Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Caxias do Sul - RS – 15 a 17/06/2017
Tratamento boçal e distância abissal no jornalismo
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VALENTINI, Géssica Gabrieli
2
IJUIM, Jorge Kanehide
3
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC
RESUMO
Neste artigo, de caráter ensaístico, buscamos refletir
sobre os processos jornalísticos a
partir do estudo da reportagem ‘Africano é preso suspeito de tentar estuprar duas
estudantes na UFSC’, publicada pelo
site G1 Santa Catarina. Para a análise, nos
apoiamos nas considerações de Boaventura de Sousa Santos e utilizamos os
procedimentos metodológicos da Análise Pragmática e Cultural da Narrativa, de Luiz
Gonzaga Motta. Levamos em conta o contexto das organizações jornalísticas, que, de
um lado, precisam se adaptar às novas tecnologias, mas, ao mesmo tempo,
reconfiguram os modos de fazer de tal forma que podem estar conduzindo a um
jornalismo
desumanizado, que atropela preceitos e reforça preconceitos.
PALAVRAS-CHAVE:
Processos jornalísticos; Jornalismo multimídia; Humanização,
Desumanização; Preconceito.
Temos direitos constitucionais que garantem igualdade. Leis que punem o
preconceito. Códigos de ética que condenam expressamente o tratamento diferenciado
pela cor de pele, classe social, credo, nacionalidade. Porém, na prática, as chamadas
minorias diariamente são vítimas de discriminação. Muitos destes casos são noticiados
como atrocidades. E quando quem comete tais equívocos são os próprios jornalistas?
Este artigo parte da análise da reportagem "Africano é preso suspeito de tentar estuprar
duas estudantes na UFSC", publicada no dia 22 de novembro de 2014, no portal de
notícias
G1 Santa Catarina
.
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Trabalho apresentado no DT 1 – Jornalismo do XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na
Região Sul, realizado de 15 a 17 de junho de 2017.
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Doutoranda do curso de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC, email:
valentini.gessica@gmail.com
3
Professor do curso de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC, email:
ijuimjor@gmail.com
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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Caxias do Sul - RS – 15 a 17/06/2017
Neste artigo, tem-se como cenário os processos de produção jornalísticos, neste
caso a
RBS TV, afiliada da
Rede Globo
, que desde 2012 se estruturou para agregar a
editoria
estadual do
G1 - Portal de Notícias da Globo
.
Iniciamos com a perspectiva do jornalismo como um direito e uma necessidade
dos seres humanos, o que pressupõe uma imprensa responsável e reflexiva.
Posteriormente, dialogamos com as observações de Bergmann e Luckmann (2004),
sobre a construção social da realidade. Além disso, partindo dos apontamentos de
Fausto Neto (2008), refletimos também sobre o conceito de midiatização da sociedade e
as constantes mudanças.
Para o estudo de caso, utilizamos os procedimentos metodológicos da Análise
Pragmática e Cultural da Narrativa, de Luiz Gonzaga Motta (2004), sempre dialogando
com o pensamento de Boaventura de Sousa Santos (1988, 2002, 2007, 2010), que
contribui para refletir sobre as consequências das mudanças e de um jornalismo feito
sem a devida reflexão, como também traz alternativas para superarmos o cenário atual.
Este trabalho é parte de uma pesquisa maior, em nível de doutorado, cujo
objetivo é contribuir para reflexão das mudanças nos processos jornalísticos num
contexto de convergência de mídias e um processo de desumanização tanto de
processos, quanto de produtos.
O direito à informação e à igualdade
Seja na visão europeia, que propõe o jornalismo como formador de opinião, ou
na tradição norte-americana, que defende o direito à informação (MERTON, 1970), há
um consenso entre os autores do campo sobre a importância do jornalismo para a
sociedade. Embora a opinião pública seja resultado de diversos fatores, se
considerarmos que o jornalismo pode ser a principal forma de conhecermos
determinadas realidades, isso já dá aos profissionais da área uma responsabilidade quase
assustadora, como observa Olinto (2008). Segundo o autor, com a consciência da sua
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