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A premissa sobre a qual iniciei meus trabalhos
se estrutura em torno do entendimento de
que, em um primeiro momento, o elo comum que possibilita ser identificada a relação
suscitada (literatura/imagem/imaginários) a partir da análise comparativa do corpus é a
temática por sobre a qual ambas as obras debruçam seus enredos: a migração na região de
confluência mexicano-estadunidense.
Isto posto, a hipótese da qual parti
é a de que ambos os autores relacionam (de forma
mais explícita em Fuentes e mais implícita em Rivera) ficção
e a inserção de dados da História
que compartilham entre si México e Estados Unidos
, com vistas a rivalizar e imbricar em um
segundo momento memória e olvido
, produto do embate entre os sujeitos das conturbadas
relações mexicano-estadunidenses.
Para tanto, fincam apelo às raízes da oralidade, buscando
representá-la na escrita. Tal oralidade estará materializada, representada nos cuentos (forma que
se “transforma” em capítulos nestes romances) que são passados de geração em geração. Assim,
seria o caráter de permanência nas histórias contadas entre as gerações e a força imagética dessas
pequenas histórias que auxiliariam na inserção dos imaginários a que estão presos os personagens
desses enredos, sujeitos fragmentados em narrativas que partem do trecho para a busca do todo.
Deste modo, a literatura, criadora também de imagens, coadunar-se-ia a imaginários já
existentes sobre as conflituosas relações entre mexicanos, chicanos e anglo-americanos e, ainda,
serviria para a perpetuação, renovação e recriação destes mesmos imaginários sociais.
Tais
cuentos, estampas e recuentos
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(formas de composição privilegiadas nos capítulos-contos
dos dois romances) evocam imagens formadoras de algo maior, uma espécie de imaginário
coletivo sobre as colisões interculturais entre mexicanos, chicanos e anglo-americanos. Mais
que isso, a partir da busca de apreensão e representação do real vivido acerca dessa situação
de embate, a literatura (nas observações levantadas da interpretação atenta dos corpora)
estabelece também seu lugar de importância na renovação dos imaginários acerca dos
conflitos de alteridade ora discutidos. Assim, observa-se que a literatura seguiria, passado
muito tempo desde o auge de seu poder de ação sobre os imaginários nacionais (operando
através de estratégias estético-estilísticas, conforme observado no estudo dos romances em
destaque), com poder para agir junto com e junto ao real sobre o qual ancora sua apreensão e
representação, agregando-se à criação de imaginários com força metonímica de “realidade”
12
.
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Por recuentos, podem ser entendidas as histórias, os cuentos que, passados de geração em geração pela
oralidade, passam também pelo viés da imaginação de seus receptores, que os recontam, recriam, reinventam,
omitindo ou acrescentando-lhes novas ocorrências, agentes que são (ou serão) de características próprias da
transmissão da tradição dos narrados orais.
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Nesse tocante, parece-me bastante propícia a observação da célebre hispanista brasileira Bella Jozef (2006,
p.166), a qual, sobre a relação possível entre real e ficção, escreveu que
“a realidade, no sentido do artista, é
sempre algo criado, embora o real empírico constitua um referente do qual o autor se serve para sua criação”.
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Direcionado pela hipótese acima delineada, meu objetivo geral é estabelecer uma
reflexão sobre as estratégias literárias levadas a cabo por Fuentes e Rivera para re(a)presentar,
agir com e atuar sobre imaginários que
a literatura ajuda a compor, atuando junto ao real
apreendido
das relações correspondentes ao entrecruzamento cultural mexicano-estadunidense. A
este objetivo geral se agregam os seguintes objetivos específicos: a) demonstrar como se
desenvolve a relação literatura, imagem e imaginários nas obras em epígrafe; b) descrever que
elementos do imaginário acerca das conflituosas relações de alteridade entre mexicanos, chicanos
e estadunidenses estão presentes em ambas as obras; c) apresentar as estratégias literárias
utilizadas por cada autor na inserção de seus posicionamentos político-pedagógicos nos romances
estudados; d) demonstrar o ponto chave a permitir a comparação entre ambas as obras. Evidenciar
que relação se estabelece entre ambos os romances e o imaginário sobre os conflitos de alteridade
entre mexicanos e estadunidenses.
A metodologia utilizada parte de pesquisa e análise bibliográfica dos dados coletados.
A pesquisa se embasa em textos literários, textos críticos sobre as temáticas levantadas e de
crítica literária e cultural. Por conseguinte, a investigação científica em questão se caracteriza
por ser uma análise qualitativa, documental e de caráter bibliográfico e comparativista. No
que toca a este aspecto comparatista da pesquisa, agregou valor à metodologia adotada minha
participação em congresso literário realizado entre as cidades que formam espaço privilegiado
nos romances estudados: El Paso (EUA) e Juárez (México). Dessa maneira, ressalto que
minhas participações nos XVII e XVIII Congreso de Literatura Mexicana Contemporánea em
The University of Texas at El Paso (EUA), em março de 2012 e 2013, respectivamente,
terminaram por proporcionar acesso quase direto a obras importantes para a referenciação
bibliográfica de meu estudo.
A partir de todo o material colhido, estabeleci um quadro teórico que entrasse em diálogo
com os argumentos desenvolvidos ao longo dos quatro capítulos que deram forma a esta tese de
doutoramento. Assim, no primeiro capítulo (talvez o mais rebuscado em função de estarem nele
os principais traços definidores da tese)
a fundamentação teórica sobre a imbricação
literariedade, imagem e imaginários contou, em linhas gerais, com os trabalhos de: formalistas
russos (1914-1927), Iser (1983), Lima (2010, 2011) e Durand (2011). No segundo, a
abordagem acerca de literatura e identidade chicanas a partir da análise textual de ...y no se lo
tragó la tierra passa, principalmente, pela argumentação de Ramos e Buenrostro (2012).
No terceiro capítulo, a partir da interpretação voltada para o romance de Fuentes,
discuto, em especial, a questão da mexicanidade suscitada pelo autor em sua representação
narrativa. Nesse aspecto, destaco o diálogo estabelecido para com as observações de Bartra
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