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O DESENVOLVIMENTO LÓGICO-MATEMÁTICO ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO MUSICAL
Ricardo Pereira de Ávila – FEMA – Assis
ricardinhoavila@yahoo.com.br
Sarah Rabelo de Souza – FEMA – Assis
sarah@femanet.com.br
Resumo:
O objetivo deste trabalho de iniciação científica foi o de verificar um possível desenvolvimento do
raciocínio lógico-matemático após um período de aulas de música. A metodologia utilizada foi o estudo de
caso, observando a evolução ou não evolução do raciocínio lógico-matemático de dois sujeitos, por meio de
testes comparativos, antes e depois de um período de aulas de música. Foi realizada uma revisão histórica
sobre as relações entre a matemática e a música, tendo como base dados de pesquisa bibliográfica.
Palavras chaves:
Matemática, Música, Raciocínio, História da Matemática
Introdução
Dentre os diversos fatores que podem contribuir para a melhoria do aprendizado da matemática
está o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático através da música. Além de seu apelo lúdico, ela
pode contribuir para este desenvolvimento.
Na escola, a música pode ser desenvolvida com os alunos
de diversas maneiras, tais como: teoria
musical, canto coral, prática de instrumento, apreciação musical, etc.
A música e a matemática, historicamente e no senso comum, estão estreitamente ligadas.
Atualmente, autores como Gardner (1994) mencionam que existem relações estreitas entre as diferentes
inteligências do ser humano, duas delas a lógico-matemática e a musical.
Este mesmo autor realiza
observações sobre a necessidade do conhecimento matemático para o desenvolvimento da música, como
competência numérica para realizar ritmos, sensibilidade à regularidade e proporções, padrões e
regularidades, permutações. Antunes (2001), sugere maneiras de se trabalhar as inteligências múltiplas em
sala de aula, e a música pode ser explorada para esse fim.
É de comum conhecimento a importância de se ter um raciocínio lógico desenvolvido, o que
capacita o ser humano a vivenciar e entender uma série de situações ao longo da vida, e lhe dá a
possibilidade de realizar inúmeras atividades que dependem da lógica (D’AMBROSIO,1986).
Cientistas afirmam que o início do desenvolvimento do raciocínio lógico surge na infância, e que
posteriormente auxiliará a criança, e mesmo quando adulto, no aprendizado de disciplinas de conteúdo
lógico como matemática e música (Folha de São Paulo, 2002). Pesquisadores norte–americanos da
Universidade Irvine da Califórnia notaram que estudantes que seguiam um programa de estudos de música
concomitantemente com os estudos de matemática, não só apresentavam melhores resultados que os
demais na realização de cálculos e assimilação de conceitos matemáticos, como também desenvolveram
uma capacidade maior de abstração e visualização de conceitos abstratos de matemática. Em síntese, os
estudantes que seguiam um programa interdisciplinar de matemática e música possuíam um melhor
desenvolvimento do raciocínio proporcional e do raciocínio
espacial temporal, fundamentais no estudo de
cálculo e geometria, como também de química, física e áreas científicas afins.
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Relações Históricas entre a Matemática e a Música
As relações históricas entre Matemática e Música descritas a seguir foram baseadas principalmente
em ABDOUNUR (2003).
Pode-se verificar as relações entre matemática e música desde a antigüidade.
Os gregos de acordo com os registros existentes, foram os primeiros a fundamentar cientificamente
a música, considerada então como quarto ramo da matemática. Os principais nomes desta época a
realizarem esse trabalho foram Pitágoras e Filolaus, no período pré-clássico, e Arquitas, Aristoxeno e
Aristóteles, no período clássico.
Os pitagóricos iniciaram o estudo científico da música com o uso de monocórdio buscando relações
de comprimentos para intervalos sonoros.
Esse instrumento, possivelmente inventado por Pitágoras,
consistia de uma corda estendida e tensionada entre dois cavaletes apoiados em uma prancha com um
cavalete móvel colocado sob a corda para dividi-la em duas seções. O experimento de Pitágoras, séc. VI
a.c. é considerado, segundo registros, a primeira experiência científica da história com intuito de estudar um
fenômeno de forma artificial (EVES, 2002).
Pitágoras observou que as consonâncias musicais (freqüências sonoras mais agradáveis aos
ouvidos) correspondiam aos fracionamentos da corda que subjazem às razoes de pequenos números
inteiros, isto é, às razões mais simples. Para as frações (1/2), (2/3) e (3/4) obtemos os intervalos (distâncias
entre notas) de uma oitava justa acima, uma quinta justa acima e uma quarta justa acima, ou,
mais aguda
que o som original, respectivamente. Essas relações sonoras em relação a um som original foram
chamadas de consonâncias pitagóricas, também conhecidas como consonâncias perfeitas.
Os pitagóricos também estabeleceram o estudo do tetracorde, (sistema de quatro sons cujo
extremos encontravam-se a um intervalo de quarta justa) como sendo essa a escala sonora mais elementar
e unidade fundamental da música grega.
Do ponto de vista filosófico, os pitagóricos acreditavam que qualquer fenômeno natural pudesse ser
explicado por relações numéricas, isto é, matemáticas, ou simplesmente,
que o Universo como um todo
pudesse ser expresso matematicamente, ou, numericamente. Daí a afirmação que sustentava a doutrina
pitagórica, “tudo é número e harmonia”. Assim, a música, como parte integrante do universo, também
poderia ser expressa através dos números .
A harmonia musical traz como herança do pitagorismo a qualidade de propriedade numérica
relacionando números racionais para explicar as consonâncias, assim como, também herança do
pitagorismo, a antiga “média subcontrária” fora rebatizada de média harmônica por Filolaus e Arquitas
(BOYER, 1996).
Os gregos estabeleceram o intervalo
de oitava como fundamental, em função de sua consonância,
e passavam a estudar as subdivisões da oitava relacionando-as às mesmas subdivisões em outras oitavas
por classes de equivalência. Isso conduziu os estudos sonoros a um problema: ao percorrer o espectro
sonoro por ciclo de quintas justas, a seqüência de notas manifestava-se como uma espiral infinita, não
permitindo uma precessão simétrica dos intervalos de notas, em função das razões das freqüências
sonoras obtidas, o que impossibilitava a estruturação de escalas musicais simétricas, isto é, possíveis de
serem articuladas em qualquer oitava.
Surgia assim, a necessidade de um estudo matemático e físico das
relações sonoras que conduzissem a música a uma estrutura universal, pela aproximação dos intervalos
sonoros e suas razões de freqüências em qualquer oitava.