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Façamos agora a análise numérica e vejamos quantas pessoas
participaram ativa ou passivamente deste evento. Em primeiro lugar,
apresento as cifras aproximadas de pessoas que, segundo os meios de
imprensa e os organizadores (não se conhecem estimativas
independentes) participaram nos shows ao vivo:
Londres – 200.000 pessoas
Edimburgo – 120.000 pessoas
Tóquio – 10.000 pessoas
Berlim – 110.000 pessoas
Joanesburgo – 8.000 pessoas
Filadélfia – 1.000.000 de pessoas
Barrie – 35.000 pessoas
Roma – 150.000 pessoas
Moscou – 20.000 pessoas
Paris – sem confirmar, a mídia indica prudentemente que "os
organizadores convocaram as pessoas para defronte do Palácio de
Versailles, mas parece haver menos público do que o inicialmente
previsto".
O espetáculo foi também seguido através da Internet. O diário El Pais
assinalou que "os concertos solidários tiveram na Internet uma audiência
de cinco milhões de pessoas, o dobro do previsto". A iniciativa também
bateu recordes nos celulares, pois a organização do Live 8 recebeu mais
de 26 milhões de mensagens de texto de apoio. O enorme número de
mensagens SMS recebido em apoio das reivindicações expressas nos
concertos "é o maior apelo à atuação política" através de celulares,
segundo declarou Ralph Simon, coordenador da campanha de mensagens
de texto na Filadélfia.
A isto se acrescente o dado mais importante: a audiência na televisão.
Bob Geldof, principal impulsionador do Live 8, foi criticado pela ausência
de artistas africanos nos concertos. Geldof respondeu às críticas
argumentando que "pretendia, sobretudo, que milhões de pessoas vissem
o concerto pela televisão em todo o mundo e que a presença de artistas
pouco conhecidos, fossem da África, Nova Iorque ou Londres, poderia
fazer que muitos mudassem de canal" ("El Universal", México).
A revista "Focosdeinteres.com" calculou que "dois milhões de
espectadores ao vivo e mais de três mil milhões de telespectadores
solidarizaram-se com África na maratona de concertos que uniu por uma
tarde as nações".
E, por fim, no domingo, 3 de Julho, o grande título que muitos esperavam:
"O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, colocou na agenda o tema da
pobreza". (Reuters).
Motivações
Neste evento houve uma dinâmica habitualmente utilizada pelo poder:
assinalar as consequências dos atos do imperialismo mas nunca as causas
nem os responsáveis da pobreza resultante. Pelo contrário, os causadores
de guerras, fome e alienação são apresentados como líderes conscientes
deste "grave problema", que necessitam de ser "pressionados" com ações
pacíficas (naturalmente!) e lúdicas, apoiadas, isso sim, por um sem fim de
símbolos públicos referenciais da indústria do entretenimento.
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Live 8 foi uma espetacular operação de propaganda com o objetivo de
lavar a cara do imperialismo. E toda ela com a aprovação direta dos
responsáveis diretos da injustiça, que são os que puseram o grosso do
dinheiro para financiar um evento destas características. Foi uma
demonstração de que "o sistema funciona", permite a crítica, fomenta a
luta contra a pobreza. Isso que nós, os anticapitalistas, tanto insistimos,
de que a mídia está a serviço dos poderosos "é mentira": aí estão as
televisões e os grandes jornais cheios de imagens da "luta" contra a
fome...
"Para mudar as coisas basta dizer Não", rezava um dos slogans
cuidadosamente eleito pela televisão.
Conclusão
Uma manobra desta envergadura não pretendia enganar aos ativistas
mais conscientizados. Apresentar como "solidário com a pobreza" um
símbolo do capital como Bill Gates é um sinal bastante descarado. O que
se pretendia com este evento era isolar o movimento anticapitalista,
atacá-lo ideologicamente, ridicularizá-lo numericamente, retirar
importância à luta nas ruas, impor a idéia de que o único caminho
possível é delegar ao próprio G-8 a responsabilidade política de atuar por
um mundo justo, anular a necessidade de um confronto com os
opressores e, em consequência, esconder por uma larga temporada o
conceito de "luta de classes".
Mas o Live 8 não tem só objetivos de longo termo: também serve de
desculpa para atacar os anticapitalistas que por estes dias se atreverem a
manifestar-se e enfrentar a polícia que defende o G-8 na Escócia. Com
isto querem convencer-nos de que já não temos argumentos: para quê
protestar na rua se milhões de pessoas já se pronunciaram?
Parece que os poderosos querem recuperar a legitimidade do sistema,
desacreditado estes anos pelo movimento anticapitalista internacional.
Esperam agora um paulatino ressurgir de grandes mobilizações
antiglobalização (ao ritmo que marcam as revoltas na América Latina, no
Médio Oriente e em outros lugares do mundo) e abriram os guarda-
chuvas antes que chova.
Lamentavelmente para eles, os nossos protestos não se suspendem com
o mau tempo...
O original encontra-se em
http://www.rebelion.org/noticia.php?id=17397
.
Tradução de CLP
Fonte: Resistir.info (
http://www.resistir.info/
)
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LIVE AUDIO CODING
Gabriel Pillar
O antro noturno lota de meninas moças incorporando viagens em batidas
aceleradas. Garrafas de água na mão acompanham as músicas em
volumes penetrantes. Luzes esparsas e esquizofrenicas dividem o
ambiente com imagens digitalizadas e códigos que alternam-se
repetidamente pelo telão. Mas no palco, em vez de um moderno dj
lançando suas pickups e remixes sobre mesas giratórias e digitalizações
pré-moldadas, uma figura franzina veste uma fatídica camisa bordada
geek
. Diante de um laptop (ou dois) digita freneticamente códigos em
PERL enquanto faz soar batidas syncopadas.
A programação de audio ao vivo ganha força como uma versão roots da
música eletrônica, onde em vez de rodar samples pré-programados
alternados sobre bases re-utilizáveis, nosso músico coloca-se um passo
atrás e trabalha em cima das estruturas matemáticas de sua composição
(pode-se até invocar uma analogia com Mozart, que jogava dados para
compôr minuetos no século XVI).
#
sub bang {
my $self = shift;
my $note = 100;
$note += 50 if $self->{bangs} % 4 == 0;
$note -= 30 if $self->{bangs} % 3 == 0;
$note += 60 if $self->{bangs} % 7 == 0;
beep($note, 40);
$self->code->[0] = '# note: ' . $note;
$self->modified;
}
Programe uma linha de baixo como a representada acima e utilize Cadeias
de Markov para gerações randômicas; ou explore propriedades
emergentes sobre beeps e blops dignos de representações sixties de
enormes mainframes. "As vezes formas matemáticas elegantes soam
bem, noutras erros inesperados e nonsense caótico pode produzir
resultados muito mais interessantes", salienta
Alex Mclean
.
Segundo artigo coletivo disponibilizado pela
TOPLAP
(Temporary
Organisation for the Promotion of Live Algorithm Programming -
Organização Temporária Para a Promoção da Programação de Algorítimos
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