Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge
Rodrigues
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Contudo,
com o passar do tempo, Saraiva (2015) conclui que:
… importa começar por clarificar que, do ponto de vista de imputação de responsabilidades face
ao sucedido, estas devem ser assacadas em primeira linha, e de forma inequívoca, a actos de gestão
que foram sendo sucessivamente praticados pelos principais responsáveis do GES, com especial
incidência na pessoa de Ricardo Salgado, enquanto líder máximo do GES, onde
praticava um
estilo de gestão centralizador e personalizado, mas abarcando a generalidade
dos administradores
e gestores de topo, seja por actos ou omissões, dado que integram órgãos colegiais de decisão
(Saraiva 2015, 252-253).
A gestão do GES era centralizada, essencialmente, na pessoa de Ricardo Salgado. Este
era profundo conhecedor, até ao detalhe, de tudo o que de mais relevante se passava no
GES, tomando frequentemente decisões de forma
unilateral, que eram depois
comunicadas aos restantes ramos da família e estruturas de gestão; […] Esta cultura
organizacional nalguns casos decorre de um verdadeiro casamento conveniente,
especialmente no que diz respeito a alguns membros da família Espírito Santo, por
conjugar a sua passividade com um estilo de liderança autocrática exercido por Ricardo
Salgado, concentrando em si mesmo informação e decisões que nem sempre eram
partilhadas, ou só o eram de forma parcial junto de
outros administradores ou
responsáveis do GES. Este estilo de gestão encontra tradução nos inúmeros cargos de
presidência assumidos por Ricardo Salgado, no modo como eram conduzidas as
reuniões do Conselho Superior do GES, do Conselho de Administração e da Comissão
Executiva do BES, mas igualmente nas soluções de orgânica interna adotadas no BES,
onde determinadas funções eram diretamente por ele tuteladas, ou ainda do seu
envolvimento direto, sem ser através das correspondentes hierarquias ou por vezes
sequer
do seu conhecimento, em diferentes tipos de assuntos.
O GES teve muito tempo para resolver as suas dificuldades estruturais de
financiamento, capitalização, modelo de governação, remoção de conflitos de interesses
e separação entre ramo financeiro e não financeiro. Sobre a reestruturação da área não
financeira do GES, já em Abr/2006, Fernando Martorell, gestor do grupo e amigo da
família, alertava para a necessidade urgente de reestruturar a Espirito Santo Resources,
holding antecessora da Rio Forte, recomendando que o Grupo se concentrasse, além da
área financeira, no turismo, no imobiliário (…). O resto devia ser vendido a curto prazo:
as fazendas no Brasil, herdades e termas em Portugal, a Espirito Santo Saúde (vendida
em 2014), a tranportadora aérea Portugália, as Águas do Vimeiro, o Espirito Santo
Plaza (edifício em Miami) e vários outros negócios (Esteves
et Catro 2014, 46). De
facto, elas decorrem de problemas estruturais crónicos dentro do GES, que em boa parte
existiam desde o
relançamento do mesmo, na década de 1990 (…) (Saraiva 2015, 262).