Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge Rodrigues
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Portugal. Os negócios centram-se em participações financeiras nos setores
imobiliário, agrícola e cimenteiro.
Ramo C7: Luís de Mello Champalimaud (10/02/1952), dois casamentos, um divórcio,
dois filhos (Inês e Luís) a viverem em Portugal. Um licenciado. Os seus negócios
centravam-se no setor cimenteiro e agro-pecuário.
6.2.4 Perpetuação do nome da família Champalimaud
A experiência e o trauma com o caso Sommer terão contribuído para que António
Champalimaud tenha deixado testamento cerrado. A grande vantagem deste tipo de
testamento é possuir caráter sigiloso, garantindo que a vontade do testador permanecerá
ignorada até que ocorra o seu passamento e o testamento seja aberto. Os 8 testamentos
registados em Portugal e o último oficializado no Brasil, permitem reconstituir a forma
como aquele foi mudando de ideias e de afetos ao longo dos anos, e como só na última
versão, de 28/Abr/2000, surge a ideia de criar uma fundação (Castro 2016, 46-49).
6.2.4.1 Fundação Champalimaud
Em testamento, António Champalimaud determinou que “Os restantes 73,0 % (setenta e
três por cento) do total da minha quota disponível [equivalentes a 24,3 % de toda a
herança (Castro 2016, 49)] serão atribuídos a uma fundação a instituir por minha morte,
relativamente à qual desde já determino o seguinte: A Fundação adotará a denominação
“Fundação D. Anna de Sommer Champalimaud e Dr. Carlos Montez Champalimaud
;
A
Fundação terá por objeto e finalidade o desenvolvimento da atividade de pesquisa
científica no campo da medicina; …”. A Fundação foi formalmente criada em 2007,
sendo presidida por Leonor Beleza, de acordo com as instruções do testamenteiro.
O nome escolhido por este, em homenagem aos seus ancestrais, pode ser entendido
como uma forma de celebrar o orgulho dinástico (Landes 2000, 8; Olivares 2016, 36).
6.2.4.2 A meritocracia
O empresário escreveu uma carta aos filhos e netos herdeiros (por falecimento dos pais
destes), em 16/Jan/1996, em que manifestava a preocupação com futuras desarmonias
familiares em relação à gestão do património a herdar e os alertava para que esse
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património fora concebido para dar “…a primazia à obtenção de rendimentos e não a
uma garantia de colocação para administradores”. Como corolário, acrescentava: “Por
isso, as empresas deste agrupamento para bem atingirem os seus fins deverão ser
administradas por aqueles, mesmo estranhos à família, que melhor respondam aos seus
problemas específicos e não podem ser encaradas como oportunidades de trabalho para
a família dos seus acionistas” (Castro 2016, 48).
6.2.5 Estruturas de governo da família empresária Champalimaud
A família Champalimaud está na transição da segunda para a terceira gerações. Para
evitar gerar conflitos entre familiares, todos os herdeiros assinaram um acordo de
confidencialidade, que na 23ª das suas 27 cláusulas prevê que quem viole o sigilo das
negociações familiares poderá ser obrigado a devolver até 25,0 % da herança recebida,
com o valor a reverter para os outros herdeiros (Castro 2016, 49).
6.2.5.1 Conselhos de família
A figura do conselho de família parece não existir formalmente no governo da família
Champalimaud. Castro (2016, 49) refere que o fundador, em 1997, reuniu um conselho
de família – os cinco filhos e os cinco netos dos dois filhos falecidos – para discutir a
herança e manifestar o seu receio de que se repetisse o caso Sommer. Propôs-lhes que
depois de ele morrer, todos aceitassem ficar sócios de uma holding que iria gerir as suas
participações. Mas a perspetiva de todos os herdeiros ficarem presos uns aos outros não
foi consensual. Também Manuel Champalimaud, depois de herdar a sua parte da fortuna
do pai, terá reunido os filhos adultos num conselho de família, em que lhes colocou a
questão de se queriam aderir a um projeto de gestão comum com recurso a profissionais
ou cada um zelar por uma fatia daquele ativo. Optaram, por unanimidade, por
continuarem num projeto comum (Castro 2016, 74).
6.2.5.2 Outros órgãos de governo da família Champalimaud
O fundador da família parece ter recorrido a uma estrutura similar a um family office,
gerido pelo seu neto Rodrigo, filho mais velho de Manuel Champalimaud (Castro 2016,
75). Também a figura jurídica adotada por este e os seus filhos – negócios geridos num
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projeto de gestão comum, com recurso a gestores profissionais, de fora da família –
prefigura uma estrutura daquele tipo, embora formalmente não reconhecida como tal.
6.3 Caso de estudo 2 – Família empresária Espírito Santo
A família empresária Espírito Santo, constituída por quatro dos cinco ramos oriundos de
laços de sangue, mais um ramo exterior à família nuclear, evoluiu de contornos ao longo
de cinco gerações, passando do tradicional foco no negócio bancário até contornos mais
diversificados, centralizados e com potenciais novas oportunidades de negócios.
6.3.1 O fundador José Maria Espírito Santo Silva
José Maria do Espírito Santo Silva nasceu a 13/Maio/1850, filho de pai incógnito.
Parece ser Maria, por ter sido Nossa Senhora a madrinha, segundo indicação do registo
de batismo. Espírito Santo terá sido acrescentado no crisma a pedido do próprio. Já o
apelido Silva poderá ser da parte do pai. Há quem garanta que era filho bastardo de
Simão da Silva Ferraz de Lima Castro, o primeiro conde de Redufe, intendente-geral da
polícia e figura da aristocracia da segunda metade do século XIX. Terá sido o homem
por detrás da educação de José Maria (Garcia et al. 2013). Começou a negociar cautelas
e bilhetes de lotaria e aos 19 anos era dono de uma casa de câmbio em Lisboa. Investiu
ainda em imobiliário e na gestão de fundos e créditos (Louçã et al. 2014, 26). Do
casamento, com Maria da Conceição, que morreu aos 40 anos, nasceu Maria Justina. Do
casamento com Rita de Jesus Ribeiro (1867-1951) deixou quatro herdeiros: Maria
Ribeiro do Espírito Santo e Silva (1893-1986), Ricardo Ribeiro do Espírito Santo e
Silva (1900-1955), Manuel Ribeiro do Espírito Santo e Silva (1908-1973) e José
Ribeiro do Espírito Santo e Silva (1895-1968).
José Maria faleceu no dia 24/Dez/1915, com 65 anos, vítima de diabetes.
6.3.2 O Grupo Espírito Santo
A família Espírito Santo é constituída por cinco ramos: ramo Moniz Galvão, com 35
membros; ramo Mello, com 22 membros; ramo José Ribeiro, com 57 membros; ramo
Ricardo, com 130 membros; ramo Manuel Ribeiro, com 175 membros (Taborda et al.
2014, 40). Contudo, a família empresária Espírito Santo, agregada na holding ES
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