História 8º ano



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. Acesso em: 4 nov. 2014.
Página 243

O conflito

No início da década de 1860, o cenário político uruguaio estava dividido entre blancos e colorados. Os blancos estavam no poder e tinham o apoio do governo paraguaio. No entanto, era de interesse brasileiro e argentino que o governo uruguaio fosse assumido pelos colorados, pois os blancos eram contrários à livre navegação e ao comércio na região da bacia do Prata.



Blancos: membros do partido conservador, de tradição autoritária, composto principalmente por proprietários rurais.

Colorados: pessoas que simpatizavam com os ideais liberais.

Em setembro de 1864, D. Pedro II enviou tropas brasileiras ao Uruguai para dar apoio aos colorados, enquanto na Argentina as forças coloradas eram secretamente organizadas com a ajuda do governo argentino.

A intervenção do governo brasileiro na política uruguaia contrariava os interesses do presidente do Paraguai, Solano López. Em novembro de 1864, ele ordenou a apreensão do navio brasileiro, Marquês de Olinda, que circulava pelo rio Paraguai sem permissão.

Poucos dias depois, tropas paraguaias invadiram a província do Mato Grosso, dando início à guerra. Após alguns meses, Solano López tentou invadir o Rio Grande do Sul e o Uruguai, mas foi impedido pelos argentinos, que, nesse momento, aderiram ao conflito ao lado do Brasil. Em 1865, os colorados conseguiram tomar o poder no Uruguai e se aliaram ao Brasil e à Argentina na guerra, formando a Tríplice Aliança.



Figura 28

Tela que representa a Batalha de Curupaiti, no Paraguai, ocorrida em 1866. Pintura de Candido López, 1894.

Candido López. 1894. Óleo sobre tela. 50 x 150 cm (detalhe). Museu Nacional de Belas Artes, Buenos Aires (Argentina)

Os Voluntários da Pátria

Quando eclodiu a guerra, muitos brasileiros se alistaram por vontade própria nas tropas de Voluntários da Pátria, como ficaram conhecidas as forças militares do Brasil. Grande parte dos combatentes, porém, foi recrutada de maneira forçada.

Pessoas de diferentes setores da sociedade foram convocadas, sendo que a maior parte dos soldados era de origem negra ou mestiça. Muitos escravos foram alforriados para lutar na guerra e, em troca, seus proprietários receberiam uma indenização do governo brasileiro.

Além disso, muitos escravos fugitivos se alistavam nas tropas, pois havia a promessa de que, se fossem aceitos pelo Exército Brasileiro, se tornariam homens livres.



Figura 29

Soldado do 1º Batalhão de Voluntários da Pátria, infantaria pesada. Fotografia de 1865.

Autor desconhecido. 1865. Coleção particular
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As mulheres na guerra

As mulheres participaram ativamente da Guerra do Paraguai. Entre elas havia mães, esposas, comerciantes e escravas, que muitas vezes pegaram em armas para socorrer os feridos durante as batalhas.

Leia a seguir um registro feito em 1870, pelo general brasileiro Dionísio Cerqueira.

Nas linhas de atiradores que combatiam encarniçadas, vi [as mulheres] mais de uma vez aproximar-se dos feridos, rasgarem as saias em ataduras para lhes estancarem o sangue, montá-los na garupa dos seus cavalos e conduzi-los no meio das balas.

Dionísio Cerqueira. In: Maria Teresa Garritano Dourado. Tropas femininas em marcha. Nossa História. São Paulo: Vera Cruz, ano 2, n. 13, nov. 2004. p. 39.

Figura 30

Brasileira que participou da Guerra do Paraguai.

Autor desconhecido. Gravura. Em: Revista A Semana Ilustrada. 03/09/1865. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro (RJ)

O fim da guerra e as consequências

Depois de muitas batalhas sangrentas contra a Tríplice Aliança e após sofrer inúmeras baixas, as últimas tropas paraguaias foram cercadas e, em 1870, Solano López foi morto.

No final dos conflitos, o Paraguai estava arrasado. Cerca de metade da população havia morrido e várias partes de seu território foram divididas entre o Brasil e a Argentina. Os sobreviventes desse conflito eram, em sua maioria, idosos, mulheres e crianças.

Figura 31

Gravura de artista desconhecido, 1865. Paraguaios que combateram na Batalha de Cerro Corá, 1870, última da Guerra do Paraguai. Pintura de Roberto Holden Jara, século XX.

Roberto Holden Jara. Séc. XX. Óleo sobre tela. Museu Histórico e Militar, Assunção (Paraguai). Foto: Album/Oronoz/Latinstock

O fortalecimento do Exército brasileiro

Na época da Guerra do Paraguai, o Exército Imperial Brasileiro era pouco organizado. Seu contingente era formado, principalmente, por ex-escravos, migrantes, órfãos e desempregados. Além disso, a remuneração era baixa e os soldados não tinham prestígio na sociedade.

A partir de 1866, quando o marquês Luís Alves de Lima e Silva, o futuro duque de Caxias, assumiu o comando das tropas brasileiras, ele promoveu algumas reformas que melhoraram a organização do Exército. Os militares brasileiros saíram do conflito fortalecidos e tiveram, nas décadas seguintes, importante papel no processo de transição política do regime monárquico para o regime republicano.
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Imagens da Guerra

Algumas das imagens mais significativas da Guerra do Paraguai foram produzidas pelo pintor argentino Cándido López (1840-1902). Aos 25 anos de idade, ele se alistou como voluntário no exército argentino para lutar na guerra, dizendo que também se propunha a ser uma espécie de “historiador com o pincel”.

Na Batalha do Curupaiti, López teve sua mão atingida pelos estilhaços de uma granada e teve que amputá-la. Depois disso, ele aprendeu a pintar com a mão esquerda e chegou a produzir mais de 50 telas retratando episódios da guerra.

Sua obra constitui o maior acervo de documentação iconográfica sobre o conflito e a importância documental de seus trabalhos decorre, sobretudo, do grande realismo que López imprimia em seus quadros, sempre rico em detalhes.



Iconografia: conjunto de ilustrações próprias de um artista ou período artístico.

Figura 32

As bandeiras do Brasil e da Argentina indicam que se trata de um acampamento das forças da Tríplice Aliança, formada por esses dois países mais o Uruguai.

As precárias condições de higiene nos acampamentos propagaram doenças que causaram grande mortalidade. Os soldados mortos durante a guerra eram enterrados em covas feitas nos acampamentos.

Como quase não havia estradas, o controle dos rios pela frota naval brasileira foi fundamental para garantir o transporte e o abastecimento das tropas, bem como o bloqueio de portos e o ataque às fortalezas paraguaias.

A alimentação dos soldados, que no início da Guerra era enviada por fornecedores brasileiros, passou a ser fornecida por comerciantes argentinos, mais próximos das zonas de conflito.

Muitos negros escravizados foram enviados à guerra para servirem como “voluntários”. Havia um batalhão formado só por negros baianos chamado de zuavos.

O mosquete foi a arma mais usada pelos brasileiros em combate. Além disso, havia muitos canhões, alguns deles fabricados a partir de objetos de metal encontrados na região.

Vista do interior da fortaleza de Caruzu tomada de montante, pintura de Candido López, 1866.

Candido López. 1866. Óleo sobre tela. Museu Nacional de Belas Artes, Buenos Aires (Argentina)
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Enquanto isso... nos Estados Unidos da América

Na época da Guerra do Paraguai, ocorreu nos Estados Unidos uma guerra civil entre os estados do Norte e os do Sul, ocorrida entre os anos de 1861 e 1865, conhecida como Guerra de Secessão.

Desde o período colonial, existiam várias diferenças políticas e econômicas entre as colônias do Norte e as colônias do Sul. O uso de mão de obra livre e a agricultura familiar, por exemplo, eram mais comuns nas colônias do Norte, enquanto nas colônias do Sul predominava o uso da mão de obra escrava em grandes propriedades rurais voltadas para a monocultura de exportação.

Após o fim da Guerra de Independência, em 1783, a divisão entre Norte e Sul se acentuou. Os estados do Norte, que já possuíam uma manufatura incipiente, passaram por um rápido processo de industrialização e tiveram um grande crescimento populacional. Menos dependente do trabalho escravo que os estados do Sul, os estados do Norte gradativamente aboliram a escravidão em seus territórios. Mesmo passando por um processo de modernização, a economia sulista permanecia atrelada à monocultura exportadora. Em 1860, um ano antes do início da guerra civil, o Sul possuía aproximadamente 15% das indústrias e apenas um terço da população do país.

O desenvolvimento econômico diverso levou os estados do Norte e do Sul a interesses políticos e econômicos divergentes, gerando conflitos que culminaram na Guerra de Secessão.

Tempo de glória
Direção de Edward Zwick, 1989. (122 min).
Filme que narra a história do primeiro regimento de soldados negros que participou da Guerra de Secessão, nos Estados Unidos.

Figura 33

Obra que representa a primeira Batalha de Bull Run, na Virgínia, em 1861, durante a Guerra de Secessão. Xilogravura colorida à mão, artista desconhecido, século XIX.

Séc. XIX. Xilografia. Coleção particular. Foto: Album/akg/North Wind Picture Archives/Latinstock
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Os resultados da guerra foram desastrosos e causaram a morte de cerca de 600 mil pessoas, além de grande destruição. Apesar de tudo, o conflito pôs fim à herança colonial dos Estados Unidos. Leia o texto a seguir.

Os Estados Unidos foram preservados e ao mesmo tempo profundamente transformados pela Guerra Civil. Do ponto de vista político, a Federação fortaleceu-se, o que significou maior peso do governo central nos processos de tomada de decisão, em detrimento do poder dos estados. Em termos jurídicos, foram aprovadas três novas emendas à Constituição, que representaram o sepultamento definitivo da herança colonial: pela 13ª Emenda, os negros tornaram-se homens livres. Pela 14ª, todos os cidadãos do país foram equiparados em direitos e deveres, mesmo que isso pudesse eventualmente contrariar as constituições estaduais. Pela 15ª, foi garantido o direito de voto a todos os cidadãos, sem distinção de raça, cor ou condição social.

A equiparação jurídica entre brancos e negros não foi, porém, assimilada pelos derrotados. O preconceito continuou e ainda hoje, embora sem a mesma visibilidade de outrora, subsiste a organização racista Ku Klux Klan, surgida em 1866, que se notabilizou por executar linchamentos de negros insubmissos e brancos considerados “traidores” de sua raça.

André Martin. Guerra de Secessão. In: Demétrio Magnoli (Org.). História das guerras. São Paulo: Contexto, 2006. p. 248.

Figura 34

Documento que aboliu a escravidão nos estados do Sul dos Estados Unidos, em 1862.

1862. Coleção particular. Foto: SuperStock/Glow Images

Figura 35

Nos primeiros anos após a abolição da escravidão nos Estados Unidos, houve um processo chamado Reconstruction (Reconstrução), que visava a integração dos ex-escravos como cidadãos na sociedade. Porém, muitos estados continuaram restringindo o direito de cidadania aos ex-escravos, mantendo políticas de segregação racial até meados do século XX. Ao lado, casal de ex-escravos em sua casa na Virgínia. Xilogravura colorida à mão, artista desconhecido, século XIX.

Séc. XIX. Xilografia. Coleção particular. Foto: Album/akg/North Wind Picture Archives/Latinstock
Página 248

Explorando o tema

Veja nas Orientações para o professor subsídios para trabalhar essa seção com os alunos.



A identidade nacional

O conceito de Estado costuma estar associado ao conceito de nação, porém eles não são idênticos. O Estado é uma organização política com governo próprio, dotada de aparelho administrativo (burocracia), que exerce a soberania sobre determinado território.

Já o conceito de nação envolve mais especificamente as pessoas que habitam o território, partilhando características em comum que lhes conferem uma identidade: passado (experiência histórica), língua, costumes, religião, geografia.

No Brasil, não é possível dizer que todas essas características de nação existiam na época da independência. A identidade brasileira foi construída aos poucos, ligada ao projeto de Estado e de nação de suas elites. Nesse processo, a nação e a identidade nacional surgiram depois da criação do próprio Estado brasileiro.



Uma imagem da nação

A criação de uma identidade nacional é o objetivo político da maioria dos governos, principalmente quando acabam de chegar ao poder e precisam se legitimar. De forma geral, isso implica na valorização da cultura dos grupos dominantes, que é considerada como a que “verdadeiramente” representa o país como um todo. Isso pode ser feito tanto por meio da escrita de uma história oficial quanto pela literatura, música, pintura ou outras formas de arte.

A obra abaixo apresenta vários elementos que faziam parte do projeto de criação de uma identidade para o país: a população composta por negros, indígenas, brancos e mestiços, todos unidos como “brasileiros” juram obediência ao Império.

Figura 36

Esse pano de boca foi feito por Debret em 1822, com o objetivo de exaltar o recém-criado Império, celebrando assim a Constituição, a natureza e a mistura de etnias que formariam o povo brasileiro.

Jean-Baptiste Debret. 1822. Aquarela. 21 x 35 cm. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro (RJ)

Pano de boca: cortina que separa o palco da plateia nas peças de teatro.

O próprio Império é representado como uma mulher coroada, que detém nas mãos o poder da lei (Constituição) e da força (escudo e armas do Império). A natureza exuberante, tropical, está presente nos frutos da terra aos pés da mulher e nas palmeiras ao fundo.


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O apogeu da Monarquia

No Segundo Reinado se deu a consolidação do Estado imperial, e a Monarquia investiu na formação de uma identidade que fosse aceita e valorizada pelos brasileiros. Em 1850, a situação política havia sido acalmada, com a pacificação das províncias rebeldes no Sul e Nordeste do país.

A situação econômica também se estabilizara, com o café se tornando o principal produto de exportação. A abolição do tráfico de escravos (1850) liberou capitais para a aplicação em outras áreas, inclusive nas artes. Nesse contexto, o próprio governo, na figura de D. Pedro II, se destacou como um incentivador da produção artística e intelectual da nação.

Figura 37

Durante o Segundo Reinado, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) tornou-se um importante órgão, que incentivou a publicação de obras que ressaltassem os valores ligados à unidade nacional e à centralização política. Fac-símile da capa da Revista Trimestral de História e Geographia, do IHGB, de 1870.

Revista Trimestral de História e Geographia. 1870. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro (RJ)

Um inimigo externo

Fatores externos também foram favoráveis à criação de uma identidade nacional. Na época em que o regime imperial atingia o seu apogeu, surgiu um inimigo externo, representado pelo Paraguai. De certa forma, ao dizer que somos brasileiros, automaticamente dizemos que não somos argentinos ou paraguaios. Essa contraposição com o “outro” serve para evidenciar as nossas semelhanças. Leia o texto abaixo.

Para muitos brasileiros, a ideia de pátria não tinha materialidade, mesmo após a independência. [...] existiam, no máximo, identidades regionais. A guerra veio alterar a situação. De repente, havia um estrangeiro inimigo que, por oposição, gerava o sentimento de identidade brasileira. [...]

José Murilo de Carvalho. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. p. 37-8.

A identidade nacional brasileira, como ocorre com a maioria das nações, está em constante reelaboração. Um país como o Brasil, de imenso território e de população miscigenada, abarca um grande número de manifestações culturais regionais que dificilmente se encaixam em um discurso unificado sobre a identidade da nação. O que hoje consideramos características fundamentais de nossa nacionalidade expressa o resultado parcial das lutas sociais, travadas em torno da definição do que é “ser brasileiro”.

• Para você, o que é “ser brasileiro”? Converse com os colegas.

Veja a resposta da questão nas Orientações para o professor.

Figura 38

simbos/Shutterstock.com


Página 250

Atividades

Veja as respostas das atividades nas Orientações para o professor.



Exercícios de compreensão

1. O que foi o Golpe da Maioridade?

2. Cite algumas transformações que ocorreram no Brasil durante o governo de D. Pedro II.

3. Escolha uma das propostas feitas pelos revoltosos praieiros no Manifesto ao mundo e explique com suas palavras o significado dela.

4. Elabore um texto explicando por que o cultivo do café foi importante para a economia do Brasil.

5. Cite algumas formas de resistência dos africanos escravizados nos cafezais.

6. Quais eram os principais produtos cultivados no Brasil no século XIX? Escolha três desses produtos, citando em que região do país eles eram cultivados.

7. Como era organizado o Exército Brasileiro antes da Guerra do Paraguai? E depois?

Expandindo o conteúdo

8. Para aumentar os efetivos dos Voluntários da Pátria, ou seja, dos soldados que lutariam na Guerra do Paraguai, o Exército Brasileiro passou a realizar o recrutamento forçado de civis. Observe as imagens a seguir, feitas por Angelo Agostini (1833-1910), durante a Guerra do Paraguai.

Figura 39

A

SCENAS LIBERAES.



Entrada de recrutas na capital. Que escandalo!...

Angelo Agostini. Em: Jornal Diabo Coxo. 15/10/1865. Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo (SP)

Luís Gama. Diabo Coxo: São Paulo, 1864-1865. Ed. fac-similar. São Paulo: Edusp, 2005.
Página 251

Figura 40

B

— Não tens medo do recrutamento?



— Qual medo! Eu arranjei uma cartinha de recommendação para o Chefe... e [não estou preocupado]

Não póde dizer o mesmo este mizeravel, que não tem padrinho, e por isso, alem de recrutado, ainda recebe uma soffrivel [surra]!!!

Angelo Agostini. Em: Jornal Cabrião. 1866-1867. Arquivo do Estado/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, São Paulo (SP)

Angelo Agostini e outros (Ed.). Cabrião: semanário humorístico. 2. ed. fac-similar. São Paulo: Unesp; Imprensa Oficial do Estado, 2000.



a) Sobre a fonte A, responda: quem são os personagens representados? O que eles estão fazendo? Como eles estão vestidos? Para onde eles estão indo? Por que alguns deles estão acorrentados?

b) Sobre a fonte B, responda: quem são os personagens representados? O que eles estão fazendo? Como eles estão vestidos? O que é possível concluir sobre o recrutamento de soldados para a guerra com base na análise dessa fonte?

c) Após analisar essas fontes, você acha que a expressão “Voluntários da Pátria” é adequada para se referir a todos os recrutas que formaram o Exército Brasileiro que lutou na Guerra do Paraguai? Por quê?

9. O relato a seguir é de um africano, chamado Baquaqua. No início do século XIX, ele foi capturado em sua aldeia e transportado como escravo para o Brasil. Leia-o.

[...] Quando estávamos prontos para embarcar, fomos acorrentados uns aos outros e amarrados com cordas pelo pescoço e assim arrastados para a beira-mar. O navio estava a alguma distância da praia. [...]

Por fim, quando chegamos à praia, [...] escravos vindos de todas as partes do território estavam ali e foram embarcados. O primeiro barco alcançou o navio em segurança, apesar do vento forte e do mar agitado; o próximo a se aventurar, porém, emborcou e todos se afogaram, com exceção de um homem. Ao todo, trinta pessoas morreram. [...] Fui colocado no próximo barco que seguiu rumo ao navio. [...]

Fomos arremessados, nus, porão adentro, os homens apinhados de [um] lado e as mulheres do outro. O porão era tão baixo que não podíamos ficar em pé, éramos obrigados a nos agachar ou a sentar no chão. Noite e dia eram iguais para nós, o sono nos sendo negado devido ao confinamento de nossos corpos. Ficamos desesperados com o sofrimento e a fadiga. [...] Muitos escravos morreram no percurso. [...]


Página 252

Oh! A repugnância e a imundície daquele lugar horrível nunca serão apagadas de minha memória. Não: enquanto a memória mantiver seu posto nesse cérebro distraído, lembrarei daquilo. [...]

Que aqueles “indivíduos humanitários”, que são a favor da escravidão, coloquem-se no lugar do escravo no porão barulhento de um navio negreiro, apenas por uma viagem da África à América, sem sequer experimentarem mais que isso dos horrores da escravidão; se não saírem abolicionistas convictos, então não tenho mais nada a dizer a favor da abolição. [...]

Mahommah G. Baquaqua. Biografia de Mahommah G. Baquaqua. Revista Brasileira de História. São Paulo: Anpuh; Marco Zero. v. 8, n. 16, mar. 1988, p. 270-2.



a) De acordo com o relato de Baquaqua, como eram as condições no porão do navio onde as pessoas escravizadas viajavam?

b) Qual é a sugestão de Baquaqua àqueles “indivíduos humanitários” que são a favor da escravidão? Você acredita que, se essas pessoas seguissem a sugestão, elas se tornariam abolicionistas? Justifique sua resposta.

Discutindo a história

10. O texto a seguir mostra que existem diferentes interpretações sobre a Guerra do Paraguai. Leia-o.

A guerra constitui um claro exemplo de como a História, sem ser arbitrária, é um trabalho de criação que pode servir a vários fins. Na versão tradicional da historiografia brasileira, o conflito resultou da megalomania e dos planos expansionistas do ditador paraguaio Solano López. Membros das Forças Armadas — especialmente do Exército — encaram os episódios da guerra como exemplos da capacidade militar brasileira, exaltando os feitos históricos de Tamandaré, de Osório e, em especial, de Caxias. Nas escolas brasileiras, pelo menos até alguns anos atrás, admirávamos esses heróis e olhávamos com desdém para a figura sisuda do barbudo Solano. [...]

Na década de 1960, surgiu entre os historiadores de esquerda, como o argentino León Pomer, uma nova versão.

O conflito teria sido fomentado pelo imperialismo inglês. O Paraguai era um país de pequenos proprietários que optara pelo desenvolvimento autônomo, livrando-se da dependência externa.



Figura 41

Solano López representado como sanguinário. Caricatura de Angelo Agostini na Revista Fluminense, 1869.

Angelo Agostini. 1869. Ilustração. Coleção particular
Página 253

Brasil e Argentina definiam-se como nações dependentes, baseadas no comércio externo e no ingresso de recursos e tecnologia estrangeiros. Esses dois países teriam sido manipulados pela Inglaterra para destruir uma pequena Nação cujo caminho não lhe convinha. Além disso, os ingleses estariam interessados em controlar o comércio do algodão paraguaio, matéria-prima fundamental para a indústria têxtil britânica.

Essa interpretação está muito ligada às concepções correntes na esquerda latino-americana das décadas de 1960 e 1970. Pensava-se naqueles anos que os problemas do continente resultavam basicamente da exploração imperialista. A Guerra do Paraguai seria um exemplo a mais de como a América Latina, ao longo do tempo, tinha apenas trocado de dono, passando de mãos inglesas para [estadunidense].

Nos últimos anos, a partir de historiadores como Francisco Doratioto e Ricardo Salles, surgiu uma nova explicação. Não se trata da última palavra no campo da História, mas de uma versão menos ideológica, mais coerente e bem apoiada em documentos. Ela concentra sua atenção nas relações entre os países envolvidos no conflito. Tem a vantagem de procurar entender cada um desses países a partir de sua fisionomia própria, sem negar a grande influência do capitalismo inglês na região. Chama a atenção, assim, para o processo de formação dos Estados nacionais da América Latina e da luta entre eles para assumir uma posição dominante no continente.

Boris Fausto. História do Brasil. 2. ed. São Paulo: Edusp; Fundação do Desenvolvimento da Educação, 1995. p. 208-9. (Didática).

a) Como a historiografia tradicional brasileira interpreta a Guerra do Paraguai?

b) De acordo com os historiadores da esquerda latino-americana das décadas de 1960 e 1970, qual foi o papel da Inglaterra no conflito?

c) Na opinião do autor do texto, a nova interpretação sobre a Guerra do Paraguai, feita por historiadores como Francisco Doratioto e Ricardo Salles, é mais coerente que as interpretações anteriores. Quais argumentos ele usa para defender essa opinião?

Estimule a autonomia na aprendizagem dos alunos solicitando-lhes que realizem a proposta da seção Refletindo sobre o capítulo. Explique-lhes que, caso não tenham compreendido alguma das afirmações, é importante que o professor seja informado para que possa retomar o conteúdo correspondente e sanar as deficiências na aprendizagem.



Refletindo sobre o capítulo

Agora que você finalizou o estudo deste capítulo, faça uma autoavaliação de seu aprendizado.

Verifique se você compreende as afirmações a seguir.

• O governo de D. Pedro II foi o mais longo da história do Brasil.

• Durante o Segundo Reinado, o Brasil tornou-se o maior exportador de café do mundo.

• Além do cultivo de café, outras importantes atividades econômicas eram realizadas no Brasil durante o século XIX.

• Os africanos escravizados resistiram e lutaram de várias formas contra a escravização.

• O Exército Brasileiro que lutou na Guerra do Paraguai era basicamente formado por negros e mestiços.

• As mulheres tiveram uma participação importante na Guerra do Paraguai.

Após refletir sobre essas afirmações, converse com os colegas e o professor para certificar-se de que todos compreenderam o conteúdo trabalhado neste capítulo.


Página 254

capítulo 11 - O fim da Monarquia e a proclamação da República
Página 255

Veja nas Orientações para o professor algumas dicas, sugestões e/ou informações complementares para enriquecer o trabalho com os assuntos deste capítulo.



Neste capítulo, você vai estudar os principais aspectos que marcaram a crise do Império e a transição da Monarquia para a República no Brasil. Entre os fatores que marcaram esse processo estão: a chegada dos imigrantes, o movimento abolicionista e a modernização do país.

Observe as imagens apresentadas nestas páginas e converse com os colegas sobre as questões a seguir.

Figura 1

Alegoria à Proclamação da República e à partida da Família Imperial, autoria desconhecida, 1890.

1890. Óleo sobre tela. Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, São Paulo (SP). Foto: Album/sfgp/Latinstock

Figura 2

Capa da revista O Immigrante, publicada pelo governo do estado de São Paulo, em 1908.

Revista O Immigrante. 1908. Museu da Imigração, São Paulo (SP)

Aproveite as imagens e questões das páginas de abertura para ativar o conhecimento prévio dos alunos e estimular seu interesse pelos assuntos que serão desenvolvidos no capítulo. Faça a mediação do diálogo entre os alunos de maneira que todos participem expressando suas opiniões e respeitando as dos colegas.

Veja as respostas das questões nas Orientações para o professor.

A A revista O Immigrante era uma publicação do governo do estado de São Paulo com o objetivo de fazer propaganda e atrair imigrantes para o Brasil. Faça uma descrição da capa dessa revista reproduzida acima.

B O que você sabe sobre a Proclamação da República no Brasil? Comente.
Página 256

A crise do Império

Vários fatores influíram no processo de transição da Monarquia para a República em nosso país.



A diversificação da sociedade

Na segunda metade do século XIX, o Brasil era uma Monarquia centralizada e escravista. Nessa mesma época, o crescimento das cidades brasileiras e da industrialização modificou e diversificou a sociedade e a economia do país.



Figura 3

Anúncios publicitários publicados no Jornal do Commércio, por volta de 1850.

Em: Jornal do Commércio. 01/1852. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro (RJ)

Em: Jornal do Commércio. 11/1854. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro (RJ)

Em: Jornal do Commércio. 08/1851. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro (RJ)

Em: Jornal do Commércio. 09/1853. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro (RJ)



Explorando a imagem

Veja as respostas das questões nas Orientações para o professor.



a) Quais produtos e serviços são oferecidos nos anúncios publicitários acima?

b) O que esses anúncios indicam sobre a sociedade brasileira no século XIX?
Página 257

A sociedade reivindica mudanças

Em função dessas mudanças, a mentalidade das pessoas também foi, aos poucos, se transformando. Movimentos que se manifestaram timidamente em décadas anteriores tomaram corpo, obtendo o apoio de grupos sociais que cresceram e se fortaleceram durante o Segundo Reinado.

Entre esses movimentos estavam o Movimento Abolicionista, que lutava pelo fim da escravidão, e o Movimento Republicano, que defendia a implantação de uma República no país. Além disso, havia os militares, que estavam insatisfeitos e reivindicavam maior participação política.

D. Pedro II e seu reino tropical
Lilia Moritz Schwarcz. São Paulo: Claro Enigma, 2009.
Conheça mais sobre o imperador D. Pedro II lendo esse livro, que apresenta inúmeras imagens interessantes que mostram o contexto da época.

A questão militar

O grande número de mortes e também as dívidas contraídas com a Inglaterra durante a Guerra do Paraguai causaram um enorme desgaste no governo imperial.

Após a guerra, um grupo de oficiais se organizou e passou a criticar o descaso do imperador com relação ao Exército Brasileiro. Além disso, esse grupo passou a reivindicar maior participação política, contrariando os interesses das elites civis.

Por contrariarem as elites, esses militares foram proibidos de se pronunciar sobre assuntos políticos nos jornais do país. Tal situação resultou em um profundo ressentimento dos militares, que interpretaram essa atitude como antipatriótica. Mesmo proibidos, ataques abertos ao governo foram feitos por meio da imprensa, transformando o problema militar em uma questão política de âmbito nacional.



Figura 4

Oficiais brasileiros que lutaram na Guerra do Paraguai. Gravura de José Wasth Rodrigues, século XX.

José Wasth Rodrigues. Séc. XX. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro (RJ)
Página 258

A imigração de europeus

A partir da segunda metade do século XIX, milhares de imigrantes europeus, entre eles italianos, alemães e espanhóis, passaram a viver no Brasil.



O contexto europeu

Alguns países europeus como a Itália, a Alemanha e a Espanha começaram a se industrializar durante o século XIX, o que provocou uma grande mudança em suas estruturas econômicas e sociais. Enquanto nas cidades a industrialização avançava, no campo a produção agrícola também se transformava. Os grandes proprietários rurais introduziram técnicas modernas na produção agrícola e dispensaram um grande número de trabalhadores. Muitos desses camponeses, então, foram para as cidades em busca de oportunidades de trabalho.



Figura 5

Camponeses pobres da Irlanda migram para a Inglaterra em busca de emprego. Xilogravura colorida à mão por A. O’Kelly, século XIX.

Séc. XIX. Xilogravura. Coleção particular. Foto: Album/akg/North Wind Picture Archives/Latinstock

A nascente indústria desses países, no entanto, não era capaz de absorver o grande número de pequenos produtores e trabalhadores rurais expulsos de suas terras. Dessa forma, muitas pessoas permaneceram nas cidades, porém desempregadas. Além disso, nesse período, a população europeia praticamente dobrou. Diante dessa situação, muitos europeus estavam dispostos a deixar a Europa e tentar a vida em terras distantes.



Figura 6

Desempregados de Londres, Inglaterra, fazem fila para receber um prato de sopa. Xilogravura colorida à mão, artista desconhecido, cerca de 1880.

c. 1880. Xilogravura. Coleção particular. Foto: Albumakg/North Wind Picture Archives/Latinstock
Página 259

O contexto brasileiro

Nessa época, grupos da elite brasileira compartilhavam a ideia de que a vinda de imigrantes europeus para o Brasil seria uma alternativa para a substituição da mão de obra escrava, que até então era a base da economia brasileira.

Por isso, os cafeicultores de São Paulo criaram, em 1886, a Sociedade Promotora da Imigração. Essa sociedade tinha como objetivo reunir trabalhadores europeus dispostos a emigrar para o Brasil. Para tanto, a sociedade mantinha agentes na Europa com a função de recrutar imigrantes. Geralmente esses agentes exageravam ao descrever as oportunidades oferecidas pelo país, convencendo muitos europeus de que eles teriam ótimas oportunidades de trabalho no Brasil. Em função dessa forte campanha publicitária, no final do século XIX, milhares de imigrantes europeus começaram a embarcar em navios com destino ao Brasil.

Figura 7

Mapa da província de São Paulo, produzido pela Sociedade Promotora da Imigração, 1886. Repare que a parte verde do mapa está indicando que essas terras são despovoadas. Essa era uma forma de mostrar aos imigrantes europeus que eles teriam boas oportunidades no Brasil.

1886. Arquivo Público do Estado de São Paulo, São Paulo (SP)

A Lei de Terras

Até 1850, as terras brasileiras eram propriedades do Estado, que doava os lotes de terra aos interessados. A Lei de Terras, aprovada em 1850, estabeleceu que, a partir daquele momento, a terra deixaria de ser doada e passaria a ser vendida pelo Estado.

A Lei tinha por objetivo demarcar as propriedades, separando as terras públicas das privadas, com o Estado retomando as que haviam sido abandonadas (devolutas). Também tinha a intenção de transformar a terra em mercadoria, aumentando os rendimentos do Estado dentro de um contexto de expansão da lavoura cafeeira. No entanto, uma das consequências da Lei foi tornar ainda mais difícil o acesso dos camponeses pobres, ex-escravos e trabalhadores imigrantes à terra.
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A vinda para o Brasil

O embarque dos europeus para a América era tumultuado. Havia muitos imigrantes aguardando para embarcar nos navios e, por isso, a espera pela partida podia durar vários dias. Na viagem, que durava cerca de um mês, os imigrantes ocupavam a terceira classe dos navios e, por causa da superlotação, era comum a proliferação de doenças, como o sarampo, a varíola e a cólera.



Figura 8

Italianos aguardando no porto para embarcar para o Brasil. Pintura Partida de emigrantes, de Angelo Tomasi, 1896.

Angelo Tomasi. 1896. Óleo sobre tela. Galeria Nacional de Arte Moderna e Contemporânea, Roma (Itália)

O sistema de colonato

No sistema de colonato, as passagens dos imigrantes eram financiadas pelo governo brasileiro, isentando os fazendeiros de gastarem seu capital com a vinda desses trabalhadores para o Brasil. Nesse sistema, o imigrante recebia um salário anual, além de uma parte da produção agrícola.

A partir de 1888, a maioria dos imigrantes que chegava ao Brasil era encaminhada para a Hospedaria de Imigrantes, na cidade de São Paulo. Os imigrantes ficavam hospedados nesse local até que fosse feito o seu contrato de trabalho com o fazendeiro ou seu representante, quando, então, eles eram levados para as fazendas. O tipo de contrato geralmente estabelecido era o do colonato.

Figura 9

Fachada do Museu da Imigração do Estado de São Paulo, que funciona na sede da extinta Hospedaria dos Imigrantes, no bairro da Mooca, em São Paulo (SP). O museu concentra grande quantidade de documentação sobre a imigração para o Brasil na passagem do século XIX para o século XX. Fotografia de 2014.

Renato Luiz Ferreira/Folhapress
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Quem eram os imigrantes?

Imigrantes de várias nacionalidades desembarcaram no Brasil no final do século XIX e início do século XX. A maioria deles era de origem europeia, como italianos, espanhóis, portugueses, franceses e alemães. Além dos europeus, vieram muitos japoneses, sírios e libaneses. Ao chegarem ao país, os imigrantes geralmente iam trabalhar nas plantações de café e então percebiam que as condições de trabalho não eram tão boas como diziam os agentes da Sociedade Promotora da Imigração. Assim, muitos deles abandonaram as fazendas e seguiram para as grandes cidades brasileiras para trabalhar como artesãos, ferreiros, carpinteiros, sapateiros. Outros ainda se empregavam nas indústrias, constituindo a base do operariado paulista.



Figura 10

Festa de colonos alemães em Nova Hamburgo, pintura de Pedro Weingärtner, 1892.

Pedro Weingärtner. 1892. Óleo sobre tela. 75 x 100 cm. Coleção particular. Foto: Album/Akg-Images/Latinstock

O sujeito na história

Antonio Pellegrini

Originário do Vêneto, região do Norte da Itália, Antonio Pellegrini imigrou para o Brasil no ano de 1887, acompanhado da mulher, de um filho e de cinco irmãos. Conseguiu um contrato de trabalho na fazenda São Bernardo, localizada no município de Capivari, no interior da província de São Paulo. O proprietário dessa fazenda, doutor Juca Stanislaw do Amaral, possuía muitas terras e, nessa época, estava contratando um grande número de imigrantes italianos para trabalhar em seus cafezais.

Antonio trabalhou na lavoura de café durante alguns meses, mas, como sabia ler e escrever, foi convidado pelo doutor Juca a auxiliá-lo na contratação de novos imigrantes para trabalhar em suas fazendas. Antonio, então, passou a acompanhar o patrão nas viagens que ele fazia até o porto de Santos, onde desembarcavam muitos imigrantes. Depois de algumas viagens, Antonio conquistou a confiança do doutor Juca, e passou a fazer essas viagens sozinho.

Recebendo uma boa remuneração por seu trabalho, Antonio investiu o dinheiro ganho e comprou uma pequena fazenda, passando a cultivar seus próprios cafezais. Depois, montou um açougue e um cinema na cidade e, por fim, tornou-se agente dos Correios de Capivari, onde criou sete filhos e viveu até o fim de sua vida.



Figura 11

Antonio Pellegrini na década de 1920.

Autor desconhecido. c. 1920. Coleção particular
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A fazenda de café

A fazenda cafeeira era uma grande propriedade rural que produzia o café para exportação.



Figura 12

As matas forneciam madeira para as construções feitas na propriedade, além da lenha usada na fazenda. O avanço do cultivo do café acabou destruindo imensas áreas de florestas nativas.

A casa do proprietário era uma herança direta da antiga casa-grande dos senhores de engenho. Era o edifício mais imponente da fazenda, habitado pelo fazendeiro e por sua família, parentes, agregados e alguns escravos domésticos.

Na capela eram realizadas as cerimônias religiosas.

Depois de lavado, o café era espalhado no terreiro, onde ficava exposto ao Sol para secar.

A moradia dos escravos, chamada de senzala, era maior que as casas dos colonos, pois os escravos geralmente eram alojados coletivamente.

As plantações de café ocupavam as terras mais férteis da fazenda. Quando chegava a época da colheita, os grãos colhidos eram abanados em peneiras para eliminar as folhas e os galhos. Depois, o café era colocado em cestos que eram transportados em carros de boi até a sede da fazenda para ser beneficiado.

Depois de secar ao Sol, o café era transportado para os barracões de beneficiamento e armazenamento, onde era descascado e ensacado.

Nas fazendas havia lavouras de subsistência, onde se plantavam mandioca, feijão, milho e outros gêneros destinados à alimentação dos moradores.

Depois de colher e abanar o café, os trabalhadores levavam o produto para um tanque de lavagem dos grãos, geralmente feito de pedra.

As casas dos colonos eram pequenas, simples e construídas com materiais retirados da própria fazenda, como madeira ou barro. Geralmente cada família ocupava uma casa.

Uma fazenda de café geralmente era estabelecida próxima a um rio, que garantia o abastecimento de água da fazenda.

Por fim, o café era armazenado até ser transportado para o porto, de onde seria exportado.

Art Capri

Essa ilustração é uma representação artística feita com base em estudos históricos.
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A estrutura e organização da fazenda cafeeira

As grandes fazendas de café geralmente ficavam próximas a um rio e contavam com algumas edificações para o beneficiamento do produto. Nas fazendas do final do século XIX, a mão de obra utilizada era formada tanto por escravos quanto por trabalhadores assalariados.


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O início da modernização do Brasil

Na segunda metade do século XIX, a economia brasileira começou a se diversificar, iniciando o processo de modernização do país.



A situação econômica

As primeiras décadas do século XIX foram marcadas por uma forte queda na balança comercial brasileira. Essa situação era provocada pela queda nos preços dos produtos exportados pelo Brasil, como o açúcar, o algodão e o tabaco, fazendo crescer a dependência do governo brasileiro em relação aos banqueiros ingleses, dos quais tomava dinheiro emprestado para equilibrar a balança comercial nacional. Nas décadas de 1830 e 1840, o desenvolvimento da cafeicultura ajudou a compensar os problemas financeiros, mas não de forma definitiva.

Até o final da década de 1860, salvo algumas tentativas isoladas, a industrialização brasileira era mais um projeto do que uma realidade. Isso aconteceu porque o desenvolvimento da indústria nacional dependia das políticas fiscais do governo, que variavam de acordo com a conjuntura política e dos interesses dos cafeicultores. Para melhorar a arrecadação e equilibrar a balança comercial, em 1844, o governo brasileiro aumentou as tarifas de importação de alguns produtos. Essa medida beneficiou, embora timidamente, o desenvolvimento da indústria nacional.

Figura 13

O aumento das tarifas de importação beneficiou muitas indústrias brasileiras. Etiqueta de uma indústria de tecidos do Rio de Janeiro (RJ), século XIX.

Companhia Petropolitana. 10/09/1888. Arquivo Nacional, Rio de Janeiro (RJ)

A abordagem sobre as ferrovias favorece um trabalho com o tema trabalho e consumo.

Veja sugestões para trabalhar com esse tema nas Orientações para o professor.

As ferrovias

Para facilitar o transporte do café até os portos, foram feitos muitos investimentos na construção de ferrovias. Parte desses investimentos foi feita por antigos traficantes de escravos: com a proibição do tráfico, em 1850, eles deslocaram seus capitais para novos investimentos, como a cafeicultura e, posteriormente, a construção de ferrovias. Outra parte importante dos investimentos foi feita por estrangeiros, principalmente ingleses. Além disso, o governo brasileiro concedeu vários financiamentos para ampliar a malha ferroviária.



Figura 14

Além da ferrovia D. Pedro II, cujos trilhos chegaram à província de São Paulo em 1875, na segunda metade do século XIX foram inauguradas outras ferrovias, como a Paulistana, a Mogiana e a Sorocabana. Essas ferrovias ligavam o litoral aos diversos núcleos produtores do interior da província de São Paulo. A instalação de ferrovias agilizou o escoamento da produção e diminuiu os custos do transporte. Ao lado, funcionários da São Paulo Railway, uma das primeiras ferrovias brasileiras. Fotografia de Marc Ferrez, século XIX.

Marc Ferrez. Séc. XIX. Coleção Gilberto Ferrez. Acervo Instituto Moreira Salles, São Paulo (SP)
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Os melhoramentos urbanos e as fábricas

A expansão da malha ferroviária e a prosperidade resultante dos capitais acumulados pelos cafeicultores tiveram papel essencial na urbanização e no desenvolvimento das indústrias no Brasil. Leia o texto.

O Rio de Janeiro (que, por volta de 1850, tinha uma população de 200 mil habitantes) e outras cidades estavam cheias de empresas artesanais, que faziam sabão, velas, fios de algodão, roupas, chapéus, [...] móveis e ferragens, mas as tecelagens e as fábricas de processamento de alimentos, que viriam constituir a base do primeiro crescimento industrial brasileiro, não surgiram antes de 1840.

Leslie Bethell; José Murilo Carvalho. O Brasil da Independência a meados do século XIX. In: Leslie Bethell (Org.). História da América Latina: da Independência a 1870. São Paulo; Brasília: Edusp; Fundação Alexandre de Gusmão, 2004. v. 3. p. 743.

Os capitais dos fazendeiros passaram a ser aplicados na modernização do beneficiamento do café e em outras atividades, como fábricas, bancos e companhias de seguro. A própria construção de ferrovias tornou-se um negócio rentável e de baixo risco, em razão das garantias governamentais. Investimentos estrangeiros de grupos ingleses, estadunidenses e franceses entraram no país, sobretudo na década de 1870, quando se acelerou o processo de industrialização e urbanização.

Muitas cidades foram fundadas e outras mais antigas ganharam novo vigor com a chegada das linhas férreas. Foram construídos hotéis e instalados postes de iluminação, as ruas foram calçadas e outras melhorias urbanas foram implantadas. Essas melhorias frequentemente eram financiadas pelos “barões do café”, que passaram a habitar mansões construídas nas cidades, de onde podiam administrar seus negócios.



Figura 15

Nessa fotografia, tirada por Marc Ferrez na década de 1890, vemos algumas melhorias urbanas realizadas na cidade do Rio de Janeiro (RJ), como o calçamento das ruas e a instalação de bondes.

Marc Ferrez. c. 1890. Coleção Gilberto Ferrez. Acervo Instituto Moreira Salles, São Paulo (SP)

O sujeito na história

Barão de Mauá

Irineu Evangelista de Souza (1831-1889) nasceu em Nossa Senhora da Conceição do Arroio Grande, no Rio Grande do Sul. Recebeu os títulos de barão e, mais tarde, o de visconde de Mauá. De origem humilde, começou cedo a trabalhar em uma importadora inglesa, da qual se tornou sócio e administrador. Foi um empresário pioneiro que investiu em várias áreas, como a fundição de bronze e ferro, a construção de estradas de ferro e estaleiros, a fundação de companhias de navegação e a organização do serviço de gás e iluminação da capital brasileira. Ele investiu ainda na criação de um banco, que tinha filiais em toda a região Sul do país, no Uruguai e na Argentina. Seus primeiros negócios foram estimulados pela lei tarifária de 1844, que protegia a indústria nacional aumentando as taxas alfandegárias de importação. Mas, em 1857, as tarifas foram reduzidas e Mauá teve de enfrentar a concorrência inglesa. Mais tarde, as crises financeiras da década de 1860, aliadas à falência de alguns de seus sócios, acabaram consumindo sua fortuna.



Figura 16

Barão de Mauá. Litogravura de S. A. Sisson, cerca de 1850.

S. A. Sisson. c. 1850. Litografia. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro (RJ)
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Explorando o tema

Veja nas Orientações para o professor subsídios para trabalhar essa seção com os alunos.



A vida cultural no final do3 século XIX

No final do século XIX, a vida cultural foi bastante influenciada pelas transformações políticas, sociais e econômicas ocorridas no Brasil.



Figura 17

Ilustrações: Estudio Meraki



A literatura

Grande parte das obras literárias brasileiras da época do Segundo Reinado apresentava o ideal de construção e de exaltação da pátria. Nesse contexto, a poesia e a prosa nacionais exploraram temas ligados principalmente à natureza e aos indígenas. Esse período da literatura brasileira é chamado de romantismo indianista.

O romantismo indianista não foi a única tendência da literatura brasileira nessa época. Alguns escritores, como o baiano Castro Alves (1847-1871), dedicavam parte de seus escritos à denúncia das injustiças sociais presentes na sociedade escravista brasileira.

Outro importante escritor dessa época foi o carioca Machado de Assis (1839-1908), que inaugurou o chamado romance realista. Ao contrário do romantismo, que exaltava o nacionalismo e um passado histórico idealizado, o realismo foi uma corrente contestadora, objetiva e voltada para os acontecimentos do presente.

Esse livro consta na lista do PNBE de 2011.

Machado de Assis fotógrafo do invisível: o escritor, sua vida e sua época em crônicas e imagens
Hélio Guimarães e Vladimir Sacchetta. São Paulo: Moderna, 2008.
Veja nesse livro mais detalhes sobre a vida do escritor Machado de Assis e o contexto histórico do século XIX.

Figura 18

A pintura

Nas artes plásticas, destacaram-se as pinturas com temas religiosos e históricos, além dos temas relacionados ao cotidiano do povo brasileiro. O imperador D. Pedro II era um grande apreciador da pintura europeia e, por essa razão, patrocinava os estudos de vários artistas brasileiros na Europa, principalmente na França e na Itália. Entre os pintores brasileiros mais importantes dessa época destacam-se o catarinense Victor Meirelles (1832-1903), o paraibano Pedro Américo (1843-1905) e o paulista Almeida Júnior (1850-1899).



A fotografia no Brasil

Entre as décadas de 1840 e 1860, a fotografia disseminou-se como uma nova maneira de retratar a realidade. O imperador D. Pedro II, que era grande apreciador da fotografia, chegou a promover exposições e incentivar a vinda de fotógrafos de outros países. Assim, popularizou a nova técnica pelo Brasil. Fotógrafos como Victor Frond, Marc Ferrez e Augusto Malta se destacaram, dedicando-se a fotografar paisagens, pessoas e cenas cotidianas no Brasil.



Figura 19

Câmera fotográfica, século XIX.

FlariviereShutterstock.com

Figura 20

Na tela O violeiro, de 1899, Almeida Júnior pintou uma cena do cotidiano da população brasileira no século XIX.

Almeida Júnior. 1899. Óleo sobre tela. 141 x 172 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo (SP)
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Figura 21

A música

Assim como os pintores, alguns músicos brasileiros também receberam o apoio do governo imperial para estudar na Europa.

O paulista Carlos Gomes (1836-1896), compositor de várias óperas, foi um desses músicos. Apoiado pelo imperador, ele foi para a Itália, onde, em 1870, estreou sua obra mais conhecida, O Guarani. Essa ópera, baseada no romance do escritor cearense José de Alencar (1829-1877), foi apresentada pela primeira vez no teatro Scala, em Milão.

A música erudita não foi a única expressão musical durante o Segundo Reinado. Diferentes ritmos e danças, como o frevo e o maxixe, ganharam espaço nas ruas e nos bailes populares.

O frevo nasceu em Pernambuco, no final do século XIX, sob grande influência de ritmos afro-brasileiros. Nessa época, ele era tocado pelas bandas militares e fanfarras populares para animar os desfiles de rua das cidades de Recife e Olinda.

O maxixe se desenvolveu principalmente no Rio de Janeiro, no final do século XIX. Tocado em bailes populares, o maxixe era uma versão acelerada de ritmos europeus como a polca e a marcha.



Figura 22

O Carnaval

No século XIX, começaram a surgir as primeiras sociedades carnavalescas no Rio de Janeiro, que tinham o objetivo de organizar as brincadeiras de rua para evitar problemas com a polícia. A partir da década de 1880, as sociedades carnavalescas investiram na produção de carros alegóricos para desfilar pelas ruas da cidade. Em cima desses carros, as bandas de músicos tocavam os ritmos carnavalescos mais conhecidos pela população, como a marcha, o maxixe e o frevo.

Foi também nessa época que surgiram os primeiros cordões, assim como os primeiros bailes carnavalescos festejados em salões. Esses bailes eram frequentados pelos membros da elite, que se vestiam com fantasias e máscaras.

Cordão: grupo de pessoas que brincam no Carnaval.

Figura 23

Cena de Carnaval, aquarela de Jean-Baptiste Debret, século XIX.

Jean-Baptiste Debret. Séc. XIX. Aquarela. 18 x 23 cm. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro (RJ)



a) Você já leu alguma obra de escritor brasileiro do século XIX? Em caso afirmativo, comente com os colegas qual o livro e o autor.

b) Quais ritmos musicais foram criados no Brasil no século XIX?

Veja as respostas das questões nas Orientações para o professor.


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A abolição da escravidão

Após cerca de 350 anos de escravidão, em 1888 foi assinada a Lei Áurea, que tornou ilegal a escravização de pessoas no Brasil.



O Movimento Abolicionista

A partir da década de 1870, pessoas de diferentes grupos sociais brasileiros passaram a questionar a prática da escravidão, propondo alternativas para substituir o trabalho escravo pela mão de obra livre no Brasil. Essas pessoas deram início ao chamado Movimento Abolicionista.

Desse movimento participavam tanto republicanos como monarquistas. Seus membros eram profissionais liberais, como advogados, jornalistas e intelectuais, além de estudantes, comerciantes, imigrantes europeus, ex-escravos e escravos.

Leia o texto.

A cada dia surgiam clubes abolicionistas, dedicados à coleta de recursos para alforria de escravos, para os quais até mesmo grandes damas concorriam com joias (sendo o gesto quase sempre noticiado em folhas, para maior vaidade dos doadores), crianças e estudantes com seus [trocados], cada qual segundo suas posses.

Jorge Caldeira e outros. Viagem pela história do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 118-9.

Os abolicionistas, de forma geral, combatiam a escravidão porque acreditavam que ela contrariava o direito de liberdade e igualdade perante a lei. Eles acreditavam também que a sociedade brasileira não poderia se desenvolver plenamente enquanto houvesse escravos. Também havia aqueles que defendiam que a produtividade do trabalho aumentaria com a mão de obra livre e que a eliminação dos gastos com a compra de escravos possibilitaria aos fazendeiros investir seu capital na construção das casas dos colonos, bem como na modernização do maquinário das fazendas.

Figura 24

Enquanto na cidade os abolicionistas organizavam manifestações contra a escravidão, nas fazendas milhares de escravos se rebelavam e fugiam. Muitos deles se refugiavam nos quilombos abolicionistas, que eram organizados pelos caifazes. Os caifazes eram pessoas que participavam do Movimento Abolicionista e davam proteção aos escravos, procurando agilizar seu processo de libertação. Essa charge, produzida por Angelo Agostini em 1887, representa escravos fugindo de uma fazenda.

Angelo Agostini. Em: Revista Illustrada. 30/09/1887. IEB/USP, São Paulo (SP)
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As leis abolicionistas

Antes do fim da escravidão, duas leis foram aprovadas no Brasil com o objetivo de diminuir gradativamente a utilização da mão de obra escrava.

A Lei do Ventre Livre, aprovada em 1871, declarava livres os filhos de escravas que nascessem a partir daquela data. No entanto, o proprietário da mãe poderia usufruir do trabalho do filho até que ele completasse 21 anos.

Já a Lei dos Sexagenários, aprovada em 1885, dava liberdade aos escravos com mais de 60 anos.



Conjuntura favorável à abolição

A partir de 1870, a conjuntura política nacional e internacional passou a favorecer o crescimento do Movimento Abolicionista. No plano nacional, a opinião pública passou a apoiar mais incisivamente a aprovação de leis abolicionistas, sendo um marco a aprovação da Lei do Ventre Livre, de 1871. No plano internacional, a manutenção do escravismo estava isolando o Brasil, sobretudo após a abolição da escravidão nos Estados Unidos e o fim do tráfico de escravos para Cuba.



Figura 25

Imigrantes europeus e escravos de origem africana que trabalhavam juntos em um depósito de café no Rio de Janeiro (RJ). Fotografia de autoria desconhecida, século XIX.

Autor desconhecido. Séc. XIX. Coleção particular

A abolição no Ceará

Em 1881, um grupo de jangadeiros liderados por Francisco do Nascimento — o Dragão do Mar — se recusou a embarcar em suas jangadas escravos que seriam vendidos nas fazendas de café do Sul do país. A partir dessa ocasião, a pressão popular cearense contra a escravidão aumentou e, em 1884, quatro anos antes da abolição no resto do país, o governador do Ceará decretou o fim da escravidão na província.



Figura 26

Capa da Revista Illustrada, que presta uma homenagem a Francisco do Nascimento. Gravura de Angelo Agostini, 1884.

Revista Illustrada. 04/1884. IEB/USP, São Paulo (SP). Foto: Neoimagem
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A participação popular

A participação da população e das organizações abolicionistas foram fundamentais para a abolição da escravidão no Brasil.

As revoltas de escravos nas fazendas causavam medo e receio nos fazendeiros, que começaram a pensar em alternativas para a substituição da mão de obra.

Em várias cidades do Brasil, manifestações e comícios eram promovidos pelas associações e clubes abolicionistas, estimulando milhares de pessoas a protestarem contra a escravidão no país. Poetas, advogados, políticos e intelectuais divulgavam publicamente suas ideias.

De acordo com alguns historiadores, o Movimento Abolicionista foi um dos que uniram o maior número de brasileiros em torno de uma causa comum: a libertação dos escravos.

A Lei Áurea

Em maio de 1888, o imperador D. Pedro II se encontrava em viagem na Europa e sua filha, a princesa Isabel, respondia como regente do Império.

Nesse momento, a pressão popular para a abolição atingiu seu auge, e os políticos abolicionistas conseguiram concentrar cada vez mais adeptos no Parlamento. Assim, em 13 de maio de 1888, a Lei Áurea foi aprovada pelos deputados brasileiros e assinada pela princesa Isabel. Essa lei declarava extinta a escravidão em todo o Brasil e foi recebida com festa pelos ex-escravos e pelos abolicionistas em todas as regiões do Império.

O escritor carioca Lima Barreto (1881-1922), após assistir à festa da abolição no Rio de Janeiro, relatou:

Havia uma imensa multidão ansiosa, com o olhar preso às janelas do velho casarão. Afinal a lei foi assinada e, num segundo, todas aquelas milhares de pessoas o souberam. A princesa veio à janela. Foi uma ovação: palmas, acenos com lenços, vivas...

Lima Barreto. In: Francisco de Assis Barbosa. A vida de Lima Barreto. 8. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2002. p. 63.



O fio da memória
Direção de Eduardo Coutinho, 1991. (80 min).
Esse documentário aborda a questão da memória afrodescendente no Brasil.
É também fonte interessante para se conhecer melhor aspectos relacionados à escravidão e ao preconceito.

Figura 27

Multidão em frente ao Paço Imperial, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), comemora a Abolição da Escravatura. Fotografia de Luís Ferreira, 13 de maio de 1888.

Luís Ferreira. 1888. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro (RJ)
Página 271

Os ex-escravos após a abolição

A abolição da escravidão foi importante porque trouxe igualdade perante a lei para todos os brasileiros, independentemente da origem étnica de cada um. Porém, ela não foi suficiente para igualar, na prática, os ex-escravos e seus descendentes aos demais cidadãos brasileiros.

Muitos ex-escravos continuaram trabalhando para os fazendeiros em troca de salários muito baixos, enquanto outros buscaram melhores condições de vida nas cidades. Porém, como esses ex-escravos não tinham acesso à educação, nem à moradia ou emprego, eles passaram a viver em condições precárias.

Contudo, foi por meio da formação de redes de solidariedade que os ex-escravos puderam sobreviver e resgatar sua dignidade. Nessas redes, eles se ajudavam mutuamente, arrecadando dinheiro para comprar vestimentas e alimentos, além de trabalharem juntos na construção de suas moradias.



Figura 28

Casal de ex-escravos fazendo caldo de cana, no Rio de Janeiro (RJ). Fotografia do início do século XX.

The Print Collector/Heritage Images/Glow Images
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A cultura afro-brasileira

A cultura afro-brasileira é o resultado da mistura de elementos culturais africanos e brasileiros. Ao serem trazidos para o Brasil, os africanos passaram a conviver com os povos indígenas que aqui habitavam com os colonizadores europeus, em especial os portugueses, e também com outros africanos trazidos de diferentes regiões da África.

Apesar da violência, da segregação e das privações que sofreram, os africanos preservaram muitos aspectos de sua cultura. Além disso, por meio da miscigenação e das trocas culturais, forneceram elementos importantes para a formação da sociedade brasileira.

Em nosso país, a herança cultural africana se manifesta, por exemplo, na religião, na culinária, na música e na dança, bem como nas palavras e expressões incorporadas ao português falado no Brasil.



Figura 29

Tambor djembe, bongô e caxixi, instrumentos musicais de origem africana incorporados na cultura brasileira.

GoodMood PhotoShutterstock/Glow Images

O sujeito na história

Tia Ciata

Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, nasceu no ano de 1854, em Salvador, na Bahia. Quando tinha 22 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro onde exerceu um papel importante na vida cultural da cidade.

Líder religiosa e grande doceira, Tia Ciata era conhecida tanto pela sua experiência e sabedoria no candomblé, quanto pelos encontros e festas promovidos em sua casa. Dessas reuniões, de caráter religioso e social, participavam pessoas de diversas condições e camadas sociais, mas principalmente músicos e artistas populares, como Pixinguinha e João da Baiana, que tocavam e cantavam o samba e o chorinho. Por ser um local onde se preservavam as tradições africanas, a casa era conhecida como “Pequena África”.

As festas e as manifestações religiosas que aconteciam na casa da Tia Ciata eram uma importante forma de resistência cultural afro-brasileira e popular nos primeiros anos da República no Brasil. Além disso, sua casa foi um importante veículo de produção e divulgação da cultura negra urbana para todo o Rio de Janeiro.

A casa da Tia Ciata não era frequentada somente pela comunidade negra, mas também por membros da classe média branca, como políticos, policiais e jornalistas. Dessa forma, a convivência pacífica e festiva entre pessoas de diversas classes sociais foi muito importante para a popularização do samba, do chorinho e da cultura afro-brasileira no início do século XX.
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O fim da Monarquia

No Brasil, as insatisfações com a Monarquia favoreceram a mudança para o regime republicano.



O descontentamento com a política imperial

No fim do século XIX, diversos grupos sociais brasileiros estavam descontentes com o governo de D. Pedro II. Entre esses grupos destacavam-se os cafeicultores, os profissionais liberais e os militares.

Os cafeicultores do Oeste paulista, que já utilizavam a mão de obra livre, conseguiram acumular muitas riquezas, porém exerciam pouca influência política no Brasil. Por outro lado, cafeicultores escravistas do vale do Paraíba deixaram de apoiar a Monarquia, pois a Lei Áurea, além de abolir a escravidão, não atendeu a uma de suas exigências: o pagamento de uma indenização pela perda de seus escravos.

Além disso, a nascente classe média urbana, formada principalmente por profissionais liberais e comerciantes, procurava maneiras de aumentar sua participação política obtendo cargos públicos e melhores condições sociais. Já os militares, que saíram fortalecidos da Guerra do Paraguai, desejavam mais autonomia, melhores salários e maior participação política.



Figura 30

Nessa charge de 1879, Angelo Agostini representou vários setores sociais brasileiros disputando o controle político do Brasil. Repare que o cavalo representa o povo, a força que move o país, e os homens que aparecem disputando o controle das rédeas representam os políticos republicanos e monarquistas, os religiosos e os militares.

Angelo Agostini. Em: Revista lIlustrada. 1879. IEB/USP, São Paulo (SP)

O Movimento Republicano

A mobilização de diferentes grupos sociais foi fundamental para a mudança do regime político no Brasil. Em 1870, no Rio de Janeiro, por exemplo, um grupo de intelectuais liberais fundou o Partido Republicano. Por meio do jornal A República, os membros do partido divulgavam ideias de mudança no regime político brasileiro. Em 1887, também no Rio de Janeiro, oficiais do Exército fundaram o Clube dos Militares. Esse clube tinha a função de unir militares que se opunham ao governo imperial.

O partido Republicano Paulista, fundado em 1873, também exerceu influência no processo de proclamação da República. Esse partido era formado principalmente por latifundiários paulistas que procuravam implantar um regime político que estivesse de acordo com seus interesses econômicos.

Latifundiário: proprietário de grandes lotes de terra.

Em um país repleto de divergências políticas e questões sociais não resolvidas, a fragilidade do governo imperial se tornava evidente. Essa fragilidade ficava ainda mais clara por conta da crise financeira enfrentada pelo Brasil depois da Guerra do Paraguai.


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Investigando na prática

Veja nas Orientações para o professor subsídios para trabalhar essa seção com os alunos.



Um caricaturista critica o Império

Angelo Agostini foi um caricaturista, de origem italiana, que teve um papel importante na imprensa brasileira do século XIX. Um de seus principais trabalhos foi a publicação da Revista Illustrada, em que ficou envolvido de 1876 a 1889.

O caricaturista, por meio de imagens cômicas e detalhistas, adotava um posicionamento questionador e crítico em relação ao Império e ao governo de D. Pedro II. A Revista Illustrada também publicava conteúdos a favor do Movimento Abolicionista, que começava a se estruturar naquela época.

Hemeroteca Digital Brasileira
Conheça nesse site o acervo digital da Revista Illustrada, com as publicações entre 1876 e 1898. Veja em:


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