Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge
Rodrigues
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4.2 Públicos externos da família empresária
Para a definição de públicos da família empresária, numa perspetiva externa, foram
tidos em conta os sujeitos que não pertencem àquela, mas que com ela se relacionam.
Quadro 4.2 – Públicos externos da família empresária e seus interesses típicos
Públicos externos
Interesses típicos
2.1 Proprietários que não pertencem à família
Return on investment (ROI), dividendos, liquidez,
condições de saída.
2.2 Executivos da empresa familiar sem
vínculo com a família
Segurança no emprego, poder influenciar a cultura
da família, participam em algumas decisões
estratégicas.
2.3 Proprietários que não pertencem à família
e trabalham na empresa familiar
Rendibilidade, liquidez, condições de saída,
segurança no emprego.
Fonte: Adaptado de Murray 2001, 37.
4.2.1 Proprietários que não pertencem à família
Nem sempre existe a figura do fundador como o único proprietário da empresa familiar.
Por vezes, a primeira geração inicia um negócio com vários parceiros de origens e
grupos familiares diferentes. Existem ainda outras situações em que o fundador, ao
longo do processo de crescimento do negócio, oferece alguma participação a executivos
ou profissionais que o acompanham de longa data. Em geral esta iniciativa tenta premiar
uma relação de confiança ou manter um bom profissional através do vínculo societário.
Estas iniciativas criam um público externo com caraterísticas e interesses próprios, que
são os proprietários que não pertencem à família. Em qualquer processo que vise
discutir a perpetuidade de uma sociedade ou empresa familiar, este conjunto de público
não pode ser desconsiderado. De referir que a primeira geração constrói relações a partir
dos papéis desempenhados no seio do próprio negócio, ou seja, esta é uma sociedade de
trabalho, pois, é através do esforço individual e coletivo que o
empreendimento se inicia
e cresce. Assim, parece plausível que não seja possível exigir dos herdeiros a mesma
lealdade que caraterizou as relações de seus pais (Bernhoeft
et Gallo 2003, 19). Muitos
herdeiros olham para o negócio na perspetiva de uma herança patrimonial que decorre
do esforço de seus pais. Em alguns casos, pode ocorrer também a cobrança de um valor
de caráter emocional, que tenta estabelecer um preço pela figura do pai ausente e a sua
dedicação ao negócio, para deixar tranquilidade material aos seus herdeiros.
As interpretações sobre a forma como agirão os herdeiros do público externo que não
pertence à família empresária, mas que possui uma parte da propriedade, poderão ser as
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mais diferentes possíveis. Em alguns casos, dependendo das relações e conflitos que a
família empresária apresente, este grupo extrafamiliar poderá atuar como fiel da
balança; outras vezes, pode até fragilizar aqueles que detêm o controlo da participação,
mas não possuem unidade estratégica e de prioridades, pelo que este continua a ser um
público com um papel importante a desempenhar nestas potenciais situações.
4.2.2 Executivos da empresa sem vínculo com a família
O grupo de público externo formado pelos executivos da empresa sem vínculo com a
família merece ser olhado com bastante interesse e atenção. Estes são profissionais
altamente qualificados que deverão ter uma gestão independente da família empresária,
em que são responsabilizados pelos seus erros, e estão sujeitos a exigentes regras de
governance. Dito de outro modo, a empresa familiar não deverá ser gerida em
subordinação aos interesses de um conjunto de famílias empresárias ou de um conjunto
de gestores daí oriundos, em detrimento das restantes partes interessadas. Para tal, a
empresa familiar deverá dispor de uma supervisão eficaz e independente.
Ser executivo não familiar numa empresa familiar requer dos mesmos uma grande
capacidade de adaptação e leitura da dinâmica de uma empresa familiar. Trabalhar
numa empresa de controlo e gestão familiar é completamente diferente de trabalhar
numa empresa de capitais de subscrição pública, numa empresa de controlo estatal ou
mesmo numa multinacional. Mesmo que esta última seja uma empresa de controlo
familiar, a distância do grupo de controlo torna a sua dinâmica completamente distinta
(Bernhoeft
et Gallo 2003, 22). Estar próximo dos familiares de controlo, diariamente,
exige cuidados acrescidos dos executivos para não misturarem a relação e preferências
pessoais com as exigências profissionais. É necessário tomar cuidado para não invadir a
privacidade da família dos proprietários, podem influenciar e participar em algumas
decisões estratégicas, interferir nos destinos da empresa familiar ou influenciar uma
política de remuneração flexível. Ao mesmo tempo, a família empresária deve tomar
alguns cuidados no relacionamento com este grupo de público externo. Um deles é não
tentar usá-los para arbitrar ou mediar conflitos familiares ou societários. Outro é não
dividir preferências entre os sócios, procurando estabelecer sistemas de lealdade que
não sejam com a sociedade e muito menos com a empresa familiar,
mas sim com algum
sócio ou familiar de forma muito pessoal. O executivo não familiar deve sentir-se
integrado e comprometido com a filosofia dos sócios e da família empresária e motiva-