Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge Rodrigues
Página 100
de Mello Champalimaud (1950-1992) e Luís de Mello Champalimaud (1952). Para a
divisão da herança surge Mariana, nascida em 1954, uma filha fora do casamento.
António Champalimaud faleceu em 2004, aos 86 anos, em Lisboa
, d
eixando a maior
fortuna portuguesa a cinco filhos e vinte e um netos – aos filhos, o empresário terá
deixado duzentos milhões de euros a cada um; Mariana, recebeu sessenta milhões de
euros e assinou um acordo de confidencialidade (Castro 2016, 42-45) –, quase tudo em
dinheiro vivo (Fernandes 2004).
6.2.2
Construção de um império
Champalimaud construiu e reconstruiu o seu império empresarial, não sem polémicas, e
exilou-se por duas vezes. Os negócios abrangeram os cimentos, a construção naval e de
máquinas, siderurgia, extração mineral, papel, banca e seguros (Louçã et al. 2014, 88),
estendendo-se às ex-colónias de Angola e Moçambique e ao Brasil.
6.2.2.1 O legado
Com a morte do pai em 1937, António Champalimaud interrompe os estudos para gerir
os negócios da família e herda a Quinta da Marinha, quintas no Douro, roças em S.
Tomé, uma participação na Companhia das Minas de Cobre do Bembe, no Nordeste de
Angola e a Companhia Geral de Construções. Viaja por Inglaterra, França e Espanha,
trava conhecimento e faz negócios com pessoas bem relacionadas. Endividado, devido a
algumas empresas herdadas, conta com o apoio de Ricardo Espírito Santo Silva
(presidente do banco recentemente surgido por fusão, o BESCL). Alguns anos após a
morte do tio, desencadeou-se uma querela de partilhas entre os herdeiros (a viúva, as
irmãs e os sobrinhos) e António Champalimaud – o Caso Sommer (Mar/1957 a
Jul/1973). Um longo processo judicial que durou dezasseis anos, uma tribuna contra o
arbítrio do regime, com António Champalimaud a ser acusado de abuso de confiança e
de apropriação de parte daquela herança. Foi ilibado pelo tribunal em 1973.
6.2.2.2 Construção inicial
Com a morre do tio materno, Henrique Sommer, em 1944, ascende à presidência da
Cimentos de Leiria. Compra a fábrica de cimento Portland, na Matola, Moçambique.
Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge Rodrigues
Página 101
Com o apoio de Salazar, reforça a Cimentos de Leiria, em 1945. É-lhe concedida
licença para uma nova fábrica na Beira. Cria a Companhia de Cimentos de Angola, em
1946. Para estes investimentos socorre-se de empréstimos junto da Casa Bancária José
Henriques Totta, gerida pelo seu sogro, Manuel de Mello. A dada altura socorre-se das
ações das tias Maria Luísa e Albana, para avalizar um empréstimo junto daquela casa
bancária, mais tarde o Banco Totta & Açores. Em 1952 requer autorização para instalar
uma siderurgia integrada – a Siderurgia Nacional, a qual cria em 1954 e investe no setor
mineiro, recebendo, por dez anos, a concessão exclusiva de exploração de vários
minérios. Divorcia-se de Cristina Mello em 1957.
Em 1960 torna-se o maior acionista do Banco Pinto & Sotto Mayor (BPSM), adquire a
seguradora Confiança, entra no capital da Mundial e da Continental. No ano seguinte
inaugura a Siderurgia Nacional – fortemente apoiada pelo Estado – e recebe a medalha
de mérito industrial. Em Mar/1969 cria, no Brasil, a Sociedade de Empreendimentos
Industriais, Comércio e Mineração (Soeicom) e inicia o projeto de uma cimenteira em
Minas Gerais. Em 1970 tenta fundir o Banco Pinto & Sotto Mayor com o Banco
Português do Atlântico mas o governo de Marcelo Caetano inviabiliza o negócio.
Em 1972 as cinco maiores empresas do grupo valem, em bolsa, 40 milhões de contos.
Com a sua absolvição no caso Sommer, em Jul/1973, regressa a Portugal. Em 1974 o
grupo contabiliza catorze empresas, nos cimentos, celuloses, banca, seguros, siderurgia,
produtos farmacêuticos, cereais, hotelaria, produções para televisão e publicidade.
A 11/Mar/1975 os setores bancários e segurador são nacionalizados, em Portugal. Em
Abril foi a vez da siderurgia e, em Maio, as cimenteiras. Em Jun/1976 os bens pessoais
do empresário são congelados e este ruma ao Brasil.
6.2.2.3 Reconstrução do império
Em 1977, veio a Portugal para assistir ao funeral da mãe. Em 1985 manifesta a intenção,
não concretizada, de se candidatar à Presidência da República. Quando começa a ganhar
os processos contra o Estado, o governo procura que as indemnizações sirvam para o
empresário participar nas privatizações. A 14/Abr/92, compra 51,0 % da seguradora
Mundial Confiança. Por causa da privatização da cimenteira Secil zanga-se com o
Governo. Em 1994 reconcilia-se com o poder e compra 53,0 % do Banco Pinto & Sotto
Mayor. Em Dezembro, já tinha resgatado a maioria do Banco Totta & Açores e do
Crédito Predial Português, ao Banco Santander Central Hispano (BSCH), mercê de uma
Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge Rodrigues
Página 102
polémica interpretação ministerial que evitou uma dispendiosa OPA (Operação Pública
de Aquisição). Nestes negócios o empresário nunca investiu capital próprio.
Em Jun/99 vende o seu grupo financeiro ao BSCH mas o governo impugna o negócio.
Com a mudança de executivo, Nov/99, chegam a um acordo: O BSCH compra a
maioria do Grupo Mundial Confiança, revende-o à Caixa Geral de Depósitos e
recompra o Banco Totta & Açores e o Crédito Predial Português. Uma operação de
quase mil milhões de contos. Champalimaud saiu da banca por 300 milhões de contos.
6.2.3 Ramos da família Champalimaud
São sete os ramos da família empresária Champalimaud, todos com origem no clã.
Ramo C1: António Carlos de Mello Champalimaud (19/09/1942 – 08/06/1981) faleceu
em acidente de automóvel em 1981. Era casado e tinha dois filhos (Marta e António),
ambos divorciados, a viverem em Portugal. Um deles era licenciado. Investiam em
ativos financeiros, nos media, no setor imobiliário e no agro-alimentar.
Ramo C2: Maria Luísa de Mello Champalimaud (25/12/1943), dois divórcios, um filho
(Francisco) licenciado e a viver em Portugal. Este geria o negócio da mãe, na maioria
participações financeiras em empresas dos setores imobiliário, energias renováveis e
no setor da saúde.
Ramo C3: Maria Cristina de Mello Champalimaud (18/02/1945), casada, quatro filhos
(Maria Cristina, Mafalda, Mariana, Diogo). Um divórcio. Todos vivem em Portugal.
Os negócios centravam-se em participações financeiras em empresas de produção e
distribuição de vinho e azeite, agricultura e produção animal, e setor imobiliário.
Ramo C4: Manuel Carlos de Mello Champalimaud (14/04/1946), três casamentos, dois
divórcios, sete filhos (Rodrigo, Sofia, Tiago, Duarte, Miguel, Ana, Tomás), três dos
quais licenciados. Todos a viverem em Portugal. Os negócios, participações
financeiras nos setores imobiliário, agro-alimantar e energia, são geridos num projeto
comum, com recurso a gestores profissionais, de fora da família.
Ramo C5: José de Mello Champalimaud (22/07/2016), casado, três filhos (José, João,
Maísa). Os negócios – participações financeiras nos setores imobiliário e agricultura
– são geridos por uma holding, de que fazem parte os três filhos, licenciados, a
viverem em Portugal.
Ramo C6: João Henrique de Mello Champalimaud (16/11/1950 – 28/04/1992) foi
casado. Faleceu em 1992 e deixou três filhas (Felipa, Joana, Sofia), a viverem em
Dostları ilə paylaş: |