111 Guia de Economia Comportamental
e Experimental
É verdade que alguns nudges são descritos apropriadamente como uma forma de “paternalismo
leve” porque guiam as pessoas em certa direção. Porém, mesmo quando isso acontece, os nudges
são formulados especificamente para preservar a plena liberdade de escolha. Um GPS guia as pes-
soas em certa direção, mas elas têm liberdade para escolher sua própria rota. E é importante ressal-
tar que sempre existe algum tipo de ambiente social (ou «arquitetura de escolha») influenciando as
escolhas. Novos nudges geralmente substituem nudges preexistentes; não introduzem um nudging
onde antes não havia nenhum.
B. Transparência e Eficácia
Qualquer nudging oficial deve ser transparente e franco, em vez de oculto e disfarçado. Aliás, a trans-
parência deve ser inerente à prática básica. Suponha que um governo (ou um empregador privado)
adote um programa que inscreva automaticamente as pessoas em um programa de previdência, ou
suponha que uma grande instituição (digamos, uma cadeia de lojas, ou de lanchonetes que funcionam
em prédios do governo) decida aumentar a acessibilidade e a visibilidade dos alimentos saudáveis que
oferece. Em nenhum dos casos a ação relevante deve ser oculta, sob nenhuma forma. As decisões do
governo, especialmente, devem ser sujeitas ao exame e crítica por parte da população. Uma vantagem
importante dos nudges, em contraste com as imposições e proibições, é evitarem a coerção. Ainda
assim, eles nunca devem assumir a forma de manipulação ou trapaça. O público tem de ser capaz de
analisar e investigar os nudges tanto quanto quaisquer outros tipos de ações do governo.
No mundo todo os países estão altamente interessados em nudges. Vejamos dois dentre muitos
exemplos. No Reino Unido foi criado o Behavioral Insights Team, também chamado de Nudge Unit.
Nos Estados Unidos existe o White House Social and Behavioral Sciences Team [Grupo de Ciências
Sociais e Comportamentais da Casa Branca]. O interesse crescente em nudges deve-se ao fato de
que eles geralmente impõem um custo baixo ou nulo, às vezes produzem resultados imediatos (in-
cluindo economia significativa de recursos econômicos), mantêm a liberdade e podem ser altamente
eficazes. Em alguns casos, nudges podem ter um impacto maior do que ferramentas mais caras e
coercitivas. Por exemplo, constatou-se que regras default, simplificação e usos de normas sociais às
vezes têm impactos maiores do que incentivos econômicos significativos.
No contexto do planejamento da aposentadoria, a inscrição automática em planos de previdên-
cia revela-se extraordinariamente eficaz para promover e aumentar a poupança. No contexto do
comportamento do consumidor, as exigências de revelação de informações e regras default prote-
gem consumidores de graves danos econômicos, poupando milhões de dólares. A simplificação de
formulários para auxílio financeiro tem o mesmo efeito benéfico que milhares de dólares em auxílio
adicional (por estudante) quando se trata de aumentar o número de alunos na universidade. Infor-
mar as pessoas sobre o uso de eletricidade e como compará-lo ao de seus vizinhos pode produzir o
mesmo resultado positivo na conservação que um aumento significativo na conta de luz. A revelação
de informações, se for planejada apropriadamente, pode poupar dinheiro e vidas. A sinceridade do
governo ao revelar dados e desempenhos pode combater a ineficiência e até a corrupção.
C. A necessidade de evidências e testes
Para todas as políticas, inclusive a de nudges, é de extrema importância basear-se em evidências e
não em intuições, narrativas sobre casos isolados, desejos irrealistas ou dogmas. Os nudges mais
eficazes tendem a ser fundamentados nas obras mais valiosas da ciência comportamental (incluin-
do Economia Comportamental). Portanto, refletem uma compreensão realista de como as pessoas
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responderão a iniciativas governamentais. Contudo, algumas políticas, inclusive alguns nudges, pa-
recem promissoras no plano abstrato mas acabam falhando na prática. Testes empíricos, incluindo
testes randomizados controlados, são indispensáveis. Certamente podem surgir surpresas desagra-
dáveis, inclusive consequências adversas impremeditadas, e os formuladores de políticas com sen-
sibilidade devem procurar prever tais ocorrências (e repará-las caso venham a acontecer). Às vezes,
testes empíricos revelam que a reforma planejada daria bom resultado, mas que alguma variação, ou
alguma alternativa, funcionaria ainda melhor.
A experimentação, com controles meticulosos, é um objetivo fundamental do empreendimento
do nudge. Felizmente, muitos experimentos baseados em nudges podem ser feitos com rapidez, a
um custo baixo e de um modo que permita a mensuração e o aperfeiçoamento contínuos. A razão
disso é que às vezes esses experimentos envolvem mudanças pequenas em programas existentes,
que podem ser incorporadas às iniciativas correntes com pouco esforço ou despesa. Se, por exem-
plo, no momento as autoridades enviam uma carta para incentivar os contribuintes a pagar impostos
atrasados, podem enviar variações da carta e testar se são mais eficazes.
II. Dez Nudges Importantes
A quantidade de intervenções que tomam forma de nudges é variadíssima e cresce constantemente em
número e diversidade. A seguir veremos um lista de dez “nudges” importantes — muito possivelmente
os mais importantes na formulação de políticas — juntamente com alguns comentários explicativos
(1) regras default (p. ex. inscrição automática em programas, incluindo educação, saúde, poupança)
Comentário: É bem possível que as regras default sejam os nudges mais eficazes. Quando as pessoas
são inscritas automaticamente em planos de aposentadoria, sua poupança pode crescer significa-
tivamente. A inscrição automática em planos de saúde, ou em programas destinados a melhorar a
saúde, pode ter efeitos significativos. Vários tipos de regras default (por exemplo, imprimir nos dois
lados da folha) podem favorecer a proteção ambiental. Note que, a menos que uma escolha ativa
(que também é um nudge) esteja envolvida, algum tipo de regra default é essencialmente inevitável.
Portanto é um erro opor-se às regras default em si. É verdade que pode ser sensato pedir às pessoas
que façam uma escolha ativa em vez de se basearem em uma regra default. Porém, em muitos con-
textos as regras default são indispensáveis, pois é demasiado oneroso e demorado requerer que as
pessoas escolham.
(2) simplificação (em parte para promover ajustes em programas existentes)
Comentário: Em países ricos e pobres, a complexidade é um problema grave, em parte porque gera
confusão (e possíveis violações da lei), em parte porque pode elevar despesas (potencialmente re-
duzindo o crescimento econômico), e em parte porque desincentiva a participação em programas
importantes. Muitos programas fracassam ou têm êxito menor do que poderiam ter porque são ex-
cessivamente complexos. Como regra geral, todo programa deve ser facilmente compreensível e
até intuitivo. Em muitos países, a simplificação de formulários e regulações deveria ser prioridade
máxima. É fácil subestimar os efeitos da simplificação. E os benefícios de programas importantes
(envolvendo educação, saúde, pobreza e emprego) são acentuadamente reduzidos devido à com-
plexidade excessiva.
(3) usos de normas sociais (ressaltar o
que faz a maioria das pessoas, p. ex. “a maioria pretende vo-