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2.3. O audível é a existência de modulações, movimentos sonoros no
tempespaço.
2.31. É essencial para o som poder ser parte constituinte de uma
música.
2.32. Modulações são ligações entre sons.
2.33. O som em si, puro, é uma utopia imaginativa, limite
inalcançável do atomismo sonoro, mas os movimentos sonoros são fatos.
2.331. Pareceria como que um acaso se ao som que pudesse
existir por si próprio, só, e se ajustasse depois a uma situação de silêncio
ou ruído.
2.332. Se os sons podem aparecer numa música, isto já deve
estar neles.
2.333. Não podemos ouvir nenhum som fora da possibilidade de
sua ligação modular com outros.
2.334. Só podemos ouvir-no-mundo.
2.4. O som é auto-suficiente, na medida em que pode aparecer em
todas as situações possíveis, mas esta forma de auto-suficiência é uma
forma de vínculo modular na música, uma forma de não ser auto-
suficiente.
2.41. Se conheço o som, conheço também todas as possibilidades de
modulação sua em músicas (arbitrariamente os movimentos de pulso,
harmonia, melodia, intensidade, cor timbrística e espacialização).
2.42. A possibilidade de seu aparecimento em músicas são suas
modulações.
2.5. Dados todos os sons estão dadas também todas as músicas
possíveis.
2.6. O som é seu objeto e nome.
2.61. O som é simples.
2.62. O som é o elementar(stoichéia) da audição.
2.621. O som é expoente da música.
2.63. Todo som pode ser decomposto em sons constituintes desses
complexos através de suas modulações(arbitrariamente os movimentos
de pulso, harmonia, melodia, intensidade, cor timbrística e
espacialização).
2.64. Os sons todos constituem o ruído, não o audível. Por isto não
podem ser compostos.
2.65. O som é seu significado.
3. O ruído só pode determinar uma forma física, e não as propriedades
metafísicas passionais(pathós) do audível. Pois estas são produzidas
apenas pelas músicas – são constituídas apenas pelas composições
modulares dos sons.
3.1. Os sons não têm sentimentos como os números não têm cor.
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3.2. Um som difere de outro – desconsideradas suas propriedades
modulares – apenas por serem diferentes.
3.3. O conceito de som nada é senão o que todos os sons têm em
comum, a forma geral do som.
3.31. Forma esta indizível.
3.4. O ruído subsiste independentemente de qual seja o audível.
3.5. Espaço e duração são os meios onde os sons pendem juntos
através das modulações.
3.6. Só havendo sons pode haver uma forma fixa do audível.
3.61. O fixo, o ruído e o som são um só e o mesmo elementar do seu
ouvintecompositor..
4. A composição modular dos sons constitui a música.
4.1. Na música os sons se concatenam, como os elos de uma corrente.
4.11. Como as moléculas d’água rio abaixo.
4.12. Como os rios mundo afora.
4.121. Nenhuma metáfora poderia descrever o que tenho do
audível.
4.2. Na música os sons estão uns para os outros de uma determinada
modulação.
4.21. A maneira como os sons se vinculam na música é a estrutura
musical.
4.22. O estilo é a possibilidade de fixação dessas estruturas
modulares(arbitrariamente os movimentos de pulso, harmonia, melodia,
intensidade, cor timbrística e espacialização).
4.23. A totalidade das músicas existentes é o audível.
4.24. O que difere o audível do ruído é a existência de uma lógica
passional(pathológica) na audiçãocomposição das modulações sonoras.
4.3. A totalidade das músicas determina também o que silencia.
4.31. As músicas são independentes umas das outras.
4.32. Da existência ou inexistência de uma música não se pode
concluir a existência ou inexistência de outra.
4.33. Mas esta independência é também uma forma de vínculo
entre o ruído e a música em questão.
4.4. Sentimos os sons e damos sentido às músicas.
4.5. A experiência musical é sinestésica.
4.51. As modulações de som geram modulações de sentimentos e
memórias sinestésicas.
4.6. Compomosouvimos músicas.
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4.61. A música é a lógica passional dos entressons.
4.611. A audiçãocomposição musical produz situações através da
existência e inexistências de certas modulações sonoras.
4.612. A audiçãocomposição musical é mais que um modelo das
paixões.
4.6121. Aos sons correspondem, na composição sentimentos,
paixões.
4.6122. Sentir é compor. Ouvir é portanto, compor.
4.61221. A audiçãocomposição é influenciada por todas as
experiências do ouvintecompositor.
4.61222. Eu não escuto a qualquer música d’outrem, mas só
à minha.
4.61223. A música composta nunca é a mesma ouvida.
4.613. Que os sons estejam uns para os outros em determinadas
melodias, harmonias, ritmos, cores timbrísticas e espaços produz
sentimentos assim uns para os outros.
4.62. A música é uma modulação do que sentimos.
4.621. A música é a esquizofrenia entre o som e o audível, límites
mínimo e máximo do fenômeno.
4.7. A música é proposiçãofato.
4.71. É assim que a audiçãocomposição se enlaça com a paixão; ela
vai até ela.
4.72. Ela é como uma régua(métron) aposta às paixões.
4.721. Apenas os pontos mais externos da régua tocam a paixão a
ser medida.
4.73. A música é a perpétua relação criadora de modulações entre
os sons que nos trespassam.
4.731. Tal relação criadora consiste nas coordenações lógicas
entre os sentimentos e os sons.
4.732. A música produz a sua própria medida, suas próprias
regras e réguas.
4.74. Só quem sente algo, compõe.
4.75. Só quem habita o que sente põe com o lógos.
4.751. A música, para ser composta deve ter algo em comum com
algum pathós.
4.752. A composição pode compor toda afecçãosentimento cuja
forma ela tenha. A composição melancólica, tudo que for melancolia; a
composição caótica, tudo que for caos, etc.
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