Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge Rodrigues
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ideais, atitudes, formas de comportamento, formas de ser, fazer e vestir. As práticas que
desempenham em comum remetem para a partilha de algo bastante mais abrangente e
significativo do que o simples êxito empresarial; partilham um “estilo de vida de
grupo”. Os membros destas famílias relacionam-se em situações diversas e sobrepostas:
partilham relações de amizade, relações profissionais, andam nos mesmos colégios, têm
amigos comuns, frequentam os mesmos clubes, são convidados para as mesmas festas,
têm casas próximas e muito frequentemente, casam-se entre si. Estes múltiplos espaços
de sociabilidade e interconhecimento promovem redes de relações, mais ou menos
fechadas, que tendem a reproduzir-se no tempo, ao longo das gerações e através de
múltiplos intercasamentos, criando barreiras informais à entrada de novos membros. Os
sentimentos que unem estas pessoas baseiam-se em laços de conhecimento pessoal de
longa data, no cruzamento de fatores identitários comuns, na partilha de projetos de vida
e uma visão do mundo com continuidade nas gerações seguintes (Lima 2003, 157-159).
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Capítulo 4. Públicos da família empresária
Os públicos da família empresária, aos quais pertence o agente social, são dotados de
liberdade de opinião e capacidade de argumentação com vista à obtenção de consensos
(Gallo et al. 2009, 46-47; Guedes 2010), ou lutam pela manutenção ou conquista de
posições no campo social que é a família empresária (Accardo 2006, 71). Estes públicos
– ou subcampos – são a razão de ser da família empresária e determinam os diferentes
modos de interação social entre si e a empresa familiar. Estes públicos podem ser
internos, externos ou mistos. Como todos os agentes envolvidos num campo têm um
certo número de interesses fundamentais em comum (Bourdieu 1993, 74), a maior
dificuldade desta dissertação parece residir em encontrar um conceito de público ao qual
se possa aplicar, de maneira lógica, as propriedades de campo de Bourdieu (1993).
Figura 4.1 – Família empresária vs Empresa familiar
A simetria de papéis desempenhados pelos membros de uma empresa familiar e
simultaneamente membros da família empresária são apresentados num esquema de
equivalências sumário (Figura 4.1). De referir, que muitas das vezes os órgãos de
governo da família empresária poderão não estar formalmente expressos, mas
funcionam informalmente e são aceites pelos seus membros, cumprindo assim a sua
missão de influência e procura de coesão na família empresária (Ensly et Pearson 2005,
270). Para analisar os diferentes tipos de públicos – interno e externo – pedimos
emprestado a Murray (2001) o seu modelo de diagnóstico dos três círculos, sobrepostos,
Família empresária
Empresa familiar
Familiares
Accionistas
Familiares
Familiares
Accionistas
não accionistas
accionistas
não familiares
Assembleia
Assembleia geral
de família
de accionistas
Conselho
Conselho de
familiar
administração
Comissões
Protocolo
Family
CEO
familiares
familiar
Office
Tecnoestrutura
Capital Próprio
Activo
Passivo
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de empresa familiar, com base nas dimensões propriedade, família e negócio
(gestão/empresa), proposto por Tagiuri et Davis (1982) e ampliado por Ward et Aronoff
(1994), para analisar as diferenças dos vários grupos de interesse existentes (Figura 4.2).
Fonte: Adaptado de Tagiuri et Davis 1982, 200; Gersick et al. 1997, 6; Murray 2001, 37.
Figura 4.2 – Modelo dos três círculos da empresa familiar
Aquelas três dimensões irão gerar um emaranhado de interações potenciadoras de
diferentes impactos (Gersick et al. 1997, 68; Steinberg et Blumenthal 2011, 37-43):
a)
A dimensão família gera afetos, aqui entendidos no seu significado mais amplo:
amor, generosidade, orgulho, compreensão, alegria (sentimentos positivos); raiva,
ciúme, rivalidade, agressividade (sentimentos negativos). O afeto está de permeio
entre todas as relações de interdependência das dimensões negócio e propriedade.
b)
A gestão do negócio é a dimensão que gera competição, rivalidade e jogos de
poder entre os membros da família empresária, e entre estes e os gestores de fora
da mesma. Nesta dimensão sobressai, então, o poder de decidir, o status e a
visibilidade dos cargos desempenhados na empresa familiar.
c)
Na dimensão propriedade predomina a relação da família empresária com o
dinheiro e com a geração de riqueza que decorre da gestão do negócio. É nesta
dimensão que se geram os debates sobre o uso indiscriminado dos bens comuns
por alguns e não por todos os membros da familia empresária.
Portanto, este modelo facilita a compreensão das fontes de conflitos interpessoais,
dilemas de papéis, prioridades e limites de todos os agentes que interagem com a
empresa familiar e as suas funções, bem como a posição de proprietário, familiar ou
não-familiar (Gersick et al. 1997, 7).
Propriedade
Proprietários que não
pertencem à família
Membros da família Membros da família, proprietários, e com Proprietários que não
que são proprietários
posição estratégica na empresa familiar
pertencem à família
Membros da familia que são proprietários
e trabalham na empresa familiar
Membros da família
Membros da família que trabalham
Executivos da empresa familiar
na empresa familiar
sem vínculo à família
Família
Gestão / Empresa
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