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convocado para o ajuste teórico das próprias micro-polícicas e políticas de
minoria, reais ou imaginadas (como na década de 80, conhecidamente o
tempo dos new social movements), mas para a evocação dos fluxos
libidinosos liberados no sentido da esquizo-política psicodélica do tipo
“retrô” anos 60 e 70. Desta feita, muitos textos teóricos afirmativos sobre
techno, raves e Warehouse Parties – ao menos aqueles da fase heróica –
referem-se a fenômenos de desterritorialização como a libertação das
fronteiras do corpo, desindividualização dançante, deshierarquização da
relação entre DJ e multidão, democratização dos meios de produção, etc.
Por trás disso tudo está a esperança em relação a práticas de significação
não-fixadoras com força anti-autoritária, da forma em que foram
alimentadas por Deleuze e Guattari e que são hoje, segundo dizem,
reencontradas nas “raves”.
A intenção deste debate é, utilizando exemplos de textos, refletir sobre
estes três tipos de política, a saber: a política punk, a pop e a techno – no
sentido de uma apreciação crítica.
Notas
1. Oliver Marchart nasceu em Viena (Áustria) em 6.4.1968. Intelectual
extremamente ativo em Estudos da Cultura, participa do “Internationales
Forschungszentrum Kulturwissenschaften” (Instituto Internacional de
Estudos da Cultura) em Viena. Foi premiado com o “Sonderpreis zum
Österreichischen Staatspreis für Literaturkritik” (premiação oferecida pelo
estado austríaco por trabalhos na área de crítica literária). Desde 1998, é
membro do editorial coletivo do 'Traces: A Multilingual Journal of
Cultural Theory' . É autor, entre dezenas de outras obras, do livro
“Neoismus. Avantgarde und Selbsthistorisierung” (Neoismo. Vanguarda e
Autodeterminação Histórica, já nos meus fornos de tradução para o
Português) editado em 1997 pela editora Edition Selene,
2. Site do Force Inc.: http://www.force-inc.net/fim/
3. Editora alemã especializada em Michel Foucault, Deleuze, Baudrillard,
Virilio, Lyotard, Pós-estruturalismo, Arte, Estética e Ética. Quem quiser
ouvir o texto “Voici ce que je veux dire” de Foucault (RealAudio Player) é
só visitar o site da editora:
http://www.merve.de
4. A Bravo é uma revista alemã de cultura e música pop muito lida por
adolescentes. O endereço: http://www.bravo.de/sid05-
aaahFZVcSG2f12/bravo
5. “Die Fantastischen 4” (Os 4 Fantásticos) é uma banda alemã de
bastante sucesso, entre o pop e o hip-hop. Como o texto aqui traduzido
foi escrito em 1996, o autor refere-se ao cd duplo “live und direkt – die
fantastischen 4” (columbia/sony music entertainment/ germany). O
endereço da banda é:
http://www.diefantastischenvier.de
6. O MIPC é um instituto ligado à “Manchester Metropolitan University” e
propõe-se a ser uma unidade de pesquisa multi-disciplinar, concentrada
em culturas urbanas contemporâneas. Visite o site:
http://www.mmu.ac.uk/h-ss/mipc/
7. O escritor Rainald Goetz nasceu no ano de 1954 em Munique
(Alemanha) e vive atualmente em Berlim. Autor pop premiado e
performático, escreveu peças teatrais (em destaque a estranha “Jeff
Koons” [1993] e “Raves”, que saiu como livro de contos e peça
teatral [1999/2000], entre outros); o diártio digital, depois editado em
livro, “Abfall für alle” (Lixo para todos)[1999] e várias poesias.
8.A sigla RAF está para “Rote-Armee-Fraktion” (Facção Armada Vermelha)
grupo terrorista de extrema esquerda que surgiu em fins dos anos 60 e se
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desfez oficialmente em abril de 1998. Uma parte de seus membros já
morreu, outros estão presos e alguns ainda são procurados pela polícia
com suas fotos em cartazes de “procura-se” afixados em estações de
metrô e demais locais públicos. Um site que tem praticamente tudo sobre
a RAF (em Alemão, mas parece ter uma versão em Inglês, ao menos de
parte do conteúdo) é o que está sob o endereço:
http://www.rafinfo.de/kapitel_00.shtml
9. NSK é a sigla para “Neue Slowenische Kunst” (Nova Arte Eslovena) -
movimento de arte política eslovena (extrema direita).
10. Laibach é uma banda de extrema direita fundada em 1980 em
Trbovlje (Eslovénia) por dois ex-membros do exército iugoslavo (Tomaz
Hostnik e Miran Mohar). O grupo foi o braço musical da NSK [9].
Traduzido do Alemão por Álvaro Filho
Críticas construtivas, sugestões, reflexões e, evidentemente, elogios
(apenas quando merecidos) são bem-vindos:
alvaroaraujo@hotmail.com
Fonte: Página de Oliver Marchart (
www.t0.or.at/~oliver/
).
RÁDIO RADICAL
Murray Schafer
Qual foi a origem do rádio? Que ela não é recente, isto é certo. O rádio
existiu muito antes de ter sido inventado. Ele existia sempre que havia
vozes invisíveis: no vento, no trovão, no sonho. Ao ouvir a história em
retrospecto, verificamos que ele era o sistema de comunicação original
através do qual os deuses falavam com a humanidade. Era o recurso
utilizado pelas vozes que, livres do mundo dos fenômenos, comunicavam
seus pensamentos e desejos aos atemorizados mortais. A voz divina,
infinitamente poderosa precisamente por causa de sua invisibilidade, é
encontrada com freqüência nas religiões antigas e no folclore. Ela é o som
de Thor, de Tifeu das cem cabeças, de Mercúrio, o mensageiro. Ela está
sempre presente na Bíblia: “Um anjo de Deus disse-me em sonhos: Jacó
— Eis-me aqui, respondi” (Gênesis 31. p. 11).
Naqueles dias não havia nada além de transmissões religiosas. A
programação era arbitrária; os programas começavam quando menos se
esperava, O poder das transmissões era sempre amedrontador, como
quando Javé estrondeia para Já: “Tens uma voz semelhante à minha?”
O rádio continuou a ser um veículo imponente, mesmo depois de sua
dessacralização. Lendas contam como os antigos reis da Mesopotâmia e
da China podiam transmitir mensagens lacradas em caixas aos
governadores de províncias distantes, que ao abri-las ouviam os
comandos do rei. Ter uma “audiência” com o rei implicava em não ousar
olhar seu rosto. “Audiência” vem do verbo latino oudire, ouvir. A mesma
raiz fornece a palavra “obedecer” (oboudire), que significa ouvir de baixo.
Ouvir é obedecer.
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