribuna, que revelou novas bandas na região e teve sua transmissão on-line (texto, áudio e fotos) de todas as etapas.

Já em agosto de 1998, aconteceu a primeira grande reformulação do website, fornecendo mais serviços aos usuários, como a inclusão do canal sobre o Santos FC, chat com convidados, colunas e fórum.

Mas é, entre o período de julho a outubro de 1998 que o website experimentou uma novidade que iria constar, mais tarde, em todo bom site de conteúdo de jornalismo: a cobertura das eleições.

No seu primeiro projeto especial do portal, em conjunto com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), que proporcionou uma conexão direta (criptografada) para a apuração dos votos em tempo real. O TRE enviava os dados que eram descriptogrados no servidor de A Tribuna Digital e, depois, disponibilizados na web. O website fez a cobertura das eleições para Governador, Deputado, Senador e Presidente da República, com informações e fóruns de debates. Além do site do próprio TRE, o website regional foi o único a apresentar as informações sobre a votação.

Apostando em um dos principais temas da região, o Verão, o website lançou o primeiro Verão Digital, de janeiro a fevereiro de 1999, com reportagens, previsão do tempo e dicas de passeio na Baixada Santista e Litoral.

De fevereiro a junho de 1999, o website aderiu à “Campanha Violência Não”, do Sistema A Tribuna de Comunicação na onda do clamor público por justiça, devido ao assassinato de três garotos por policiais militares, em Praia Grande, culminando no conhecido “Caso da Cavalaria”. A denúncia chegou ao jornal através de um e-mail enviado por uma das mães. A reportagem do jornal checou a informação e publicou matéria exclusiva sobre o assunto. Em julho, foi realizada cobertura exclusiva da maior feira de informática do Brasil, a Fenasoft, com matérias, fotos e notas sobre os acontecimentos do evento.

No final de 1999, em dezembro, o portal deu um salto de qualidade com a implantação de um banco de dados e gerenciamento, que resultou na profissionalização do conteúdo e inclusão de últimas notícias, fóruns por cidade, áudio, vídeo, classificados, empresas e banco de empregos.

Em parceria com a Terra Networks, em janeiro de 2000, o website criou um espaço especial, o VerãoSP. Durante três meses, os internautas tiveram acesso à agenda de espetáculos teatrais, informações sobre estradas e balsas, últimas notícias, shows, reportagens especiais sobre turismo e saúde, flashes, dicas dos melhores points e promoções.

Em janeiro de 2000, A Tribuna Digital passou a ser o maior portal de conteúdo e serviços de todo o Litoral Paulista, de Cananéia a São Sebastião. Com uma nova página e um design mais leve, o site agregou, além das matérias do jornal, os noticiários de todos os veículos pertencentes ao Sistema A Tribuna de Comunicação.

Com uma redação própria, uma equipe de jornalistas passou a desenvolver notícias on-line e reportagens. Nos serviços, houve a inclusão do arquivo para pesquisa de notícias anteriores, aumento do conteúdo do Santos FC e a seção Multimídia (com matérias da TV Tribuna e áudios da rádio CBN-Santos).

Três meses após a implantação, em março, foi criado o canal especial para cobertura on-line do carnaval, com a transmissão em tempo real (vídeo) do desfile das escolas de samba de Santos, transmissão pioneira no Litoral de São Paulo. Além da imagem, os usuários tiveram acesso a fotos exclusivas, entrevistas e diversos canais de informações, produzidas pela equipe de repórteres e profissionais de A Tribuna Digital.

Sete meses após, da reformulação do início do ano, em julho de 2000, a equipe fez nova alteração. A nova reformulação do portal trouxe novidades na área de conteúdo e serviços, como a seção Kids (noticiário do suplemento A Tribuninha), Classificados via Internet, melhora na qualidade de som do vídeo e áudio da seção Multimídia, inclusão do Divirta-se (com os principais eventos da região), Tribuna do Leitor Interativa, imagens on-line da praia de Santos e indicadores econômicos.

Consolidando o seu espectro de negócio, foi lançado, em agosto de 2000, o Tricompras - Shopping Virtual da Baixada Santista (em www.tricompras.com.br). Mais do que um sistema para adquirir bens e serviços via Web, o Shopping mostrou ser uma real oportunidade para que os comerciantes da Baixada Santista entrassem na denominada “Nova Economia”.

Em outubro de 2000, aconteceu a Cobertura das eleições para as prefeituras em 27 cidades do Litoral Paulista. Quando esteve no ar, a página especial bateu o recorde de audiência com 22 mil páginas vistas. Além de notícias, forneceu apuração oficial do TRE-SP e transmissão da CBN-Santos, via Internet, por 15 horas.

No mês de dezembro de 2000, foi inaugurado o Chat com mais interatividade. Com novo layout, a sala passou a oferecer o sistema de áudio e vídeo em todos os bate-papos e pesquisas interativas, onde o visitante respondia a uma enquete relacionada ao assunto discutido e indicava os próximos convidados.

Também, no mesmo mês, a Tribuna Digital fez parceria com a Telesp Celular para entrar no Wap (tecnologia que permite acessar a Internet pelo celular e aparelhos sem fio). No endereço www.atribuna.com.br/waplitoral, os usuários do sistema podiam conferir as principais notícias da região, eventos e serviços, como condições de estradas e balsas. É o segundo serviço informativo jornalístico a ser inserido no sistema, o primeiro foi a Agência Estado.

Em outra cobertura regional, mas de amplitude nacional, o portal realizou, em março de 2001, a transmissão em tempo real do funeral do governador Mário Covas, enfocando o evento regionalmente, com notícias e depoimentos de políticos e pessoas comuns. Foi o primeiro portal brasileiro a colocar fotos exclusivas e detalhadas do acontecimento na web.



Com a queda da expectativa sobre a Internet, em nível mundial, os projetos nos anos seguintes foram escasseando, como em toda a web brasileira, e atualmente, A Tribuna Digital tenta reconquistar o seu espaço no mundo virtual do conteúdo regional.

Bibliografia
BASTOS, Helder. Jornalismo Electrônico: internet reconfiguração de práticas nas redacções. Coimbra: Livraria Minerva Editora, 2000, p. 31.
CHARLAB, Sérgio. Você e a Internet no Brasil. Rio de Janeiro: Objetiva, 1996, p. 169
CORRÊA, Elizabeth Saad. Edição em Jornalismo Eletrônico. São Paulo: Edicom ECA/USP, 2000, p. 190
Junior, Walter Teixeira Lima. Mídia digital: o vigor das práticas jornalísticas em um novo espaço. Tese de Doutorado, Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, 2003.
Prada, Prada. Entrevista concedida ao pesquisador em 3 de março de 2004.
RECODER, Maria-José; ABADAL, Ernest; CODINA, Luis. Informação Eletrônica e Novas Tecnologias. São Paulo: Summus Editorial, 1991, p. 155
SQUIRRA, S. Jornalismo e pesquisa cibernética. In: Jornalismo Online. São Paulo: Disciplina ministrada no curso de Pós-graduação da ECA/USP, 2000. Disponível em


1 Walter Teixeira Lima Junior é doutor em jornalismo digital pela USP, professor de jornalismo da FIAM e pertencente ao grupo de Pesquisa Comunicação e Tecnologia da UMESP.


2 Paper produzido para o Grupo de Trabalho da História da Mídia Digital, do III Encontro da Rede Alfredo de Carvalho, em abril de 2005, Novo Hamburgo (RS)

3 Junior, Walter Teixeira Lima. Mídia digital: o vigor das práticas jornalísticas em um novo espaço. Tese de Doutorado, Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, 2003.

4 CORRÊA, Elizabeth Saad. Edição em Jornalismo Eletrônico. São Paulo: Edicom ECA/USP, 2000, p. 190

5 SQUIRRA, S. Jornalismo e pesquisa cibernética. In: Jornalismo Online. São Paulo: Disciplina ministrada no curso de Pós-graduação da ECA/USP, 2000. Disponível em Acessado em 29 de janeiro de 2003.

6 BASTOS, Helder. Jornalismo Electrônico: internet reconfiguração de práticas nas redacções. Coimbra: Livraria Minerva Editora, 2000, p. 31.

7 RECODER, Maria-José; ABADAL, Ernest; CODINA, Luis. Informação Eletrônica e Novas Tecnologias. São Paulo: Summus Editorial, 1991, p. 155

8 CHARLAB, Sérgio. Você e a Internet no Brasil. Rio de Janeiro: Objetiva, 1996, p. 169

9 Antonio Prada, em entrevista concedida ao pesquisador em 3 de março de 2004.

10 Antonio Prada, em entrevista concedida ao pesquisador em 3 de março de 2004.

11 Antonio Prada, em entrevista concedida ao pesquisador em 3 de março de 2004.

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