Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária



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Mestrado em Sociologia                         Relações de poder no campo família empresária
 
 
Jorge Rodrigues  
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de saber quais os interesses que defende. Logo, terá que desenvolver as suas estratégias 
de  luta  pelo  seu  interesse  próprio.  Estas  estratégias  surgem  devido  a  uma  desigual 
distribuição  do  capital  no campo, contribuindo  para  um  permanente  conflito,  sendo  as 
mais comuns centradas (Thiry-Cherques 2006, 39): 
a)
 
Na conservação das formas de capital
b)
 
No investimento, com o objetivo da sua reprodução; 
c)
 
Na sucessão, com o objetivo de manter as heranças e a ascensão social;  
d)
 
Na educação, também com o objetivo de manter as heranças e a ascensão social; 
e)
 
Na  acumulação  económica,  social  (matrimónios),  cultural  (estilo  de  vida,  bens, 
títulos académicos) e simbólico (status). 
 
3.6 O papel das instituições  
 
As instituições são instâncias de poder cujo papel é o de instituírem a realidade, de fazer 
com que existam, na prática, as relações sociais e consolidá-las. São constrangimentos 
socialmente construídos que estruturam as interações políticas, económicas e sociais.  
 
3.6.1 Conceito  
 
As  instituições  constituem  restrições  quer  formais  (leis,  constituições,  direitos  de 
propriedade)  quer  informais  (normas  de  comportamento,  convenções,  códigos  de 
conduta)  da  sociedade.  Possuem  uma  importância  fundamental  porque,  ao  serem 
imposições criadas pelos agentes, são as regras do jogo, que acabam limitando as suas 
interações,  com  o  objetivo  de  reduzir  a  incerteza  nas  transações  na  economia  (North 
1991, 97).  Logo,
 
entende-se por instituição, uma prática social cuja função é codificar 
as distâncias sociais ou de as fazer respeitar (Accardo 2006, 60). Ou seja, um conjunto 
de  expetativas  que  dão  lugar  a  comportamentos  previsíveis  por  parte  dos  indivíduos, 
que as seguem de modo quase irreflexivo e as quais não necessitam de justificação para 
serem executadas. A sua autoridade advém-lhes da adesão de grande parte da população 
de um determinado campo ou conjunto de campos. Devido a esta delegação de poder, e 
à  importância  do  capital  simbólico  que  daí  retiram,  as  instituições  podem  impor,  nos 
seus respetivos domínios, as definições legítimas da realidade aos agentes  a quem elas 
dão acreditação. Ou seja, o trabalho das instituições consiste, no essencial, em delimitar 
exatamente  os  grupos  sociais,  ao  darem  a  conhecer  os  critérios  de  pertença  a  esses 


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grupos e ao decretarem as propriedades unívocas em redor das quais os agentes devem 
pautar os seus comportamentos, com a concordância dos próprios, alinhando de um ou 
do  outro  lado  de  fronteiras  precisas,  como  aquelas  que  separam,  por  exemplo,  os 
diplomados dos não diplomados ou os casados dos solteiros (Accardo 2006, 116, 119). 
Como consequência, as instituições são as regras do jogo (North 1991) que transmitem 
certeza

segurança  e  firmeza,  a  que  Damásio  (1996)  acrescenta  a  intuição.  Esta  é  um 
sentimento  que  acompanha  a  avaliação  de  uma  ideia,  um  facto  ou  uma  decisão.  Em 
termos  teóricos,  a  avaliação  deveria  resultar  de  uma  análise  da  informação  a  favor  ou 
contra essa  ideia,  facto  ou  decisão  (Ariño  2005),  mas  na  maior  parte  das  vezes,  o  que 
acontece é um sentimento, mais ou menos forte, a favor ou contra, que está para além de 
qualquer explicação  lógica. Este mecanismo  oculto  é a  fonte  da  intuição,  o misterioso 
mecanismo por meio do qual chegamos à solução de um problema sem raciocinar, com 
vista a essa solução (Damásio 1996, 220).  
 
3.6.2 A confiança 
 
O  raciocínio  que  acaba  de  se  expor  tem  implícita  uma  das  maiores  instituições  da 
modernidade – a confiança –, a qual conseguiu um elevado grau de aceitação social. A 
confiança  tem  por  base  as  experiências  individuais  com  a  família  empresária  ou  a 
empresa  familiar.  Logo,  uma  família  empresária  constrói  a  confiança  em  si  quando  os 
seus  membros  conjugam  esforços  para  planear  ou  solucionar  problemas  relacionados 
com  assuntos  difíceis,  e  desenvolvem,  de  modo  justo,  regras  familiares  para aplicação 
de forma coerente a todos os membros da família empresária. Assim, cada membro da 
família  empresária  sabe  o  que  pode  esperar  das  suas  interações  com  esta  família  e  a 
empresa familiar (Carlock et Ward 2003, 35). Logo, a confiança é uma forma especial 
de capital simbólico crucial para todas as relações no seio da família empresária, e a sua 
criação  e  manutenção  pode  converter-se  numa  vantagem  competitiva  única  para  a 
empresa  familiar.  A  importância  das  instituições  para  o  desenvolvimento  e 
funcionamento da família empresária e empresa familiar é sublinhado por Sharma et al. 
(2012, 12). 
 
 
 
 


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3.6.3 O casamento 
 
Não há nada mais falacioso do que as crenças obsoletas sobre as ligações de sangue e as 
relações  que  advêm  desse  modelo  (Schemeil  2016,  35).  Neste  contexto,  o  casamento, 
por conveniência ou não, é uma forma de concentração de riqueza e de oportunidades 
(Louçã  et  al.  2014,  29;  Schemeil  2016,  36),  pois,  visa  unir  os  membros  de  um  grupo 
dominante com os membros de um outro grupo pelo menos equivalente sobre todas as 
relações pertinentes (Accardo 2006, 241),  e foi sempre uma forma de coesão da classe 
dominante portuguesa.  Aliás, na atividade bancária os contatos são importantes, o que 
significa família, continuidade, bons casamentos e sucesso dinástico (Landes 2000, 8). 
A  teoria  sociológica  justifica  a  formação  de  relações  sociais  independentemente  de 
qualquer  estratégia  coletiva,  ou  seja,  apenas  como  resultado  das  estratégias  dos 
indivíduos que procuram por esta via aumentar a sua remuneração, o seu prestígio e a 
disponibilização de uma rede que lhes seja útil para o progresso na carreira (Mizruchi, 
1996). Na perspetiva sociológica, onde a noção de poder é central, as redes de  gestores 
de  topo  (administradores)  prosseguem  estratégias  de  poder  do  capital  financeiro,  de 
grupos  de  empresas,  de  famílias  dominantes  ou  de  classes  sociais.  Trata-se,  nomeada-
mente,  de  manter  a coesão,  de assegurar  a  coordenação  e  o controlo  da  economia.  As 
redes  prosseguem  uma  lógica  própria,  que  transcende  o  interesse  das  organizações  ou 
dos indivíduos aderentes. As empresas favorecidas pelas redes são  à priori aquelas que 
são administradas pelos indivíduos pertencentes à rede.     
A  pertença  a  redes  relacionais  externas,  frequentemente  ligadas  a  uma  formação 
académica  obtida  na  mesma  escola  (Pigé,  1998;  Pichard-Stamford,  2000;  Paquerot  et 
Chapuis,  2003)  tem  influência,  pois  permite  dispor  de  certos  recursos  estratégicos 
(financeiros,  de  informação,  comerciais)  que  lhe  permitem  reforçar  a  sua  posição  em 
relação  às  outras  partes  interessadas.  Lima  (2003)  identificou  que  para  além  de  um 
estilo  de  vida  em  comum,  as  pessoas  do  grupo  social  [famílias  empresárias]  formam 
uma  rede  estreita  de  relações,  na  qual  é  muito  difícil  a  um  estranho  entrar,  pois,  as 
pessoas que constituem estas famílias partilham muito mais do que um lugar no topo da 
hierarquia das empresas nacionais e a falta de relação entre elas é apenas aparente. Os 
membros destes vários grupos empresariais de base familiar mantêm entre si relações de 
amizade  e  sociabilidade,  que  são  frequentemente  consolidadas  através  de  casamentos 
entre os seus membros. Mais ainda, para além de possuírem um elevado estatuto social, 
os  membros  destas  famílias  partilham  um  modo  de  vida,  um  conjunto  de  interesses, 


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