107
ao Vivo ou variações sobre a mesma sigla): "Isso então conecta
profundamente a casualidade algorítmica com o resultado percebido e,
ao desconstruir a idéia da dicotomia temporal entre intrumento e
produto, permite que o código seja ativado como um processo artístico. A
natureza de tais algoritmos generativos em funcionamento é que eles
podem ser modificados em tempo real; tão rápido quanto a
possível compilação e execução, está presente o imediatismo da
aplicação deste controle. Enquanto alguém pode alterar o banco de
dados, é a própria modificação das instruções e do fluxo de controle
dos processos que contribue para a ação mais excitante desse meio" *
O live coding estrutura-se a partir de um processo recursivo de
programação e reprogramação. Ao mesmo tempo que a interface
geradora de audio é escrita pelo músico, está simultaneamente sendo
compilada e executada, bem como gerando uma base visual que permite
novamente sua programação. Esse feedback faz com que o processo seja
mais completo que o utilizado na música gerativa (vide Brian Eno), pois ao
invés de simplesmente deixar o código criar e modificar a si mesmo,
permite a intervenção do músico em qualquer estágio da execução do
programa.
Além de PERL, outras sintaxes vem sendo criadas ou modificadas pra
viabilizar a programação ao-vivo.
SuperCollider
é uma dessas linguagens
para a síntese de audio que foi modificada para aceitar rotinas em real-
time, assim como
ChucK
, desenvolvida por estudantes de Princeton. Essa
última tive a oportunidade de testar após aplicar meus esparsos
conhecimentos em UNIX e conseguir rodar alguma coisa pelo terminal do
OSX. Obviamente meu progresso não foi além de alguns beeps que
variavam a frequência randomicamente, mas já deu pra ter uma idéia das
possibilidades da ferramenta.
Pois chegou a hora de dizer 'chega de playback', nós queremos música
eletrônica de verdade, composta e reproduzida in loco. "Nos dê acesso à
mente do músico, ao instrumento humano completo," clama o
Manifesto
Lubeck04
, assustadoramente nos colocando mais próximos do tocar
'minimono' representado em Freezone, conto de John Shirley presente na
antologia cyberpunk Mirrorshades. Em vez de instrumentos, cabos
correm pelo corpo tirando música de impulsos elétricos do artista -
virtuose da mente.
* No original: "It thus deeply connects algorithmic causality with the
perceived outcome and by deconstructing the idea of the temporal
dichotomy of tool and product it allows code to be brought into play as an
artistic process. The nature of such running generative algorithms is that
they are modified in real-time; as fast as possible compilation and
execution assists the immediacy of application of this control. Whilst one
might alter the data set, it is the modification of the instructions and
108
control flow of processes themselves that contributes the most exciting
action of the medium." (Tradução do Rizoma)
Fonte: Vertigo (
http://www.insanus.org/vertigo/arquivos/002425.html
).
MAESTROS ELÉTRICOS
Simone Muniz
Ainda chegará o dia em que os djs do mundo inteiro precisarão ter
carteira de músico para exercer a profissão. E não será um exagero.
Afinal, faz tempo que a função de mixar sons ganhou status de arte em
vários gêneros da música popular. Mas que tal ver um dj de hip-hop ou
drum´n´bass que, ao entrar em sua cabine, começa a executar os
movimentos sobre seu toca-discos com a ajuda de uma partitura? Pois
isso já está acontecendo. Cansados de ser discriminados pelos teóricos da
música, um grupo de djs de hip-hop americanos está desenvolvendo uma
espécie de teoria do scratch - a técnica de extrair sons diferentes
arranhando o disco para frente e para trás. Eles criaram uma espécie de
representação escrita do movimento, uma verdadeira partitura de dj.
Os donos dessa iniciativa fazem parte do Invisible Skcratch Picklz (a
subcultura americana escreve scratch com k), um dos mais antigos grupos
de djs de São Francisco. Entre os mais famosos, estão os djs Orbit, Q-Bert,
A-Trak e
Radar
. Tudo começou em julho do ano passado, quando eles se
reuniram em uma grande conferência aberta chamada
Skratchcon.
A
conferência se perpetuou num grande fórum de discussão que, com a
ajuda da internet, está estabelecendo os padrões de notação musical dos
ruídos do scratch. O resultado concreto são gráficos e símbolos que não
se parecem em nada com partituras - lembram muito mais tabelas de
medições de terremotos. Mas a música está toda lá.
Mas a discussão em torno da transformação do scratch em música ainda
está engatinhando. De fato, ainda não há como afirmar se a idéia vai
vingar. Mas os integrantes do movimento já têm uma certeza: o
aperfeiçoamento da música eletrônica é uma resposta dos djs aos
109
teóricos tradicionais da música, que perdem boa parte de sua vida
estudando teoria, harmonia e prática musical e não encontram
justificativa para um gênero que se utiliza apenas da intuição, da
reciclagem e da colagem de idéias. "É um desafio para nós fazer com que
pessoas mais velhas e mais conservadoras entendam que estamos
fazendo um trabalho de artista nas nossas pick-ups e reconheçam isso
como uma arte que tem seu lugar na história",
diz
em sua página,
orgulhoso que só, o dj Radar, um dos líderes do Skcratch Picklz.
No Brasil, o sentimento não é diferente. Para Pachu, dj da tradicional
festa de hip-hop carioca Zoeira, na Lapa, o que muita gente ainda chama
de barulho é um movimento musical consistente, que veio para fazer
história, assim como o rock e o jazz. "O barulho é uma forma de as
pessoas encontrarem coisas novas. No hip-hop, há uma corrida muito
grande pela originalidade", explica. Outro dj brasileiro, Negralha, que toca
com O Rappa, concorda com a necessidade de os djs valorizarem a
própria categoria. "O que eu faço é música. Meu instrumento é o toca-
discos. Só que sinto uma grande dificuldade de ser reconhecido como
músico", diz.
Pachu vê a iniciativa dos colegas americanos do Scratch Pikles com bons
olhos. "O dj faz percussão arrastando e empurrando a agulha. Por
enquanto, ainda não há parâmetros. Qualquer forma de discussão é
válida para que possamos aprender a trocar melhor a nossa informação
musical", acredita. Para ele, teorizar a prática da discotecagem pode ser
uma forma de valorizar os djs no mundo acadêmico da música. "Como
não se exige nenhum conhecimento teórico-musical para ser dj, são
poucos os que se aventuram no estudo da música eletrônica", conta
Pachu. "Se criarmos uma nova linguagem, estaremos mais bem
preparados para enfrentar a oposição e as críticas ao nosso trabalho. Só
assim vamos crescer musicalmente", concorda Negralha.
Fonte: Revista 2k (
www.02k.com.br
).
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