Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge
Rodrigues
Página 119
6.4.4.2 Confiança
Os gestores (em particular os proprietários e gestores de uma empresa familiar), na
procura de uma governabilidade partilhada, recorrem à ativação de numerosas redes
sociais a que pertencem (Portes 1998), as quais estruturam o seu papel no seio da
empresa. As redes sociais são percebidas como construções sociais, em particular as
redes sociais das relações pessoais, as quais determinam as soluções a serem
efetivamente adotadas. As relações entre os indivíduos têm por base a confiança
recíproca, logo, a confiança é o substituto dos contratos explícitos e desencoraja o
oportunismo. A singularidade do proprietário-gestor, presente nos dois casos analisados,
tem por base a existência de redes sociais ativas, que contribuem para uma partilha do
governo da empresa familiar (Allouche
et Amann, 1998). A família Espírito Santo
disfrutava de prestígio social e reputação no mundo financeiro internacional (Lima
2003, 173;
Louça
et al. 2014, 89
), como corolário de, historicamente, na atividade
bancária o nome de família ser garantia de experiência, honra, sagacidade comercial e
confiança mútua (Landes 2000, 8), atributos que lhe terão permitido reconstruir o seu
negócio a partir do exterior (Taborda
et al. 2014, 41; Lima 2003, 173). Assim,
… no processo de recuperação do papel da família Espirito Santo no mundo económico e
financeiro internacional, os seus membros não podiam apoiar-se exclusivamente em gestores
profissionais. Tinham de ser eles próprios a fazê-lo, pois só eles detinham o capital patrimonial
compósito que o permitiria (Lima 2003, 174).
Contudo, a nível interno do GES, a confiança inter-organizacional na família Espirito
Santo parece ter sido quebrada por parte dos seus membros:
… a generalidade dos membros da Comissão Executiva e do Conselho da Administração do BES
desconhecia por completo esta situação, de manipulação de contas, que se arrastava na ESI desde
2008, só dela tendo tomado conhecimento no início do mês de Dezembro de 2013, o que veio a
gerar uma manifesta quebra de confiança quanto ao modo como eram tomadas decisões e geridas
as atividades dentro do GES. (Silveira 2015, 281)
Em Abr/2006, em reunião do Conselho Superior do GES, Fernando Martorell, gestor de
confiança e amigo da família Espirito Santo queixava-se (Esteves
et Castro 2014, 46):
… [da] falta de coordenação das empresas por parte da
holding, à ausência de estratégia, à falta de
regras claras e formais na gestão de topo e à “grande complexidade societária”.
Ou seja, este gestor já fazia apelo a uma maior profissionalização da gestão do GES,
através da capacitação estratégica deste, fosse por recurso a profissionais com vocação e
competências para gerirem o negócio, fosse através de um processo de formação de