Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária



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Mestrado em Sociologia                         Relações de poder no campo família empresária
 
 
Jorge Rodrigues  
Página 124 
 
Ou  seja,  todo  o  campo  se  carateriza  por  ter  agentes  dotados  do  mesmo  habitus
enquanto  operador  de  cálculo  inconsciente  que  permite  ao  membro  da  família 
empresária  orientar-se  corretamente  no  seu  espaço  social.  Assim,  o  campo  estrutura  o 
habitus e este constitui o campo (Bourdieu 1971, 102-103). O habitus é a internalização 
da estrutura social e o campo é a exteriorização ou objetivação do habitus.    
O  capital  refere-se  ao  conjunto  de  recursos  de  diferentes  naturezas  (económica, 
financeira,  cultural,  social)  disponibilizados  pelos  agentes  que  intervêm  num  campo 
social. Estes capitais e a sua distribuição possuem um efeito estrutural no campo. Esta 
distribuição entre os agentes é desigual e pressupõe que os agentes envolvidos não são 
iguais. A posse ou detenção da síntese desses capitais  – o capital simbólico – irá gerar 
distintas posições no campo, as quais irão desencadear estratégias de luta associadas aos 
interesses  próprios  de  cada  agente.  Estes  agrupam-se  em  subcampos  na  família 
empresária,  os  quais  têm  relações,  interesses  e  objetivos  diferentes  no  seu  relaciona-
mento  com  aquela,  e  têm  também  pontos  convergentes  entre  si,  o  que  faz  da  família 
empresária um ser vivo, ou seja, parece ser a objetivação de um campo específico.   
O  governo  da  família  empresária  significa,  primordialmente,  ter  regras  claras  em 
relação  à  propriedade  e  à  gestão  da  empresa  familiar,  saber  usar  o  seu  património  de 
forma responsável e coerente com o passado, com o presente e vislumbrando o futuro. 
Em  suma,  construir  o  campo  família  empresária  supõe  que  se  tenha  perante  os  factos 
uma  postura  ativa  e  sistemática  para  construir  um  sistema  coerente  de  relações,  que 
deve  ser  posto  à  prova  como  tal.  O  mesmo  é  dizer,  abordar  um  caso  empírico  com  a 
intenção de construir um modelo – que não tem necessariamente de se revestir de uma 
forma matemática ou formalizada para ser rigoroso – de ligar os dados pertinentes de tal 
modo  que  eles  funcionem  como  um  programa  de  investigação  que  coloque  questões 
sistemáticas, apropriadas a receber respostas adequadas (Bourdieu 1989, 32).  
 
7.3 Limitações da dissertação   
 
Embora a família empresária seja um construto com pouca visibilidade na sociedade, o 
seu  impacto  na  vida  quotidiana,  contudo,  é  uma  realidade.  Os  relatos  de  vida  de 
algumas pessoas que por vezes surgem nos media chama-nos a atenção para fragmentos 
da  realidade  que  nem  sempre  percebemos,  por  nos  faltarem  os  instrumentos  ou  lentes 
teóricas que nos permitam tratá-los.  
 


Mestrado em Sociologia                         Relações de poder no campo família empresária
 
 
Jorge Rodrigues  
Página 125 
 
A  não  pertença  do  autor  a  uma  família  empresária  e  a  não  inserção  em  redes  sociais 
potenciadoras de capital social (Zamudio et al. 2014), associadas à habitual discrição e 
não  divulgação  do  que  se  passa  no  seio  dessas  famílias  (Gallo  et  al.  2009,  14),  que 
resistem à sua objetivação e desmistificação (Louçã  et al. 2014, 11), as mesmas atuam 
numa  arena  que  além  de  privada,  nalguns  casos,  ainda,  será  íntima,  dificulta  o 
questionamento e análise dos seus comportamentos intrínsecos.  
Por  estas  razões,  parece  ainda  estar  todo  um  caminho  por  fazer,  na  procura  da 
delimitação  do  construto  família  empresária, cujo  pontapé  de  saída  se tentou  ativar.  O 
caminho  faz-se  caminhando,  colocando  pequenos  marcos  ao  longo  do  mesmo,  ainda 
que  estas  marcas  possam  vir  a  ser  afastadas  mais  tarde,  por  já  terem  cumprido  a  sua 
função. Espera-se que seja esse o fim desta dissertação de mestrado em sociologia, sinal 
de que já se terá avançado na problematização do conceito família empresária.   
 
7.4 Investigação futura  
 
Nesta  dissertação  procurou-se  preparar  um  quadro  teórico  de  referência  que  permita 
criar  definições  operacionais  para  descrever  ou  identificar  interrelações  entre  os 
membros da família ou famílias, com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre o 
enigma família empresária. O desenvolvimento futuro do trabalho deverá assentar num 
questionamento  sobre  aquelas  interações
 
entre  os  agentes  (indivíduos  ou  grupos)  e  as 
instituições, encontrar uma estrutura historicizada que se impõe sobre os pensamentos e 
as  ações.  O  objetivo  é  perceber  a  luta  por  posições  na  família  empresária,  pocurando 
densificar  as  relações entre  os  públicos internos  da  família empresária  e a  sua  posição 
nos órgãos de governo da mesma – estrutura de poder, sejam elas formais ou implícitas. 
Assim, pretendem-se compreender factos e relações nem sempre explícitas,  na procura 
de  relações  de  poder,  lutas  por  posições  ou  outros  aspetos  escondidos  ou  pouco 
revelados do construto família empresária, tais como privilégios, opressões, hierarquias, 
com estes últimos conceitos a colocarem algumas questões de cultura organizacional na 
família empresária:  
a)
 
O público-alvo interno dominante impõe a sua cultura aos restantes públicos-alvo 
(os dominados, na ótica de Elias 2000)?  
b)
 
Os  family  offices,  quando  existam  para  manter  uma  estrutura  de  propriedade 
estática por gerações – estabilidade de posições no campo (Accardo 2006, 64)  –, 
mesmo  quando  mudam  os  acionistas  (Gersick  et  al.  1997,  30),  não  será  uma 


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