Boaventura de sousa santos



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Para além do Pensamento Abissal | 33

Conclusão

A construção epistemológica de uma ecologia de saberes não é tarefa fácil. 

Como conclusão, proponho um programa de pesquisa. Podemos identificar 

três conjuntos principais de questões, relacionados com a identificação de 

saberes, com os procedimentos que permitem relacioná‑los entre si e          

com a natureza e avaliação das intervenções no mundo real que possibilitam. 

O primeiro questionamento levanta uma série de questões que têm sido 

ignoradas pelas epistemologias do Norte global. Qual a perspectiva partir 

da qual poderemos identificar diferentes conhecimentos? Como podemos 

distinguir o conhecimento científico do conhecimento não‑científico? Como 

distinguir entre os vários conhecimentos não‑científicos? Como se distingue 

o conhecimento não‑ocidental do conhecimento ocidental? Se existem 

vários conhecimentos ocidentais e vários conhecimentos não‑ocidentais, 

como distingui‑los entre si? Qual a configuração dos conhecimentos híbri‑

dos que agregam componentes ocidentais e não‑ocidentais?

A segunda área de questionamento levanta as seguintes questões. Que 

tipos de relacionamento são possíveis entre os diferentes conhecimentos? 

Como distinguir incomensurabilidade, contradição, incompatibilidade, e 

complementariedade? Donde provém a vontade de traduzir? Quem são os 

tradutores? Como escolher os parceiros e tópicos de tradução? Como for‑

mar decisões partilhadas e distingui‑las das impostas? Como assegurar que 

a tradução intercultural não se transforma numa versão renovada do pen‑

samento abissal, numa versão “suavizada” de imperialismo e colonialismo? 

O terceiro questionamento diz respeito à natureza e avaliação das inter‑

venções no mundo real. Como podemos traduzir esta perspectiva em prá‑

ticas de conhecimento? Na busca de alternativas à dominação e à opressão, 

como distinguir entre alternativas ao sistema de opressão e dominação e 

alternativas dentro do sistema ou, mais especificamente, como distinguir 

alternativas ao capitalismo de alternativas dentro do capitalismo?

Em suma, como combater as linhas abissais usando instrumentos con‑

ceptuais e políticos que as não reproduzam? E, finalmente, uma questão 

com especial interesse para educadores: qual seria o impacto de uma 

concepção pós‑abissal de conhecimento (como uma ecologia de saberes) 

sobre as instituições educativas e centros de investigação? Nenhuma des‑

tas perguntas tem respostas definitivas. Mas o esforço para tentar dar‑lhes 

resposta – certamente um esforço colectivo e civilizacional – é, provavel‑

mente, a única forma de confrontar a nova e mais insidiosa versão do 

pensamento abissal identificada neste trabalho: a constante ascensão         

do paradigma da apropriação/violência no interior do paradigma da regu‑

lação/emancipação. 




3 | Boaventura de Sousa Santos 

É próprio da natureza da ecologia de saberes constituir‑se através de 

perguntas constantes e respostas incompletas. Aí reside a sua característica 

de conhecimento prudente. A ecologia de saberes capacita‑nos para uma 

visão mais abrangente daquilo que conhecemos, bem como do que des‑

conhecemos, e também nos previne para que aquilo que não sabemos é 

ignorância nossa, não ignorância em geral. 

A vigilância epistemológica requerida pela ecologia de saberes transforma 

o pensamento pós‑abissal num profundo exercício de auto‑reflexividade. 

Requer que os pensadores e actores pós‑abissais se vejam num contexto 

semelhante àquele em que Santo Agostinho se encontrava ao escrever as 

suas Confissões e que expressou eloquentemente desta forma: quaestio mihi 



factus sum, “Converti‑me numa questão para mim”. A diferença é que o 

tópico deixou de ser a confissão dos erros passados, para ser a participação 

solidária na construção de um futuro pessoal e colectivo, sem nunca se ter 

a certeza de não repetir os erros cometidos no passado.



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