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inventor, o artista Paulo Nenflidio, paulista de São Bernardo do Campo, já
havia criado a "Bicicleta Maracatu" em 2000 e "Berimbau Digital" em
2003, com o qual logra transformar em arte um berimbau, um mouse e
uma bobina de campainha, afirmando em ambos o conceito da
interatividade e da dinâmica da mutação na tarefa de criar instrumentos,
como um luthier, ou de recuperar o dom de criar o jogo e o jogador, como
um artista.
Paulo celebra o elo entre artes visuais e música que historicamente
encontra suas bases vanguardistas no manifesto futurista "A Arte do
Ruído" (1913) de Luigi Russolo e raízes contemporâneas em Jonh Cage.
No Brasil este elo também está presente na arte do Chelpa Ferro, Tato
Taborda, Grupo Grivo, Paulo Vivacqua e Marssares, apenas para citar
alguns exemplos.
O original trabalho de Nenflídio constrói momentos precisos
transformando forças naturais como o vento ou mesmo o simples gesto
mecânico de pedalar uma bicicleta em música. Lusco-Fusco é uma caixa
de música crepuscular, ou seja, a obra é acionada durante o crepúsculo,
emitindo um som similar aos sinos. O momento em que o objeto é
acionado e o tempo de duração deste estado ativo é determinado pela
variação de luz.
Uma engenhoca instalada na traseira de uma bicicleta, a "Bicicleta
Maracatu", produz a rítmica do maracatu percutindo um agogô quando
pedalada. Em lugar de priorizar uma estética do ruído, como pontua o
crítico de Arte Rodrigo Moura, geralmente associada à música
eletroacústica nesse contexto, Paulo optou por construir instrumentos
tonais que percutem cordas de metal afinadas em escala natural,
estruturas construídas em madeira semelhantes a instrumentos acústicos,
criando melodias tocadas por elementos da natureza.
Paulo impessoaliza o instrumento por ele concebido, provocando uma
atmosfera de atemporalidade, desloca a sensação atávica da construção
humana para uma outra esfera de possibilidade. O sentido paradoxal da
invenção: desde a transformação da energia natural, solta no acaso, ao
momento único e efêmero de cada música tocada por suas engenhocas
instalam-se na arte como questões de indeterminação, efemeridade,
sujeito e objeto da performance, tempo-espaço, acaso e intenção.
Link: Página de Paulo Nenflídio (
http://paulonenflidio.vilabol.uol.com.br/
).
Fonte: A Gertil Carioca (
www.agentilcarioca.com.br
).
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PODCAST - EMISSÃO SONORA, FUTURO DO RÁDIO E CIBERCULTURA
André Lemos(1)
Brecht, nas suas “teorias de la radio” de 1932, buscava transformar o
rádio em um instrumento de comunicação bi-direcional, que fizesse com
que cada ouvinte se tornasse também um produtor de informação. Brecht
queria uma “rebelião por parte do ouvinte, su ativação e sua reabilitação
como produtor”. Para o dramaturgo alemão “a radiodifusão deveria
consequentemente se afastar daqueles que a abastecem e tornar os
ouvintes abastecedores”. Parece que seu sonho, a sua utopia de
reabilitação dos ouvintes como produtores se realiza com o fenômeno
mundial dos podcasts. Embora não seja como o rádio que conhecemos
hoje, com emissão centralizada e difundindo massivamente programas
em streaming, o podcasting usa o formato e a metáfora para fazer com
que qualquer um seja produtor de emissões sonoras. Essa é mais uma
expressão da cibercultura como liberação do pólo da emissão.
Podcasting
O sistema de produção e difusão de conteúdos sonoros conhecido como
podcast surge no final de 2004. O nome é um neologismo dos termos
“iPod” (tocador de MP3 da Apple) e “broadcasting” (transmissão, sistema
de disseminação de informação em larga escala). O termo não parece ser
muito bom, já que não é necessário um iPod (qualquer tocador de MP3
serve) e não se trata de broadcast, mas do que podemos chamar de
webcast. A wikipédia define podcasting como “um método de publicar
arquivos de som na Internet, permitindo aos ususários que se inscrevam,
num sistema de feed e recebam novos arquivos de audio
automaticamente. O podcasting difere de outros tipos de distribuição de
conteúdo de audio por que ele usa o arquivo de formato RSS 2.0. Esta
técnica permitiu que muitos produtores criassem programas de rádio
auto-produzidos e distribuídos.”(2)
O podcast é assim um sistema de produção e difusão de arquivos sonoros
que guardam similitudes com o formato dos programas de rádio. O
sistema funciona da seguinte forma: com um computador doméstico
equipado com um microfone e softwares de edição de som, o usuário
grava um programa (sobre o que quiser), salva como arquivo de som
(MP3, por exemplo) e depois torna-o disponível em sites que são
indexados em agregadores RSS (Really Simple Syndication)(3). O usuário
baixa o arquivo para o computador e daí para seu tocador de MP3. O
sistema, criado pelo ex-VJ da MTV americana Adam Curry, pressupõe a
cadeia completa de produção e de distribuição. Podcasting é esse
conjunto de tecnologias para produção e distribuição de conteúdo
sonoro. Como em outras formas de produção da informação na
cibercultura, aparecem problemas de direito de autor (uso de músicas nos
podcasts, por exemplo). O interessante seria a emergência de programas
com licenças de uso do tipo “Creative Commons”(4) que garantisse os
direitos e as possibilidades de uso livre do conteúdo produzido. Poucos
são os podcasts que usam essa licença.
O fenômeno é recente, mas em crescimento vertiginoso. Em menos de
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