Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária



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Mestrado em Sociologia                         Relações de poder no campo família empresária
 
 
Jorge Rodrigues  
Página 111 
 
6.3.4 Perpetuação do nome da família Espírito Santo    
   
A fundação com o nome de família Espírito Santo funciona como Museu-Escola com a 
finalidade de proteger e divulgar as artes decorativas portuguesas e os ofícios com elas 
relacionadas,  a  educação  do  gosto  do  público  e  o  desenvolvimento  da  sensibilidade 
artística e cultural dos artífices.  Além do Museu de Artes Decorativas a  Fundação tem 
dezoito  oficinas  de  artes  e  ofícios  tradicionais  portugueses  que  mantêm  vivo  um 
importantíssimo  património  imaterial  de  saber-fazer  e  asseguram  uma  intervenção 
especializada  a  nível  do  património  português  com  a  sua  vertente  de  conservação  e 
restauro.  Tem  duas  escolas  para  ensino  das  Artes:  a  Escola  Superior  de  Artes 
Decorativas  (ESAD)  e  o  Instituto  de  Artes  e  Ofícios  (IAO),  transmitindo  o  saber.  O 
ensino das artes é uma prioridade e uma missão.   
 
6.3.4.1 Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva  
 
A  Fundação  Ricardo  do  Espírito  Santo  Silva  ou  Museu  de  Artes  Decorativas  é  uma 
instituição de utilidade pública, criada em 27/Abr/1953, por doação do Palácio Azurara 
e mais de 1300 peças da coleção privada (Taborda et al. 2014, 61) do banqueiro Ricardo 
do Espírito Santo Silva (1900-1955), ao Estado Português. Situa-se no Largo das Portas 
do  Sol,  em 
Lisboa
.  Durante  muito  tempo  o  Banco  Espirito  Santo  foi  o  seu  único 
mecenas  financiador.  Esta  prática  de  mecenato  pode  entender-se  como  uma  prática 
fidalga, sinal de status, riqueza e bom gosto (Deslandes 2000, 7), com o uso do nome de 
uma  personalidade  relevante  da  família  empresária  a  trazer-lhe  reputação,  bem  como 
aos seus produtos ou serviços (Olivares, 2016, 35).  
 
6.3.4.2 Meritocracia   
 
Não ia para o banco quem queria, mas quem merecia, dizia o banqueiro Ricardo Silva 
(Taborda et al. 2014, 57). Esta opinião era corroborada pelo seu neto Ricardo Salgado, 
em 1991 (Lima 2015, 10): 
A nossa cultura, a cultura Espírito Santo, exige que se suba na vida degrau a degrau. […] Quando 
os interesses da família se sobrepõem aos dos negócios, é o desmoronamento.  
 
Contudo,  em  Abr/2006,  Fernando  Martorell,  gestor  de  confiança  da  família  Espírito 
Santo, em reunião do Conselho Superior do GES, alertava para:  


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Jorge Rodrigues  
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…  a  gestão  pouco  profissionalizada  e  com  peso  excessivo  de  elementos  ligados  à  família  dos 
acionistas, (…) mal orientada, desresponsabilizada, sem sentido de grupo, nem sempre competente 
e claramente ineficaz (Esteves et Castro 2014, 46).  
 
Ao mesmo tempo que criticava, aquele gestor propunha: 
… que a escolha dos gestores fosse feita só com base nas suas qualificações, o que implicaria que 
fossem  dispensados  alguns  dos  que  tinham  ligações  à  família  Espírito  Santo  (Esteves  et  Castro 
2014, 46).   
 
A  confirmação  de  que  aquela  cultura  empresarial  parece  ter-se  perdido  ao  longo  das 
gerações é deixada por Costa (2014), o qual faz notar:  
O  que  levou  o  banco  [BES]  ao  fundo  foi  uma  fuga  para  a  frente,  a  falsificação  de  contas,  a 
ganância, o medo de ver o Estado e a troika entrarem pela porta, uma família onde quase não havia 
gestores decentes e onde poucos negócios tinham valor (Costa 2014, 3).   
 
6.3.5 Estuturas de governo da família Espírito Santo
   
 
A família empresária Espírito Santo vai na quinta geração de banqueiros (Louçã  et al. 
2014,  29),  podendo  ser  considerada  uma dinastia,  na aceção  de  Landes  (2006,  xiv).  A 
família  manteve  a  tradição  de  envolver  os  filhos  varões  nos  negócios  do  banco  desde 
cedo, preparando-os assim para os cargos que viriam a ocupar na hierarquia. 
 
6.3.5.1 Conselho Superior do Grupo Espírito Santo  
 
O Conselho Superior do Grupo Espírito Santo  era uma estrutura de participação onde 
eram  tomadas  as  decisões  por  representação  (Gallo  et  al.  2009,  47).  Como  órgão  de 
cúpula  reunia  os  representantes  dos  cinco  ramos  da  família  empresária 
(Louçã  et  al. 
2014, 29) 
e foi anunciado por Ricardo Salgado em 1991, quando da refundação do GES:  
Acreditamos  que  a  melhor  forma  de  gerir  um  grupo  como  o  nosso  é  de  forma  colegial.  (…)  a 
cabeça  do  grupo  é o  Conselho  Superior  e  nenhum  de  nós  pode  assumir  um  certo  e  determinado 
número  de  decisões  e  responsabilidades  sem  o  conselho  e  a  aprovação  dos  restantes  pares  do 
Conselho  Superior.  (…)  ao  funcionarmos  em  unidade  encontrámos  a  melhor  forma  de  nos 
protegermos. Os grupos  financeiros com a  nossa  envergadura  não podem errar e a probabilidade 
de erro é sempre muito maior em decisões individuais que nas colegiais (Lima 2014, 10).  
 
Este  Conselho  consistia  numa  estrutura fixa 
onde  se  debatiam  questões,  tais  como  as 
relações  entre  os  diversos  subsistemas  (família,  propriedade  e  empresa)  e  tinha  como 
objetivo  alinhar  as  necessidades  e  interesses  dos  membros  das  empresas  familiares, 
assim  como  estabelecer  estratégias  que  pudessem  ser  implementadas  por  essas 
empresas.  É  da  incumbência  deste  Conselho  de  família  preparar  e  formalizar  o 
documento que orienta todas as atividades e relações da empresa, isto é, o Protocolo de 


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