Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge
Rodrigues
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Família (Rodrigues
et Marques 2013).
Também era nas reuniões deste órgão de cúpula
do GES que era decidida a vida de familiares diretos (Esteves
et Castro 2014, 80).
Desde 2011 que cada ramo tinha direito a ter um segundo representante, mas estavam
inibidos de votar, e só o ramo Salgado não tinha um segundo elemento.
Até aí o funcionamento deste Conselho parecia ser secreto, ou então, tinha sido possível
negociar e estabelecer relações de equilíbrio entre os cinco ramos, pois, como disse
António Ricciardi, em reação a notícias surgidas na imprensa em 2011:
“Apesar das declarações de confidencialidade expressamente assinadas (…), constatou-se que
saíram recentemente na imprensa portuguesa diversas notícias sobre o Conselho Superior do GES,
quando, em dezoito anos de existência deste órgão nunca nada tinha sido publicado sobre o mesmo
(Esteves
et Castro 2014, 80).
Estas declarações deixam adivinhar uma desconfiança entre os membros do Conselho
Superior, a que se seguiu uma luta pela sucessão na liderança dos negócios do GES:
Apesar das necessidades de revisão das lideranças dentro do GES serem apontadas dentro do
próprio grupo, sobretudo após a entrada de novos elementos para o seu Conselho Superior, em
2011, e igualmente preconizadas pelo Banco de Portugal, pelo menos de forma implícita, desde os
finais de 2013, tal evolução acabou por não ser concretizada até ao final do primeiro semestre de
2014, tendo-se mantido um estilo de gestão centralizado dentro do próprio BES até à entrada em
funções da equipa liderada por Vítor Bento, em Julho de 2014; (…) com várias operações ao longo
do tempo a evidenciarem a existência de uma cultura de gestão, por parte de elementos do GES ou
a ele associados, que convivia com opacidade de informação e promiscuidade entre patrimónios do
GES e patrimónios pessoais, … (Silveira 2015, 310-311).
Essa luta pela sucessão traduziu-se em conflitos interpessoais, dilema de papéis e
obstáculos encontrados no seio de empresas do GES, o que levou ao devastamento de
relacionamentos familiares e a (…) traições cruzadas no interior da família (Esteves
et
Castro 2014, 60), sendo esta politização do grupo proprietário quase inevitável nos
consórcios de primos (Gersick
et al. 1997, 189).
6.3.5.2 Outros órgãos de governo da família Espírito
Santo
Uma família empresária cuja longevidade vai na quinta geração, não poderá deixar de
ser classificada como complexa, na aceção de Gersick
et al. (1997, 183). São raras, o
que significa que se adaptaram com sucesso às adversidades a que não resistiram outras
famílias empresárias, e a longevidade proporciona a oportunidade para que cada geração
aprenda com os erros e sucessos dos seus predecessores (Gersick
et al. 1997, 188).
À medida que a família empresária cresce e envelhece torna-se mais diferenciada, com
os membros dos diferentes ramos a diferirem entre si em termos de rendimentos, em
riqueza, posição social, filosofia e filiações políticas, níveis de educação, carreiras,
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saúde física e mental, e também na intensidade das ligações com a empresa familiar e
dos seus sentimentos em relação à mesma (Gersick
et al. 1997, 189).
Logo, aquela adaptação parece residir no primado da família empresária ao serviço da
empresa familiar, com a criação de um sistema de envolvimento e controlo que informa
sobre os negócios da família e promova a harmonia familiar, desenhados para cada
circunstância em particular, cuja descrição abreviada se encontra no Capítulo 5.
6.4 Estrutura das relações nos casos em estudo
A família e o parentesco continuam a figurar de uma forma importante nas sociedades
capitalistas, estando associadas ao desenvolvimento e manutenção de formas de poder
que não estão claramente formalizadas ou institucionalizadas (Lima 2003, 160).
Conscientes de que as caraterísticas específicas que emergem destes dois casos de
estudo não são passíveis de generalização analítica (Yin 2015, 44; Bryman 2000, 9),
não podem, contudo, deixar de se procurar verosimelhanças entre eles.
Quadro 6.1 – Principais determinantes das relações na família empresária
Determinantes
Família empresária
Champalimaud
Espírito Santo
Estádios do ciclo de vida da família
2ª-3ª geração
5ª geração
Estrutura formal de governo da família
Não
Parcialmente
Exercício
do poder
Difuso
Concentrado
Alicerces
das relações
de poder
Casamento
De conveniência
De conveniência
Confiança
Em parte
Em parte
Nome de família
Meritocracia
Nepotismo
Atendendo às caraterísticas que afetam os objetivos e a gestão da empresa familiar,
surgem como principais determinantes os estádios de vida da família empresária, o
exercício do poder, a estrutura formal de governo da família empresária e os alicerces
das relações de poder – casamento, confiança, nome de família (Quadro 6.1).
6.4.1 Estádios do ciclo de vida da família empresária
São diferentes os estádios de vida de cada uma das famílias empresárias estudadas: a
família Chapalimaud está entre a segunda e a terceira gerações e a família Espirito
Santo está na quinta geração.
Considerando o ponto 1.3.4 – Evolução dos tipos de família empresária, teremos: