Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge
Rodrigues
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familiar. A saída de um membro da geração de controlo, ou uma doação antecipada,
geram a entrada de novos membros, os quais não podem deixar de ser considerados nos
seus interesses e expetativas. As participações começam a ter proporções e pesos
diferentes, dependendo da forma como elas passam a ser divididas. Mais herdeiros,
mais casamentos, filhos ou separações tendem a multiplicar a complexidade do sentir e
agir deste público que tem uma sinergia e um relacionamento estreito entre a família e a
empresa familiar. Daí, a importância da preparação deste conjunto de membros para o
papel de acionistas, para que cada membro que se torne proprietário possa acrescentar
valor ao património herdado, fortalecendo a família empresária (Bernhoeft
et Gallo
2003, 18; Floriani 2012, 111; Gallo
et al. 2009, 78).
4.1.3 Membros da família que trabalham na empresa familiar
Em relação aos restantes membros da família, este grupo de público
apresenta interesses
e expetativas muito próprias. Por vezes torna-se difícil fazer a separação entre
propriedade e empresa familiar. Sentem uma certa segurança que decorre muito mais de
serem membros da família empresária do que da sua competência profissional, podendo
levá-los a questionar porque estão ali: se por mérito próprio ou se por caridade familiar?
Independentemente da resposta, um profissional familiar não pode negar o seu duplo
papel, devendo estar preparado para lidar com esta duplicidade. Este público transporta
consigo uma outra caraterística: a dificuldade do seu despedimento pela empresa
familiar. Os vínculos familiares dificultam que seja esta uma mera medida de caráter
profissional. Nas relações que continuarão a existir nos diferentes eventos familiares
este público continua a manter as suas relações, sendo difícil evitar a sua contaminação
por alguma decisão tomada no âmbito da empresa, pelo que há necessidade de criar
relacionamentos viáveis entre quem trabalha na empresa familiar e aqueles que não
trabalham (Gersick
et al. 197, 45, 52). Ou seja, os membros da família que trabalham na
empresa apresentam desejos, ambições e expetativas que não podem ser negligenciadas,
com a sua influência a poder tornar-se prejudicial na família e nos negócios, caso não
haja um tratamento considerado justo e adequado (Bernhoeft
et Gallo 2003, 21; Floriani
2012, 113; Gallo
et al. 2009, 74).
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4.1.4 Membros da família que são proprietários e trabalham na empresa familiar
A narrativa do ponto 4.1.3 – Membros da família que trabalham na empresa familiar,
ganha maior intensidade neste grupo de público, pois estas pessoas podem sentir-se
ainda mais importantes e podem cometer o erro de confundir o seu papel de acionistas
com as atribuições do cargo que ocupam. Submeter-se à hierarquia, disciplina, política
salarial e outros procedimentos da empresa familiar é fundamental para que os papéis
não se confundam. O seu raciocínio deve ser o de acrescentar valor ao património
herdado (Bernhoeft
et Gallo 2003, 18; Floriani 2012, 111; Gallo
et al. 2009, 78).
4.1.5 Membros da família, proprietários, com posição estratégica na empresa familiar
O poder da geração descendente do fundador advém-lhe do seu vínculo com o trabalho.
A partir da segunda geração este elo dá-se por um sistema de valores comuns e pelo
capital que cada um herdará na sua devida proporção. Este impacto resulta do processo
da sucessão na empresa familiar, consubstanciado na entrada de novos membros da
família empresária e na saída de outros (Randerson
et al. 2015, 144). Isto é, inicia-se
uma nova sociedade, onde o poder deixa de estar no seio da empresa familiar,
deslocando-se para os acionistas de controlo. E isto exige um processo de
profissionalização não apenas da empresa, mas também no seu sistema de governo e da
sua arquitetura. Uma clara definição da estrutura de poder através de comissões
independentes será da maior importância. Tanto a família como o vínculo societário
exigem campos sociais distintos e competentes para lidar com questões estratégicas do
capital, devendo ter-se pessoas competentes na gestão do negócio e representantes do
capital devidamente preparados e legitimados no seu papel (Bernhoeft
et Gallo 2003,
23). Os familiares que detêm participações e ocupam posições estratégicas na empresa
familiar deverão tomar decisões levando em conta a perspetiva da criação de valor e não
ficarem prisioneiros dos negócios existentes. A escolha destes profissionais deve ter em
conta a sua capacitação técnica, ética, deontológica e a sua legitimidade. Reconhecer e
aceitar estas capacidades irá tornar menos difíceis os relacionamentos com a família
(Gersick
et al. 1997, 52). Este grupo de público requer uma grande atenção
para se obter
a continuidade dos negócios, porquanto, reconstitui-se por cada geração que entra,
transformando-se numa nova sociedade, ao mesmo tempo que ocorre um processo em
que a sua participação acionista se dispersa.