Esquizofonia



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Tradução de Jorge Pereirinha Pires (
jorgepereirinhapires@gmail.com
), 
com adaptação ao português brasileiro por Gérson de Oliveira. 
Publicado como último capítulo de The Ticket That Exploded, de William 
Burroughs (Grove Press, New York, 1962). 
Fonte: Virose (
www.virose.pt
).
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A PIOR ESCOLA DE SAMBA DO MUNDO  
José Chrispiniano 
 
 
 
 
Este é um capítulo do livro A Guerrilha Surreal, que narra a organização e 
realização do S-26, o protesto contra a reunião do FMI e do Banco 
Mundial que se realizava em Praga, em 26 de setembro de 2000. Aqui, 
com os olhos (e ouvidos) de quem estava presente, José Chrispiniano narra 
o ensaio e atuação de um bloco de samba ativista nos preparos da 
manifestação. 
...........................................................  
 
 


17 
 
Começou atrasado o ensaio diário da "Samba Band", um grupo de 
batuque com a intenção de criar uma "cacofonia contra o capital" durante 
os protestos. 
 
A cena, ainda mais para um brasileiro, era  no mínimo, estranha. Aquele 
bando de europeus branquelos batendo em barris de plástico, caixas e 
tamborins, sob o olhar curioso dos policiais tchecos. 
Tocavam algo que se tentava samba, mas era duro, tenso, sem 
naturalidade. 
Diante da bateria, o seu mestre, o general da banda. Um inglês magro e 
barbudo, com cara de professor aloprado, que aprendeu a comandar 
bateria em Londres mesmo. Com chapeuzinho na cabeça e apito na boca, 
ele manja mesmo da coisa, sofre e insiste ao corrigir seu "alunos". Levanta 
o braço, marca o ritmo com o apito e comanda com sinais a banda como 
se estivesse na Sapucaí. Se existe um líder que é seguido sem contestação 
no movimento, esse é o mestre da bateria. 
Ensina e tenta pôr ordem para que bloco caótico execute ao menos um 
ritmo:  
- Pá, pá, parapapá; taratatá, pará, papá.  
O que tocam, em um caos de sons embolados, é mais um "samba tcheco". 
Uma menina chega, com uma bandeira rosa-prateada em um enorme 
mastro e começa a agitá-la diante do grupo. Para terminar o ensaio 
desfilam com a "porta-bandeira" pelo Centro de Convergência, praticando 
tocar e fazer marcha ao mesmo tempo. 
O mestre de bateria e o uso de blocos de samba em protestos na Europa 
vem da Inglaterra, do Reclaim The Streets (RTS), grupo que tem como 
meta retomar as ruas para as pessoas. O que significa libertar as ruas do 
controle das corporações e seus anúncios, dos carros e do controle estrito 
do governo.  
Ainda não entendeu? 
Seus eventos incluem "jardinagem guerrilheira" (destruição do asfalto e 
plantação de mudas em vias urbanas), teatro de rua, raves abrindo 
estradas (os carros que fecham as estradas, seus atos as "abrem"), futebol 
no meio de avenidas etc...  
As características do grupo vêm da mistura da cultura rave com squatters, 
ecologistas radicais, anarquistas e artistas plásticos, de rua ou de circo. 
Nos seus slogans, ecos de maio de 68. 
Ou seja, realmente não é fácil de entender. 
Uma das explicações para o RTS é de que, na Inglaterra, ao contrário da 
França ou da Espanha, não há uma cultura das ruas como um espaço de 
manifestação popular.  
Quanto à sua forma de organização o grupo é, nas suas próprias palavras: 
"Não-hierárquico, sem líderes, organizado abertamente, público. Não há 
nenhum plano individual, ou "estrategista" por trás das ações e eventos. 
As atividades do RTS são resultado de esforços voluntários, não 
remunerados e cooperativos de numerosos indivíduos autônomos 
tentando trabalhar junto de forma igualitária."  


18 
 
Sobre a falta de uma ideologia que os unifique, em um texto sobre sua 
aliança com sindicatos e a necessidade de unir a luta social e a ecológica, 
o RTS declara o seguinte:  
“Unidos na diversidade. Nós temos nossas discordâncias. Alguns acham 
que todas as formas de poder do estado devem ser rejeitadas, outros que 
deveríamos usar a liberdade que temos para desafiar e mudar as 
instituições que moldam as nossas vidas. O que nos une é a crença na 
necessidade e na legitimidade da ação direta, e na visão de que é preciso 
agir aqui e agora, para resolver a crise ecológica e social que 
enfrentamos”. 
O RTS foi quem trouxe a Praga seu samba. O que no Brasil seria uma 
"banda de Ipanema", ou um ensaio aberto, vira protesto em Londres ou 
na República Tcheca.  
Após o rápido passeio chamando a atenção do resto do Centro de 
Convergência, os “sambistas” se reúnem para discutir qual será o papel 
estratégico daquela bateria ativista no cerco ao congresso no dia 26. 
A reunião começou com as seguintes perguntas: 
Quantos de vocês já estiveram em manifestações antes? 
Quantos já invadiram ou bloquearam a entrada de um prédio, ou uma 
rua? 
Quantos já enfrentaram gás lacrimogênio ou spray de pimenta? 
Quantos já enfrentaram policiais com cavalos? E cachorros? 
Ali, uma senhora negra, de pé com sua caixa, despertou-me uma suspeita. 
Aproximei-me e descobri que aquele samba tinha ao menos uma 
brasileira: Benedita Whitehouse. 
Ela, à francesa, pegou sua caixa, olhou malandra para os lados, me pegou 
pelo braço e saímos da reunião para podermos conversar. 
A história de como ela veio parar em Praga termina com o Reclaim The 
Streets, que a convidou para tocar, e pagou toda a viagem, fornecendo 
inclusive máscara contra gás lacrimogênio. Mas o começo é com a greve 
dos metalúrgicos de São Paulo, em 1978. Foi pela sua atividade no 
sindicato que conheceu seu marido, um inglês que foi ao Brasil trabalhar. 
Benedita mudou-se para Londres, onde vive há 18 anos. Foi lá que 
aprendeu a tocar samba.  
- Bom , eu não vim aqui só para tocar. Eu apóio o cancelamento da dívida. 
E também porque eu sou brasileira, venho do terceiro mundo, então acho 
que mesmo estando na Inglaterra, a gente tem que influir aqui e lá. Se eu 
tivesse no Brasil, estaria brigando lá. Como eu estou aqui,brigo aqui. Eu 
não vim para cá (Europa) para trabalhar, eu vim porque meu marido não 
podia ficar mais lá. Mas comecei a ficar chateada, parecia que eu havia 
deixado o movimento. Mas aí eu comecei: Come on, Benê, você em 1978 
nos piquetões dizia que a luta era internacional. Você tá aqui? Então, pára 
de chorar e influi aqui também. 
Comento que o que ocorre em Praga deve ser bem diferente de uma 
greve em 1978. 
- Uma coisa que me inpressionou é que, olhando assim, parece um pouco 
bagunçado, mas eles têm uma organização muito forte. Eles fizeram 
exatamente o que a gente fez em 1978. Eles criaram uma central onde 


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