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Quando se pensa em um imaginário, a apreensão mais lógica, e óbvia, é a que se
detém, é claro, sobre a imagem, inclusive na ligação mais rasa que tem o termo para com a
palavra ideia. Isto é, um imaginário se estabelece aparentando abarcar toda uma coletividade,
visando também a uma apreensão coletiva de aspectos que serão tomados como totalidade.
Nesse sentido, o imaginário age através do caráter mais vago que empresta ao verbete ideia:
nele, ela, ideia (muito aquém da complexidade que a faz conceito em Platão, por exemplo), é
uma vaga impressão, uma impressão imprecisa, mas que, entretanto, simula, deseja dar
profundidade ao que, no entanto, não passa apenas de aparência.
Contudo, há que se consentir que uma imagem raramente é muda, seus sons fazem
parte da completude do imaginário; ou seja, com os sons se completa o imaginário. Tal
particularidade em Tomás Rivera é representada ao nível da fala, quer dizer, da representação
da fala, de uma busca por ser fiel a certa oralidade como marca dos seus, como elemento
marcante dele próprio e de sua gente. A este respeito, é interessante anotar o que o autor
informa quando, ao referir-se, como ele mesmo diz, “al método de narrar que usaba la gente”,
completa seu raciocínio da seguinte maneira:
[R]ecuerdo lo que ellos recordaban y la manera en que narraban. Siempre existía una
manera de comprimir y exaltar una sensibilidad con mínimas palabras (…) Esto,
claro está, es lo que elabora la tradición oral. Aunque muchos de aquellos padres que
andaban en los trabajos eran analfabetos, el sistema narrativo predominaba (…) De
esta manera, en los campos migratorios, se desarrolló una literatura oral (…) Desde
luego en los niños se desarrolló también una especie de mundo narrativo y en el
tedio del trabajo de cada día se cristalizaron mundos.
Las narraciones orales se formulaban también sobre México, o sobre las costumbres,
sobre la revolución de 1910 (RIVERA, [1975] 1995, p. 360-1).
Tradição oral, mínimas palavras, um sistema narrativo predominante mesmo com
contadores em sua maioria analfabetos e narrações orais que se formulavam também sobre a
Revolução Mexicana de 1910. É aqui nessa encruzilhada bifronteiriça (do norte dos Estados
Unidos Mexicanos ao sudoeste dos Estados Unidos da América do Norte) que as narrativas de
Tomás Rivera encontram as de El llano en llamas de Juan Rulfo, onde uma elipse encontra a
outra para formar um novo conjunto de idiossincrasias linguísticas. Assim é que, sem cruzar a
fronteira
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, as narrativas de Rulfo refletem a crítica sobre a questão da terra pós-Revolução,
traçados a partir da captação e re(a)presentação da sabedoria popular em uma oralidade a qual
questiona os mais diferentes aspectos dos discursos hegemônicos vigentes. Enquanto isso, na
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O deslocamento a que se veem obrigados a imprimir os personagens de El llano não logra êxito na busca por
atravessar a fronteira com os Estados Unidos. No único conto que desse espaço mais se aproxima, o personagem
principal se vê repelido por vigilantes texanos a balazos, ação que o faz retornar a sua vida sem esperanças no
norte de seu país.
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busca intelectual por uma pedra fundante no México é natural que Rivera reflita uma
cuidadosa leitura da obra rulfiana. E se, conforme acrescentei, a linguagem popular usada por
Rulfo não atravessa a linha bifronteiriça mexicano-estadunidense, a oratura chicana (Cf.
RAMOS e BUENROSTRO, 2012, p. 23) de Rivera – tal qual um revés da concepção
turneriana e expansionista estadunidense de fronteira fluida, móvel, em movimento de
alargamento de terras
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– não apenas avança pelo sudoeste dos Estados Unidos, bem como se
estende a caminhos mais amplos, como é o caso do norte anglo, receptivo ao, mas, também,
explorador do trabalho braçal para o agronegócio.
É preciso anotar que a elaboração e o tratamento literário de um discurso calcado na
oralidade popular, tanto em Rulfo quanto em Rivera refletem, ademais, posicionamentos
críticos diante da imposição de um espanhol estandardizado, ibérico, nos sistemas escolares.
Desse modo, o imaginário age em Rulfo através da capa do tipicamente nacional, tipicamente
mexicano. Isso porque, ao tornar-se um clássico (e os clássicos têm seu poder de criação de
fixidez) que emprestaria seu sucesso ao grande êxito da literatura latino-americana a partir dos
anos de 1960, muito pelo tom de interioridade humanista de seus personagens, camponeses
como os que tão bem conheceu em sua infância na província de Jalisco, Juan Rulfo agrega ao
imaginário (e sua tendência totalizadora) estrangeiro sobre o tipicamente nacional mexicano a
ideia de que todo mexicano fala tal e qual os personagens de El llano en llamas (e de Pedro
Páramo).
Do outro lado, o aspecto de tipicamente chicano na língua popular literatizada de ...y
no se lo tragó la tierra é também ato demonstrativo de resistência e posicionamento crítico
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;
algo demonstrativo de outro intento fundante, o de “crear por medio del bilingüismo y
pachuquismos, nuestro propio caló; ir hacia nuestra propia gente y documentarnos aquí”
(RIVERA, 1979, s/p). O bilinguismo desse caló próprio proposto por Rivera está, em seu
romance, no uso de um sugestivo (e talvez incipiente) spanglish, tanto nos momentos
narrativos em que se mesclam no mesmo discurso termos do inglês e do espanhol, quanto no
uso de termos por assim dizer espanholizados do inglês, sendo o caso da utilização de
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Remeto o leitor uma vez mais a minha dissertação ¿Quién soy yo? A fragmentação do sujeito mexicano em
La frontera de cristal, de Carlos Fuentes (UFF, 2010) e, por conseguinte, à figura do historiador Frederick
Jackson Turner e sua frontier thesis como braço e discurso legitimador do expansionismo estadunidense rumo às
free lands do oeste e alargamento de suas linhas de fronteira até o Oceano Pacífico.
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Nesse tocante, é emblemático um exemplo recente (experiência pinçada do real vivido) da Dra. Graciela Silva
Rodríguez, co-autora do indispensável Chican@s y Mexican@s Norteñ@s: Bi-Borderlands Dialogues on
Literary and Cultural Production (2012), quem, em 2013, durante sua participação no XVIII (?) Congresso de
Literatura Mexicana Contemporânea, realizado na University of Texas at El Paso, abre sua fala afirmando-se,
com orgulho, “Chicana porque o meu espanhol é demasiadamente popular para a Academia Mexicana de la
Lengua; e o meu inglês, pouco compreensível do lado de cá nos Estados Unidos” (Tradução e grifo meus).
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