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seis meses de existência, já podemos encontrar no Google mais de
4.940.000 referências para a palavra podcasting. Estima-se que há mais
de 6 milhões de usuários do sistema no mundo. No Brasil, os podcasts
começam a surgir em 2005, e hoje podemos contar algumas dezenas,
estando, também, em crescimento geométrico(5). Pesquisa realizada pela
Forrester estima que existirá, até o fim do ano, mais de 300.000 podcasts
e até 2009, 13 milhões(6).
Há vários tipos de podcast, na maioria temáticos: tecnologia, arte, cultura,
economia, notícia, literatura, música... Um exemplo interessante é o
“Sound Seeing” onde pessoas fazem roteiros não oficiais de museus. Você
pode baixar o roteiro, colocar no seu tocador de MP3 e fazer a visita
ouvindo guias não oficiais(7). Outra experiência interessante é a da BBC
que criou a “BBC Radio Podcasts” como mais de 20 programas
disponíveis. Trata-se, nesse caso, de uma reação e de um reconhecimento
da importância das novas mídias por um gigante do broadcasting(8).
Rádios comerciais já estão buscando formas de fazer dinheiro com os
podcast(9). Religiosos também utilizam a tecnologia com os “Godcasts”,
podcasts de cunho religioso utilizados por diversos cultos (católico, judeu,
budista) para manter contato e ampliar o número de fiéis(10). O leque de
opções é crescente e bastante diversificado, tanto em relação aos temas,
quanto aos países ou línguas.
Liberação das emissões sonoras
Parece que o que está em jogo com mais essa expressão da cibercultura é
a própria redefinição da indústria cultural massiva, no caso, a
reconfiguração do “rádio”. A questão que sempre se coloca (com o open
journalism, com os blogs, com os softwares livres, etc.) é se estamos
diante, ou não, da criação de um novo gênero de produção, de novos
processos de comunicação e de publicação. Será que podemos chamar de
“rádio” arquivos MP3, com formato de emissão radiofônica, gravados por
qualquer pessoa e disponibilizados na internet por meio de blogs e
sistemas RSS para transmiti-lo a um grupo de assinantes? O mesmo
podemos argüir em relação aos diários virtuais (diários?) ou aos jornais
on-line (jornal?). A analogia é com a mídia massiva rádio, mas não seria
apenas mais uma metáfora?
Matéria de capa da revista Wired de março de 2005 estampava “the end
of radio (as we know it)”. A revista referia-se aos novos sistemas de
emissão radiofônica, entre eles o podcast. Vemos aqui um duplo erro,
comum nas análises mais apressadas da cibercultura: 1. o fim do meio
analógico e massivo e, 2. sua substituição por outro digital e
personalizado. Primeiro, não é o fim do rádio como meio de comunicação.
O podcast só vem a somar aos diversos formatos broadcasting. Segundo,
tampouco é o fim do rádio como nós conhecemos hoje, em seus formatos
AM e FM. O que estamos vendo é uma reconfiguração midiática em que
ambos os formatos permanecem e têm seus nichos de usuários
assegurados. É muito bom poder baixar um programa à la carte, mas
também é muito bom ouvir um programa massivo no carro ou os
comentários dos jogos de futebol nos estádios em tempo real com um
radinho de pilha. Usuários com papéis diferenciados, funções
diferenciadas e mídias diferenciadas. Não se trata da substituição de um
formato por outro, já que os dois sistemas suprem necessidades não
concorrentes: o rádio massivo coloca o ouvinte em sintonia com uma
esfera coletiva; a emissão personalizada permite escolhas de acordo com
o gosto pessoal, além de um controle do espaço e do tempo da audição.
Chegamos aqui ao cerne de uma das leis da cibercultura: a lógica da
reconfiguração. Não se trata, nos diversos fenômenos contemporâneos,
de extinção ou aniquilamento de formatos e meios. A atual revolução das
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formas de emissão sonora pela tecnologia digital e pelas redes
telemáticas não irá fazer desaparecer o rádio massivo (AM ou FM, mesmo
que a forma de emissão seja digital). Poderíamos até pensar, em um
futuro próximo, em um tocador conectado diretamente `a internet. Nesse
caso não estaríamos voltando ao streaming das atuais rádios AM/FM? No
caso da emissão de rádio massiva e da emissão à la carte do podcast,
mantêm-se desejos de personalização e de customização que os dois
modelos oferecem de forma a enriquecer a paisagem comunicacional
contemporânea. A questão é complexa e exige um pensamento que não
funcione por exclusão, mas por adição. A lógica da cibercultura não é o
“ou” mas o “e”.
Trata-se efetivamente de liberação do pólo da emissão. Na atual
cibercultura, blogs, fóruns temáticos, sistemas peer to peer de troca de
arquivos, software livres, podcast, softwares sociais, como o Orkut, e
tantas outras práticas contemporâneas, atestam essa hipótese. O suposto
excesso de informação nada mais é do que a emergência de diversas
vozes, exprimindo-se sobre diversos assuntos, e sob diversos formatos,
distribuídos ao redor do mundo. Outra característica importante em
questão é o princípio de conexão, o compartilhamento de experiências,
arquivos, softwares em redes. Estamos vendo esse tripé em ação com os
podcasts: 1. liberação do pólo da emissão (ouvinte produtor), 2. princípio
de conexão: distribuição por indexação de sites na rede (RSS) em conexão
planetária e, 3. reconfiguração dos formatos de emissão de conteúdos
sonoros (em dois pólos: o “faça você mesmo” a sua rádio; e as rádios
massivas criando programas em podcasting, como a BBC).
Brecht, se estivesse vivo, talvez nos oferecesse um podcast seu, que
provavelmente daria, a cada usuário, a possibilidade de ouvir leituras de
suas peças ou de grandes dramaturgos. Ou, com certeza, ele estaria muito
feliz vendo sua utopia concretizada na atual difusão sonora dos podcasts,
onde os que eram apenas ouvintes transformam-se em produtores de
informação. A cibercultura está fazendo de cada receptor (espectador,
ouvinte, leitor) um produtor em potencial de informação, tornando mais
rico e complexo o ambiente comunicacional contemporâneo.
Referências
BBC., Next iTunes to support podcasts, in
http://news.bbc.co.uk/2/hi/technology/4575075.stm
Brecht, Bertold. Teorías de la Radio. Ed. Península, Barcelona, 1973.,
http://www.eptic.com.br/Brecht.pdf
.
Bruno, Antony., Podcasting lures wary music biz., in Reuters.,
http://www.reuters.com/newsArticle.jhtml?type=internetNews&storyID=
8761417
Dotinga, R., Radio Sets Eyes on Podcast Profit., in Wired.,
http://www.wired.com/news/digiwood/0,1412,67809,00.html?tw=wn_1c
ulthead
Kennedy, Randy., With Irreverence and an iPod, Recreating the Museum
Tour, New York Times,
http://www.nytimes.com/2005/05/28/arts/design/28podc.html?ex=1274
932800&en=d1c6d7073dcc036&ei=5088&partner=rssnyt&emc=rss
(28/05/2005)
Kharif, Olga., Need a Lift? Try a Godcast, in
http://www.businessweek.com/technology/content/may2005/tc2005052
5_0375_tc_211.htm
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