Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge Rodrigues
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e perspetivas teóricas, qual melting-pot de conceitos, modelos e teorias tomados de
empréstimo – por exemplo da literatura sobre empresas familiares, da teoria da agência
ou da teoria baseada nos recursos – que através de analogias nos permita traçar uma
tipologia das relações de poder no campo família empresária.
0.3 Objetivos específicos
Na verdade, nunca se sabe tudo sobre um determinado fenómeno social, neste caso, o
comportamento da família empresária. Ou seja, o conhecimento socialmente útil sobre
um assunto está sempre afetado de ignorância parcial e à medida que se avança no
mesmo, mais interrogações se levantam. Logo, o conhecimento nasce do desejo de se
criar qualquer coisa que não existe a partir daquilo que já existe. Tal processo consiste,
então, em descobrir, retirar ou compreender os fenómenos da natureza, no contexto em
que são gerados, pois esse contexto influencia a questão que impulsiona o processo de
investigação, influencia o sujeito e, simultaneamente, é influenciado por ele.
Assim, a presente dissertação pretende contribuir para gerar conhecimento e apresentar
abordagens teóricas e metodológicas alternativas para apreender as especificidades e a
dinâmica da interação entre família empresária e empresa familiar, quer para a academia
quer para a prática organizacional.
Como consequência, esta dissertação tem como objetivos específicos:
a)
Delimitar o conceito de família empresária;
b)
Contribuir para tornar mais conhecido o conceito de governabilidade familiar,
devido ao papel central que a mesma desempenha no seio destas organizações;
c)
Submeter o projeto de dissertação a discussão, para obtenção do grau de mestre
em sociologia.
Podendo parecer pouco ambiciosos, estes objetivos servirão de motivação para outras
análises, apesar de condicionados, como se explica em 7.3. Limitações da dissertação.
Contudo, os mesmos moldam a escolha da opção metodológica seguida.
0.4 Opção metodológica
Há ocasiões em que a experiência passa à frente da teoria, sendo a primeira a encontrar
novos factos; o papel da teoria é então o de retroverter as observações já realizadas,
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cabendo ao teórico reunir os novos dados e elaborar um edifício lógico no qual todos
eles se integrem (Magueijo, 2003: 64). Cientes de que o conhecimento e as ideias atuais,
quer sobre a família empresária quer sobre a empresa familiar, oscilam entre conceitos
cientificamente comprovados até às boas intenções, porventura naïfs, o que os torna
questionáveis (Gallo et al. 2009, 15), a opção metodológica para esta dissertação em
Sociologia – área de especialização em Sociologia Económica e das Organizações,
assenta no estudo de casos (Leppäaho et al. 2016; Gioia et al. 2013), procurando captar
o construto família empresária e respetivas relações de poder, por acreditarmos que a
maior parte deste conhecimento está fragmentado e necessita de ser organizado em
modelos teóricos mais completos (Gallo 2009, 16).
Assim, a dissertação tem um conteúdo teórico forte (cerca de 5/6) que procura refletir o
“state of art” e ser suficientemente genérico e abstrato, o qual foi aplicado a dois casos
de estudo autónomos (cerca de 1/6, devido à escassez de informação disponível), sobre
famílias empresárias, que podem ser contestados por outros investigadores. A
metodologia propiamente dita e a componente empírica são apresentadas de forma
desenvolvida no Capítulo 6. Estudo de casos.
A estrutura da dissertação comporta um conjunto de oito capítulos, cujo primeiro, não
numerado, é constituído por esta Introdução, a qual lança o problema a abordar, os
objetivos e a opção metodológica. O capítulo um trata do surgimento da oportunidade
até á gestação da família empresária e define, também, o conceito de empresa familiar.
O segundo capítulo relaciona a teoria dos recursos com o conceito família empresária,
tentando explicitar o fator família na empresa familiar.
O capítulo três apresenta os conceitos de campo, habitus e capital simbólico, em
Bourdieu, e ainda o conceito de instituição, de North. O capítulo quatro apresenta os
públicos-alvo da família empresária, internos e externos, e a sua interação, para no
capítulo cinco se refletir sobre os sistemas de governo deste tipo de família.
O capítulo seis constitui a parte empírica da dissertação, apresenta a metodologia e os
dois estudos de caso de família empresária: a família Champalimaud e a família Espírito
Santo, procurando comumnalidades entre elas, sem fazer generalizações analíticas. O
Capítulo sete apresenta as reflexões finais, as limitações do trabalho e postula sobre a
investigação futura.
As referências bibliográficas, por ordem alfabética do primeiro autor, seguem o método
de Chicago.
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Capítulo 1. Da oportunidade à família empresária
A revisão de literatura procura descrever a trajetória da família empresária desde a ideia
original de negócio do fundador até à empresa multigeracional. A primeira subseção
define os conceitos de empresário, negócio e família, alicerces do desenvolvimento
posterior. A subseção dois apresenta o conceito de empresa familiar, fazendo a ponte
com a subseção seguinte. A subseção três preocupa-se com a problemática de definição
do construto família empresária.
A dinâmica do capitalismo requer pessoas ativas – disciplina, trabalho duro e lógica
utilitária – mas igualmente criativas, capazes de tomarem iniciativa e de aceitar riscos.
Não basta a racionalidade, a rotina e a disciplina do trabalho: o aspeto crucial no
capitalismo está na capacidade e coragem de empreender, de cometimentos ousados, de
aproveitar oportunidades e de desfrutar do gozo de acertar, pelo que a criatividade
humana – incluindo o sonho, a aventura, a ambição – é o que melhor explica o seu
incrível sucesso (Moreira 2009, 20).
A essência do capitalismo não é o individualismo, pois, aquele só surge quando o
problema é social. Logo, é preciso mais do que um indivíduo para que surja a ordem
social. É evidente que a esfera individual existe, mas só quando o mercado, as empresas
e as sociedades surgem, se pode falar do sistema capitalista. A essência do capitalismo
é, então, a comunidade, é a criação como projeto de vida, é a livre associação e a
cooperação que se dá entre homens e mulheres para realizar objetivos comuns. Para se
ser empresário é necessário ter bom senso e talento para inspirar e mobilizar os outros e
para os organizar voluntariamente. Sem investimento no capital social, sem redes
relacionais e relações de confiança, os projetos e os negócios ficam à partida minados,
sem crédito (Moreira 2009, 20; Ferreira et al. 2010). Parece ser neste contexto que
emerge o empresário, ao descobrir e aproveitar uma oportunidade – o negócio ou
empreendimento, comprando meios de produção a certos preços, para os combinar num
produto ou serviço que venderá a um preço incerto em função dos compromissos dos
seus custos, sendo-lhe atribuídas duas funções (Ferreira et al. 2010: 70-76):
a)
Circulação. Oferece aos clientes os produtos ou serviços que estes precisam em
função das suas necessidades e dos meios de que dispõem;
b)
Assunção de riscos. Conhecendo o valor certo dos seus compromissos, existe
incerteza quanto ao preço a que pode vender os seus produtos ou serviços.
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