Memórias de Uma Família do Minho



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ARMANDO EMÍLIO DA COSTA CALDAS


Memórias

de uma

Família do Minho

Edição de Autor



Memórias de Uma Família do Minho
Autor: Armando Emílio da Costa Caldas

Edição do Autor

Capa: Armando E. C. Caldas

Impressão e Encadernação: Tipografia Oliveira – Braga

Depósito Legal nº :

ISBN:

Na serra mais ao norte de Portugal nasce um rio pequeno em curso, mas grande em história, pois o seu vale serviu de palco a um torneio fundamental para a origem do país mais ocidental da Europa. O vale do Vez, assim se chama o rio que nasce na Serra da Peneda a 1300 metros de altitude num local conhecido precisamente por Lamas do Vez, é o leito de um concelho que leva o seu nome, sedeado na bonita vila dos Arcos, Arcos de Valdevez. Debruçada sobre ele, a vila, com as suas sete igrejas, é mais uma das muitas que compõem o Minho, uma terra onde o verde da paisagem se confunde com o acidentado do relevo. O que constitui o actual concelho dos Arcos de Valdevez é fruto de um casamento forçado pela reforma liberal no ano de 1852 a qual uniu dois concelhos e julgados distintos a que o rei D. Manuel havia concedido foral quase simultâneo, o do Soajo em 1514 e do Val do Vez em 1515.

Filha do rio, a vila nasceu e expandiu o seu centro social a partir das curvas ou arcos do rio, subindo pelo sítio da “Balleta” no qual existiam umas poldras, substituídas mais tarde por um pontilhão em granito, originando a freguesia do Divino Salvador. As primitivas habitações com telhados em colmo foram dando lugar a outras mais elaboradas multiplicando-se num emaranhado de quelhas, ruas, largos, praças e jardins desembocando num edifício tornado sede do Município, o qual albergava também os julgados e abrigou posteriormente as repartições públicas. À frente deste edifício, localizava-se o “Ladário”, nome dado a uma praça onde se formulavam os “ladairos” ou ladainhas, na qual, bem como em outros locais junto à vila se iam formando campos de feira, acompanhados de estabelecimentos de comércio e pontos de diversão.

No século XVIII com os proveitos retirados do açúcar no Brasil e mais tarde, no século XIX, com a exportação agrária para Inglaterra, a vila ficou valorizada com igrejas de belíssima arquitectura.

Particular relevo na alteração do desenho demográfico decorre quando em meados do século XIX se iniciou a exportação de gado vivo para Inglaterra pois a riqueza por ela gerada ao longo de quatro décadas permitiu combater quadros de miséria, levando a alterações dos usos e costumes estampados na mudança dos trajes populares, os quais foram enriquecidos com bordados, e à difusão de instrumentos importados de outros povos, como a gaita-de-foles e as concertinas. Outros factos que contribuíram para a valorização da terra e suas gentes foram ainda a expansão do Vinho Verde e a chamada "Revolução do Milho". Estes factores de desenvolvimento acabaram no entanto por morrer sem filhos pois não foram motor de um simultâneo arranque industrial quando foram confrontados com o progresso tecnológico da frigorificação, que permitiu a congelação da carne expedida de lugares longínquos como a América do Norte e a Austrália.

Essencialmente rural e conservador nos usos e costumes, o Alto Minho é habitado por uma gente simples e ligada à terra, onde um presépio de pequenas casas de pedra subindo e descendo montanhas atapetadas de um verde escorrendo água, contrasta aqui e ali com a imponência dos solares senhoriais.

Foi no coração desta terra que no dia Vinte e Sete de Junho do ano de Mil Novecentos e Sessenta e Cinco nasceu um menino a quem deram o nome de Armando Emílio, filho do Armando e da Emília e neto da Emília e do Armando. Esse menino cresceu, teve uma irmã, a Emília Armanda, e foi caminhando pelo tempo sobre o dobrar do segundo milénio da era Cristã.

Neste livro são descritas as memórias de uma família do Minho, tronco de árvore em que ele foi um dos ramos, a família Caldas, narrando o seu trajecto ao longo do vigésimo século da Era Cristã, usando como cenário um edifício, hoje inexistente, que lhes serviu de residência, onde o tempo cruzou as suas vidas, à medida que os minutos, horas, dias e anos iam adiantando o relógio que impulsiona o destino.


Desde que tenho a mais recôndita ideia de mim que me vejo numa casa desproporcionalmente grande, situada quase no centro da vila, da minha vila dos Arcos de Valdevez, junto ao largo da Lapa, encaixada na extremidade de um enorme terreno a que chamávamos quintal. De planta rectangular, com três pisos, sendo os dois primeiros da mesma dimensão e o terceiro bastante mais pequeno atravessado sobre o dorso do segundo, caiada de branco por fora, era recheada de inúmeras divisões ligadas por um extenso corredor feito avenida central situado no piso do meio. De aí se abriam para um lado e para o outro portas de madeira que conduziam a uma ampla cozinha, à sala de jantar, ao quarto de banho, aos inúmeros quartos de dormir e aos átrios que permitiam aceder aos andares superior e inferior.

Lembro-me particularmente do meu quarto, de paredes lisas brilhantes pintados em um branco sujo com uma bordadura a preto, sede do meu universo onde um candeeiro de pequenos automóveis centrado numa flor em gesso no meio do estuque do tecto, também ele bordado com um relevo de gesso, afugentava os fantasmas que assustavam o meu adormecer. Uma varanda de pedra e ferro forjado namorando o norte, escondida pelas cortinas, separava-me da rua aonde todos os dias pela manhã sentia o pulsar dos sons que revelavam o bulício característico de uma pequena vila, tais como o passear das pessoas e dos carros por entre o martelar de um sapateiro que trabalhava em frente.

Quase no fundo das paredes laterais do meu quarto, dois pares de portas davam acesso a da direita ao quarto da minha irmã e este ao dos meus pais, e a da esquerda a um quarto onde nos era permitido ter os brinquedos e no qual um pequeno grande mundo, só meu e da minha irmã, nos nomeara para estabelecer a ponte entre o imaginário e a realidade. Este quarto comunicava por sua vez com um corredor com quinze metros de comprimento, iluminado por uma clarabóia tapando um funil escavado a meio do seu tecto, fazendo a ligação de uma ponta à outra da casa.

A meio deste corredor, subindo um degrau, acedíamos a um patamar de onde nascia um enorme escadório de madeira que nos conduzia ao piso superior, de menores dimensões. Era no chamado andar de cima que se encontravam entre outros, um solário virado a sul separado de uma varanda a todo comprimento por três portas envidraçadas, o quarto da minha avó no outro extremo e, a meio deles contornando por norte as escadas, um quarto sem dono onde estava guardada a porta de acesso a um passado que culminara em mim.


A mais antiga memória que povoa o arquivo instalado no interior do meu cérebro é uma fotografia dos finais do século XIX, com cerca de trinta por quarenta centímetros, guardada algures no quarto das memórias perdido no andar superior. Nela aparece altiva uma bela senhora jovem com um vestido comprido, cabelo apanhado, rodada a três quartos, que nos cumprimenta com um olhar cativante, ainda hoje gravado em mim.

Essa senhora, natural da Póvoa do Lanhoso, de seu nome Arminda, foi a responsável pela compra da enorme casa branca no centro da vila onde passei a minha infância.

É a memória daquela jovem bela e com pose altiva e tudo o que significou para a minha existência que me guia nesta viagem que me transporta até ao fim do século XIX nos Arcos de Valdevez.

Estávamos com o pé à porta da última década do século quando José Luís de Caldas, Capitão de Artilharia, acabara de falecer, deixando viúva Umbelina Cândida e órfã de pai uma jovem encantadora de seu nome Arminda.

Sozinhas num mundo de homens, mãe e filha eram obrigadas a enfrentar a vida sem a mão protectora do extinto José Luís.

Com despesas para pagar e o dinheiro a esvair-se das poupanças, era urgente que lhes fosse atribuída a pensão garantida por longos anos de uma dedicada carreira militar.

Não era contudo fácil a atribuição desta pensão e para acelerar a lenta marcha da justiça, decidiram as duas contratar os serviços de um advogado. Mas onde poderiam elas, parcas de recursos materiais, conseguir os préstimos de um bom advogado? Várias hipóteses varreram os seus pensamentos, até que uma voz amiga e ajuizada lhes sussurrou que se dirigissem à vila dos Arcos de Valdevez para falar com um cunhado que aí esgrimia a arte do direito, com o saber conquistado na Universidade de Coimbra no dia 6 do mês de Junho do ano de 1871.

Advogado famoso na região, conta-se que num julgamento por homicídio em que o juiz se preparava para condenar o réu seu cliente, ele pediu para ir à janela e começou a gritar "Ó da guarda, ó da guarda". Surpreso pelo bizarro da situação, o juiz questionou-o a que se devia aquele pranto, ao que respondeu que estava a pedir socorro por ver cometer tamanha injustiça. Sensibilizado, o juiz acedeu a reconsiderar a sentença, acabando por absolver o réu. Os familiares do arguido, para lhe agradecerem, organizaram um cortejo de oferendas desde a freguesia de Miranda, na estrada que vai para Paredes de Coura, até ao centro da vila. Como pagamento pelos serviços deram-lhe uns grandes campos nessa freguesia.

Agradecidas com o feliz conselho que em boa hora lhes deram, viúva e órfã prepararam a viagem na diligência que as transportaria primeiro a Braga, centro de todo um Minho rural, fortemente dominada pelo clero, e por isso chamada Cidade dos Arcebispos, onde tomariam nova diligência para as levar finalmente até à vila de Arcos.

Acompanhemos pois a sua viagem até às terras de Val-de-vez, uma epopeia vivida em várias horas ao ritmo cansado da tracção animal.

O suor dos cavalos sobre a gravilha da estrada real em macadame misturava-se com o da gente que se via obrigada a respirar o pó levantado pelas enormes rodas de madeira. Estas estradas, assim chamadas devido a terem sido criadas por um engenheiro inglês chamado Mac Adam, eram formadas por uma camada de brita e pedras finas que com o uso ficavam revestidas por uma capa que se assemelhava a uma pasta.

A meio da viagem, uma corcunda montanhosa resistente ao tempo, obrigava os passageiros, com excepção de idosos ou doentes, a caminhar lado a lado com os animais até se chegar a um extremo conhecido por Portela do Vale, onde lhes era permitido ocupar de novo os seus lugares e aproveitar o resto da viagem sob a sombra verde das árvores numa descida que serpenteava um vale até Ponte da Barca, debruçada junto ao rio Lima.

No extremo da vila, logo ao virar para o rio a que os romanos chamavam Lethes, uma ponte medieval com um varandim de pedra a meio marcava a divisão entre o concelho de Ponte da Barca e o concelho dos Arcos de Valdevez.

Atravessada a ponte, chegados ao lugar da Prova, poucos quilómetros nos separavam da vila dos Arcos.

Chegados ao nosso destino, cerca do ano de 1890, damos de encontro com uma pequena mas encantadora vila com cerca de trinta mil habitantes, pormenorizadamente caracterizada no Almanach Arcoense que se publicaria em 1898, sede do mais extenso concelho dos que compunham o distrito de Viana do Castelo. É, como dissemos, um concelho essencialmente rural, especializado na produção de vinho verde e milho.

Estamos agora em frente ao rio Vez que separa duas freguesias, a mais antiga São Paio, na margem esquerda do Vez, na qual nos encontramos, e a mais recente a de São Salvador, na margem direita criada no longínquo ano de 1541. Estas duas freguesias acabaram de ser unidas recentemente por uma nova ponte que liga as duas margens do Vez, complementando o antigo pontilhão da Valeta. À entrada da ponte, na embocadura sul, apercebemo-nos de uma hospedaria em frente ao cruzeiro do Senhor dos Milagres, onde consta que pernoitava Guerra Junqueiro quando vinha aos Arcos. Ultrapassando a ponte relativamente ampla com quatro arcos que substituiu em 1880 a velha ponte medieval, damos de encontro a uma rua que caminha para o centro da vila. Subindo em direcção ao largo da Lapa, pela Rua dos Açougues, uma rua que, como muitas outras, conquistara o seu nome em função dos ofícios aí instalados, vemos o retrato de um concelho onde predomina a actividade agrícola, no qual a indústria é praticamente inexistente, se excluirmos numerosos moinhos e azenhas, e pequenos ofícios artesanais.

Ao longo do caminho pelas ruas, vamos encontrando os rurais que se deslocaram à vila e que reconhecemos pelo seu traje característico, circulando através dos estabelecimentos pertencentes a alguns dos doze sapateiros, dois serralheiros, dois tamanqueiros, dois ferreiros, dois ferradores, um correeiro, sete funileiros, um caldeireiro e um tanoeiro, dois carpinteiros, dois marceneiros, três pintores, dois estucadores, dois tintureiros e quatro pedreiros que através do Almanaque Arcoense sabemos existirem na vila. Para além destes, segundo a mesma fonte, existe uma modista, um ourives, um relojoeiro, oito alfaiates e sete barbeiros. Acrescida à sua função habitual, os barbeiros também tiram dentes e põem massa nos buracos e nas aldeias os ferreiros desembaraçam-se em funções idênticas. Existem quatro talhos ou açougues. Não existem oculistas sendo as lojas de ferragens quem vende os óculos aos clientes. Não existem bancos propriamente ditos, mas apenas correspondentes dos bancos de Portugal, Lusitano, Aliança, Minho, Mercantil, Lisboa e Açores, Mercantil de Viana e Comercial do Porto. A vila conta com dois hotéis, a Flor do Minho, e o Hotel Central, ambos na Rua Manuel Espregueira e com três cafés, sendo o mais antigo o Café da Valeta, também conhecido por Café Vieira, o Café Central, no Largo da Lapa, e o Café do Campo do Trasladário. Para os mais gulosos a vila conta com a Doçaria Central, situada na rua de Bernardino A. Gomes.

Dispersos entre a gente simples de que falamos, damos também de encontro com umas elegantes senhoras envergando bonitos vestidos, chapéus, agasalhos, sombrinhas e alguns cavalheiros vestindo sobrecasacas, chapéus altos, cocos, colarinhos, gravatas e empunhando bengalas, que adivinhamos pertencer a estratos sociais mais elevados.

Pelo caminho passamos pelo Largo da Misericórdia, onde existe uma Igreja que tem o mesmo nome com um hospital anexo, o qual foi fundado em 1595 e funcionou até à inauguração do novo hospital. Neste largo encontra-se uma fonte pública também chamada da Misericórdia que em conjunto com as fontes de São João na Valeta e a Fonte do Piolho são as principais responsáveis pelo abastecimento de água à população da vila.

Partindo deste largo, tomamos a opção de inclinar o nosso roteiro para a esquerda subindo em direcção ao Largo da Lapa, em detrimento de prosseguir em frente seguindo pela Rua Direita, aberta após a Restauração, que nos levaria mais depressa à praça que alberga a sede do Município. Chegados ao largo a que foi dado o nome da Lapa por servir de altar a uma igreja ovalada com o mesmo nome, construída em 1767 em estilo barroco, constatamos estar presentes na feira quinzenal que neste local distribui os produtos hortícolas.

Tomamos agora o sentido da direita e, por entre uma azáfama de gente de todo aspecto e feitio, dirigimo-nos para o Terreiro Municipal onde se faz todos os dias um pequeno mercado mas que nestes dias da feira quinzenal é onde se transacciona a erva, a lenha e a sardinha.

Pelo caminho passamos pela Capela de Nossa Senhora da Conceição, o edifício religioso mais antigo da vila, mandado construir nos finais do século XIV pelo Abade de Sabadim D. João Domingues, que determinou que nela queria vir a ser enterrado, a qual apresenta um estilo arquitectónico de transição entre o românico e o gótico.

Estamos então no coração do Município, onde se centralizam os negócios civis e administrativos da região, rivalizando em termos de importância social com adro da igreja da freguesia ao Domingo e com as praças e mercados municipais nos dias de feira. Os Novos Paços do Concelho eram de uma construção recentes pois foi adjudicada em 1876, situando-se atrás destes a cadeia comarcã concluída em 1877.

A figura máxima administrativa do município é o Administrador do Concelho, cargo de nomeação, tal como o de regedor nas freguesias, coexistido com cargos de eleição como são a Assembleia Municipal, com o respectivo Presidente da Câmara, e as Juntas de Freguesia.

Deixando o Terreiro Municipal chegamos à Igreja Matriz construída entre 1690 e 1700, sobre a ruínas de templo muito antigo onde permanecia instalada a freguesia de Divino Salvador. A sua construção proporcionou ao terreiro que a separa da Igreja do Espírito Santo um novo encanto, tendo porém o Ladário envolvente ficado incompatível com a feira aí realizada, que se viu assim arredada para outros lados, primeiro São Bento, de onde os frades que por ela se viram inquietados a expulsaram para a margem do rio ou Trás Ladário.

O espaço correspondente ao antigo Ladário veio transformar-se miradouro sobre a vila, embelezado por um jardim enquadrado entre as duas igrejas, encimado por um edifício setecentista conhecido como “Casa do Terreiro” ou do “Conselheiro construído na segunda metade do século XVIII por iniciativa da família Pereira de Vilhena, que em 1810 entrega o imóvel ao “Conselheiro” Gaspar de Azevedo Araújo. Por trás da Igreja do Espírito Santo, transaccionam-se em dias de feira os porcos e o carvão.

Voltando ao miradouro, sobranceiro ao bairro da Valeta namorando o rio, mais para o fundo, num plano mais elevado, avista-se ainda a Igreja de São Bento onde se transacciona o gado bovino e cavalar.

Sendo um concelho rural e com poucos recursos, é natural que a emigração fosse intensa, privilegiando especialmente o Brasil, terra de onde regressaram alguns muito ricos, que investiram em terrenos e ergueram moradias com uma arquitectura que ficou conhecida como a das “Casas dos Brasileiros”.

Afastando-nos da Igreja do Espírito Santo que prometemos vir visitar noutro dia que não o de feira, descemos uma escadaria que nos levam até ao antigo coração da vila para uma imprescindível visita ao famoso Café da Valeta, o maior centro cívico e de lazer, visita obrigatória a quem quer conhecer a gente da terra, para depois, bastantes dedos de conversa depois, retomarmos o nosso caminho.

Não poderíamos acabar o nosso passeio sem prestar a devida homenagem ao vetusto pelourinho, colocado em frente ao rio, mas que não tardará a ser transferido para frente da câmara, pois representa o símbolo do Município, em conjunto com a sua câmara e o tribunal. Nos pelourinhos eram expostos e punidos os réus de certos delitos, para sua vergonha. Regressarmos ao Largo da Lapa subindo a rua de São João, com a sua bonita fonte.

A vila encontra-se rodeada por uma rede de transportes que inclui caminhos de terra batida nos percursos planos ou construídos sob forma de calçadas de grandes pedras de granito, quando o declive assim o exige, nas quais circulam carros de bois tangidos por gado barroso com o seu chiar característico e liteiras de tracção animal para o transporte de pessoas, mas também pelas chamadas "estradas reais" de macadame iniciadas em meados do século XIX, pavimentadas, que permitem a deslocação de diligências que começam a assegurar a ligação a Braga, Viana por Ponte da Barca e a Monção. Ao todo existem sete diligências e trens de aluguer.

O Distrito de Viana cujas estradas pouco iam que além dos caminhos abertos pelas rodas dos carros, foi dos últimos a beneficiar da construção de estradas macadamizadas. As estradas do Minho foram definidas em 1853: Famalicão a Caminha, passando por Viana, Braga a Valença passando por Ponte do Lima, Braga a Monção pelos Arcos. A Primeira começou em 54 e as últimas no fim da década.

Os transportes terrestres não são os únicos que servem a vila, pois os transportes fluviais também assumem grande importância, encontrando-se os Arcos servido por um cais, num lugar apropriadamente chamado Carregadouro, que funciona na freguesia de Jolda e que liga pelo rio a vila ao porto de Viana, onde chegam os barcos que sobem o Lima, mas também serve para a  travessia entre as margens do rio desta freguesia para a freguesia de S. Martinho da Gandra, no concelho de Ponte de Lima.

A nível de educação a vila conta apenas com o ensino primário, existindo uma escola em São Paio e duas escolas em Salvador, uma para rapazes e outra para raparigas, existindo ainda escolas primárias nas freguesias de Aboim, Cabreiro, Padreiro, Prozelo, Rio Frio, Rio de Moinhos, S. Paio, Sabadim, Soajo e Sistelo onde andam um total de quatrocentas e dez crianças, sendo dezasseis o número de professores oficiais, estando três deles afectos à vila e os restantes dispersos pelas principais freguesias, existindo ainda na vila uma cadeira de latim. O ensino liceal encontra-se confinado às capitais de distrito estando a nível local entregue a mestres que orientam o estudo dos jovens que aspiram a uma carreira universitária.

A nível de saúde, a vila conta desde 1885 com um imponente edifício como hospital novo, construído pela Santa Casa da Misericórdia e que funcionará como tal até ao ano de 1980. Os médicos que trabalham na vila exercem também a sua missão a título gratuito na Misericórdia, Asilo de Infância e Asilo de Inválidos, bem como nos casebres dos camponeses pobres, chegando a praticar intervenções cirúrgicas em casa dos pacientes, à luz de candeias de azeite ou de petróleo, usando ligaduras rasgadas de lençóis de linho e água aquecida em potes nas lareiras.

Além das funções inerentes ao hospital, uma outra função da Misericórdia é assegurar a sopa dos mendigos.

Também a vila dos Arcos se debate com o flagelo da tuberculose, uma das mais temidas doenças infecciosas que chega a dizimar famílias inteiras. Não é pois de admirar que os infelizes infectados sofram a rejeição da sociedade e da família, que os afastam com medo de contágio.

Acredita-se neste final do século XIX que a melhor maneira de combater a tuberculose é instalar os doentes em climas de montanha, com ar seco, ausência dos nevoeiros e alta ozonização.

A nível de hábitos de higiene poder-se-á ainda referir que roupa é lavada na corrente do rio ou em tanques e os dejectos ainda são muitas vezes despejados das casas para a rua que são assim presenteadas com odores pouco recomendáveis.

Os animais continuam a andar soltos pela rua, com particular destaque aos suínos, quer pelo seu porte, quer pelos seus hábitos.

As refeições são feitas ao lume de lenha que é muitas vezes apanhada nas matas. O azeite é um bem de elevado valor e assim é comprado ao quarteirão (1/8 de litro) ou ao quartilho (1/4 de litro).

A iluminação pública é feita a petróleo e carbureto desde cerca de 1880. Um assalariado do Município acende os candeeiros paulatinamente ao cair da tarde e vai apagá-los de madrugada.

Como associações destaca-se o Montepio Arcoense, associação de socorros múltiplos, mas que foi responsável pela construção do Teatro Teixeira Coelho. Existe ainda a Philarmónica Arcoense, admiravelmente dirigida por António Luiz da Silva Dantas.

Publicações de destaque nesta época são o Almanaque do Vez editado em 1889 e 1891e o Almanaque Arcoense editado inicialmente em 1890 e posteriormente em 1893,95,96,98,99, sendo editado novamente trinta anos depois.

A imprensa local é representada pelos jornais “Comercio do Vez”, semanário “independente, literário e noticioso", situado na Estrada de Monção criado em 1884, jornal “Arcoense”, semanário “literário, político, agrícola e noticioso", cuja instalações se situam na Rua de Bernardino António Gomes, nascido em 1886 e o mais recente “Jornal do Vez” fundado em 1887, bem como o Jornal dos Arcos "semanário literário, político e noticioso” com sede na Rua Direita.

A vila conta já com um recém-formado corpo de Bombeiros Voluntários fundados em 1889 e dos quais é Presidente Honorário Sua Majestade El-Rei e Presidente da Direcção o Dr. Félix Bernardino Alves Pereira.

A nível de festividades a mais famosa é a Romaria da Peneda, que decorre durante todo o mês de Setembro, mas essencialmente entre os dias 5 e 8. Para ir à Peneda, como descrito no célebre livro “O Minho Pitoresco”, atravessa-se o rio nas poldras da Valeta, a caminho de Requeijo e Giela, Ázere, Couto, Grade, por entre azinhagas tortuosas, veladas pela sombra dos carvalhos, das uveiras e pinheiros bravios, Carralcova, Cabana Maior, Soajo, Adrão para o que há que contar com cinco horas de caminho até aí e acrescentar três horas para o resto do trajecto.

A Igreja da Peneda foi inaugurada na romaria de 1857, sendo o escadório que lhe dava acesso concluído em 1861.

A romaria tem um pouco de tudo: mercearias, bugigangas, fazendas brancas, latoarias, bazares, loiça, ficando os romeiros nos quartéis e em tendas.

Para concluir a descrição da vila e do modo de vida dos seus habitantes poderemos ainda referir que a hora é regulada pelo Meridiano da Tapada da Ajuda e assim continuará até ao ano de 1912.


Chegadas à vila, esperava-as à saída da diligência, ansioso, um senhor na casa dos cinquenta anos, solteiro e sem filhos que sabia ser António Joaquim de Caldas, advogado e irmão do falecido José Luís, ambos filhos legítimos de José Luís de Caldas, nascido a 22 de Julho de 1811 e Maria Teresa Galvão, nascida a 18 de Outubro de 1816, netos de António José de Caldas e Ângela Teresa Mendes e bisnetos paternos de Manuel de Caldas e sua mulher Maria Joaquina Pereira.

António Joaquim nasceu em Vilela no dia 24 do mês de Janeiro de 1843, em pleno reinado de D. Maria II num Portugal que recuperava das Invasões Francesas do início do Século, da Guerra Civil de 32-34, da revolta dos Marechais em 1837, disputada em grande parte no Minho, e vítima de sublevações militares que iam surgindo em vários pontos do país como Torres Novas, ou Chaves. Se bem que fiel ao Rei, o país vivia já numa monarquia republicanizada e onde as correntes do Romantismo e Realismo pincelavam as suas congéneres literária e política. Foi baptizado pelo abade António José de Caldas no dia seguinte, sendo padrinhos o abade António José de Caldas e sua irmã Maria Teresa. Teve como irmãos Casimiro, que nasceu em, 26 de Abril de 1844, Manuel Joaquim, nascido em 11 de Junho de 1846, Maria Teresa, nascida em 17 de Janeiro de 1848, José Luís, nascido a 15 de Outubro de 1849 e Maria Josefa, nascida a 2 de Outubro 1851.

As duas senhoras saem da diligência, primeiro Umbelina e depois… Arminda com um olhar meigo e sensual que não deixa indiferente António Joaquim.

Atónito perante a sensualidade da sobrinha, António Joaquim ajudou-as a recolher a bagagem e prontamente se puseram a caminho da residência deste.

António Joaquim de Caldas morava numa freguesia relativamente perto da vila, na estrada que pelo lado Norte do Vez seguia até Ponte do Lima, tendo o seu escritório na antiga zona central da vila, o bairro da Valeta.

Sem que nunca o tivesse esperado, este encontro marcaria para sempre a sua vida. António Joaquim quando viu a muito bonita e elegante sobrinha não resistiu ao seu encanto e apaixonou-se definitivamente por ela, propondo-lhe algum tempo depois o casamento, intenção em que Arminda o correspondeu, apesar da diferença de idades entre ambos.

Prontamente marcaram e consumaram o casamento e foram viver para a casa de António Joaquim situada na freguesia Guilhadeses. Foi nesta casa onde viveram os primeiros anos de casados e onde nasceram os três primeiros filhos dos cinco que haveriam de ter. Ao primeiro destes, nascido em 1883 puseram o nome de seu tio e avô José Luís, a segunda herdou o nome da mãe Arminda (Mimi) e à terceira chamaram Cândida.

Ao virar o século existia na vila uma propriedade à venda, pertencente a um emigrante no Brasil. Esta propriedade era composta por uma enorme casa situada no extremo de um terreno com cerca de cinco mil metros quadrados, a poucos metros do centro da vila, confrontando através da Rua dos Quartéis vinda do largo da Lapa com um conjunto de pequenas casas todas semelhantes conhecidas por quartéis, não os da tropa que nunca estiveram fixados nos Arcos, mas provavelmente os quartéis onde se alojavam os peregrinos da Romaria de S. Brás.

Outro extremo da casa dava para uma pequena quelha sem saída, que se abria em túnel sob uma construção apoiada na Capela da Trindade.

O António Joaquim levou a jovem esposa à vila para apreciarem a propriedade a qual encantou a sua jovem esposa. Como ela disse que gostaria de aí viver, decidiu-se a comprá-la, vendendo para o efeito uns terrenos que possuía na freguesia de Miranda.

Junto com a casa foi comprada a Capela da Santíssima Trindade, uma das capelas particulares da vila, arrematada em praça por partilhas de Joaquim Manuel d' Oliveira Gomes Peixoto. Esta capela está situada actualmente no lugar de São João de Fonte Santa, substituindo uma que aí existira. Este lugar é assim chamado por aí se localizar a Fonte Santa, de águas sulfúricas eficazes para doenças de pele e da vista, e em torno da qual se reuniam pessoas de várias freguesias vizinhas em rusgas de concertinas e recipientes para colherem a “água milagrosa”, uma vez em cada ano, na noite de S. João, pertencendo à freguesia Padreiro (Salvador), junto a um parque industrial.

Nessa casa, onde viveriam o resto da sua vida, nasceram já os dois últimos filhos, o Armando em 1901 e a Guilhermina (Mininha) em 1903.

As meninas nunca casaram e não deixaram descendência. Viveriam uma grande parte da sua vida na casa que seus pais compraram.

Dos dois meninos, um deles o José Luís, estudaria Direito e haveria de ser uma das chaves das minhas memórias, e o outro deles, o Armando, estudaria Medicina no Porto, casaria, e seria pai de um menino travesso, o Armando que mais tarde seria o pai do Armando Emílio.

António Joaquim de Caldas morreu com 74 anos de idade no dia 22 de Julho de 1917. Arminda, a sua esposa faleceu relativamente jovem aos 52 anos de idade no dia 19 de Setembro de 1923.
O rosto de um senhor olhando para nós através de uns óculos redondos apontando em direcção a uma colecção de livros, muito antiga e amarelecida pelo tempo, a qual o meu pai guardava na sua extensa biblioteca, constitui uma das marcas que traçaram o meu destino. Falavam comigo, querendo dizer algo que ainda hoje não sei o que é. Folheava-os cuidadosamente, descobrindo num deles, entre as letras que connosco conversavam, a figura desse senhor de óculos, mais jovem, junto a outros colegas da faculdade. Esse conjunto de livros partilhava um nome impresso na sua capa: José Luís de Caldas, sem dúvida talvez o mais ilustre de todos estes Caldas do Século XX.

Nasceu em Guilhadeses, uma freguesia do concelho de Arcos de Valdevez, pelas duas horas do dia 20 de Março do ano de 1893, sendo baptizado na igreja da freguesia no dia 10 de Abril do mesmo ano pelo presbítero Constantino Feliciano de Azevedo Nunes, tendo como madrinha a avó D. Umbelina Cândida d`Almeida Caldas e padrinho o Patriarca S. José.

Aos 15 anos encetou a sua carreira literária, que acompanhou a "charadomania", como ele dizia, tendo participado na secção charadística de vários jornais. Fez o liceu em Braga onde foi redactor da revista Académica. Era um dos estabelecimentos de ensino mais prestigiados do país, que acolhia alunos não só do seu distrito, mas também de outros vizinhos, sendo o de Viana do Castelo um deles, como era o seu caso. Este liceu fora já criado em meados do século XIX por Passos Manuel que, na sua reforma do ensino em 1836, determinara a criação de um liceu em cada capital de distrito.

Em 1916 escreve em colaboração com António Duarte Gomes, uma peça de teatro em três actos e três quadros intitulada “Vita Mea”, com música de Óscar da Silva e Moreira de Sá, passando-se o primeiro e o terceiro acto numa república de estudantes e o segundo no Bom Jesus. Destinada à récita de despedida do curso do 7° ano do liceu, não se chegou a representar devido à entrada de Portugal na 1° Grande Guerra.

Em 1917 publica o livro em prosa "Filhas de Eva", o mesmo ano em que se matricula no segundo do curso de Direito na Universidade de Lisboa. Licenciado em direito por aquela Universidade em 1921, abriu no ano seguinte o escritório de advogado nos Arcos de Valdevez.

Em 1924 publica “Mundo de Feras”, dedicado aos “Heróis do Amor e aos Mártires do Ódio”.

Um ano depois publica uma peça um acto para teatro intitulada “Amor Inquieto” com personagens do mundo rural que se desenrola numa aldeia igual a tantas outras e que se inicia naquilo que é ”O largo de uma aldeia em pleno Minho” num ”banco de pedra mordido pelo tempo, junto ao qual se ergue, altivo e frondoso, um carvalho velho. Ao fundo, um trecho arrancado ao bucolismo da terra, vendo-se, à distância, uma capelinha branca. Aqui e além, algumas flores agrestes”, continuando a descrição dizendo “Ouve-se, ao longe, o chiar d’um carro e uma voz: “Eh! Briosa Eh! Galharda, fugindo como as horas…”.

A esta peça, seguiu-se-lhe no ano seguinte um livro de sonetos, “A Maçã do Pecado”.

Colaborou no Almanaque Arcoense de 1928, uma publicação “contendo, além do calendário, uma leitura interessante e uma relação completa de todos os funcionários públicos dos Arcos de Valdevez” com um poema intitulado Eternamente no qual nos cantava “Eu amo sem ter voz… Tu amas em segredo… E não andamos, não, pelas bocas do mundo… Assim envergonhado o amor é mais profundo, Como um sonho de Luz que se desenha a dedo…”.

Na mesma publicação para o ano de 1929 colaborou com o conto “O Poço de Carocho” que nos surge “Marchetado pelos musgos da Lenda, o poço de Carocho, ali na freguesia do Vale, inspirava o receio diabólico dos duendes bailando macabramente a horas mortas…”.

O Almanaque de 1930 voltou a contar com a sua colaboração através do poema Ribeirinho que descreve “E lá vai, a cantar, lá vai o Ribeirinho, E chora quando canta e canta quando chora...”

A sua pena inspirada teve voz impressa ainda no jornal arcoense “A Voz do Minho”.

Em 1931 publica “Tudo”, um livro de contos agregando doze viagens ao imaginário que partem de uma “Cruz”, “…no sítio da tentação, como que perpetuando a grande peleja que se travara. Na catedral do amor era mais um eco que crescia...”, para concluírem naquele que é o “Homem do Urso”, o qual se descreve a um pica-pau, “figurante esquisito e rebelde da tragédia humana”, confessando “Já amei também uma mulher… O amor de um instante a compor a orquestra das orações mais altas… Roubaram-ma; roubaram-me o desejo, a carícia… O mundo é um bazar de judeus; a humanidade uma alcateia de lobos… E aquele urso que ali está, é o símbolo do impudor, é a imagem da miséria… Ando a expô-lo à irrisão popular… É a minha vingança suprema…”

Dois anos depois “Arraial Minhoto”, última obra sua editada, como um carinho à terra que o fez crescer e que começa com um poema intitulado “Minho”, descrevendo “Sou como o romeiro em Busca da beleza, Sou como que o devoto em sonhos de alvorada… e, percorrendo o Mundo, eu não encontro nada Que ofusque este meu Berço, ou traga Mais Grandeza.”.

Por publicar fica o manuscrito de “Corte de Amor”, uma peça histórica em 3 actos, escrita em verso, situada na época da Ínclita Geração.

A política acompanhou-o, tendo sido filiado no Partido Republicano Liberal, formado em 1919 - o mesmo ano em que Paiva Couceiro instalou no Porto a chamada Monarquia do Norte, sendo a bandeira monárquica hasteada em diversos edifícios, recebendo o apoio da maioria das cidades do norte, Viana, Vila Real, Braga, Bragança, vigorando quase um mês. Aquele partido tinha como base os partidos Evolucionista e Partido Republicano Unionista, este último formado em 1911, depois de o Partido Republicano se ter dividido. Foi vereador da Câmara Municipal de Arcos de Valdevez em 1926 até ao mês de Maio, quando a Ditadura Militar a dissolveu.

Em 1935 entrou como Vice-Presidente da Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez. Colaborou no jornal “Notícias dos Arcos” e no fascículo dedicado aos Arcos do “Portugal Monumental e Artístico”. José Luís de Caldas ganhou notoriedade como charadista e escritor. São suas algumas das mais belas descrições do respirar da paisagem que pinta o Alto Minho.

José Luís de Caldas era padrinho de seu irmão, Armando Caldas e deixou-nos no dia 9 de Agosto do ano de 1940, quando tinha 47 anos de idade, na casa que era sua e depois nossa, na rua Nunes de Azevedo.


Uma fotografia com o rosto de um casal num fundo ovalado e esbatido nos bordos chama-me a atenção para um senhor que aparece ao lado do rosto de uma senhora que reconheço ser a minha avó, quando ainda era relativamente jovem. Esse senhor, com o qual diziam eu ser muito parecido, nunca o conheci com vida. O seu nome era Armando, o avô do Armando Emílio. Enquanto o filho mais velho, José Luís, seguiu o trilho da jurisprudência decalcado de seu pai António Joaquim, Armando, o filho mais novo tomou a opção por abraçar o ramo das ciências.

Fez o 7º ano do Liceu em Viana do Castelo e depois matriculou-se na Faculdade de Medicina do Porto na dependência do Hospital de Santo António, que em 1911 sucedera à escola Médico-Cirúrgica do Porto situada na cerca do Carmo, para se licenciar em Medicina. Quando o estudo convidava a um ambiente mais catalizador da aprendizagem, tomava o caminho da Foz, que era o seu local predilecto para favorecer o encontro com as longas linhas escritas nos tratados dos discípulos de Hipócrates. Ambas as cidades onde dois rios diferentes se entregam ao mar ficaram para sempre gravadas com o carimbo da saudade num recanto querido do seu coração.

Acabado o curso no final da década de 20, regressou à vila natal onde era um dos cinco médicos que aí exerciam funções, acrescentando o seu nome aos do Dr. Manuel Ferreira Mendes, Dr. Tomaz Mendes Norton, Dr. Joaquim Pereira e Dr. João Amorim, aos quais se acrescentaria mais tarde os nomes do Dr. Ribeiro e do Dr. Peneda. Contudo, apesar de ser um dos médicos do concelho numa altura em que estes escasseavam, sempre que na vila se invocava o nome de Armando Caldas, as pessoas associavam-no ao seu primo, o Sr. Armandinho Caldas, pessoa muito mais conhecida na vila por ser um dos proprietários rurais dos Arcos de Valdevez que possuíam mais terras, nomeadamente na freguesia de Vilela, onde viveu e deixou muita descendência.

Armando Caldas foi director e editor do jornal Notícias dos Arcos entre os anos de 1933 e 1935, no qual o seu colega e amigo António Ribeiro soltava a pena de escritor. Este Jornal fora fundado em 1906, mas teve a sua actividade suspensa, regressando ao contacto com os leitores em 1931, impresso na Escola Gráfica dos Arcos de Valdevez e através do qual sabemos existir nessa data, entre outros, a Barbearia Loureiro na Rua da Praça, a loja de fazendas de António de Sousa Galvão, Sobrinho, a casa Brito e Crespo, estabelecimento de ferros e ferragens, o dentista G. Navarro, a loja de modas, lanifícios e




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