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entre os temas abordados nas aberturas e os conteúdos trabalhados ao longo de capítulos, ou
unidades, nem sempre são adequadas. Além disso, esses temas raramente são retomados ao
longo
dos livros, apesar de muitos deles serem instigantes.
Outra observação a ser feita é que, em geral, as sistematizações são apresentadas muito rapi-
damente, por meio de definições, seguidas de exemplos ou de exercícios resolvidos, que são
tratados como modelos a serem considerados na resolução dos exercícios propostos. Essa opção
não é muito estimulante e limita as possibilidades de o estudante acompanhar o texto didático
com suas próprias reflexões e indagações. Além disso, pouco contribui para um trabalho de sala
de aula que favoreça a reflexão sobre os conteúdos e as discussões de possíveis soluções para as
questões
propostas, e que possibilite a atribuição de significados aos conhecimentos estudados.
Nota-se, ainda, que todas as obras apresentam a Matemática como um produto finalizado, em
que tudo já é conhecido, restando-nos apenas aprendê-la, sem que possamos interferir no seu
desenvolvimento. Não há, por exemplo, menção a problemas que são objeto de estudos há muito
tempo, mas que ainda não foram completamente resolvidos pelos matemáticos. Raramente, os
estudantes são confrontados com a ideia de que a Matemática é um organismo vivo –
mesmo
diante do fato de que, no século XX, produziu-se mais Matemática que em todos os séculos ante-
riores e o interesse por essa ciência continua mais vivo do que nunca.
As obras didáticas para o Ensino Médio incluem, comumente, um grande número de questões a se-
rem estudadas pelos estudantes. Em diversas obras aprovadas para o PNLD 2018, observa-se excesso
de exercícios propostos, o que pode afastar o interesse do estudante por esse componente curricular
e exigirá, do professor, uma cuidadosa escolha dos exercícios a serem trabalhados em cada tópico.
No
mesmo sentido, a predominância de exercícios repetitivos baseados na aplicação de exem-
plos apresentados no texto, pode, igualmente, dificultar o genuíno interesse pela Matemática.
Isso porque, o estudante não exerce, devidamente, sua capacidade de decisão sobre quais con-
ceitos podem ser mobilizados e qual estratégia de resolução é possível escolher. Essa capacida-
de é essencial para a realização de atividades matemáticas com compreensão. No entanto, são
poucos os livros didáticos destinados ao Ensino Médio que exploram, de forma satisfatória, a
utilização de diferentes estratégias na resolução de problemas e a verificação de processos e de
resultados pelos estudantes. Igualmente, não são frequentes as atividades
propostas que favo-
recem o desenvolvimento de capacidades básicas de inferir, conjecturar, argumentar e provar. E
mais, as competências para organizar, analisar e sintetizar são insuficientemente demandadas
em muitas obras didáticas. Além disso, na maioria das coleções não são exploradas questões
nas quais haja falta ou excesso de dados e, também, aquelas com várias soluções, que são bons
momentos para discussão e enriquecem a aprendizagem.
Quanto aos recursos didáticos, o uso de ferramentas tecnológicas ainda é um terreno pouco
explorado no Ensino Médio atual. Por exemplo, nas obras analisadas,
o emprego da calculadora
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é frequente, porém comumente voltado para a realização e a conferência de cálculos, em detri-
mento de outras possibilidades de trabalho.
Entre os outros recursos tecnológicos, de forma geral, há boas sugestões de utilização de sof-
twares livres. Contudo, na maioria das obras, raramente é destacado o uso de instrumentos de
desenho na aprendizagem de conceitos geométricos.
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