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de modo reflexivo: é preciso aprender com
a experiência. No mundo profissional, a ex-
periência agrega valor ao trabalho especiali-
zado, complementando e, muitas vezes, se
sobrepondo à formação universitária.
Também usamos a palavra experiência para
nos referirmos ao modo de funcionamento
de muitos campos das ciências, um modo
que pressupõe procedimentos e protocolos
para verificar ou demostrar certa hipótese.
Esse termo também é
usado pelos artistas
em sentido contrário ao do cientista, menos
ligado à repetição de procedimentos, mas,
sim, ao imprevisto, à surpresa, à inovação,
características típicas das vanguardas.
Muitas vezes, a ideia de experiência é confun-
dida com a de vivência, mas, vivenciar não é
o mesmo que
experienciar.
Somos expostos
cotidianamente a inúmeras situações, às
vezes conhecidas, outras vezes novas. Mas
nem todas se constituem em experiência
educativa. Uma análise de um dia vivido na
instituição de Educação Infantil pode apon-
tar uma lista de inúmeras atividades pelas
quais as crianças e professores passam e
que pouco as afetam. Atividades com pouco
ou nenhum desafio, como preencher fichas
de tarefas simples, ligar pontos, colorir de-
senhos prontos etc.;
conhecer uma grande
quantidade de informações extraídas dos
livros, sem conversar com os colegas sobre
os sentidos que isso tem para cada um; lon-
gos períodos de espera conduzidos de forma
heterônoma pelos adultos; exercícios repeti-
tivos de coordenação motora, preparatórios
de alfabetização, entre outros, são alguns
exemplos de vivências que comumente não
constituem uma experiência transformado-
ra. Da mesma forma, muitas vezes, os pro-
fessores vivem o cotidiano como um lida,
cheio de afazeres e tarefas que se repetem
de um dia a outro, submetido ao funciona-
mento burocrático de uma instituição que
pouco altera sua condição profissional, o
sentido de ser professor. Em todos esses ca-
sos, não se vê o que toca o sujeito de modo
a promover mudanças importantes em seu
comportamento, na visão
de mundo, no
modo de se expressar. São experiências, no
entanto, não são boas e próprias da Educa-
ção Infantil.
De que modo a experiência da Educação In-
fantil pode se distinguir de qualquer outra
experiência para crianças e professores?
A ideia de experiência pode aparecer na ins-
tituição em todos esses sentidos. A criança
pode se envolver nas propostas que lhe são
feitas com a curiosidade própria da experi-
mentação dos cientistas, a criatividade da
inovação dos artistas experimentais, a práti-
ca que conduz todas as ações no dia a dia, a
sabedoria da memória de situações já vividas.
Mas a mais importante característica des-
sa experiência reside na sua capacidade de
transformação. A experiência é fruto de uma
elaboração, portanto,
mobiliza diretamente
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o sujeito, deixa marcas, produz sentidos que
podem ser recuperados na vivência de outras
situações semelhantes, portanto, constitui
um aprendizado em constante movimento.
Aprender em si mesmo, como processo que
alavanca o desenvolvimento, é uma experiên-
cia fundamental às crianças e compromisso
de uma boa instituição educativa.
A ideia de experiên-
cia está presente nas
Diretrizes Curricula-
res Nacionais para
a Educação
Infantil,
documento fixado
pelo Conselho Na-
cional de Educação
em 2009 para nor-
matizar
aspectos
do funcionamento
das instituições de
Educação Infantil e
apoiar a organização
de
propostas peda-
gógicas voltadas para as crianças de 0 a 5
anos. A primeira referência a essa ideia apa-
rece no capítulo das definições, no item que
define o currículo de Educação Infantil. Ali,
o currículo é entendido como:
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