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novela y el fragmento de lo biográfico, nos damos cuenta de la importancia de esta zona de
peligro tóxico para la entrada permanente a la lógica de acumulación de objetos del
conocimiento”. Juntar tudo, todos os cacos de seus fragmentos, seus flashes de memória é a
proposta final da estranha (re)tomada de consciência do protagonista da narrativa de Tomás
Rivera. Juntar acaba sendo para a crítica tarefa das mais difíceis ante a ação mais prudente,
quase óbvia de separar o menino Rivera do menino narrador, algo justificado pelos limites de
gênero impostos pelo enredo do romance desse autor chicano falecido precocemente em 1984.
O vínculo expressivo entre ...y no se lo tragó la tierra e a vida de Tomás Rivera faz
com que sua obra chegue a flutuar entre a categorização de romance autobiográfico ao que
hoje em dia se acostumou chamar de autoficção; não sendo, ao final das contas, qualquer das
duas. É uma quase “(im)pura” ficção, ou ficção criada a partir da recriação da retomada de
memórias, potencializadas pelo poder realizativo da ficção (Cf. RAMOS e BUENROSTRO,
2012, p. 43), através da superposição de ficções mnemônicas, memória sob memória,
memória sobre memória, memória questionando memória e seu poder imaginativo. Nesse
aspecto, Giner (2005) defende a ficção, mas por pouco se deixa por ela confundir-se.
Enquanto isso, Ramos e Buenrostro (2012) se aproximam da total separação; mas quase-que
tragados são pela escolha lexical dos relatos, que terminam por aproximar ficção aos fatos
(questionáveis, selecionáveis sim, embora demasiado desejosos do atestado serem como
verdade) aos relatos de viagem, ou mesmo ao gênero testemunho. E S. Alarcón (1988) borra a
linha tênue, porém, exagera na provocação acirrada menino-autor-narrador.
Sabemos que a ficção (o famoso lembrete de filmes e telenovelas: “Esta é uma obra de
ficção...”) pode até vir a ser uma escusa do autor com vistas a evitar até mesmo eventuais,
mas possíveis (e não são raros os exemplos) arengas judiciais. Por essa linha de raciocínio
transita algo da questão de Rivera, estabelecida e aceita desde já a afirmação de que ele,
Tomás Rivera, não é o narrador de seu romance, não sendo ele, enquanto autor, o narrador da
ficção por ele orquestrada, arquitetada, construída e materializada. Tome-se como instrumento
de verificação, por exemplo, o caso do conto “La mano en la bolsa”, um dos primeiros
capítulos do corpo de doze que remetem a um ano migratório pelas áreas de cultivo não
somente do sudoeste, mas, além disso, de partes do norte estadunidense. Pertencente a este
corpo que também alude ao ano letivo do menino protagonista, “La mano en la bolsa” conta a
estadia do menino com um casal chicano para que ele pudesse estudar enquanto seus pais
laboravam nos campos distantes do agronegócio.
Sucede que o casal, sem que o saiba sua gente, que o tem na mais alta conta como
pessoas generosas, é uma dupla que desfila tal generosidade a partir de chicanas, armações e
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furtos. Para o fim da história, um desses furtos provém de un mojadito que se deixa seduzir
por Doña Bone, a mulher, sendo depois morto por ela e seu marido, Don Laíto, os quais, além
de inicialmente esconderem o corpo no quarto do menino de que tomavam conta, intimidam-
no e obrigam-no a ajudar-lhes a enterrar o corpo do homem assassinado, mais tarde, inclusive,
“presenteando” o menino com um dos anéis do mojadito morto.
Ora, cabe desde ali então uma pergunta tonta, mas de caráter sugestivamente
ontológico acerca da participação de um Rivera menino na ocultação de um cadáver; “fato”
contado por um Rivera já adulto e, quem sabe por isso, livre de qualquer investigação na
suposição de existência desse mesmo “fato” em seu passado? Esta é uma hipótese, claro está,
das mais inexequíveis; no entanto, cabível para a demonstração do nível de criação que
Tomás Rivera imprime a seu narrado, poder imaginativo sempre abordado por ele em seus
ensaios e entrevistas, professor ele também de oficinas de criação literária, as quais desejava
pudessem ajudar a gerar toda uma emancipação intelectual baseada em um projeto de
invenção, símile à construção por que ainda passava a identidade da gente chicana. Não,
Rivera não é o narrador de sua ficção. Porém, talvez surpreenda o feito de que tampouco o
seja um menino. Reparemos o exemplo final do próprio “La mano en la bolsa”, sobre o anel
do assassinado que lhe ofertam ao menino os dois chicanos enganadores:
Después de unos dos meses, ya cuando parecía que se me estaba olvidando todo
aquello, vinieron a visitarnos al rancho. Me traían un presente. Un anillo. Me
hicieron que me lo pusiera y recordé que era el que traía el mojadito. Nomás se
fueron y traté de tirarlo pero no sé por qué no pude. Se me hacía que alguien se lo
hallaba. Y lo peor fue que por mucho tiempo, nomás veía a algún desconocido, me
metía la mano a la bolsa. Esa maña me duró mucho tiempo (RIVERA, [1971] 2012,
p. 98).
Joven, muchacho, niño, entende-se, mesmo sem a precisão de sua idade, o
protagonismo de um menino em idade escolar. Talvez mais menino, mais criança que
adolescente, se tornamos ao episódio em que, mesmo temendo a repreensão dos pais, vagueia
e se deixa guiar por lixões com a personagem Doña Cuquita em “Es que duele”; ou inclusive
se se vai, de volta a “La mano en la bolsa”, ao asco do menino ao sexo praticado por Doña
Bone com o mojadito, antes do momento em que o matam, ela e seu marido. Seguro que, para
fins de apreensão efetiva, evidente, sim, ele é um menino narrador que é “realizado”,
configurado como protagonista e narrador. Porém, enquanto menino esse protagonista é, com
efeito, um projeto fingido, uma ficção de narrador. Há que se reparar, tomando como
exemplo, portanto, o trecho supracitado, um discurso demasiado elaborado, de palavras que
pressupõem demasiada elaboração. E aqui de nada, para nada contribui pensar em tal
elaboração como fruto de sua ficção, da ficção do menino; mas, antes, em verdade, da
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