Esquizofonia



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52. Ibidem.  
 
53. Gilles DELEUZE, Foucault, p.59  
  
Para saber mais Cf. BORGES, Maria Lucília. Soundesign. São Paulo, 2003. 
Dissertação (Mestrado em Comunicação e Semiótica), PUC/SP. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERNURA DIGITAL 
Vítor Belanciano 
  
Computadores portáteis e ruídos digitais com fantasia, ternura e pop. 
Uma síntese esquizofrênica e impossível? Alguns dos mais estimulantes 
álbuns lançados este ano, como os dos Múm, Opiate, Daedelus, Laub ou 
The Notwist, mostram que não. E que chegou a "indietrônica". 
  
Os últimos anos da pop foram tempos, simultaneamente, 
desconcertantes e brilhantes. O hibridismo e a fragmentação de gêneros 
trouxeram consigo uma pluralidade tal que se tornou difícil acompanhar o 
desenrolar dos acontecimentos. Pelo menos para o melômano menos 
avisado.  
  
Essa idéia de desordem, de algo em trânsito, está por detrás das 
afirmações de Marius De Vries (produtor que trabalhou com Björk, 
Massive Attack ou Madonna) quando este discorre sobre a última vintena 
de anos da pop.  
  
"Nos anos 80, a maioria das produções seguiam uma ordem rígida. Existia 
um esquema puramente arquitetônico na forma como se uniam os 
elementos sonoros de uma canção. Com o êxito de 'Blue Lines' essa 
ordem foi-se diluindo e deu lugar à desordem. Uma desordem mais ou 
menos ordenada".  
  
Marius De Vries sabe do que fala. A música pop, tal como foi exposta em 
álbuns capitais dos anos 90 como "Blue Lines" dos Massive Attack, 
"Debut" de Björk ou "Screamadelica" dos Primal Scream, constituíam um 
relato aberto onde a soma de elementos de uma série de gêneros (soul, 
dub, hip-hop ou electro) formavam uma síntese ativa e criativa. Os sons e 
os ritmos da eletrônica infiltravam-se na pop, contribuindo para a sua 


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renovação.  
  
Não surpreende, por isso, que na atualidade uma série de projetos vindos 
do universo "indie", como The Notwist, Lali Puna, Four Tet ou Console, se 
sintam irremediavelmente atraídos por estruturas, melodias ou texturas 
pop. Refletem, ainda, a influência confessa de grupos como os My Bloody 
Valentine ou Stereolab, mas atribuem-lhe outras identidades através do 
corte e costura digital.  
  
O movimento contrário também é verdade. Isto é, a eletrônica 
geométrica, apesar da sua aparência impenetrável, sente uma atração 
irresistível pelas melodias. Pelo esboço da canção pop. Pela criação de 
mundos, aparentemente, perfeitos. Como na pop, precisamente. Os 
alemães Mouse On Mars nunca o assumiram completamente, mas foram 
um dos primeiros projetos da facção eletrônica purista a colocar em 
prática o escapismo idílico da pop em discos como "Vulvaland" (1994) e 
"Iaora Tahiti" (1995), álbuns recheados de melodias e enfoques 
atmosféricos que invocavam viagens sem fim.  
  
Aliás, esta relação entre paraíso e máquinas tem outros agentes 
privilegiados, como o trio inglês Plone, os projetos americanos Dntel e 
Safety Scissors, os alemães Schlammpeitzigger ou Leila. Esta última 
conseguiu desenvolver um universo heterodoxo em álbuns como "Like 
Weather" e "Courtesy Of Choice", como se juntar as visões de Satie, 
Marvin Gaye, Aphex Twin e Raymond Scott fosse o mais natural do 
mundo.  
  
Concluindo. Nos últimos anos a música eletrônica para escutar 
aproximou-se da pop e a pop aproximou-se da eletrônica. Mas não é uma 
eletrônica qualquer. É a eletrônica dos "clicks" e cortes digitais, dos ritmos 
microscópicos, das melodias de caixa-de-música, dos ambientes "lo-fi". 
Definitivamente, a micro-eletrônica dos computadores portáteis entrou 
no universo pop.  
  
Indietrônica  
  
Existe quem chame "indietrônica" a esta nova forma de provocar sínteses 
entre a música "indie" de guitarras e a eletrônica íntima saída de 
computadores portáteis. Como todos os rótulos, também este é para ser 
encarado com sentido crítico. Serve para sinalizar, nada mais, até porque 
esta procura de comunicação entre eletrônica e pop não é nova.  
  
Em grande parte, o interesse suscitado pela denominada "indietrônica" 
residiu no sucesso de "Vespertine" de Björk. Na preparação do seu último 
álbum, a cantora islandesa contou com a colaboração de Console e do 
dinamarquês Opiate, e, mais tarde, na sua confecção, com as presenças 
dos americanos Matmos e do inglês Herbert. Tudo gente das tecnologias 
domésticas, dos portáteis e dos sons concretos.  
  
Todos eles devem algo à técnica de "glitch" (utilização com fins estéticos 
da sonoridade de CDs riscados, falhas de leitura de aparelhagens 
eletrônicas, qualquer tipo de erro digital), iniciada pelos Oval e por alguns 
dos projetos da editora Mille Plateaux na primeira metade dos anos 90. 
Com efeito, num momento como o atual, onde quase toda a renovação 
de conceitos artísticos parece passar pela relação com a tecnologia, é 
interessante analisar a sonoridade inconfundível, baseada nos erros de 
leitura digital, do alemão Markus Popp (Oval).  
  
Construídos a partir de padrões rítmicos repetitivos e complexas texturas 
melódicas, as composições de Markus Popp retomavam os detalhes 
sonoros próprios de alguma música ambiental e antecipavam os 
exercícios de reciclagem (como os clicks 'n'cuts), utilizados por algumas 


199 
 
das figuras das sonoridades contemporâneas.  
  
Fundada numa sólida base teórica, a obra de Popp pretendia refletir 
sobre o meio electrônico enquanto ferramenta - a manipulação sobre o 
suporte físico da obra. Na música de Oval o processo é tudo e é colocada 
ênfase na observação dos procedimentos técnicos utilizados na 
elaboração.  
  
Estes procedimentos, associados à popularização do computador portátil, 
foram apreendidos de formas diversas. Entre os postulados terroristas e a 
estética agressiva "glitchore" de Kid606 e a música concreta pop dos 
Matmos existem mais diferenças do que semelhanças. O mesmo sucede 
quando se fala das paisagens turvas, mas idílicas, da editora Plug Research 
(Jeremy Dower, Dntel, Safety Scissors, Chessie) e da pop borbulhante da 
alemã Morr Music (Lali Puna, Manual, Styrofoam). De comum, a 
descoberta do conforto, rapidez e autonomia criativa que um bem 
equipado Macintosh pode proporcionar quando colocado ao serviço de 
sons analógicos, cortes digitais e sensibilidade pop. Subversiva, em alguns 
casos, "retrô" noutros, mas sempre pop.  
  
Na verdade, nada disto teria grande importância se alguns dos melhores 
álbuns dos últimos tempos não refletissem estes mecanismos. Mas é isso 
que acontece precisamente com discos como "Neon Golden" dos The 
Notwist, "While You Were Sleeping" dos Opiate, "Invention" de Daedelus, 
"Filesharing" dos Laub ou "Finally We Are No One" dos Múm. Discos onde 
os ritmos batem ao ritmo do coração, entre as 80 e as 100 pulsações por 
minuto. Onde as canções e os sonhos digitais parecem ter sido 
concebidos por programadores de software.  
  
"Indietrônica"? Pop com clicks, clicks com pop? A próxima vez que alguém 
lhe falar do assunto já sabe. Como tudo no apressado "devir" da música 
atual, pode não ser nada. Mas para já é um dos fatos de 2002. 
   
Fonte : Vizzavi (
www.vizzavi.pt
).  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


200 
 
TERRE THAEMLITZ: KARL GRRL 
Major Eléctrico 
 
 
 
Shintaro Tsuji criou em 1960 a marca Sanrio, protótipo de 
empreendimento capitalista com uma boa intenção como face visível. 
Lojas em todo o mundo vendem hoje uma gama de produtos como papel 
de carta, autocolantes, mochilas, roupa, figuras 3D, etc. 
  
“O objetivo de fornecer meios para enriquecer a comunicação 
interpessoal é comum às atividades Sanrio em todos os continentes. A 
oferta de presentes é o centro do nosso negócio – encaramos cada cliente 
como dador de um presente, mesmo que seja a si próprio. Um pequeno 
presente provoca um grande sorriso. Sanrio fornece um veículo para os 
jovens e jovens de espírito exprimirem os seus sentimentos para com 
amigos e família. Cada produto Sanrio transporta uma mensagem de 
amizade e felicidade.“ 
 
Terre Thaemlitz ativou o canal de propaganda cor-de-rosa Sanriot em 
2000, poucos meses antes de fixar residência no Japão, mas o copyright é 
extensível a 1848, ano da publicação do Manifesto do Partido Comunista 
por Karl Marx e Friedrich Engels. Ao plagiar diretamente a marca 
japonesa, Thaemlitz pratica a apropriação cultural para mais uma vez 
colocar questões sobre identidade e gênero. A fusão entre a galeria de 
personagens Sanrio (Hello Kitty, Badtz Maru, Pekkle, Chococat, etc.) e o 
panteão dos primeiros ideólogos comunistas (Marx, Engels, Rosa 
Luxembourg) resulta numa ação de propaganda conduzida por 
personagens híbridos como Hello Karl, Rosas Lucksome e Badtz-
Marukusu, unidos em torno da canção «Sex Workers Of The World 
Unite!», espécie de versão sentimental da Internacional Comunista. No 
Verão irregular de 2001 é possível adquirir t-shirts exclusivas (trademarx) 
com slogans panfletários em genial inglês do Japão: “Why can’t all people 
Sanriot community rich of peace?“ 
 
Thaemlitz, sempre irônico e com uma palavra ativa a dizer, cultiva ícones 
inofensivos com uma postura subversiva. Vive apaixonadamente a sua 
faceta de consumidor burguês traduzida na posse de objetos-fetiche 
como a Honda Dream 305 de 1963 e o AMC Javelin SST 360 de 1971, 
enquanto se declara admirador da ironia de Marx, o mais conhecido 
crítico do Sistema Burguês. Através da sua editora Comatonse Recordings 
produz música de intervenção ideológica/cultural/sexual, insurrecta, 
cuidadosamente conceitual. Leiam na homepage sobre como a 
remixagem de Terre para «Hold On To Yourself» (Daryl Hall & John Oates) 
não ganhou o concurso a que se destinava e foi de novo remixada e 
reprocessada para se tornar numa irreconhecível peça chamada «This 
Closet Is Made Of Doors». Terre criou o alter-ego drag Miss Take, mas há 


201 
 
muito que saiu do armário para combater na guerra dos mundos. 
 
(Flirt, Julho / 01) 
 
Links: 
www.sanrio.com
 
 
www.sanriot.com
 
 
www.comatonse.com
 
 
Fonte: Major Eléctrico (
www.majorelectrico.net
). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRANSFORME O RUÍDO DO SEU BAIRRO EM UMA SINFONIA – Uma 
jaqueta informatizada transforma o ruído ambiente das cidades em 
música eletrônica 
Angel Jiménez de Luis 
 
 
Se uma cidade pudesse se transformar em música...Como soaria? Um 
grupo de estudantes do Instituto Interativo e do Instituto Viktoria na 
Suécia se propuseram a investigar isso. Com a ajuda da informática, eles 
transformaram o ruído ambiente em uma melodia original e em 


202 
 
constante mudança. O projeto se chama Sonic City (Cidade Sônica) e se 
encontra nesse limite difuso entre a arte e a tecnologia. 
Uma jaqueta informatizada, equipada com sensores de ruído e de 
proximidade, é o elemento chave de todo o processo. Quando o pedestre 
a liga e passeia com ela pela rua, os ruídos das pisadas, a proximidade 
com outros pedestres, as obras e o som do trânsito viram música através 
de um sintetizador MIDI e um computador portátil integrados à roupa. O 
resultado é escutado em tempo real graças a fones de ouvido ou é 
gravado no disco rígido do computador. 
“É um instrumento musical interativo completamente novo. Quando você 
o leva ligado, entra num dueto musical com a cidade. O ambiente, os 
encontros com pessoas conhecidas, as conversas...tudo participa da 
música que escuta enquanto caminha. Trata-se de transformar um 
simples passeio numa experiência criativa”, asseguram os responsáveis 
pelo projeto. Os resultados das primeiros experimentos foram realmente 
alentadores. Vestindo a jaqueta, os pedestres buscavam uma maior 
interação com o entorno urbano, se aproximavam das pessoas, do 
trânsito, das fontes de ruído, tentando conseguir melodias únicas e novas. 
Os passeios foram gravados em vídeo e a música ficou registrada para sua 
apreciação. 
 
Agora, esses passeios e a música que criaram podem ser baixados a partir 
do site do projeto. Não se parecem com a música convencional que a 
maioria das pessoas escuta todo dia, mas muitos desses passeios musicais 
poderiam facilmente passar por uma composição de Björk. O ritmo da 
canção fica marcado pela velocidade do pedestre, e o resto dos 
elementos que se encontra durante o passeio soa como notas sobra a 
base melódica. 
Além disso, o projeto saiu das frias ruas de Gotemburgo, onde forma 
realizados os primeiros experimentos, para capturar o som de outras 
cidades. Faz um mês que apresentaram o projeto no Instituto de Arte 
Contemporânea (ICA) de Londres. O próximo grande sucesso da música 
eletrônica talvez surja de um passeio pelo Hyde Park. 
Tradução de Ricardo Rosas 
Link: Sonic City  (
www.viktoria.se/fal/projects/soniccity/
). 


203 
 
Outra página do projeto 
(
www.tii.se/reform/projects/pps/soniccity/index.html
).  
Fonte: El Mundo (
www.el-mundo.es
).  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UM MANIFESTO DO MICRO RÁDIO 
Tetsuo Kogawa 
 
O micro rádio costumava ser um compromisso de se evitar usar 
transmissores de alta potência por causa do orçamento ou da 
regulamentação. O primeiro micro rádio deliberado começou em meados 
dos anos 1970 na Itália. Como escreveu Felix Guattari, “des millions et des 
millions d’Alice en puissance”, cerca de mil estações de micro rádios livres 
apareceram junto com o movimento “Autonomia” na Itália e então 
influenciaram outros países, especialmente a França. Na Austrália a 
situação era diferente. Sob a esperta decisão do governo Whitlam, muitas 
cidades começaram a ter um novo tipo de estações de rádio comunitárias 
multi-linguísticas e multi-culturais no final dos anos 1970. No Japão, o 
boom das “Mini-FMs” teve início no começo dos anos 1980. Era um tipo 
totalmente diferente de micro rádio, rádio com transmissor de potência 
literalmente micro. Era um milagre que um micro rádio deste tipo 
realmente funcionasse como um rádio. Assim, a cena de micro rádio dos 
anos 80 era uma mistura das rádios livres italianas com um novo 
elemento do paradoxo tecnológico.  
Depois do final dos anos 1980, micro estações “piratas” nos EUA entraram 
numa nova batalha legal contra a autoridade, por reivindicações 
populares: a Black Liberation Radio de Napoleon Williams em Illinois e 
também a Free Radio Berkeley de Stephen Dunifer ficaram famosas. Em 
2000, a FCC (Comissão Federal de Comunicações) lançou uma nova 
categoria de licença, a “LPFM” (Low Power FM, FM de baixa potência). 
Isto significa que o micro rádio nos EUA está institucionalizado e também 
que aqueles que transmitem sem licença são considerados ilegais. O 
sonho inicial do paraíso do micro rádio acabou. Mesmo um tal micro 
domínio é agora controlado pelo sistema. Não seria nenhuma surpresa 


204 
 
pois atualmente todo o controle invade não só o espaço individual mas 
também o cerebral. No entanto, ainda acredito que o micro rádio pode se 
situar em níveis diferentes do espaço institucionalizado. 
O que se pretende dizer com micro? No núcleo dos movimentos, deveria 
ter implicado num significado diferente da mera extensão da potência de 
transmissão e da área de serviço. Ele conota algo qualitativamente 
diferente. Ser grande ou pequeno no tamanho físico não é tão 
importante. Portanto, a mesma coisa que fazíamos num micro radio 
poderia acontecer numa grande estação. O micro rádio é uma alternativa 
às comunicações globais e às mídias de massas que poderia abranger o 
planeta com qualitativamente a mesma e padronizada informação. Agora 
que nosso espaço microscópico está sob vigilância, o micro rádio deveria 
prestar atenção em áreas ainda mais micro, mas qualitativamente mais 
“micro”. Para entender isso, você deve usar experimentalmente um 
transmissor de muito baixa potência. Teoricamente, pode fazer a mesma 
coisa com um transmissor de alta potência, mas isso vai enganar a sua 
percepção do que é o micro, por que você tem sido circundado por 
numerosas transmissões de alta potência. Temos de usar uma espécie de 
“suporte fenomenológico” para perceber o que são as coisas. 
A LPFM cobre até 100 watts. A “FM Comunitária” no Japão (que foi 
legalmente introduzida como uma “Mini FM” institucionalizada) permite 
10 watts agora (no início até 1 watt). Penso que mesmo estes níveis de 
potência são demais para o micro radio. E quanto a um watt? E quanto a 
menos de um watt? Uma tal estação de rádio de micro-potência só 
poderia cobrir o raio de um bloco de rua ou um conjunto habitacional. Por 
que não? Leon Theremin mostrou um exemplo mínimo de micro rádio. 
Sua invenção é não só um instrumento musical mas também um micro 
rádio.  
Dada a era dos vários meios globais como as comunicações via satélite e a 
internet, o micro rádio pode se concentrar em seu mais autêntico 
território: o espaço da onda de rádio microscópica. 
Por que você não vai a uma estação de rádio assim como vai a teatros? O 
teatro de micro rádio poderia ser possível. As ondas de rádio cobrem 
apenas um espaço de moradia. Isso é o bastante. Tenho organizado festas 
de micro rádio. Isto é uma tentativa de converter um espaço em algo 
qualitativamente diferente através de um micro transmissor.  
Comecemos com nosso próprio espaço íntimo. A mudança num espaço 
minúsculo poderia ressoar para espaços maiores, mas, sem mudanças 
microscópicas, nenhuma mudança radical pode acontecer.  
Os meios alternativos tendem a estabelecer sua própria “base caseira” 
física. Mas, como argumenta Hakim Bey, a “base caseira” alternativa de 
hoje só é relevante como “Zona Autônoma Temporária (TAZ)”. Há uma 
outra forma: um método “em exílio”. Depois que a WBAI ficou controlada 
pelo dinheiro comercial, alguns dos programas, tais como “Democracy 
Now” começaram seu próprio programa com uma net.rádio e um micro 
rádio. O “Democracy Now” alugou um espaço no Lower East Side de Nova 
York e seu programa foi transmitido como “WBAI em exílio” (“WBAI in 
Exile”). Penso que de certo modo o rádio radical sempre fez um bom 
trabalho num certo tipo de “exílio”: Radio Veritas, Manila nos anos 1980, 
e B92 nos anos 1990. A internet é basicamente um meio translocal. 
Diferentemente do meio impresso, o espaço existe temporariamente e 
está fora da posição geográfico-física. Quem se importa de onde você está 
transmitindo? Você pode manter uma espaço “permanente” com seus 
ouvintes contanto que você e seus ouvintes concordem em se comunicar. 
Quando encontrei Amy Goodman do “Democracy Now” e perguntei se 
seu estilo de usar o low-tech (suas instalações e espaço do estúdio) 


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poderia descender da cultura do micro rádio, ela negou minha pergunta 
como se eu não tivesse apreciado bastante suas atividades. É claro que 
não era isso o que queria dizer. Embora a WBAI esteja voltando 
novamente a ser uma autêntica estação de rádio radical, a forma “em 
exílio” de colaboração (onde micro unidades independentes em exílio 
podem se ligar em conjunto) é muito mais nova e viável. Dadas as várias 
tecnologias “globais” de conexão e retransmissão, o micro rádio é de 
tamanho suficiente para uma unidade de estação de rádio.  
Como um meio para cobrir áreas mais extensas, as ondas de rádio são 
destrutivas e não-ecológicas. A rádio grande não é mais necessária. Cedo 
ou tarde, as grandes e globais tecnologias de comunicação serão 
integradas na internet. O rádio, a televisão e o telefone se tornarão nodos 
locais para ela. Conseqüentemente, os globalistas descartarão tais meios 
existentes. Um novo tipo de terminal multimídia conectando à internet 
vai surgir. Então será o tempo em que o rádio e a televisão (e mesmo o 
telefone) deverão reencontrar sua própria possibilidade emancipatória. A 
estação de micro rádio vai reencontrar uma possibilidade de congregar 
pessoas em espaços como o teatro e o clube. Ele não rejeitará os meios 
globais mas os utilizará como meios de conexão e formação de rede. Pelo 
micro-meio translocal, mesmo os meios globais poderiam se tornar 
polimorfos e diferentes (não apenas nos conteúdos mas igualmente no 
modo de fazer com que as pessoas se encontrem). 
(24 de novembro de 2002 - 7 de maio de 2003)  
Tradução de Ricardo Rosas 
Link: Polymorphous Space, site de Tetsuo Kogawa 
(
http://anarchy.k2.tku.ac.jp/
). 

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