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mais nada menos do que três sinos de uma igreja de uma cidade do
interior, em Quebec. Um outro ainda mostrava todos os sons produzidos
durante jogos, que a equipe gravava nas viagens: jogos de rua em
terrenos baldios e em quadras de hóquei, jogos de interior nos bilhares e
nas mesas, jogos com bastões, bolas, palavras e fichas, arrumados em
uma montagem que era quase uma peça musical. Uma vez fizemos uma
gravação de vinte e quatro horas no solstício de verão na zona rural perto
de Vancouver, e a partir disto extraímos dois minutos de cada hora para
formar um dia e uma noite exemplares. A CBC, que apoiou
financeiramente a série, não ficou muito animada com ela. Eles a
consideraram maçante. Ainda não tinham aprendido a ouvir, como nós,
com novos ouvidos.
Foi um começo. O rádio radical é o meio de se fazer isso. A destruição
criativa e a criação destrutiva. É um tema nietzscheano, mas é mais do
que isso. Ele é o tema do universo vivo. Posicione seus microfones e
captará as vozes dos deuses. Porque eles ainda estão lá: Osíris na cheia do
rio, Mercúrio no fogo do alquimista, Thor e Tifeu nas nuvens de
tempestade e a voz de Deus em toda parte.
Ear, inverno de 1987.
[Rádio Nova, constelações da radiofonia contemporânea 2/ Rio de
Janeiro: UFRJ, ECO, Publique, 1997. pp 27-39.]
Fonte : Rede Brasil de Comunicação Cidadã (
www.rbc.org.br
).
PUNK ROCK FEITO NA HORA
Robert Andrews
CARDIFF, País de Gales - O punk está de volta, e trouxe seu laptop. Uma
nova safra de bandas alternativas da Grã-Bretanha está mais uma vez
chutando o traseiro da máquina corporativa da música, graças ao arsenal
faça-você-mesmo da moderna tecnologia.
Usando a Web, os telefones celulares e serviços de mensagens
instantâneas, esses grupos iniciantes estão realizando concertos secretos
e espontâneos em lugares não-convencionais, numa tendência que vem
sendo chamada de guerrilla gigging (algo como "shows guerrilheiros").
Fonte de vida de uma nova cena musical em Londres, os guerrilla gigs
tornaram-se conhecidos mês passado, quando uma das bandas novas
mais comentadas da capital inglesa,
The Others
, "confiscou" dois vagões
do metrô londrino, fazendo um show improvisado para 200 fãs.
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Enquanto bandas mais estabelecidas teriam demorado vários meses e
precisado de uma cara campanha de marketing para fazer o mesmo, a
The Others conseguiu reunir o público em poucas horas graças a uma
mensagem criptografada enviada ao
fórum
da banda na Internet em que
os músicos pediam que seus fãs se encontrassem num pub local.
Já reunidos, os fãs usaram mensagens SMS para dar a dica a seus amigos
antes de irem todos a uma estação de trem para a furiosa apresentação
que durou
30 minutos
.
Mesmo que shows de graça não sejam novidade, o recente sucesso de
bandas quase desconhecidas em formar sua base de fãs e convocar
apresentações de última hora pela Internet representa um golpe contra o
marketing das gravadoras, que estão cada vez mais avessas ao risco e já
foram vistas como indispensáveis para quem busca a fama.
Aproveitando a concentração espontânea de pessoas proporcionada
pelas flash mobs, o guerrilla gigging decolou em novembro, quando o
grupo Jane's Addiction anunciou apresentações inesperadas a seus fãs
usando mensagens SMS. Esse ano, os ingleses do The Libertines usaram
um
fórum online
para convidar seus fãs mais leais para um show surpresa.
Agora, um número cada vez maior de artistas está descobrindo que seu
relacionamento com os fãs, consquistado com MP3 gratuitas e uma
presença freqüente em grupos de discussão, é tão recompensador quanto
qualquer turnê pré-planejada, e pode atrair um público entusiasmado até
mesmo para as apresentações mais acidentais.
A diversão vem justamente da idéia de "tocar por tocar", de acordo com
Chris Chinchilla, guitarrista da banda
Art Brut
, que usa um iBook G4 para
gravar CD-Rs e posta mensagens no
fórum
de sua banda para anunciar
shows em locais como galerias e capelas funerárias. "Você nunca sabe o
que esperar. Pode combinar um show na noite anterior e no dia seguinte
centenas de pessoas estarão lá", diz.
"Às vezes, a indústria fonográfica não quer ajudar, então você precisa
fazer o que estiver ao seu alcance", diz Chinchilla. "Usamos SMS, e-mail,
listas de discussão, meu Sony Ericsson T68i e tecnologias como o MSN
Messenger e o iChat. A partir daí, as pessoas espalham a notícia".
"Realmente conhecemos os nossos fãs", disse o vocalista da The Others,
Dominic Masters, à BBC Radio 1 recentemente, depois de ter convocado
os usuários de sua lista de discussão para um revoltoso e desautorizado
show instantâneo na recepção da emissora. "Em nosso website, meu
telefone aparece em cada mensagem postada. Tenho os nomes de cerca
de 500 garotos com quem costumo falar, e há cerca de mil endereços de
e-mail divulgados no site".
A The Others conseguiu formar um grupo coeso de ouvintes que lhe
rendeu o título de "banda nova mais cultuada da Grã-Bretanha" e que
atenderá sem pensar duas vezes a qualquer convocação de show
inesperado. "A força desse movimento está em sua comunidade", destaca
Imram Ahmed, da publicação
New Musical Express
. "Os shows podem ser
organizados em questão de horas. O local, a hora e o eventual valor do
ingresso são anunciados nas mensagens. Os fãs se encontram num local
combinado e depois vão juntos assistir a apresentação".
Segundo Howard Rheingold, autor de
Smart Mobs
, um livro que analisa
como as novas tecnologias ajudam a reunir grandes grupos, o fenômeno é
um exemplo perfeito de como a tecnologia ajuda a mobilizar ações
culturais coletivas. "Assim como a guitarra Fender permitiu a revolução do
rock n' roll, a telefonia celular e a comunicação em redes farão com que
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