Jobson da silva santana



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FACULDADE DA CIDADE DO SALVADOR

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO

Análise do Discurso sobre o Movimento dos Sem Terra nos jornais A Tarde online e O Globo online

Volume “1”
JOBSON DA SILVA SANTANA

E

VALDECK ALMEIDA DE JESUS

SALVADOR
2010
FACULDADE DA CIDADE DO SALVADOR

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO


Análise do Discurso sobre o Movimento dos Sem Terra nos jornais A Tarde online e O Globo online
JOBSON DA SILVA SANTANA

E

VALDECK ALMEIDA DE JESUS

Monografia apresentada à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso do Curso de Comunicação Social, da Faculdade da Cidade do Salvador, para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social.



SALVADOR
2010

TERMO DE APROVAÇÃO


JOBSON DA SILVA SANTANA

E

VALDECK ALMEIDA DE JESUS

Análise do Discurso sobre o Movimento dos Sem Terra nos jornais A Tarde online e O Globo online
Monografia apresentada à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso do curso de Comunicação Social da Faculdade da Cidade do Salvador, com Linha de Pesquisa documental, para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social.

APROVADO EM 01.12.2010 NOTA: 10,0 (DEZ)




BANCA EXAMINADORA
___________________________________________

Profª Antoniela Davanier

Mestre em Comunicação e Semiótica

Pontifica Universidade Católica – PUC/SP

___________________________________________

Profª Doris Pinheiro

Especialista em Roteiro para TV e Rádio

Faculdade da Cidade do Salvador

__________________________________________

Profª Nadya Argolo

Especialista em Comunicação para o Mercado

Universidade Salvador - UNIFACS



AGRADECIMENTOS (Jobson):
À minha mãe, em especial.

A meu irmão Jobert.

À minha namorada Detian Machado de Almeida e família pelo carinho, dedicação e incentivo.

Aos meus colegas e amigos da graduação, pelos debates sempre elevados durante quatro anos de jornada.

A meu amigo e “pai” Jorge Alves Ferrari, que sempre me motivou nas horas mais difíceis.
AGRADECIMENTOS (Valdeck):
Aos meus pais João Alexandre de Jesus e Paula Almeida de Jesus, in memoriam.

Ao meu filho Valdeck Almeida de Jesus Junior.

Aos meus irmãos Valmir, Valquíria, Valdecy, Valdir, Vitório, Vivaldo e Ivonete Almeida de Jesus.

Aos amigos Jobson Santana, Lucymar Soares, José Moreira e demais colegas do curso de jornalismo.

Aos professores e colegas da Faculdade Social, onde iniciei o curso de jornalismo.
AGRADECIMENTOS (Jobson e Valdeck):

Primeiramente a Deus, por existir na nossa vida e nos guiar nas horas mais difíceis.

À nossa família que sempre esteve ao nosso lado.

À nossa orientadora Antoniella Davenier.

À nossa co-orientadora, Doris Pinheiro

Aos amigos presentes em nossa trajetória de vida e de sucesso.

Aos estimados funcionários e amigos da Faculdade da Cidade do Salvador, pela atenção e dedicação.

Aos professores, pelos momentos de aprendizado.

Às professoras Dóris Pinheiro e Andrea Sousa, que nos ajudaram no aperfeiçoamento desse trabalho.

À nossa co-orientadora, amiga e Jornalista Rosane Caribé pelo amor e dedicação.



Terra de ninguém
Dê-me agora a parte que me toca

Desta terra fértil que te alimentas

Poucas mesas fartas e mil bocas sedentas

Pela angústia e injustiça que nos batem à porta.


As veias me saltam do braço dolorido

Que cultiva, ara e colhe teu sustento

Mas ao final do dia recebo em pagamento

Humilhação como a açoitar este lombo já sofrido.


Aquilo que Adão não lhe deixou em testamento

Tu tomas e usufrui como patrimônio seu

Mas se esta dádiva Deus nenhum lhe deu

Tu és um ladrão disfarçado e nojento.


A comida que te sobra e falta em minha mesa

Do chão que roubaste ela brota e aflora

É colhida por aqueles que tu vilmente explora

E que ainda tu condenas a morrer na pobreza.


A lágrima da criança de que falta o pão

Dos seus olhos vermelhos neste solo derrama

E o trabalho relegado à condição desumana

Avilta o homem, como um pai sem razão...


Em desespero não foge a mãe aos prantos

Ante à tristeza da fome que lhe ronda a vida

Reproduzindo à história uma prole desnutrida

Cujos frutos lhe foram tirados aos tantos


A tristeza do homem sem terra e sem vez

É o inverso da opulência do grileiro astuto

Que comemora a riqueza com um imenso charuto

Pois sobre os braços de outros sua fortuna se fez.

(Grigório Rocha)

“Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes”

(Paulo Freire)

RESUMO
O processo midiático é a construção de um olhar específico sobre os acontecimentos, em que o campo jornalístico, a despeito de sua autonomia e legitimidade, sofre interferência inconsciente do jornalista, das condições de trabalho e acesso às informações, da linha editorial e da ideologia.
Com base nessa ótica, esta monografia realizou um estudo comparativo entre textos produzidos de janeiro a dezembro 2007 nas edições on-line dos jornais “A Tarde” e “O Globo”, efetuando-se a análise do discurso das reportagens publicadas nesses dois jornais, sobre o Movimento dos Sem Terra (MST).


Palavras-Chave: fontes jornalísticas; jornalismo; teorias; linha editorial e critérios de notícia MST.
ABSTRACT
The media process is the construction of a specific eye on developments in the field of journalism, despite their autonomy and legitimacy, the unconscious is influenced by the journalist, working conditions and access to information, the editorial policy and ideology.
Based on this perspective, this monograph has carried out a comparative study of texts produced from January to December 2007 in the online editions of the newspaper "A Tarde" online and "O Globo" online, making up the discourse analysis of articles published in both newspapers, about Movimento dos Sem Terra (MST).
Keywords: news sources, journalism, theories, criteria and editorial news MST.

SUMÁRIO

1
INTRODUÇÃO......................................................................................

9

1.2 Análise o Discurso e o MST............................................................



10

1.3 Condições de Produção: a situação do MST em 2007...................



12

1.4 Ideologia e sujeito na questão do MST...........................................



15

1.5 O sujeito e sua forma histórica: os antecedentes históricos do MST......................................................................................................



17

2
OS JORNAIS A TARDE E O GLOBO: DIFERENTES CONTEXTOS

19

2.1 A linha editorial do “A Tarde”..........................................................



19

2.2 A linha editorial do “O Globo”.........................................................



21

2.3 Web Jornalismo e os temas jornalísticos do “A Tarde” online e do “O Globo” online...................................................................................


25

3
ANÁLISES DAS REPORTAGENS DO A TARDE ONLINE DE 26.06.2007 A 27.12.2007.....................................................................
30

3.1 Trabalhadores rurais ocupam fazenda na região do São Francisco..............................................................................................


30

3.2 Sem terra ocupam fazenda para protestar contra transposição....



31

3.3 Manifestantes fecham canal de acesso para transposição...........



32

3.4 Índios dançam o Toré em prol do São Francisco..........................



34

3.5 Transposição: Bispo da Barra diz que agora é o confronto...........



35

3.6 Governo consegue reintegração....................................................



36

3.7 Trabalhadores ocupam sede do INCRA........................................



37

3.8 Rebeldia necessária é possível.....................................................



38

3.9 Conflito entre indígenas e MST se agrava em Terra Nova............



39

3.10 Tensão entre MST e índios pataxós no sul da Bahia..................



40

4
ANÁLISES DAS REPORTAGENS DO O GLOBO ONLINE DE 02.01.2007 A 26.02.2007.....................................................................
42

4.1 Campos assume prometendo contas abertas................................



42

4.2 Agora, falta o homem trabalhar......................................................



44

4.3 Serviço Público...............................................................................



45

4.4 MST reduziu número de invasões de terras durante a campanha eleitoral.................................................................................................


46

4.5 MST invadiu mais no governo Lula................................................



47

4.6 Governo Lula não cumpre meta de assentamento no primeiro mandato..............................................................................................


48

4.7 MST e CUT se unem e invadem doze fazendas num só dia em SP........................................................................................................


48

4.8 CUT apóia invasões do MST em São Paulo: Entidade diz que pode oferecer infra-estrutura material aos sem-terra e preocupa ruralistas...............................................................................................



49

4.9 MST e CUT invadem mais uma fazenda no interior de São Paulo



50

4.10 MST e CUT decidem dar trégua em invasões no interior de São Paulo....................................................................................................


51

5
ANÁLISE COMPARATIVA DO MOVIMENTO DOS SEM TERRA NOS JORNAIS A TARDE E O GLOBO..............................................
53

6
CONCLUSÃO.......................................................................................

57

REFERÊNCIAS....................................................................................

63

ANEXOS..............................................................................................

75

1 – INTRODUÇÃO
A monografia “Análise do Discurso sobre o Movimento dos Sem Terra nos jornais A Tarde online e O Globo online”, investigou e analisou o discurso dos jornais “A Tarde” online e “O Globo” online, na cobertura sobre o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), no ano de 2007, tanto a cobertura local, no caso do jornal “A Tarde”, quanto nacional, no caso do jornal “O Globo”.

A proposta surgiu com base no período inicial da gestão do presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, quando ocorreram muitas publicações na mídia sobre o movimento.

Ao avaliar os jornais escolhidos, constatou-se que o discurso sobre o MST não é neutro nem imparcial e determina, em grande parte, a forma e o conteúdo daquilo que se diz (e do que não se diz) a respeito do assunto, como se observa:
As notícias chegam a ser a causa direta de nossas ações, pois com a sua influência psicológica, põe em marcha o mecanismo da conduta individual e representam a fome secreta de onde brota a cultura humana, em suas múltiplas facetas. (DOUGALL apud ERBOLATO, 2008: p. 49).
Analisou-se 10 matérias do jornal A Tarde: “Trabalhadores rurais ocupam a fazenda na região do São Francisco” (26/06/2007); “Sem terra ocupam fazenda para protestar contra transposição” (27/06/2007); “Manifestantes fecham canal de acesso para transposição” (28/06/2007); “Índios dançam o Toré em prol do São Francisco” (29/06/2007); “Transposição: Bispo da Barra diz que agora é o confronto” (29/06/2007); “Governo consegue reintegração” (29/06/2007); “Trabalhadores ocupam INCRA” (12/12/2007); “Rebeldia necessária é possível” (15/12/2007); “Conflito entre indígenas e MST se agrava em Terra Nova” (27/12/2007); “Tensão entre MST e índios Pataxós no sul da Bahia” (27/12/2007).

Analisou-se também 10 matérias do jornal O Globo: “Campos assume prometendo contas abertas” (02/01/2007); “Agora, falta o homem trabalhar” (03/01/2007); “Serviço Público” (04/01/2007); “MST reduziu número de invasões de terras durante a campanha eleitoral” (06/01/2007); “MST invadiu mais no governo Lula” (09/01/2007); “Governo Lula não cumpre meta de assentamentos no primeiro mandato” (31/01/2007); “MST e CUT se unem e invadem doze fazendas num só dia em SP” (19/02/2007); “CUT apóia invasões do MST em São Paulo” (22/02/2007); “MST e CUT invadem mais uma fazenda no interior de São Paulo” (25/02/2007); “MST e CUT decidem dar trégua em invasões no interior de São Paulo” (26/02/2007);

Realizaram-se análises comparativas entre as abordagens das manifestações do MST pelos jornais selecionados. A unidade de análise deste trabalho são os textos, pois “é na superfície dos textos que podem ser encontradas as pistas ou marcas deixadas pelos processos sociais de produção de sentidos que o analista vai interpretar” (PINTO, 1999: p. 22).

Assim, o trabalho buscou analisar e comparar o discurso empregado na abordagem do tema proposto, com base nos estudos de Eni Orlandi.


1.2 – Análise do Discurso e o MST

A análise do discurso, segundo Orlandi (2009: p. 9) é “um campo de conhecimentos ou de questões sobre a linguagem”. Ela afirma que não podemos estar sujeitos à linguagem, a seus equívocos, à sua opacidade. Diz, ainda, a autora, que “não há neutralidade nem mesmo no uso mais aparentemente cotidiano dos signos. A entrada no simbólico é irremediável e permanente: estamos comprometidos com os sentidos e o político”. Na reportagem “MST e CUT se unem e invadem doze fazendas num só dia em SP”, a intenção política e ideológica é percebida pela construção do título, associando dois grandes aliados do governo Lula (MST e CUT) com invasão de fazendas, deixando claro, ainda, a quantidade de invasões, doze, em apenas um dia. A frase que abre o texto, “Rainha afirma que ‘carnaval de ocupação’ vai continuar até quarta-feira”, carnavaliza o trabalho político e histórico do Movimento dos Sem Terra. A interpretação dos sentidos, nesse texto, não pode se basear apenas nas palavras e sim nas entrelinhas, no que se pode “ler” onde não está escrito, sem se deixar levar apenas pela linguagem:


Não temos como não interpretar. Isso, que é contribuição da análise do discurso, nos coloca em estado de reflexão e, sem cairmos na ilusão de sermos conscientes de tudo, permite-nos ao menos sermos capazes de uma relação menos ingênua com a linguagem. (ORLANDI, 2009: pág. 9).
Do depoimento de José Rainha, do MST, nesta matéria, se percebe que o uso da palavra “carnaval” é devido ao período carnavalesco, durante o qual “A burguesia vai para a praia e nós ocupamos suas terras”. Usar a palavra “carnaval”, da forma como foi usada no subtítulo da reportagem descaracteriza, descontextualiza e dá outro sentido ao que foi dito por Rainha.

No caso do presente TCC, os pesquisadores buscam nas edições online dos jornais A Tarde e O Globo, as memórias da ideologia, justamente na base do que afirma Orlandi:

Com as novas tecnologias de linguagem, à memória carnal das línguas “naturais” juntam-se as várias modalidades da memória metálica, dos multi-meios, a informática, a automação. Apagam-se os efeitos da história, da ideologia, mas nem por isso elas estão menos presentes. (ORLANDI, 2009: p. 10).

A interpretação que se faz aqui, considera as palavras em um contexto, pois, para Orlandi (2009), o sentido não se concentra na linguagem com o seu sistema de signos e significados, apesar de fazer parte dessa ciência. A AD não trata da língua nem da gramática, embora lhe interessem. Ela trata do discurso em si, construído na prática social: “a palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso, observa-se o homem falando” (ORLANDI, 2009, p. 15). E o homem falando é o mesmo que a língua fazendo sentido, construindo o homem e sua história, faz parte do trabalho social, de acordo com Orlandi. E este foi o olhar que orientou os pesquisadores desta monografia, nas reportagens publicadas nos jornais A Tarde e O Globo, sobre o Movimento dos Sem Terra.

Assim, a língua atua como mediadora entre o sujeito (no caso presente, o MST) e a realidade natural e social, para Orlandi. A autora afirma, ainda, que, “essa mediação, que é o discurso, torna possível tanto a permanência e a continuidade quanto o deslocamento e a transformação do homem e da realidade em que ele vive”. Desse modo, “a linguagem é linguagem porque faz sentido. E a linguagem só faz sentido porque se inscreve na história” (ORLANDI, 2009, p. 16). O sentido, no entanto, não é definido como algo em si, para Orlandi. Para Orlandi sentido tem questão fundamental para a Análise do Discurso “e se constitui no espaço em que a Linguística tem a ver com a Filosofia e com as Ciências Sociais” (ORLANDI, pág. 25). Nesse passo, o sentido da linguagem tem importância fundamental na análise do discurso, pois este sentido, de acordo com Orlandi, se inscreve na história.

A análise dos textos aqui realizada leva em conta a história do MST e o contexto social em que ele se inscreve. Nas reportagens analisadas de A Tarde e O Globo, entretanto, os jornalistas não fazem qualquer contextualização, debate dos problemas sociais motivadores das ocupações de terra, tampouco levam em conta as relações do momento político com as lutas do Movimento dos Sem Terras. Na matéria “Trabalhadores ocupam INCRA” (A TARDE, 12.12.2007), por exemplo, o jornalista relaciona quantidades de famílias que ocupam terras, a falta de vistoria por conta de greve dos funcionários do INCRA, pautas de reivindicações dos trabalhadores, mas, em momento algum, cita a história de vida dos ocupantes do prédio público, não faz nenhuma relação entre a ocupação e a política agrária do estado da Bahia.

Nessa direção é que caminha a pesquisa do presente TCC, procurando, nas entrelinhas dos textos publicados nos jornais analisados, a falta de citação do trilhar histórico do MST, a fim de conseguir enxergar os traços ideológicos dos textos. A interpretação dos textos é feita com base no que prescreve Orlandi:
A AD não estaciona na interpretação, trabalha seus limites, seus mecanismos, como parte dos processos de significação. Também não procura um sentido verdadeiro através de uma “chave” de interpretação. Não há esta chave, há método, há construção de um dispositivo teórico. Não há uma verdade oculta atrás do texto”. (ORLANDI, 2009, pág. 26). E acrescenta que não basta saber português. É necessário pensar o “co-texto (as outras frases do texto), e o contexto imediato. (ORLANDI, p. 26).

1.3 - Condições de Produção: a situação do MST em 2007

O ano de 2007 é emblemático não só para os movimentos sociais, mas, e principalmente, para o Movimento dos Sem Terra, por causa da posse do presidente Luís Inácio Lula da Silva, para o segundo mandato.

Sabe-se que este foi a primeira vez que um presidente nordestino e de origem social popular foi alçado ao cargo maior da Nação. É nesse contexto que se insere a pesquisa para a monografia aqui presente, em busca do que dizem dois grandes jornais, um de alcance estadual e outro de alcance nacional.

A relação aqui estabelecida é sobre o que é dito nos jornais sobre o Movimento dos Sem Terra e a história do MST, que, segundo o site oficial do movimento, se espalha ao longo de 23 estados brasileiros e que, desde sua fundação, mais de 150 mil famílias já conseguiram conquistar terras.

Este contexto sócio-histórico e a memória, importantes partes do interdiscurso (Orlandi, 2009), não são observados, citados ou questionados nas reportagens dos jornais analisados. Esta memória, no entanto, é a base da pesquisa realizada no A Tarde e no O Globo, a fim de perceber a ideologia dos dois veículos de comunicação. E é através desta busca que os pesquisadores procuram nas entrelinhas, o não-dito e o “já dito” que se constitui no contexto amplo, aí compreendidos momento político, linha editorial etc, que eiva de sentidos os textos produzidos pelos jornalistas destacados para cobrir o Movimento dos Sem Terra. O contexto amplo, parte do interdiscurso, “permite remeter o dizer (…) a uma filiação de dizeres, a uma memória, e a identificá-lo em sua historicidade, em sua significância, mostrando seus compromissos políticos e ideológicos” (ORLANDI, 2009, p. 32). Sempre há relação entre o já-dito e o que se está dizendo:
[…] há uma relação entre o já-dito e o que se está dizendo que é a que existe entre o interdiscurso e o intradiscurso ou, em outras palavras, entre a constituição do sentido e a sua formulação. Courtine (1984) explicita essa diferença considerando a constituição – o que estamos chamando de interdiscurso – representada como um eixo vertical onde teríamos todos os dizeres já ditos – e esquecidos – em uma estratificação de enunciados que, em seu conjunto, representa o dizível. E teríamos o eixo horizontal – o intradiscurso – que seria o eixo da formulação, isto é, aquilo que estamos dizendo naquele momento dado, em condições dadas. (ORLANDI, 2009, págs. 32-33).
No site do MST, há informações de que os assentados costumam se organizar em torno de cooperativas de produção e que, em muitos dos assentamentos já é uma realidade a elevação da renda das famílias, principalmente daquelas que estão próximas às regiões onde se desenvolve a agroindústria. O site também há pesquisa da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), informando que a renda média nos assentamentos é de 3,7 salários mínimos mensais por família, sendo que, em região de agroindústrias, essa média pode se elevar para 5,6 salários mensais.

O MST, de acordo com o site oficial, investe também na formação técnica e política dos assentados, com foco para o setor de educação, onde se mostram bastante atuantes, tendo por meta ampliar o conceito de educação, de modo a torná-la maior do que um sinônimo de escolaridade apenas. Segundo o site, são mais de 38 mil estudantes e cerca de 1.500 professores diretamente envolvidos nesse projeto de uma nova educação, pela Unicef. Promovem, ainda, cursos e atividades de capacitação, que beneficiam muitos trabalhadores.

É notório que o MST apresenta características marcantes, que o distinguem, em sua trajetória, de outros movimentos sociais e rurais, que ocorreram e continuam a ocorrer ao longo da história. Dentre essas características, podemos assinalar: A radicalidade do seu jeito de fazer a luta e os sujeitos que ela envolve; A multiplicidade de dimensões em que atua; A combinação de formatos organizativos diversos; A capacidade de universalização de seus ideais, levando sua luta para a sociedade, como um todo, a partir da bandeira que nasce de um grupo social específico (CALDART, 2001).

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, também conhecido como Movimento dos Sem Terra ou MST despontou a partir da articulação das lutas pela terra, que começaram a ressurgir a partir do final da década de 70, inicialmente na região Centro-Sul do país, com posterior expansão por todo o Brasil. A gestação do Movimento propriamente dita ocorreu no período de 1979 a 1984. Oficialmente, foi criado no Primeiro Encontro Nacional de Trabalhadores Sem Terra, que se realizou de 21 a 24 de janeiro de 1984, em Cascavel, no estado do Paraná. De acordo com informações do site oficial do Movimento Sem Terra, o MST está organizado em 23 estados, envolvendo 1,5 milhões de pessoas, e segue com os mesmos objetivos definidos neste encontro de 1984 e ratificados no I Congresso Nacional, em 1985, também no Paraná: lutar pela terra, pela Reforma Agrária e pela construção de uma sociedade mais justa, sem explorados nem exploradores.

Segundo informações contidas no site do Movimento Sem Terra, a luta do MST é centrada em três fatores básicos: a terra, a reforma agrária e uma sociedade mais justa. A partir desta premissa, seus integrantes pretendem a expropriação das grandes áreas nas mãos de multinacionais, o fim dos latifúndios improdutivos, com o estabelecimento de um número máximo de hectares para cada propriedade rural. São contrários aos projetos de colonização até hoje oferecidos, que resultaram em fracasso nos últimos 30 anos, e reivindicam uma política agrícola justa, voltada para o pequeno produtor.

O MST também defende: a autonomia para as áreas indígenas, que são ameaçados pelos latifundiários; a democratização da água nas áreas de irrigação no Nordeste, assegurando a manutenção dos agricultores na própria região; a punição de assassinos de trabalhadores rurais; e a cobrança do pagamento do Imposto Territorial Rural (ITR), com a destinação dos tributos à reforma agrária.

No site do MST se observa que no final da década de 70, as lutas concretas dos trabalhadores rurais pela conquista da terra foram se desenvolvendo de forma isolada, no sul do país. Era a época da abertura política, pós-ditadura. O capitalismo exercia seus efeitos no campo, com a modernização agrícola e a expulsão dos pobres da área rural. Na defesa de uma política de colonização agrária mais justa, as lutas por esta causa foram se articulando, o que acabou por delinear e estruturar o que viria a se chamar de Movimento dos Sem Terra. A matriz era o acampamento da Encruzilhada Natalino, em Ronda Alta-RS. Surge assim um Movimento que se estenderia e fortaleceria até os dias de hoje.

A terra, portanto, para o MST, significa lugar onde se deseja trabalhar, produzir tirar o sustento, através da produção agrícola. Bem diferente do que significa terra para quem a possui e não produz, ou para quem escreve num jornal sobre a ocupação ou invasão de uma propriedade. Na reportagem A Tarde online de 29.06.2007, intitulada “Índios dançam o toré em prol do São Francisco”, fica claro que a terra, para os indígenas é lugar de manifestação de suas crenças, além de espaço onde eles vivem e de onde tiram o sustento: “[...] dançaram o toré – cerimônia indígena que busca diminuir os males – e fizeram o enterro simbólico da obra de transposição do Velho Chico”. Neste texto, o Velho Chico, como é conhecido o Rio São Francisco, tem muito mais importância para os índios que a própria terra. O que foi dito pelo jornal foi apenas em relação o fato em si, da dança, sem que o jornalista fizesse qualquer referência à importância que o meio ambiente tem para os indígenas. Também faltou relacionar o fato isolado, a dança, com o contexto sócio-cultural e econômico da região. Mas esta “falta” significa o esquecimento citado por Orlandi. Este esquecimento esvazia de significado histórico as ações do Movimento dos Sem Terra. Que, naquele ato estava associado aos indígenas, pois a motivação da manifestação era o mesmo: protestar contra as obras de transposição do Rio São Francisco.


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