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No novo álbum há um tema chamado "Two Turntables and a Moog". É
alguma espécie de piada ao refrão "Where It`s At" de Beck ou a "Tree
MC's and One DJ" dos Beastie Boys?
Eu escolhi esse título porque esse tema foi feito em "two turntables and a
Moog"... Eu tenho "testpressings" com ritmos - que mandei fazer para
quando atuo como DJ - que misturei em estúdo com o som de um Moog.
Não tem nada a ver com o Beck ou os Beastie Boys. No entanto é o único
tema do álbum que pode ser visto no contexto da música alternativa
americana, dentro da cena retro funk dos anos setenta.
Como serão os concertos da turnê de "Intelligence & Sacrifice"?
A formação da minha banda está sempre em aberto, o que possibilita a
mudança de elementos de turnê para turnê, mantendo sempre os temas
em evolução. Cada músico dá a sua contribuição pessoal a nível de idéias,
o que evita a monotonia das turnês. Fizemos alguns concertos de
apresentação de "Intelligence & Sacrifice" no Japão e a formação incluía
Charlie Clouser (Nine Inch Nails) nas teclas, Masami Akita (Merzbow) na
bateria, Gabe Serbian (The Locust) e Nic Endo, nos samplers. A Nic Endo
controla toda a parte técnica do concerto. Todos os instrumentos passam
pela sua mesa de mistura de 32 canais colocada em cima do palco, para
que possa passar o som por toda a espécie de distorção e filtros, antes de
chegar aos ouvidos do público. É uma nova maneira de misturar a música
eletrônica com instrumentos convencionais e assim conseguimos criar um
som ainda mais poderoso. Recentemente adicionamos um guitarrista à
formação e esperamos fazer de cada concerto um momento especial.
A foto que aparece na capa do novo álbum foi tirada por Kevin
Cummins - um conhecido fotógrafo de rock -, porque o escolheu para
esse trabalho?
Eu queria que a capa do disco tivesse uma imagem forte da minha cara.
Estava cansado de ver as bandas de metal cheias de máscaras e tatuagens
e toda essa indumentária, que supostamente devia criar uma imagem,
mas que lhes retira a personalidade. Por isso recorri à maneira mais
purista, usando apenas a minha cara. Pelo trabalho do Kevin Cummins
que já conhecia, achei que era a pessoa certa para o trabalho.
Hoje em dia, o que podemos considerar música extrema? Houve um
período em que o metal em geral, e o black metal em particular, eram
considerados a música mais extrema. O mesmo aconteceu com a música
experimental. Agora, cada vez mais somos confrontados com a chamada
"música extrema"...
Nunca pensei na música como sendo "extrema", eu ouço aquilo que gosto
e nunca penso "huhh, that's so extreme", ao mesmo tempo. Eu quero
receber os impulsos da música, quero mais energia. O resto do mundo
move-se um pouco mais lento que a música, mas acabará por
acompanhá-la mais cedo ou mais tarde, porque essa é a direção a seguir.
A música e o som devem ser uma experiência física e não apenas papel de
parede. Se é apenas a música de papel de parede do Mc Donald's, as
pessoas não vão gostar... É por isso que as vendas dos discos estão em
baixa. O "noise" é o futuro da música porque combina toda a música e os
seus elementos debaixo do mesmo teto!
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Alguma vez pensou em vez de (ou ao mesmo tempo) gravar discos
escrever um livro (ou artigos) ou dirigir um filme para expressar as suas
ideias ou sentimentos?
Comecei a escrever um livro sobre a Digital Hardcore e sobre a minha
vida. Sempre estive muito envolvido na realização dos vídeos que já fiz,
por isso não seria de todo descabido dirigir um filme. O cinema é uma
forma artística que, na minha opinião, pode ser levado muito longe, mas
nos próximos anos só me devo concentrar na música.
A editora Digital Hardcore Recordings (DHR) ainda se rege pelos mesmos
princípios e ideais de quando a iniciou?
No final de 2000 reestruturei o selo. Nos primeiros seis anos do selo, me
sentia muito ligado à cena de Berlim, e editei na DHR praticamente todas
as bandas que produzi. Em 2000 me apercebi de que a quantidade tinha
se sobreposto à qualidade, por isso alterei a sua estrutura para poder me
concentrar em lançamentos mais importantes. A DHR está voltando à
carga e nos próximos tempos iremos lançar alguns dos melhores discos
até agora.
Dentre essas edições encontra-se um disco com Merzbow e uma
compilação. O que nos pode dizer sobre estas duas edições?
O álbum com Merzbow é a gravação de um concerto que demos em
conjunto no CBGB's, de Nova Iorque, em 1998. É uma gravação muito
intensa, com o Masami Akita produzindo sons com o seu equipamento
analógico de ruído e eu nas picapes, usando alguns dos meus beats e
sons. Conheci o Masami Akita em 96, quando toquei solo pela primeira
vez no Japão, um ano antes dos ATR atuarem lá. Nessa noite fiz DJ,
enquanto que o cartaz de concertos era composto pelos Merzbow,
Violent Onsen Geisha e Anarchy 7. Há anos que estou atento à cena noise
japonesa e continua a ser a cena mais criativa e avançada do mundo.
Depois disso fizemos bastantes concertos juntos em Berlim, Nova York e
no Japão. Para mim, ele é um dos músicos mais importantes do nosso
tempo. A compilação chama-se "Don't Fuck With Us" e será um CD triplo
com 35 bandas americanas de hardcore digital. Será uma das melhores
edições de sempre da editora.
O futuro dos Atari Teenage Riot parece ainda estar por definir. O que
nos pode dizer sobre isso?
Eu ainda não me consegui distanciar da morte do Carl (Crack) para fazer
"planos" para os ATR. Ainda bem que há dois anos, quando os ATR
fizeram um "intervalo", decidi começar a trabalhar no projeto do novo
disco e tocar ao vivo a solo. O nosso plano era prepararmos um disco
novo para que quando o Carl regressasse da sua terapia pudesse gravar a
sua parte. Basicamente, temos um disco quase pronto mas não sabemos
como podemos cobrir o espaço deixado pelo Carl depois da sua morte. É
impossível. Gostaria de poder dar uma resposta mais concreta, mas não
posso. Sei que é importante para os nossos fãs saberem o que se está se
passando, mas espero que compreendam a nossa situação.
(Mondo Bizarre # 11)
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