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bad há quase dois anos. O que mudou no som da banda durante esse
tempo?
Matthew Herbert: O som ficou quase irreconhecível. Quando fomos para
o estúdio os músicos nunca tinham visto a música antes. Nós tocamos
duas vezes e depois já gravamos. E, claro, agora eles já tocaram umas cem
vezes e a música sai bem diferente. Eles entendem que algumas partes
têm de ser realmente desagradáveis e que outras têm de ser muito
bonitas. Há muito mais controle e confiança agora. O disco é tímido se
comparado ao som da banda.
É reflexo de sua timidez?
Herbert: Também existe uma timidez minha no disco e, depois, ao vivo.
No palco com alguns dos melhores músicos da Inglaterra eu me
perguntava o que iria fazer, qual seria a minha contribuição. Levou uns
seis meses para eu me encontrar e não ficar com medo. Porque eles
tocam lindamente e, às vezes, eu toco uma coisas bem feias por cima,
esperando que algo surpreendente aconteça, o que nem sempre ocorre.
Mas agora eu não tenho problemas em fazer barulhos altos na frente da
banda.
Tocar com uma banda é uma forma de resolver um problema da música
eletrônica, que é uma apresentação estática do artista com suas
máquinas?
Herbert: Sim. Para mim é uma libertação. Eu gosto do fato de que,
essencialmente, é um show de eletrônica, mas que, se faltasse energia,
nós poderíamos continuar tocando. É uma coisa estúpida de dizer, mas,
em um certo sentido, numa apresentação eletrônica você se sente menos
músico, como se estivesse trapaceando. Não acredito que seja correto
dizer isso em termos de composição, mas, ao vivo, eu sinto que em um
monte de performances eletrônicas há trapaça mesmo, porque boa parte
do som está estabelecida dias antes de você chegar ao show. É por isso
que eu trabalho sampleando em tempo real, porque eu não consigo
prever o que vai acontecer durante a noite.
Você criou muitos heterônimos: Doctor Rockit, Wishmountain, Radio
Boy... O que o levou a criar personas diferentes para lançar músicas em
estilos diversos?
Herbert: Na verdade, eu matei o Wishmountain, acabei de matar Doctor
Rockit e provavelmente vou matar também o Radioboy. Eu acho que foi
uma coisa um pouco ingênua. A música do Doctor Rockit era muito
festeira e carregava um sentimento que eu não tenho mais. Hoje eu estou
muito bravo com o governo para produzir música alegre. Eu toco música
alegre, mas exijo que tenha peso, mais conteúdo e mais conceitos por trás
dela. Não sou mais um garoto brincando no parque.
Eu gosto de saber porque tem árvores mortas no parque, porque a grama
fica marrom, porque os cachorros fazem cocô em todo lugar. Eu penso
que vou fazer tudo daqui para a frente como Matthew Herbert. Agora, eu
estou trabalhando a minha linguagem musical. Está muito claro para mim
porque eu amo a música, como eu escrevo música e o que eu quero
alcançar com ela. Eu não preciso mais lançar discos sob nomes diferentes
porque eu encontrei a minha voz.
No seu site é possível ver os custos da Guerra do Iraque em tempo real.
Desde o princípio você se opôs à guerra e à política externa de Tony Blair.
Você pensa que esse tipo de oposição é eficaz?
Herbert: Eu penso muito que quando você participa de uma comunidade
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artística, se quiser, você adiciona a sua voz ao descontentamento político.
Se um jornalista escreve um artigo sobre o fato de que a guerra é ilegal,
isso não pára a guerra. Se eu escrevo uma canção dizendo que a guerra é
ilegal, ela também não pára a guerra. Mas, quando você combina uma
música, um livro, um comentário no rádio, você se torna mais uma voz e
deixa claro que você é parte de uma filosofia maior, segundo a qual é
errado começar uma guerra. Eu acho que se você tem uma voz pública e
se posiciona com paixão em relação a determinado assunto, você não tem
outra alternativa a não ser achar uma forma de se expressar.
Você pensa que a política externa de Tony Blair e o fato de ele ter se
mostrado submisso a George W. Bush desapontou os ingleses?
Herbert: Eu devo dizer que eu estou desapontado com ele no nível
humano. Porque ele é um primeiro-ministro muito cristão e fala muito
sobre moralidade nos mesmos termos que Bush o faz. Usar essa
religiosidade e esse moralismo para dar suporte a uma guerra que vem
sendo criticada em todo o mundo é uma situação muito peculiar,
horrorosa.
Eu certamente penso que um primeiro-ministro de esquerda ser o melhor
amigo do presidente que está mais à direita no mundo é muito estranho.
E me impressiona o quanto Bush é radical na direção errada. Mesmo
assim, usando a lógica, eu prefiro ele a Bill Clinton, porque Bush é
claramente um alvo muito mais óbvio. Clinton fez coisas muito parecidas
com as que o Bush faz, mas de um modo mais camuflado.
É por isso que em "Goodbye Swingtime" você sampleia o som de livros
como "Rougue States", de Noam Chomsky, e "Stupid White Men", de
Michael Moore, caindo?
Herbert: Eu tentei construir a minha bibliografia, de onde eu tirei as
informações que tenho sobre a guerra. São as opiniões de pessoas que
influenciaram a minha opinião e traduzem o meu aprendizado e a minha
pesquisa. É um jeito de dar peso fisicamente à música. E, ao deixar os
livros caírem, eu dou peso à pesquisa que mostra porque nós acabamos
indo à guerra.
E você espera que as pessoas leiam esses livros depois de ouvir o disco ou
ver um show?
Herbert: Minha ambição é sempre mudar o modo de pensar de pelo
menos uma pessoa. Meu novo disco é sobre comida. E minha ambição
com ele é mudar a dieta de uma pessoa. E, com sorte, eu espero que essa
pessoa consiga mudar outra pessoa.
Então nós podemos dizer que, se com "Goodbye Swingtime" você fez o
seu "Fahrenheit 11 de Setembro", com esse novo disco você espera fazer
o seu "Supersize Me"?
Herbert: Eu espero não ser tão previsível. Talvez eu seja, ah, não (risos).
Mas o negócio com esse disco de comida que eu tenho pesquisado por 18
meses, criando uma espécie de livraria pessoal de sons.
Tem a ver com as faixas antiglobalização de "The Mechanics of
Destruction"?
Herbert: Tem um pouco a ver. É sobre a política de distribuição de
comida, mas também sobre prazer de encontrar fontes de som. Não
estou só interessado em gravar em panelas, porque é muito previsível.
Estou mais interessado em investigar porque há mais gente obesa nos
Estados Unidos do que há gente faminta. E como funciona esse
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