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sofre variações de acordo com gostos pessoais. O ouvido treina-se e
educa-se.
Tal como a forma, a cor, a escolha dos materiais e a superfície, o som é
uma dimensão do design. Porque é parte determinante da maneira como
experimentamos um produto ou comunicação, o som tem que fazer parte
do projeto do produto ou comunicação. No entanto, é raro os designers
de produto ou de comunicação trabalharem diretamente e
conscientemente com o design do som. O som raramente é abordado nas
escolas superiores de design e a bagagem auditiva dos alunos é, não raras
vezes, vulgar.
A formação auditiva de um designer é um elemento estrutural da sua
capacidade prática. Esta formação é dois tipos: por um lado técnica,
ligada ao estudo da acústica e das propriedades sonoras; por outro lado
cultural, de apreciação dos sons e da música. No entanto, a História da
Música nem sequer faz parte dos programas de História da Arte.
O som de um produto contém informação importante sobre a sua
qualidade e estado, e pode por si só ser um elemento de prazer ou
desconforto para o usuário e para outros. A teoria que diz que a função
de um produto é crucial para a determinação da sua forma deve ser
considerada uma ideologia, portanto guerrilheira (do funcionalismo e do
racionalismo), porque a forma de um produto diz respeito a todas as suas
funções, incluindo aquelas que não têm nada que ver com a função do
objeto enquanto ferramenta.
O pulsar grave de uma Harley-Davidson contribui para a personalidade da
moto. Os técnicos cultivaram este som ao longo de anos e o fabricante
patenteou-o numa série de países como parte do produto. A indústria
automóvel foi a primeira a aperceber-se do potencial do som, e os
fabricantes japoneses dedicaram uma atenção especial até conseguirem
que as portas dos seus carros batessem como a de um Mercedes.
A Volkswagen exibiu num anúncio de 1998, em letras pretas sobre uma
página branca, a inscrição ['pfemf]. Este é o som da porta de um Passat ao
bater e fala-nos imediatamente de precisão, credibilidade e qualidade. A
BRAUN fabrica secadores de cabelo e aparelhos de barbear. A companhia
tentou tornar os secadores mais silenciosos para aumentar a idéia do seu
valor. No entanto, a BRAUN não fez qualquer tentativa de silenciar os
aparelhos de barbear. De acordo com a companhia, os clientes não
ficavam convencidos que a máquina barbeasse.
A IBM tinha já cometido o erro de investigar para abolir o ruído
operacional das máquinas de escrever. O objetivo era o de reduzir o
barulho dos escritórios e contribuir para um ambiente de trabalho mais
amigável. O modelo 6750 foi lançado nos anos 70 e os utilizadores não
gostaram; nunca sabiam se a máquina estava a trabalhar ou não, por isso
a companhia introduziu discos elétricos Piezo para reproduzir o barulho
funcional. Este foi o primeiro produto que continha som artificial para
reproduzir aquele que tinha sido laboriosamente eliminado.
Em alguns produtos, como gravadores de som digitais ou câmaras de
vídeo, o barulho operacional tem que estar o mais próximo possível do
inexistente para não interferir com o som gravado.
O reconhecimento do som e da fala é uma das áreas fundamentais de
investigação na «inteligência artificial». O aperfeiçoamento do som virtual
é uma das linhas mestras da indústria de instrumentos musicais. A
interação entre o som e a imagem é um dado fundamental para a
construção da realidade virtual e ainda nos reserva puzzles
interessantíssimos como o chamado efeito McGurk (H. McGurk e J.
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MacDonald): se mostramos uma imagem de uma cara a dizer «ga-ga»
acompanhada pelo som «ba-ba» ouvimos com os olhos fechados
obviamente «ba-ba», mas com os olhos abertos «cha-cha», incapazes de
nos abstrairmos do som, por muito que tentemos.
O som está não só nos ouvidos como nos olhos e deve ser incorporado
pelos designers de comunicação e industriais.
O compositor do século XX vê a sua função de uma forma que contém
muitas afinidades com a do designer: o seu objetivo é fazer alguma coisa
(da mesma forma que um artesão profissional) tão bem quanto conseguir.
Hindemith impôs a idéia da Gebrauchsmusik, da música utilitária, para
usos específicos e situações particulares. É uma visão tão válida como a
Romântica da composição como a sublimação da obra de arte, sendo um
retorno a uma idéia anterior, presente desde a Idade Média até
Beethoven, que assume o compositor como um membro útil à sociedade,
em vez de uma personalidade excêntrica, distanciada dos seus
contemporâneos.
O som e a música encerram dimensões e idéias que enriquecem o projeto
e ajudam a ver mais longe e socorro-me de uma frase de Edgar Varèse
para me justificar: «Há sempre uma incompreensão entre o compositor e
a sua geração. A explicação habitual deste fenômeno é que o artista
avança em relação à sua época, mas esta parece-me absurda. De fato o
criador é, de uma maneira particular, o testemunho da sua época; então,
é porque o público - pela sua disposição e experiência - está cinquenta
anos atrasado que há este desacordo entre ele e o compositor.»
Bibliografia:
Jens Bernsen, Sound in Design. Dansk Design Center: København 1998.
Marshall McLuhan/Quentin Fiore, The Medium is the Message.
Hardwired: San Francisco [1ª ed. 1967] 1996.
Dafeldecker/Fussenegger, Bogengänge [libretto]. Durian CD, 1995.
André Boucourechliev, Le langage musical. Fayard: s.l 1993.
Augusto Morello, discurso na BEDA Conference.[1997]
Odile Vivier, Varése. Solfèges/Seuil, s.l. 1973.
A.A.V.V., Contemporary Composers on Contemporary Music: Elliott
Schwatz, Barney Childs and Jim Fox. Da Capo Press: New York 1998.
Texto extraído do Flirt Online (
www.ip.pt/flirt/
), e-zine português de
cultura.
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