Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge
Rodrigues
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a)
A família empresária Champalimaud detém uma empresa familiar em comum (Cabo
Raso – Sociedade em Empreendimentos Turísticos, S.A., a qual administra 200
hectares no Guincho, em Cascais). Do ponto de vista da estrutura de propriedade
pode ser considerada uma sociedade entre irmãos, apesar de os acionistas serem uma
mistura de primos em primeiro grau, tias e tios, pois, o controlo efetivo da
propriedade comum é dos filhos do fundador ou dos sobrinhos destes; quaisquer
deles poderão ou não trabalhar na empresa (Casillas
et al. 2005, 13; Gersick
et al.
1997, 42, 51). Quanto ao desenvolvimento da família, esta parece estar, quanto à
segunda geração, no estádio de jovem família empresária, a qual se carateriza por a
geração dos pais ter menos de quarenta anos, e os filhos, se os houver, terem menos
de dezoito anos (Gersick
et al. 1997, 64); quanto à terceira geração, a mesma parece
estar no estádio de trabalho conjunto, estádio este que se carateriza por duas ou mais
gerações estarem plenamente envolvidas, ao mesmo tempo, na empresa familiar
(Gersick
et al. 1997, 83).
b)
A família empresária Espírito Santo pode ser considerada
uma dinastia (Landes
2008, xiv), por o seu controlo sobre as empresas familiares ser superior a três
gerações da mesma família, ou mesmo uma empresa familiar complexa (Gersick
et
al. 1997, 183). Do ponto de vista da estrutura de propriedade
é um consórcio de
primos, pois, o controlo é exercido por muitos primos de diversos ramos da família
empresária, e nenhum dos ramos possui, só por si, direitos de voto suficientes para
controlar as decisões (Gersick
et al. 1997, 48). Neste estádio, ainda que a estrutura de
propriedade assuma uma forma equilibrada, a complexidade existente obriga a que se
estabeleçam sistemas formais de relações entre a empresa familiar e a família
empresária – órgãos de governo estruturados, registos de família, retiros anuais
(Casillas
et al. 2005, 14; Gersick
et al. 1997, 48). Quanto ao desenvolvimento da
família empresária, esta já há muito tempo que atingiu o seu estádio de transferência
da responsabilidade e do controlo dos negócios da família para as gerações seguintes
(Gersick
et al. 1997, 99), sucedendo-se vários líderes no seu comando nos cerca de
cento e cinquenta anos de vida desta família empresária.
A posição das famílias empresárias no seu estádio de vida tem diferentes impactos sobre
os seus membros e as empresas que controlam, sendo de realçar [que]
… a continuidade das sucessivas gerações da família [empresária] nas principais posições destas
empresas é precisamente o que evidencia as transformações que se tiveram de operar neste
processo de permanência de diferentes membros da família na liderança das empresas. (…) a
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continuidade não significa uma simples reprodução do passado, pois, a geração emergente não se
limita a reproduzir as empresas da família nas condições ditadas pela geração declinante (…),
antes procuram construir o seu próprio futuro articulando o capial compósito [resultante dos
capitais económico, politico e relacional] que herdaram com os novos valores e exigências
económicas do seu tempo, criando os próprios meios (transformando e inovando as estruturas
tecnológicas e organizacionais) para produzir o futuro, constituindo, assim, um exemplo de
articulação entre a modernidade e a tradição (Lima 2003, 170-171).
6.4.2 Estrutura formal de governo da família empresária
Quer a empresa familiar quer a família empresária necessitam de estruturas formais e
informais; as estruturas formais são mais eficazes na empresa familiar e as estruturas
informais têm o seu melhor desempenho na família empresária (Gallo et al. 2009. 42).
A família empresária Espírito Santo, a de maior longevidade, apresenta uma estrutura
formal de governo familiar complexa e estruturada, em redor da
holding ES Control,
como se descreveu em 6.3.5 Estrutura de governo da família Espírito Santo.
Na família empresária Champalimaud parece não existir uma estrutura formal de
governo familiar, sendo ainda difícil perceber se alguma vez poderá vir a haver alguma,
pois, a propriedade comum que os une, a sociedade Cabo Raso – Sociedade em
Empreendimentos Turísticos, S.A., está situada em zona protegida, onde não se pode
construir, pelo que o valor do terreno, hoje, é quase nulo (Castro 2016, 59). Os
diferentes ramos desta família desenvolvem sozinhos os seus negócios, com exceção do
ramo Manuel Champalimaud, o qual desenvolve os seus negócios num projeto comum
(Castro 2016, 74).
6.4.3 Exercício
do poder
O exercício formal do poder, na família empresária, é exercido e legitimado nos órgãos
estruturados, pelos atores dominantes, não obstante estes terem de lutar sempre pela
manutenção desta posição. Os negócios, outrora claramente um assunto de homens,
com a maioria das mulheres a não evidenciarem qualquer desejo de adquirirem
formação profissional ou desempenharem alguma atividade nas empresas da família
(Lima 2003, 164), alterou-se.
Ricardo Salgado, quando da refundação do GES, defendia
a repartição do poder:
Acreditamos que a melhor forma de gerir um grupo como o nosso é de forma colegial. (…) a
cabeça do grupo é o Conselho Superior e nenhum de nós pode assumir um certo e determinado
número de decisões e responsabilidades sem o conselho e a aprovação dos restantes pares do
Conselho Superior. (…) … ao funcionarmos em unidade encontrámos a melhor forma de nos
protegermos. (Lima 2014, 10)