Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária



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Mestrado em Sociologia                         Relações de poder no campo família empresária
 
 
Jorge Rodrigues  
Página 79 
 
do através de uma valorização que equilibre lealdade e competência.  
A imagem que os empregados têm da empresa familiar e da empresa não familiar difere 
num  número  importante  de  aspetos  (Astrachan  et  al.  2014).  Em  termos  favoráveis,  a 
empresa familiar é vista como detendo uma forte orientação por valores, sendo leal para 
com  os  seus  empregados  e  preocupa-se  com  a  tradição.  Em  termos  desfavoráveis,  a 
empresa  familiar  é  associada  a  conflitos familiares,  nepotismo,  baixas  remunerações  e 
limitadas  oportunidades  de  progressão  na  carreira,  em  particular,  para  os  empregados 
não familiares. Contudo, estas perceções podem ser parciais (Block et al. 2016, 67).   
 
4.2.3 Proprietários que não pertencem à família e trabalham na empresa familiar 
 
Este grupo de público externo combina as descrições anteriormente efetuadas  no ponto 
4.2.1 Proprietários que não pertencem à família e  também no ponto 4.1.3 Membros da 
família que trabalham na empresa familiar (Bernhoeft et Gallo 2003, 23). 
 
4.3 Interações dos públicos internos da família empresária  
 
Os espaços privados e públicos são microcosmos sociais que demarcam modos de agir e 
de ser dos indivíduos. Todo o indivíduo tem três tipos de atuações: públicas, privadas e 
íntimas. A distinção entre umas e outras nem sempre é fácil. 
 
O  conceito  de  privado  parece  só  ter  adquirido  consistência  no  século  XIX,  sendo  aí 
definido  como  uma  zona  de  imunidade  oferecida  ao  recolhimento,  onde  todos  podem 
abandonar as armas e as defesas das quais convém munirem-se ao arriscar-se no espaço 
público, coincidindo com o lugar da familiaridade – o doméstico, o íntimo (Matos 1996, 
130).  Contudo,  cada  definição  aparentemente  clara  e  precisa  encontra  sempre  um 
exemplo  que  a  contradiz  ou  a  torna  mais  complexa  e  problemática.  Quando  parece 
configurar-se  uma  conclusão,  uma  definição,  aparece  uma  nova  situação  histórica  ou 
literária que a relativiza ou a contradiz (Valdés, 2003). As únicas atuações que também 
pertencem  aos  outros  são  as  atuações  públicas,  porquanto,  são  efetuadas  no  espaço 
público e para o público; logo, são tanto do indivíduo como do público, por este último 
ser o objeto da relação. Já as atuações privadas e íntimas pertencem ao indivíduo. Num 
estado de direito, quem queira nelas participar sem a autorização do indivíduo, comete 
uma transgressão aos direitos individuais deste, sendo considerado um delinquente.  


Mestrado em Sociologia                         Relações de poder no campo família empresária
 
 
Jorge Rodrigues  
Página 80 
 
Por norma diferencia-se entre espaço  público e espaço privado. Já não é tão frequente 
diferenciar  entre  espaço  privado  e  espaço  íntimo.  Em  qualquer  caso,  o  que  realmente 
existe são espaços que o indivíduo usa como cenários na representação que constituem 
as  suas  atuações.  Estas  atuações  são  públicas,  privadas  ou  íntimas  não  em  si  mesmo, 
mas segundo o espaço em que se desenvolvem. Estes três tipos de atuações – públicas, 
privadas e íntimas – caraterizam-se por (Valdés 2003; Matos 1996):  
a)
 
As atuações públicas são necessariamente observáveis (visíveis, audíveis ou outra 
forma de perceção);  
b)
 
As atuações privadas poderão ser observáveis por permissão, por falta de cuidado 
dos atores ou por voyeurismo do observador;  
c)
 
As  atuações  íntimas  não  são  observáveis;  o  que  lá  se  passa  só  pode  ser  inferido 
através do que o sujeito diz ou faz, inclusive com a sua inibição ou o seu silêncio. 
 
Seguindo  este  raciocínio,  considera-se  que  a  família  empresária  se  insere  nos  espaços 
privado  e  íntimo.  Deste  modo,  as  suas  atuações  são  públicas  no  seio  da  família 
empresária; são privadas, em relação aos restantes atores da sociedade, fora da família 
empresária;  e  serão  íntimas  quando  essas  relações  se  restringem apenas  aos  elementos 
com  origem  no  clã  familiar.  Referimo-nos  às  reuniões  que  têm  lugar  a  seguir  aos 
almoços ou jantares em família, para tratar de assuntos específicos da empresa familiar, 
as  quais  têm  lugar  numa  sala  diferente  da  sala  de  refeições  e  onde  só  tomam  lugar  os 
elementos  da  família  empresária  com  descendência  por  via  uterina,  com  exclusão 
explícita dos membros vindos de fora do clã familiar.
 
Por isso, os membros da família 
empresária deverão saber separar os seus papéis de: 
a)
 
Membro da família – pais, irmãos, cunhados, noras, primos e outros
b)
 
Acionistas – detentores de parte do capital social da empresa familiar; 
c)
 
Executivo da empresa familiar – colaborador profissional da empresa familiar.    
 
A não separação clara daqueles papéis poderá conduzir a problemas ou conflitos no seio 
da família (Floriani 2012, 117-119), os quais poderão ser tipificados em:  
a)
 
Influência na formação da vocação para empresários, por parte dos filhos
b)
 
Incentivo natural à competição entre os membros da família; 
c)
 
Formação social dos filhos nos valores da família; 
d)
 
Consciencialização e conhecimento tácito do negócio da família; 
e)
 
Estilo de vida “não conforme” com a idade dos filhos; 


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