Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge Rodrigues
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2.1.2 O modelo VRIO
A teoria dos recursos é um modelo teórico com origem no campo da gestão estratégica,
para identificar recursos organizacionais complexos, intangíveis e dinâmicos, com o
objetivo de obter uma vantagem competitiva (Penrose 1959, Wernerfelt 1984, Barney
1991). Para Prahalad et Hamel (1990) a verdadeira fonte de vantagem competitiva
deverá ser procurada na capacidade de gestão da empresa para agregar o potencial das
tecnologias com as aptidões de produção em competências, as quais, capacitarão essa
empresa para se adaptar rapidamente às oportunidades proporcionadas pela mudança.
Para os mesmos autores, as competências nucleares são constituídas pela aprendizagem
coletiva: comunicação, envolvimento e um profundo compromisso com o trabalho nas
zonas de fronteira da empresa. A indiossincrasia dos recursos e competências são
potenciais fontes de vantagem competitiva sustentável e de desempenho organizacional
superior, devido a serem inimitáveis e estarem fortemente relacionadas com uma
determinada empresa (Teece, 2007). A longo prazo, a vantagem competitiva sustentável
depende das capacidades dinâmicas da empresa, ou seja, da sua capacidade de
construção, adaptação, integração e reconfiguração interna e externa das suas aptidões,
recursos e competências funcionais, para aproveitar rapidamente as oportunidades
geradas pela mudança no meio envolvente (Teece et al., 1997). Logo, uma empresa que
detenha recursos valiosos, raros, insubstituíveis e organizados – VRIO – tem uma
potencial vantagem competitiva (Barney, 1997). Porém, se os mesmos recursos forem
difíceis de imitar, então, a vantagem competitiva transforma-se numa potencial
vantagem competitiva sustentável (Figura 2.1).
Figura 2.1 – Modelo VRIO
No entanto, os recursos não podem ser avaliados isoladamente, pois, o seu valor
depende da sua relação com as forças do mercado. O modelo VRIO assume que,
adicionalmente à posse dos direitos de propriedade (ou possibilidade de deles dispor)
Recursos estratégicos
tangíveis
Competências
Vantagem competitiva
nucleares
(sustentável)
Recursos estratégicos
Capacidades
intangíveis
dinâmicas
Fonte: Campos et al. (2005). Adaptado.
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dos recursos valiosos, raros e não imitáveis, estes também deverão estar organizados.
Ou seja, uma empresa deverá estar ou ser concebida de forma a tirar benefícios da
potencial utilidade proporcionada pelos recursos de que dispõe, direta ou indiretamente.
Só assim os recursos, considerados críticos ou estratégicos, podem ser transformados
em vantagem competitiva ou vantagem competitiva sustentável. A visão baseada nos
recursos considera que todas as empresas de um mesmo setor económico possuem
determinados recursos e capacidades que lhe são intrínsecas. Assim, este modelo sugere
quatro questões a que um gestor deverá responder sobre um recurso ou capacidade, para
determinar o seu potencial competitivo, a saber:
a)
O valor. O recurso permite que a empresa explore uma oportunidade do meio
envolvente e/ou neutralize uma ameaça desse mesmo meio envolvente?
b)
A raridade. O recurso é controlado, hoje, por um pequeno número de empresas
concorrentes?
c)
A inimitabilidade. As organizações sem esse recurso enfrentam uma desvantagem
de custo para o obter ou para o desenvolver?
d)
A empresa. As políticas e processos da empresa são concebidas para dar suporte à
exploração dos seus recursos valiosos, raros e difíceis de imitar?
O modelo VRIO tem subjacentes dois pressupostos básicos sobre os recursos e
capacidades que uma empresa pode controlar: a heterogeneidade e a inimitabilidade.
São pois, estes dois pressupostos, baseados nas imperfeições dos mercados de fatores,
que permitem explicar por que algumas empresas superam outras, num mesmo setor
económico. Se uma empresa possui recursos e capacidades que outras não detêm, e se
estas consideram que é muito oneroso imitar esses recursos e capacidades, a empresa
que possui esses ativos tangíveis e intangíveis pode obter uma vantagem competitiva,
neste caso, sustentável. Ou seja, aquela empresa disporá de uma vantagem competitiva
sustentável se tiver rendibilidades acima do normal, durante longos períodos de tempo.
2.2 O fator família
Com base nos pressupostos de heterogeneidade e inimitabilidade da teoria dos recursos,
Habbershon et Williamson (1999) demonstram que as empresas controladas por uma
família empresária são particularmente idiossincráticas e a teoria dos recursos é um bom
modelo para explicar como elas podem criar e manter uma vantagem competitiva. Esta
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é obtida, potencialmente, através de um conjunto complexo de fatores sistémicos que
resultam da interação dos subsistemas da família empresária: família de controlo,
negócio e indivíduo membro da família. Esta influência única e sistémica pode ser
obtida através dos recursos e capacidades organizacionais (Habbershon et al. 2003,
460), as quais podem ser percebidas como caraterísticas fortemente incorporadas numa
família empresária. Este conceito é, então, o resultado de todas as interações daqueles
subsistemas e pode ser formalizada numa função utilidade de três ramos:
a)
Ramo favorável “f
+
”. É o ramo que se refere às influências positivas do fator
família, distinto ( distinctive), e que detêm o potencial de proporcionar uma
vantagem competitiva em termos de criação de valor;
b)
Ramo neutro “f
0
”. Refere-se à influência neutral da família empresária em relação
ao desempenho da organização;
c)
Ramo desfavorável “f-”. É o ramo que regista as influências negativas do fator
família, restrito ( constrictive), que detêm o potencial de limitar a competitividade.
Então, o fator família permite identificar a fonte da indiossicrasia do perfil dos recursos
detidos por uma empresa familiar controlada por uma família empresária e fornece
orientações para explicar como elas criam outcomes heterogéneos (Serrano et al. 2006).
Para Sirmon et Hitt (2003, 346) os recursos são condição necessária mas não suficiente
para se atingir uma vantagem competitiva sustentável, devendo ser geridos de modo
apropriado, por um processo constituído por três componentes complementares e
interdependentes, não necessariamente sequenciais: inventário dos recursos (avaliação,
aquisição e retenção), agregação desses recursos e alavancagem dos mesmos. A gestão
efetiva dos recursos da empresa familiar pode ser vista como criação de riqueza, quer
para a família empresária quer para a empresa familiar. Zellweger et al. (2010)
desenvolveram um modelo que descreve como o fator família poderá variar conforme as
famílias empresárias, e como parte destas são, claramente, mais capazes de desenvolver
aquela caraterística, sendo de considerar três dimensões (Chrisman et al. 2005, 556):
a)
Envolvimento. Considera o envolvimento da família empresária na posse do
capital, na gestão, no controlo da empresa familiar e na sucessão transgeracional;
b)
Intenção. Descreve a essência do negócio familiar e a visão da família empresária;
c)
Identidade organizacional. Descreve os comportamentos coletivos e a identidade
da organização.
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