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suas verdades e apresentem generalizações, eles precisam ter oportunidades
de testar e aprimorar suas
próprias conjecturas.
O pesquisador Tall (1989), observa que a noção de prova formal entre os estudantes é muito difícil,
a prova matemática difere de convencer um amigo ou inimigo, isso talvez esteja baseado em duas idéias
importantes: a pessoa que formula uma definição clara e a dedução de uma verdade da declaração do
outro.
O ensino e aprendizagem da prova rigorosa são destacados por Radford (1994), quando expõe sua
preocupação dizendo que “
o conceito tido pelos alunos acerca da demonstração, esta subentendida pela
conceitualização que eles tem dos objetos matemáticos”
. O pesquisador, ainda, propõe que o ensino da
demonstração deva ser acompanhado de uma mudança conceitual dos objetos matemáticos.
Em sua pesquisa sobre a prova rigorosa e demonstração Hanna (1997) expõe sobre sua prática em
escolas canadenses, da importância cada vez menor da demonstração, principalmente em escolas
secundárias. Ela acredita que
isto pode ser creditado, em parte, pelo grande número de docentes de
matemática que têm sido levados pelo desenvolvimento da matemática e da investigação em educação
matemática, onde a demonstração não teria um papel fundamental na teoria e na prática didática na
aprendizagem.
Uma discussão acerca da percepção e argumentação da prova matemática é discutida por Otte
(1998). Na distinção entre a análise e síntese ele descreve que:
“[...]
tem sido desentendida em grande parte porque os problemas em se empregar os
sinônimos e a indeterminação da tradução tem sido considerado mais fundamentais que
o problema da perspectiva e a carga teórica na observação empírica
”.
De Villiers (2001), observa as implicações sobre o papel e função da demonstração em matemática,
dizendo que “
tradicionalmente a idéia principal é remover a dúvida pessoal ou de céticos”.
Balacheff (1999), fala do diagnóstico de quais poderiam ser as origens das dificuldades do ensino e
aprendizagem da demonstração em matemática, sob o ponto de vista do contrato didático que surge entre
alunos e professores. Nesta concepção de
verdade da prova, o professor é a garantia de legitimidade e de
validez daquilo que se constrói em sala. Nesta implicação, fica o aluno privado de ter um acesso autêntico
na problemática entre verdade e prova. Estas superações da dificuldade inerente aos sistemas didáticos
poderiam ser superadas devolvendo a responsabilidade ao aluno, sobre suas produções.
Destas pesquisas que apontam a pesquisa internacional sobre funções, tipos, esquemas,
percepção, didática e outras que não inserimos aqui se notam a freqüência com que este tema é
apresentado na comunidade Matemática e na Educação Matemática. Este levantamento, embora seja uma
amostra dos artigos publicados em periódicos e anais nas duas últimas décadas, observa-se,
principalmente no campo da mídia eletrônica, uma discussão bem mais dinâmica.
No Brasil, essa linha de pesquisa nos parece infinitamente diminuída.
Pesquisadores como Garnica
(1995), Nasser e Tinoco (2001), são destaques neste cenário.
A pesquisa na linha de provas e demonstrações no Brasil pode ser lida sob a óptica dos professores
e pesquisadores na universidade como fez Garnica (1995). Neste trabalho de interpretações dos dados, o
pesquisador confirma a importância da prova rigorosa ou demonstração na licenciatura e reduz a duas
leituras
: a leitura técnica
e
a leitura crítica
. Na leitura técnica admite-se a prova, já como prova rigorosa, e
exclui outras formas possíveis de rigor, enquanto que na leitura crítica a “
prova rigorosa é focada em seus
relativismos, expondo-a
”.
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Em outro trabalho desenvolvido com professores dos ensinos fundamental e médio e de
licenciandos, como o fizeram as professoras Nasser e Tinoco do Projeto Fundão do Instituto de Matemática
da UFRJ. Elas relatam as atividades que foram desenvolvidas e aplicadas por
um grupo de professores,
pesquisadores e licenciandos. Já na introdução deste trabalho, os pesquisadores observavam sobre:
(a)
as
funções da prova;
(b)
tipos de provas aceitos por matemáticos e educadores matemáticos, uma justificativa
sobre o porquê desenvolver atividade de argumentação em sala de aula e as estratégias usadas para
desenvolver as habilidades de argumentação dos alunos.
3. Metodologia
Esta pesquisa foi realizada com amostra de uma turma do 2º ano do curso de Licenciatura em
Matemática, pertencente ao ensino noturno de uma Faculdade particular. O nosso objetivo era constatar os
possíveis significados atribuídos às demonstrações ou provas matemáticas pelos sujeitos da pesquisa.
Para tanto, pesquisou-se dentre estes alunos em três momentos. Em um primeiro, foram
investigados, os
significados
por meio de um questionamento:
Escreva abaixo tudo o que você sabe
sobre demonstração em Matemática e para que serve.
Em
outro momento, os
significados
por meio de
testes objetivos e, por fim, o alinhamento dos dois primeiros.
Os testes apresentados foram semelhantes aos aplicados pela pesquisadora Hoyles
4
, da
Universidade de Londres, e a pesquisa foi publicada no
For the Learning of Mathematics
(1997)
.
O
instrumento foi elaborado e aplicado para avaliar o
National Curriculum
inglês (equivalente aos nossos
Parâmetros Curriculares Nacionais
) relativamente à prova e à demonstração em álgebra e em geometria.
Uma parte destes testes ingleses, especificamente a algébrica, não foi utilizada nesta pesquisa
devido ao fato dos nossos alunos do curso de licenciatura em Matemática não terem tido contato com
demonstrações e provas algébricas até aquele momento.
O valor destes testes reside na possibilidade deles oferecerem respostas indicativas de significados
dos alunos quanto às demonstrações, não somente no que se referem aos significados elaborados por eles
próprios, mas também sobre aquilo que eles acreditam ser o significado atribuído por seus professores.
Na análise destes significados atribuídos à questão e neste sentido, às compreensões
a priori
dos
nossos sujeitos sobre demonstração, não encontramos o sentido que é disseminado pela Matemática, ou
seja, o rigor, os axiomas e os teoremas. Estes temas parecem alheios aos sujeitos.
Ainda nesta análise que procedemos, procuramos evidenciar também as
categorias significativas
que mais representavam o significado;
a explicação do que é
a demonstração. Assim, obtemos as
categorias significativas da questão
subjetiva
.
4. Significados
Para os alunos investigados, a demonstração tem conotação com
motivação
e
metodologia
de ensino
, pois eles próprios relataram:
“ [...] a matéria fica mais interessante; [...] entender melhor; [...] é
necessário e essencial; [...] melhor maneira de aprender geometria; [...] esclarecer dúvidas
”, nestas
afirmações não há o sentido restrito da prova rigorosa, mas, sugerem o
sentido de explicação e de
visualização
. Estas minhas observações são confirmadas através dos seguintes relatos dos sujeitos: “
[...]
enxergarmos o que aprendemos; [...] ligação entre o real e o imaginário; [...] é através dos desenhos que
podemos entender; [...] aplicar os porquês de tanta teoria
”.
4
Prof. Dra. Celia Hoyles é docente do Departament of Mathematical Sciences – Institute of Education - University of London.