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(2000) e García-García (2004). Já o quarto, e último, capítulo da presente tese de
doutoramento se constitui em uma seção menor que as anteriores por trazer enfim
compactados os argumentos expostos em separado até então, razão pela qual retornam os
componentes de toda minha fundamentação teórica, agora em posição de troca ainda mais
entretecida.
Por fim, para além da originalidade na escolha de comparação das obras em tela,
distantes no tempo de sua publicação (1971 para T. Rivera e 1995 para C. Fuentes) e no
cânone em que estão inseridos seus autores (apesar da proximidade cultural relativa chicano-
mexicana), acredito, com a realização do presente estudo, poder contribuir para novas leituras
acerca do temário das relações de alteridade entre mexicanos, chicanos e estadunidenses e seu
trato ficcional dentro das literaturas hispânicas.
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1 A IMBRICAÇÃO LITERARIEDADE, IMAGEM E IMAGINÁRIOS
Neste capítulo de abertura, apresento boa parte da fundamentação teórica norteadora
do presente trabalho de doutorado. Aqui, irei da importância da noção formalista de
literariedade junto à questão da imagem na literatura até uma abordagem algo mais
aprofundada do que chamo grande amálgama IMAGEM e daí para a relação direta desse todo
com imaginários que podem advir da leitura de obras literárias.
No tangente de forma mais estrita ao imaginário, apresentarei no terceiro tópico deste
primeiro segmento meu entendimento de que o imaginário está vinculado ao âmbito das
faculdades humanas e de que sua tomada indômita desde a literatura dependerá, também, das
instâncias de cognição e receptivas do leitor. Entendo, dessa forma, que este primeiro capítulo
é base para o desenvolvimento das análises textuais dos capítulos subsequentes. Ao número 1,
então.
1.1 Da noção de literariedade
A abordagem teórica em que baseio os argumentos sobre literariedade na presente
pesquisa toma em consideração o teor de inovação usado nas narrativas das duas obras em
relevo. Dos dois livros ora analisados, há que se destacar a observação de que ambos são
romances que compõem seu corpo, seu constructo, a partir de uma operação narrativa a qual
poderíamos denominar como um “entre-mesclar” de contos. Isto implica dizer que fazem de
contos os capítulos que enredam sua trama maior, ao mesmo passo em que também fazem de
capítulos contos os quais podem ser lidos e compreendidos isoladamente. É certo que tal
constatação, porém, não tem sua explicação esgotada de modo tão simplista, necessitando,
para tanto, maior atenção, um desmembramento mais analítico. Sem desejar esgotar
abruptamente debate tão promissor, informo que essa necessária discussão encontrará hora e
vez mais adiante, nos capítulos em que se desenvolve de modo mais específico a análise sobre
o corpus escolhido. Por ora, a intenção é abrir caminho para justificar o entorno teórico sobre
o qual se trabalha a literatura, já que a relação proposta se estabelece iniciando-se de preceitos
literários em destaque, para, só depois, apontar e demonstrar seu vínculo possível para com a
imagem e a formação e perpetuação de imaginários, respeitando-se os limites do recorte
proposto a partir da leitura interpretativa dos romances em tela.
Isto posto, partindo-se do reconhecimento de arrojo na estética e na construção do
corpus escolhido, onde ganham importância para o todo das obras as correspondências fundo
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e forma, forma e conteúdo, reconhece-se encontro dessas operações discursivo-narrativo-
literárias com preceitos (noções) levantados e defendidos pelos formalistas russos, em suas
considerações para a formação de uma nova crítica literária em princípios do século XX.
O grupo que viria a ser conhecido como formalistas russos nasce em 1917 das
atividades da OPOIAZ (Óbchchestvo por izutchéniu poetítcheskovo iaziká – Associação para
o Estudo da Linguagem Poética), cooperando ativamente com os esforços lançados pelo
Círculo Linguístico de Moscou, este fundado no inverno de 1914-1915 por estudantes da
Universidade de Moscou que objetivavam promover estudos sobre poética e linguística. De
um modo geral, pode-se dizer que a OPOIAZ não somente colabora, mas que também avança
sobre os caminhos iniciados pelo Círculo. Contando com nomes que viriam a se destacar nos
estudos da ciência da literatura (dentre os quais figuraram Boris Eikhenbaum, Viktor
Chklovski, Roman Jakobson, Viktor Jirmunski, Óssip Brik, Iuri Tynianov, Boris
Tomachevski, Vladimir Propp, Viktor Vinogradov, entre outros), os jovens que compuseram
a OPOIAZ tinham por objeto expor sua oposição à importância dada para os muitos campos
da investigação científica extraliterária, aquela que se aportava e se detinha demasiado nos
ramos de ciências outras, quer fossem essas, por exemplo, a história, a sociologia ou mesmo a
psicologia ou a filosofia.
Durante muito tempo, tal conduta opositiva fez com que boa parte do que havia de
novo nos moldes do que muitos chamaram de formalismo fosse reduzido a uma possível
tentativa de isolamento total da obra literária, alienando-a por completo, a título de exemplo,
da História que a produz, ou, mais ainda, dentro da qual ela se produz. No entanto, a busca
formalista era antes partir da análise estrita do texto literário (de sua estética, de sua forma,
sua composição estrutural) em direção a prováveis e conseguintes correspondências advindas
desse ato fundamental, do que propriamente excluir da pesquisa científica o estudo histórico
da linguagem e sua aplicação na literatura. Ao contrário, o “método formal” nunca deixou,
inclusive, de acentuar o valor que tem para a ciência literária a relação dialética entre
sincronia e diacronia, a correspondência entre os fatos da linguagem e seu acontecimento, sua
correlação com o tempo histórico.
No entanto, haja vista que se toca aqui no estudo das particularidades, na abordagem
sobre “os traços específicos da obra literária”, conforme apontava Eikhenbaum ([1925] 1973,
p. 15), entendo como relevante elencar, descrever e desmembrar alguns desses traços
característicos levantados pelo formalismo russo, com atenção especial àqueles que mais bem
se integram e complementam a análise dos dois romances-foco do presente trabalho. Dentre
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