Elite maçÔnica e educaçÃO nA REVISTA maçonaria no estado de são paulo (1912-1932)



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Elite MAÇÔNICA E EDUCAÇÃO nA REVISTA MAÇONARIA NO ESTADO DE SÃO PAULO (1912-1932).

Ivanilson Bezerra da Silva

Faculdade Integração Tietê

Email: ivanilson.silva2010@hotmail.com


RESUMO: O objetivo da pesquisa é construir um biografia coletiva dos maçons a partir da Revista Maçonaria do Estado de São Paulo. Na revisão bibliográfica sobre o tema, observamos que embora os autores reconheçam que os maçons façam parte de uma elite, esta categoria não é tomada como principal objeto de análise. Verificamos também, que os trabalhos que tratam de investigar a maçonaria e sua proposta educacional, fazem suas análises na perspectiva da relação capital/trabalho, ideal filantrópico e republicano. Nossa proposta é avançar no sentido de apresentar os maçons como pertencentes à uma elite e como tal, utilizaram a educação como uma estratégia de distinção social. A revista publicava assuntos sobre política, educação e informações sobre figuras ligadas à elite.

Palavras-chave: Elite; maçonaria; educação; Revista Maçonaria do Estado de São Paulo.
INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo fazer uma biografia coletiva dos agentes sociais que pertenciam ao campo maçônico. Além disso, analisaremos a proposta educacional ofertada pelas lojas maçônicas. No balanço historiográfico que fizemos, não encontramos trabalhos acadêmicos com esse enfoque. Os que analisam a maçonaria entendem como um espaço de sociabilidade formada por uma elite (COLUSSI, 1998; MAGALHÃES, 2013). Tal noção aparece nos trabalhos como uma categoria genérica e secundária. Charle (2006) acentua a importância de se desenvolver trabalhos que tomem a elite como objeto. Os trabalhos que trataram de investigar a maçonaria e sua proposta educacional, quase sempre fizeram suas análises na perspectiva da relação capital/trabalho, ideal filantrópico maçônico, ideal republicano, estratégia anticlerical ou como uma forma de inserção das camadas populares no sistema educacional (BARATA, 1999, MAGALHÃES, 2013). O trabalho não somente elucida que existe da parte da maçonaria paulista uma tentativa de se solidificar enquanto grupo social privilegiado (campo de poder), mas também possibilita compreender aspectos da proposta educacional maçônica que ainda não foi discutida a partir dessa revista, ou seja, a educação enquanto estratégia de distinção social (BOURDIEU, 2007). Ao pensar os maçons enquanto elite, faz-se necessário entender que eles possuíam habitus (BOURDIEU, 2000) que os caracterizam como tal. Neste sentido, pensamos ser mais plausível, em relação as escolas, compreendê-las como espaço de distinção social, tanto aquelas criadas para os filhos dos maçons como aquelas criadas para as camadas mais populares. As primeiras seriam espaços de legitimação do habitus de elite, as segundas, um espaço de reprodução das diferenças sociais, econômicas e culturais.


METODOLOGIA
Em termos de metodologia, faremos uso de questionário biográfico (CHARLE, 2006). Tal questionário ajuda na descrição da dinâmico do grupo que será analisado. Para delimitar, nossa análise centrará a atenção nos agentes sociais que ocuparam as melhores posições no campo maçônico. O questionário que utilizaremos foi baseado e adaptado do modelo feito por Nicoloso (2013). O enfoque metodológico que recolocou as elites no centro das análises do historiadores, é o da prosopografia ou das biografias coletivas. Heinz (2006) acentua que o método utiliza um enfoque sociológico em pesquisa histórica, visando relevar características comuns (permanentes ou transitórias) de um determinado grupo em dado período histórico. Charle (2001) ressalta que o método não possui um fim em si mesmo. É uma ferramenta que permite não somente tornar mais preciso os dados, como renovar as perspectivas.
RESULTADOS PARCIAIS

Segundo Codato (2015), os indivíduos que pertencem às elites são os que estão no topo das principais hierarquias e organizações da sociedade moderna. Para ele, essas posições estratégicas podem ser do tipo econômico (controle dos meios de produção), político (controle da máquina social do estado) e militar (estão no topo da hierarquia militar). Portanto, escolhemos indivíduos que em sua trajetória maçônica alcançaram o grau 33. Utilizamos o método posicional (MILSS, 1956) a fim de analisar o perfil de 44 maçons. Em relação a posição dos agentes dentro da maçonaria, temos:

O primeiro dado que apresentamos mostra a posição que os agentes selecionados tinham no campo maçônico. Temos os seguintes dados:

Tabela 1


Posição na maçonaria

Número

Percentual

Grau 33

38

86,36%

Grau 30

3

6,82%

Sem identificação do Grau

3

6,82%

Total

44

100%

Percebe-se que a maioria dos maçons escolhidos tinha posição privilegiada, (86,36%) chegaram ao grau 33. Para obter este grau, o maçom precisava de uma considerável trajetória e permanência no campo maçônico, além de demonstrar possuir capital cultural (PACHECO JÚNIOR, 2000). A respeito do capital cultural dos maçons selecionados, temos o seguinte resultado:



Tabela 2 - Escolaridade

Escolaridade

Número

Percentual

Curso Superior

34

77,27

Não identificado

10

22,73

Total

44

100%

Percebemos que a escolaridade é um fator de homogeneidade da elite maçônica. Dos 44 agentes sociais pertencentes a maçonaria, 34 deles, ou seja, 77,27% têm curso superior. A maçonaria como um espaço social de poder é ocupada nesse período por pessoas com alto capital cultural. O estudo de Carvalho (2003) já acentuava essa homogeneidade da elite imperial. Para o autor, a educação superior era um elemento poderoso de unificação ideológica da elite no período imperial e pelo que observamos também da elite maçônica no período republicano. Para ele, quase toda a elite possuía estudos superiores, o que acontecia com pouca gente fora dela. A educação era a marca distintiva da elite em relação a população, que em 1920 representava 76% de analfabetos (CARVALHO, 2003).



Tabela 3 – Principais Cursos

Curso Superior

Número

Percentual

Direito

24

54,54

Medicina

2

4,54

Engenharia

2

4,54

Farmácia

1

2,27

Militar

5

11,36

Não identificado

10

25,00

Total

44

100

Entre os 44 maçons analisados, 54,54% são formados na Faculdade de Direito, 4,45% em Faculdade de Medicina, desse um é formando nos Estados Unidos, é o caso de Horace Manley Lane (SILVA, 2015). Temos também o caso de Antonio Francisco de Paula Souza que estudou na Escola Politécnica de Zurique e foi um dos fundadores da Escola Politécnica de São Paulo. Os militares representam uma parcela pequena diante da hegemonia dos bacharéis de direito, apenas 11,36%. Observa-se que há predominância de bacharéis em direito e militares na constituição do perfil da elite maçônica e na lógica que rege esse campo, característica muito parecida com a elite maçônica do Paraná (VALENCIANO, 2016) e com a elite maçônica francesa (BEAUREPAIRE, 2002), porém diferente da análise feita por Santos1 (2011) sobre os maçons do Pará entre os anos de 1872-1892. Neste sentido, o bacharelado em direito não é uma questão de homogeneidade se considerarmos a maçonaria como um todo, em diferentes regiões e em períodos diferentes. Porém em nosso caso, sim. Pelo menos nos agentes sociais que chegaram ao topo da hierarquia maçônica conforme a revista a Maçonaria no Estado de São Paulo. Muitos dos agentes selecionados atuaram na cidade de São Paulo, onde a Faculdade de Direito estava localizada.

Vemos a influência dessa Instituição na própria capa da revista, que além de trazer símbolos ligados à maçonaria, coloca ao lado direito na parte superior, o prédio da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Para os redatores a maçonaria através dos seus símbolos e a Faculdade de Direito representavam espaços de poder e conhecimento, ocupadas por pessoas letradas, seletas, ilustradas.
Tabela 4 – Atuação


Atuação

Número

Percentual

Advogado/Promotor

24

54,54

Médico

2

4,54

Militar

5

11,36

Professor

5

11,36

Diretor Escola

3

6,81

Engenheiro

2

4,56

Funcionário Público

1

2,27

Empresário

2

4,56

Total

44

100%

Em relação a vida profissional da elite maçônica, há predominância do campo jurídico, 54,54% atuaram como advogado, promotor, juiz. Os dados obtidos são bem próximos aos percentuais dos estudos sobre elite paulista feito por Joseph Love e as elites do Rio Grande do Sul realizado por Amaral (2005). Dos que estavam exclusivamente envolvidos com a educação, seja como professor e/ou diretor, temos 18,17%. Se considerarmos, os demais que além de suas profissões também atuaram como professor, o percentual chega a 27,27%. Além das profissões supracitadas, dos 44 agentes sociais, 12 também atuaram como jornalistas (27,27%). Podemos citar dois exemplos: Ubaldino do Amaral, que estava envolvido com a imprensa sorocabana na segunda metade do século XIX, defendendo propostas “modernizadoras” do espaço urbano (SILVA, 2010) e Rangel Pestana, intelectual e político ligado à imprensa paulista (HILSDORF, 1986).



Tabela 5 - Cargo maçônico

Cargo

Número

Percentual

Grão Mestre do Brasil

6

13,63

Grão Mestre do Brasil Adjunto

2

4,54

Grão Mestre Estadual

10

22,72

Grão Mestre Estadual Adjunto

6

13,63

Veneráveis de Lojas

10

22,72

Não identificado

10

22,76

Total

44




Dos maçons escolhidos 77,24% alcançaram cargos importantes dentro da maçonaria. No cenário nacional, 13,63% chegaram a instância máxima do poder maçônico, o Grande Oriente do Brasil. No âmbito estadual, 22,72% exerceram o cargo de Grão Mestre do Estado de São Paulo e 22,72% foram veneráveis de lojas maçônicas. Sem contar, que muitos que chegaram ao grão mestrado também foram veneráveis em suas lojas. Pelo que podemos perceber, tais agentes além de alcançarem posições dominantes no campo maçônico, também obtiveram projeção no campo político, vejamos:




Tabela 6 - Cargo político

Nome

Presidente Brasil

Presidente

Do Estado



Prefeito

Senador

Deputado

Vereador

Bernardino José de Campos Jr




X




X







Manuel Ferras de Campos Salles

X

X




X

X




Washington Luiz Pereira de Souza

X

X

X

X

X

X

Carlos de Campos




X




X

X




Júlio Prestes de Albuquerque




X







X




José Luiz Flaquer










X

X




Ernesto Goulart Penteado
















X

Antonio Francisco de Paula Souza













X




Luiz Pereira de Campos Vergueiro










X

X




José Adriano Marrey Júnior










X

X

X

Pedro Augusto Gomes Cardim













X

X

José Vasconcellos Almeida Prado










X

X




Lauro Sodré










X

X




Nilo Peçanha

X







X

X




Pedro de Toledo













X




Acácio Piedade













X

X

Hermes Rodrigues Fonseca

X







X







Octávio Kelly













X

X

Bertho Condé













X

X

Carlos Reis
















X

Martin Francisco de Andrada Jr










X

X




Cândido Nogueira Mota










X

X

X

Ubaldino do Amaral







X

X




X

Rangel Pestana







X

X







José Severiano da Fonseca Hermes










X







Luiz de Toledo Piza e Almeida







X

X






Dos 44 analisados, 26 exerceram cargos políticos, ou seja, 59,09%. Além disso, percebemos que alguns agentes sociais do campo maçônico tiveram uma trajetória política longa e ocuparam vários cargos: 9,90% chegaram à presidente da república; 38,63% senadores; 40,90% deputados, 22% vereadores, 9% prefeito e 11,36% presidente do Estado. Pelo menos nesse período, os dados comprovam a influência que a maçonaria brasileira exerceu no campo político brasileiro (MOREL, 2008). Apenas Carlos Reis e Ernesto Goulart Penteado exerceram a função de vereador e Antonio Francisco de Paula Souza exerceu o cargo de deputado. Os demais ocuparam vários cargos no campo político. Washington Luiz Pereira de Souza foi o que ocupou vários cargos: vereador, deputado, senador, prefeito, presidente do Estado e presidente do Brasil.

Outro fator de homogeneidade da elite maçônica está relacionado ao fato de que muitos dos deputados paulistas exerceram mandatos no mesmo período e por várias legislaturas, vejamos: na segunda legislatura (1892-1894) temos a presença de Fernando Prestes de Albuquerque e Luiz de Toledo Piza e Almeida. Na terceira (1895-1896), temos: Carlos de Campos, Fernando Prestes de Albuquerque, Luiz de Toledo Piza e Almeida, Pedro de Toledo. Na quarta legislatura (1898-1900), temos: Cândido Mota, Luiz de Toledo Piza e Almeida, Antonio Francisco de Paula Souza. Na quinta legislatura (1901-1903), temos: Cândido Mota e Carlos de Campos. Na sexta legislatura (1904-1906), temos: José Luiz Flaquer, Carlos de Campos, Washington Luiz Pereira de Souza. Na sétima legislatura (1907-1909): Carlos de Campos de Campos, José Luiz Flaquer, Cândido Mota, José de Vasconcellos Almeida Prado Júnior, Júlio Prestes Albuquerque. Na oitava legislatura (1910-1912): Carlos de Campos, José Luiz Flaquer, Luiz Pereira de Campos Vergueiro, Júlio Prestes Albuquerque, Pedro de Toledo, Acácio Piedade, José de Vasconcellos Almeida Prado Júnior, Washington Luiz Pereira. Na nona legislatura (1913-1915), temos: Carlos de Campos, Washington Luiz Pereira de Souza, Júlio Prestes de Albuquerque, Luiz Pereira de Campos Vergueiro, Acácio Piedade, José de Vasconcellos de Almeida Prado Júnior. Na décima (1916-1918): Júlio Prestes, Luiz Pereira de Campos Vergueiro, José de Vasconcelos Almeida Prado Júnior. Na décima primeira (1919-1921): José Adriano Marrey Júnior, Júlio Prestes de Albuquerque, Luiz Pereira de Campos Vergueiro, José Vasconcellos de Almeida Prado Júnior. Na décima segunda legislatura (1922/1924): José Adriano Marrey Júnior, Júlio Prestes, Luiz Pereira de Campos Vergueiro, José Vasconcellos de Almeida Prado e na décima terceira legislatura (1925-1927), temos: José Adriano Marrey Júnior, Júlio Prestes, Luiz Pereira de Campos Vergueiro, José Vasconcellos de Almeida Prado2. Isto significa que a elite maçônica fortalecia sua rede de sociabilidade tanto no campo maçônico como no campo político. Tal estratégia possibilitava ocupar posições privilegiadas na sociedade e fortalecia a hegemonia dos maçons nos dois campos.

Além disso, o trabalho de Perissinotto e Costa (2015) enfatiza que entre os anos de 1918-1937 houve uma acentuada profissionalização política da carreira dos Senadores brasileiros. Tendência pontuada anteriormente por Adorno (1988) em seu estudo sobre os aprendizes do poder. Em especial, quando discute a profissionalização da política e o bacharelismo liberal. Os dados levantados mostram a mesma tendência em relação à carreira dos deputados maçons.

O processo de profissionalização política nesse período dependia mais dos recursos organizacionais do que da mobilização de recursos pessoais, ou seja, a profissionalização política tende a ser maior, quando um dado sistema político conta com a presença de partidos fortes capazes de organizar o processo político (PERISSINOTTO e COSTA, 2015). Este é o caso do Partido Republicano Paulista, partido que os deputados supracitados faziam parte. Isto também nos ajuda a pensar que tal processo de profissionalização excluía a concorrência daqueles que tentavam acesso ao campo político através de recursos pessoais. Além disso, percebemos que a maçonaria, embora afirmando-se apolítica, organizou-se de forma estratégica para projetar seus agentes no campo político. Como veremos abaixo, 69,23% dos agentes sociais ingressaram primeiramente no campo maçônico e depois no campo político. Neste sentido, percebemos que a maçonaria foi utilizada como estratégia de reconversão da elite maçônica para entrada e projeção no campo político.

Dos 26 maçons políticos, 15 foram iniciados na maçonaria antes de ingressarem no campo político. Isso representa 57,70%, percentual bastante considerável e que nos ajuda a entender que a elite estudada, pelo menos nesse período, utilizou a maçonaria para ingressar no campo político. Dos 26 políticos, 21 se formaram na Faculdade de Direito, ou seja, 80,76% dos maçons. Os dados nos ajudam a entender as estratégias de reconversão da elite maçônica para ocupar outros campos sociais. Canêdo (2002) acentua que o bacharelado em Direito é a formação que prevalece na formação dos políticos brasileiros tanto no período da República Velha como em período posterior (1945-1964). Para a autora, a formação acadêmica dos políticos paulistas e mineiros foi uma estratégia utilizada claramente pelas famílias como um espaço de controle de sua reprodução, como espaço de mobilização de capitais, de aprofundamento dos laços de solidariedade e contribuiu para a homogeneidade profissional e cultural dos políticos brasileiros. Segundo a autora, a aprendizagem, se não do talento oratório, mas do hábito de falar em público, ajuda a explicar essa procura pelo curso, além, evidentemente, dos conhecimentos jurídicos. Ela afirma que o domínio da técnica jurídica é fundamental para um político, considerando que todo ato político se traduz por um texto legislativo, além da defesa no Parlamento ser parecido com a de um tribunal.

Dos 26 políticos, 12 chegaram as instâncias de poder da maçonaria após o ingresso no campo político, ou seja, 46,15%. Apenas 1, no caso Carlos de Campos, filho Bernardino José de Campos Jr, foi Grão Mestre Adjunto (Estadual) antes de ser político. Os dados mostram que os maçons preteridos para os cargos de grão mestre do Brasil e/ou estadual eram aqueles que tinham maior projeção na sociedade. Talvez tal posicionamento desse maior visibilidade e legitimação ao grupo e a maçonaria. Além disso, pode significar também que aqueles que durante a trajetória de vida tiveram maior posse de capital cultura e social dominaram os espaços privilegiados do campo maçônico.

Dos 44 analisados, 9 exerceram cargos burocráticos atrelados ao campo político (20,43%) e 59,09% foram políticos nas mais variadas instâncias de poder. Este percentual mostra que os agentes sociais do campo maçônico foram pessoas altamente ligadas ao campo político e burocrático, ou seja, dominaram outros espaços sociais de poder, além da maçonaria. Vale ressaltar a figura do professor Ramom Roca Dordal, que atuou como inspetor da instrução pública, foi um dos redatores e presidente da Revista de Ensino da Associação Beneficente de São Paulo (CATANI, 2003). Como inspetor da instrução pública, provavelmente tenha contribuído com as iniciativas educacionais da Loja Sete de Setembro.


CONSIDERAÇÕES PARCIAIS

Os primeiros resultados mostram que de fato os maçons fazem parte de uma elite. Pelo que observamos, para fazer parte dessa elite era necessário possuir um elevado capital cultural. No campo maçônico percebe-se que os agentes que ocupam os lugares mais privilegiados são aqueles que têm graus mais elevados na maçonaria. Estes também tiveram projeção social e política. Observamos também que a elite maçônica é formada pela maioria de agentes sociais formados na Faculdade de Direito. Isto parece ser uma tendência de homogeneidade do grupo analisado. A questão política também parece ser outro elemento que fortalece a homogeneidade do grupo. Como se trata, de resultados parciais, ainda falta aprofundar os dados tabulados e investigar a questão das escolas organizadas pelas lojas maçônicas. As escolas já foram selecionadas. São elas: Grupo Escolar Sete de Setembro (A MAÇONARIA NO ESTADO DE SÃO PAULO, SETEMBRO DE 1919, p. 154), Instituto Independência (A MAÇONARIA DO ESTADO DE SÃO PAULO, AGOSTO DE 1925, p 119), Instituto Paulista Ciência e Educação (A MAÇONARIA DO ESTADO DE SÃO PAULO, SETEMBRO DE 1925, p 121-122), Ginásio Anglo Latino (A MAÇONARIA NO ESTADO DE SÃO PAULO, OUTUBRO DE 1924, p. 127-129), atualmente Colégio Anglo; Escola Luiz Gama (A MAÇONARIA NO ESTADO DE SÃO PAULO, JANEIRO DE 1929, p. 13).

Os trabalhos atuais mostram que as escolas criadas pela maçonaria estavam centradas na problemática capital/trabalho, ideal republicano e visão filantrópica dessa instituição (MORAES, 1990; BARATA, 1999; MAGALHÃES, 2013). Numa perspectiva diferente, pretendemos prosseguir com a pesquisa, analisando a proposta educacional maçônica como estratégia de distinção e reprodução social. Para tanto, analisaremos os discursos dos agentes sociais ligados ao campo maçônico que se encontram na revista A Maçonaria no Estado de São Paulo para compreender as representações sociais acerca da educação e as escolar organizadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ADORNO, Sergio. Os aprendizes do poder. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1988.

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BEAUREPAIRE, Pierre-Yves, Nobles Jeux de l´Arc et Loges Maçonniques dans la France de Lumières. Editions Ivoire-Clare, Paris, 2002.

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CANÊDO, Leticia Bicalho. Héritage en politique, ou comment acquérir les dispositions et compétences nécessaires aux fonctions de représentation politique (1945-1964). Cahiers du Brésil Contemporain, CRBC/EHESS, Paris, v. 47/48, p. 71-119, 2002.

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CODATO, Adriano. Metodologias para a identificação de elites: Três exemplos clássicos. In.: Como estudar elites. Editora: UFRP, 2015

COLUSSI, Elaine Lucia. Plantando Ramos de Acácia: a Maçonaria Gaúcha na segunda metade do século XIX. Tese de doutorado. PUC, 1999.

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CHARLE, Christophe. Prosopography (Collective Biography) In: International Encyclopedia of the Social and Behavioral Sciences, Oxford, Elsevier Science Ltd, 2001, vol. 18, p. 12236-12241.

GIUSTI, Antonio. A Maçonaria no Estado de São Paulo. Revista Maçônica ilustrada e propaganda. 1912-1932.


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HILSDORF, M. L. S. Francisco Rangel Pestana: jornalista, político, educador. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1986.

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MAGALHÃES, Fernando da Silva. Maçonaria e educação (1889-1930): contribuições para o ideário republicano. Universidade do Rio de Janeiro, 2013
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NICOLOSO, Fabrício Rigo. Fazer-se elite em Santa Maria – RS: Os imigrantes alemães entre estratégias políticas e sociais – 1830/1931. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Maria, 2013.

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1 O referido autor faz uma crítica aos trabalhos de Moraes (1990) e Silva (2007), dizendo que tais autores atribuem um poder demasiado ao maçons. Moraes e Silva fizeram estudos bem regionais. Moraes sustentado através do seu aporte teórico que a maçonaria no período republicano atuou como um verdadeiro partido político, no sentido gramsciano e Silva mostrando os espaços sociais que os maçons sorocabanos ocuparam em suas estratégias de dominação: jornais, gabinete de leitura, câmara municipal, hospital, clube republicano foram alguns desses espaços dominados, de relações de poder e circulação de ideias republicanas e modernizadoras. Portanto, não se trata de ver poder em todo e qualquer lugar, embora o aporte teórico de Silva (2007 e 2010) ofereça condições suficientes para entender os espaços de ocupação, dominação e poder. Por isso, não dá para compreender a maçonaria brasileira de forma homogeneizada, única, mas as maçonarias. Neste sentido, podemos dizer que há diferenças regionais e até mesmo de uma loja para outra, inclusive no perfil dos seus membros e na forma de atuação política, social. Em nosso entendimento, um estudo não pode desqualificar os demais se não levar em consideração os espaços sociais, os aportes teóricos e a especificidade regional do grupo analisado.

2 Outros maçons faziam parte do campo político. Na décima primeira e décima segunda aparece também o nome de Rui Paula Souza e na décima terceira o de Spencer Vampré. Este professor da Faculdade de Direito, iniciado na Loja Sete de Setembro em 1920 (JULHO, 1920, p. 83). Rui Paula Souza também era maçom (A MAÇONARIA NO CENTENÁRIO, 1922, p. 83) e diretor da escola Caetano de Campos. Outros maçons também aparecem como deputados, é o caso, por exemplo de Armando Prado (A MAÇONARIA NO CENTENÁRIO, 1922, P. 71).

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