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como enfatiza Santos (2007), entre o que é hegemônico e o que é invisível na sociedade.
Pode distanciar, ao dar tratamentos diferenciados de acordo com a cor de pele, etnia,
cultura, classe social. Pode objetivar e, ao fazer isso, ‘coisificar’ pessoas. Ou,
independente de tudo isso, pode não tratar com a devida responsabilidade as
informações, de acordo com as consequências da divulgação das notícias.
Para alguns, a existência de um jornalismo desumanizado trata-se de uma
constatação exagerada. Porém, o termo não é tratado como exagerado quando falamos
de excessos no sistema penitenciário e descasos no tratamento de pacientes em
hospitais. Quando detentos ou pacientes são tratados como ‘coisas’, são objetificados,
não raro fazemos referência a um tratamento desumano. E quando ‘coisificamos’
fontes?
Conforme Santos (1999), na modernidade, a igualdade, a liberdade e a cidadania
são reconhecidos como princípios emancipatórios da vida social. Neste sentido, em
princípio a desigualdade e a exclusão, que nos sistemas coloniais eram legitimados
através da escravatura, por exemplo, agora são tratados como exceções ou incidentes.
Porém, segundo o autor:
[...] a partir do momento em que o paradigma da modernidade
converge e se reduz ao desenvolvimento capitalista, as sociedades
modernas passaram a viver a contradição entre os princípios de
emancipação, que continuaram a apontar para a igualdade e a
integração social, e os princípios de regulação, que passaram a gerir
os processos de desigualdade e exclusão produzidos pelo próprio
sistema capitalista (SANTOS, 1999, p. 03)
Em sua reflexão, Santos (1999) aponta para a existência de uma hierarquização
social, dentro da qual o racismo contém elementos tanto da desigualdade, no eixo
socioeconômico, quanto da exclusão, no eixo cultural. A integração desigual ocorre
primeiro através da exploração colonial e, depois, através da imigração, o que
contribuiu para que o sistema continuasse desigual e excludente.
Através da análise, é perceptível que as determinações dos códigos
deontológicos e da Declaração dos Direitos Humanos não estão sendo suficientes para
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evitar equívocos e preconceitos. O pensamento abissal parece fazer parte do
inconsciente coletivo, inclusive de jornalistas, e se mostra através de um tratamento
muitas vezes boçal, no sentido literal da palavra.
É certo que o paradigma dominante se instituiu durante séculos e não será
derrubado em pouco tempo, mas, conforme Santos (2002), há alternativas. “Da minha
perspectiva, para haver mudanças profundas na estruturação dos conhecimentos é
necessário começar por mudar a razão que preside tanto aos conhecimentos como à
estruturação deles. Em suma, é preciso desafiar a razão indolente”. (SANTOS, 2002, p.
241).
Conforme o autor, a razão indolente subjaz, nas suas várias formas, ao
conhecimento hegemônico, tanto filosófico como científico, produzido no Ocidente nos
últimos duzentos anos. A alternativa parece ser refletir sobre o que está ‘do outro lado
da linha’, o que está invisível’, e, com isso, levando em conta a complexidade do
mundo, colocar em evidência o que falta emergir.
Se levarmos em conta o tratamento ao personagem da reportagem analisada,
precisaríamos ter em conta o preconceito que existe não só a negros, mas também a
imigrantes, sobretudo de países mais pobres.
Pluralidade e complexidade parecem ser palavras que traduzem o pensamento de
Boaventura de Sousa Santos. Na ecologia de saberes, proposta por ele, admitem-se
conhecimentos - o foco da ciência tradicional - mas também ignorâncias. Admite-se o
não saber. Parece também admitir-se errar. Isso não significa que o erro deva ser aceito.
Porém, partir do pressuposto de que não sabemos de qual lado da linha estamos e de que
podemos ser nós os errados, os ignorantes, os preconceituosos, etc, - parece ser o
primeiro passo para eliminarmos o abismo. Ninguém quer cair. E talvez assim ninguém
caia, nem deixe cair.
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