Esquizofonia



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 Link: Digital Hardcore (
www.digitalhardcore.com
). 
  
Fonte: Mondo Bizarre (
www.mondobizarre.com
). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AS RÁDIOS LIVRES EM DIREÇÃO A UMA ERA PÓS-MÍDIA 
Felix Guattari 
  
O fenômeno das rádios livres só toma seu 
sentido verdadeiro se o recolocamos no 
contexto das lutas de emancipação materiais e 
subjetivas. Na Itália e na França, ele foi um dos 
últimos florões das revoluções moleculares que 
se sucederam aos movimentos de contestação 
dos anos 60. Nos últimos anos, a situação 
européia foi submetida a um congelamento 
social, político e cultural, para não dizer a uma 
onda de glaciação. Isso tem a ver com o esforço desse continente em 
manter seu lugar entre as grandes potências econômicas e militares que 
dele se distanciam cada vez mais. As diferentes categorias sociais que o 
compõem se apertam friorentamente umas nas outras, agarrando-se às 
suas 'conquistas' e às suas ilusões. Só uma minoria de marginais consegue 
se manter fora do consenso reacionário. Nessas condições, a maior parte 
dos grandes movimentos de emancipação se encontram abatidos ou 
jogados para escanteio. 
 
A situação é muito diferente no continente latino-americano e em 
particular no Brasil, onde centenas de milhões de pessoas se encontram 
marginalizadas em relação à economia dominante. E como nada autoriza 
esperar que elas possam vir a se integrar docemente em uma sociedade 
do tipo norte-americano, europeu ou japonês, é possível supor que elas 
só poderão afirmar seu direito à existência através da reinvenção de 


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novas formas de luta e de expressão. Novas: porque, manifestamente, 
não se pode mais dar credibilidade aos métodos políticos obtusos e 
corporativos dos velhos partidos e sindicatos de esquerda. Sem dúvida, as 
lutas clássicas no campo do trabalho e na arena política tradicional 
continuarão a desempenhar um papel importante para o estabelecimento 
de relações de força globais com as classes conservadoras, mas elas não 
poderão mais dar um conteúdo verdadeiramente emancipador a essas 
lutas se as diferentes composições da esquerda permanecerem 
impregnadas de valores conservadores. A intervenção de uma inteligência 
alternativa, de práticas sociais inovadoras, como é o caso das Rádios 
Livres, parece portanto indispensável à saúde de centenas de milhões de 
explorados desse continente. Essa recusa parcial das práticas da esquerda 
tradicional não impede de maneira nenhuma que se estabeleça com ela 
alianças - por exemplo, nessa questão das rádios livres. Não implica, 
portanto, um fechamento sectário sobre os grupúsculos de extrema 
esquerda que, de maneira mais velada, são também incapazes, na maioria 
das vezes, de entender as profundas mutações que se operam na 
sociedade contemporânea. Novas e mais amplas alianças podem ser 
criadas para reinventar novas formas de vida - talvez de sobrevivência - e 
de luta. Por exemplo, em certos setores da Igreja ligados à teologia da 
libertação. 
 
As primeiras rádios livres do Brasil foram acolhidas com uma certa 
reserva. Alguns recearam que sua aparição pudesse servir de pretexto 
para uma repressão violenta; outros só conseguiriam ver nelas um replay 
dos movimentos dos anos 60. É bom que esteja claro, antes de mais nada, 
que o movimento das rádios livres pertence justamente àqueles que o 
promovem, isto é, potencialmente, a todos aqueles - e eles são uma 
legião - que sabem que não poderão jamais se exprimir de maneira 
convincente nas mídias oficiais. Não se trata, portanto, de um movimento 
esquerdista, mesmo se são os esquerdistas os primeiros a se engajar 
corajosamente nessa perspectiva. Isso quer dizer que os seus atuais 
representantes deveriam evitar todo sectarismo e toda rigidez. Parece 
evidente que em uma etapa ou outra do processo atual deverão ser 
estabelecidas negociações com as autoridades. Parece absurdo e 
irresponsável proclamar que as negociações sobre as condições de 
exercício das novas mídias serão recusadas por princípio. A questão toda 
está em fazer essas negociações das melhores relações de força possíveis 
para os movimentos de emancipação dos jovens, das mulheres, dos 
negros, dos trabalhadores, das minorias sexuais, dos ecologistas, dos 
pacifistas, etc. 
 
As rádios livres não nasceram de um fantasma da belle époque dos meia-
oitos, como escreveu um jornalista da Folha de São Paulo. Trata-se, pelo 
contrário, de um movimento que se instaurou, nos anos 70, como reação 
a uma certa utopia abstrata dos anos 60. As rádio livres representam, 
antes de qualquer outra coisa, uma utopia concreta, suscetível de ajudas 
aos movimentos de emancipação desses países a se reinventarem. Trata-
se de um instrumento de experimentação de novas modalidades de 
democracia, uma democracia que seja capaz não apenas de tolerar a 
expressão das singularidades sociais e individuais, mas também de 
encorajar sua expressão, de lhes dar, a devida importância no campo 
social global. Isso quer dizer que as rádios livres não são nada em si 
mesmas. Elas só tomam seu sentido como componentes de 


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agenciamentos coletivos de expressão de amplitude mais ou menos 
grande. Elas deverão se contentar em cobrir pequenos territórios; 
poderão igualmente pretender entrar em concorrência, através de redes, 
com as grandes mídias: a questão fica aberta. O que a resolverá é a 
evolução das novas tecnologias. As rádios livres, e amanhã as televisões 
livres, são apenas uma pequena parte do iceberg das revoluções 
midiáticas que as novas tecnologias da informática nos preparam. 
Amanhã, os bancos de dados e a cibernética colocarão em nossas mãos 
meios de expressão e de concentração, por enquanto inimagináveis. 
Basta que esses meios não sejam sistematicamente recuperados pelos 
produtores de subjetividade capitalista, ou seja, as mídias 'globais', os 
manipuladores de opinião, os detentores do star system político. Trata-se, 
em suma, de preparar a entrada dos movimentos de emancipação numa 
era pós-mídia, que acelerará a reapropriação coletiva não apenas dos 
meios de trabalho mas também dos meios de produção subjetivos. 
  
Fonte: Machado, Arlindo; Magri, Caio; Masagão, Marcelo; eds. Rádios 
livres - A reforma agrária no ar. Editora Brasiliense, São Paulo, 1997. 
Prefácio, pags. 9-13. 
 
 
 
 
 
AUTECHRE: MÁQUINAS DESEJANTES 
Franco Ingrassia 
 
 
1.  
É possível que um dos pontos inevitáveis de toda tentativa de análise de 
um grupo de música eletrônica contemporânea seja estudar que relação 
ele estabelece com o Kraftwerk, a banda alemã que desempenha um 
papel fundacional na música eletrônica dentro do contexto cultural do 
rock no começo dos anos 1970. E no caso do Autechre, os contrastes que 
mantém em relação a esta referência fundamental são reveladores. Onde 
o Kraftwerk constrói um descritivismo urbano que remete a certo ideal de 
transparência comunicativa e representacional, Autechre parece se 
centrar na obstrução, na distorção, no ruído inerente a toda comunicação. 
2. 


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