194
densidade e intensidade, uma cartografia que se define por funções e
matérias informais, ou seja, o diagrama não faz distinção de forma “entre
um conteúdo e uma expressão, entre uma formação discursiva e uma
formação não-discursiva” (43). No diagrama o que interessa não é a
forma, já que ele não é estrutural mas as relações de forças, relações
estratégicas, multipontuais e difusas, que passam por todos os pontos ou
“antes por toda e qualquer relação entre um ponto e outro”(44). Essas
relações de forças o definem como móvel e não-localizável, aquilo que
está entre a causa e o efeito, a ação e a reação, o que afeta e é afetado.
Segundo Deleuze “todo diagrama é uma multiplicidade espaço-
temporal”(45), e se diferencia da estrutura “na medida em que as alianças
tecem uma rede flexível e transversal, perpendicular à estrutura vertical,
definem uma prática, um procedimento ou uma estratégia distintos de
qualquer combinatória, e formam um sistema físico instável, em perpétuo
desequilíbrio, em lugar de um ciclo de troca fechado”(46). Ele age como
uma causa imanente, causa dos agenciamentos concretos, uma causa que
atualiza seu efeito ou que se deixa atualizar pelo efeito que a diferencia.
“Se os efeitos atualizam é porque os relacionamentos de forças ou de
poder não são senão virtuais, potenciais, instáveis, evanescentes,
moleculares, e somente definem possibilidades, probabilidades de
interação, na medida em que eles não entram num conjunto macroscópio
capaz de dar uma forma à sua matéria fluida e à sua formação
difusa.”(47)
Os diagramas surgem para quebrar os dados figurativos e probabilísticos.
São marcas livres, ao acaso, traços involuntários, irracionais, não
representativos, não ilustrativos, não narrativos. “Mas não são
significativos nem significantes de antemão: são traços assignificantes.
São traços de sensação, mas de sensações confusas (as sensações
confusas que trazemos ao nascer, dizia Cézanne)”(48). Essas marcas
quase cegas e mudas, embora nos façam ver e falar(49), adquirem vida
própria e passam a não mais depender da nossa vontade, nem da nossa
visão. Introduzem um outro mundo dentro do mundo da figuração e
retiram o “quadro” da organização ótica que o tornava figurativo de
antemão(50). Muitas vezes, contudo, com o intuito de fugir do figurativo,
da representação, o diagrama é tão sobrecarregado que torna-se
inoperante, o que o faz permanecer no figurativo (51). A função do
diagrama é “sugerir” e introduzir “possibilidades de fato”(52).
O design como expressão diagramática é movente, instável, mutante,
difuso, não reproduz modelos preexistentes mas os inventa ou reinventa,
desfaz conceitos existentes e faz emergir novos conceitos, conceitos
inesperados que surgem do improvável dentro de um campo de
possibilidades, ou introduz possibilidades de fato. Pois, segundo Deleuze,
“(...) o diagrama é profundamente instável ou fluente, misturando
incessantemente matérias e funções de maneira a constituir mutações.
(...) Ele não funciona nunca para representar um mundo preexistente,
produz um novo tipo de realidade, um novo modelo de verdade.” (53)
O design deixa de representar uma marca, um produto para se apresentar
enquanto qualidade que subsiste entre o real e o imaginário, o visível e o
invisível, o sonoro e o não-sonoro, sem passado nem presente mas
e(ntre) um e outro. Passa a ser, portanto, uma potência de produção e
195
não mais reprodução.
NOTAS
1. Émile BRÈHIER, La Théorie des Incorporels dans L’ancien Stoicisme, p.49
2. Gilles DELEUZE e Felix GUATTARI, O que é a Filosofia?, p. 153
3. Pierre LEVY, O que é o Virtual?, p. 15
4. Ibidem, p. 21
5. Emanuel PIMENTA, Real virtual, 1996. Cf.
http://www.asa-
art.com/edmp/edmp3.htm
6. Gilles DELEUZE e Felix GUATTARI, O que é a Filosofia?, p. 215
7. Michel SERRES, Filosofia Mestiça, p. 04
8. Dorival Campos ROSSI, Transdesign, folias da linguagem, anarquia da
representação: um estudo acerca dos objetos sensíveis, p.109
9. Michel SERRES, Filosofia Mestiça, p. 04
10. Ibidem.
11. Ibidem, p.12
12. Gilles DELEUZE, Conversações, p.61
13. Michel SERRES, Filosofia Mestiça, p. 13
14. Ibidem, p.14
15. Ibidem, p.13
16. Gilles DELEUZE e Félix GUATTARI, Mil Platôs, capitalismo e
esquisofrenia, V.1, p.37
17. Gilles DELEUZE, A Dobra, Leibniz e o Barroco, p. 175
18. Ibidem.
19.Gilles DELEUZE e Félix GUATTARI, O que é a Filosofia?, p.272
20. Ibidem.
21. Ibidem, p. 273
22. Win WENDERS, In Janela da Alma, documentário, Dir. João JARDIM,
Brasil, 2001
23. Ken WILBER, Uma nova perspectiva sobre a realidade, In O paradigma
Holográfico e outros paradoxos: uma investigação nas fronteiras da
ciência, p.13
24. Ibidem, p.12
25. Ibidem.
26. Gilles DELEUZE, A Dobra, Leibniz e o Barroco, p. 18
196
27. Ken WILBER, Uma nova perspectiva sobre a realidade, In O paradigma
Holográfico e outros paradoxos: uma investigação nas fronteiras da
ciência, p.17
28. Gilles DELEUZE, A Dobra, Leibniz e o Barroco, p. 14
29. Ibidem, p.15
30. Gilles DELEUZE e Félix GUATTARI, Mil Platôs, capitalismo e
esquisofrenia, V.1, p.25
31. Ibidem.
32. Ken WILBER, Uma nova perspectiva sobre a realidade, In O paradigma
Holográfico e outros paradoxos: uma investigação nas fronteiras da
ciência, p.13 e 14
33. Gilles DELEUZE, Conversações, p.156
34. Ibidem.
35. Gilles DELEUZE, A Dobra, Leibniz e o Barroco, p.114-115
36. Ibidem.
37. Essa idéia do “espaço do olho que escuta” foi lançada pelo compositor
François BAYLE (Cf. Musique acusmatique. Proposition...positions, 1993) a
partir do conceito de música acusmática, denominação atual de música
eletroacústica que, segundo Rodolfo CAESAR (Cf. A escuta como objeto de
pesquisa.
http://www.ufrj.br/lamut
), tem sido preferida por grande parte
dos compositores “pelo modo de apresentação em concertos sem apoio
da visualidade”.
38. Gilles DELEUZE, Mil Platôs, capitalismo e esquisofrenia, V.5, p 181
39. Ibidem, p.185
40. Gilles DELEUZE, Mil Platôs, capitalismo e esquisofrenia, V.1, p 42
41. Gilles DELEUZE, Foucault, p.59
42. Ibidem, p. 58
43. Ibidem.
44. Ibidem, p.61
45. Ibidem, p.59
46. Ibidem, p.60
47. Ibidem, p.62
48. Gilles DELEUZE, Francis Bacon, logique de la sensation, 1981.
49. Gilles DELEUZE, Foucault, p.58
50. Gilles DELEUZE, Francis Bacon, logique de la sensation, 1981.
51. Ibidem.
Dostları ilə paylaş: |